24 de abr. de 2017

O ÚLTIMO HOMEM NA TERRA



Eu vou cria-lo som por som, sozinho. E sóbrio. E uma merda histórica no último treze de abril.

Três de dezembro último. Foi difícil pegar o coração partido em dois, juntar a coisa gosmenta e costurar lentamente, com coragem, ponto por ponto com o fio. Esperar a gosma dos pontos secar aos poucos, com paciência; e depois tirar o fio dos pontos, com coragem e “seguir em frente”.

Agora, ele parte em dois novamente – me dá calafrios em ter de pegar as duas partes gosmentas de novo, para começar a juntar. Vocês que cursam biologia, vocês são só amor, só amor. Agora eu encontrei a definição perfeita para a palavra “amor”: amor é usar os outros e virar as costas de uma forma bem atual: ignorar quem você acabou de usar. Não é uma reclamação, é uma constatação. Eu também já fiz isso com outras pessoas, mas você só percebe o quanto isso é ruim quando você atira no próprio pé.

Porém, eu devo admitir que você, futuro cientista rico e famoso, salvou minha vida na última sexta-feira. Só por ter falado comigo. Eu já tinha aceitado que você não voltaria a faze-lo. Eu tinha um suicídio agendado para essa quarta-feira. O serviço do 141 do governo, eu penso que ele não ajuda. Eu jamais ligaria para pedir ajuda. Quem decide fazer, apenas decide. Nada tira isso da ideia.

Eu escreveria no blog por último que você, olharia pela última vez no espelho na sua vida enrugado, velho, feio e rico. E eu, olharia para o espelho pela última vez jovem, atleta, belo, branco e pobre. Mas como você salvou minha vida na sexta-feira, eu fui treinar no sábado, eu fui competir no domingo, fiz as melhores marcas da minha vida em duas provas, talvez porque eu estava feliz por ter um encontro agendado com você logo depois á tarde. Não existe nada mais cruel do que tirar um doce da boca de uma criança pobre, Antônio.

Não importa, não importa o que te escrevi depois para externar minha frustração, e me desculpar por isso depois. Você não vai voltar a me dirigir a palavra e me ver: tampouco.
Eu pensei que eu tinha aprendido alguma coisa com o meu caótico último relacionamento, que eu não cometeria os mesmos erros ao me apaixonar de novo, mas não. Eu continuo neurótico. E eu devo agradecer o cloridrato de venlafaxina que tem acabado com a minha libido desde que voltei a tomar. Nem é uma dose muito grande, mas tem sido o bastante. Desliguei o hornet desde que conheci você. Ainda sou frequentemente assediado por contatos no whatsapp, e tenho pacientemente recusado todos os convites para sexo da forma mais delicada que posso.
Domingo, quando eu te encontraria, eu não tomei a venlafaxina só porque achei que ia te ver, para a libido responder, para poder fazer amor com você. E fizemos, fizemos muito amor – você me recusou e me ignorou, Antônio; isso é amor.

Era difícil sustentar a libido só por causa do sentimento súbito que tive por você, mas agora não há mais necessidade. Tomei a venlafaxina á noite no domingo, tomei hoje. Faz tempo que não bebo álcool (que é depressivo); no lugar, tenho comido doces. Sim, doces, que trazem felicidade. E não preciso me preocupar em engordar, como uma pessoa que faz sete sessões de treino de atletismo por semana pode ter a preocupação em engordar?

Acordei sozinho nessa segunda-feira ensolarada com as baratas depois do ataque químico. Sou o último homem da terra, mas não é justo dizer que estou sozinho, porque eu tenho a mim mesmo. A diferença é que dessa vez eu não tenho suicídio nenhum agendado. Há mais do que sol na minha varanda. Há vida lá fora.

***

Embora eu não vejo muito além dos cinco livros que escrevi (três publicados e dois inéditos), embora eu tenha decidido que vou tirar umas “férias” (não ler nem escrever nada por seis meses), há o que fazer na literatura no que há por vir. Quarta-feira última de manhã dei uma entrevista via skype para o querido Daniel Manzoni, doutorando em teoria literária da Unicamp que está fazendo um disciplina sobre poesia e escolheu o tema poesia homossexual para um ensaio. Ele disse que pesquisou autores e escolheu os que mais gostou para o trabalho, e um deles foi o meu debut “Poesia gay underground: história e glória” (Ed. Annablume, 2008). Foi nostálgico, estranho falar sobre um livro que escrevi há nove anos atrás. Eu era outro escritor, eu era outra pessoa. Sou totalmente diferente agora. Mas contribuí como pude. Daniel disse que vai me mandar o ensaio quando ficar pronto.

Recebi também uma proposta para um evento literário na universidade federal do Piauí, em Teresina (Com passagem, hospedagem e alimentação pagas!). Fui convidado pelo organizador, por ele acompanhar e admirar meu trabalho, e comentar o quanto eu combino imagem e texto no meu trabalho exibindo meu corpo com pouco pudor. Vou montar o escopo da minha apresentação no mês de maio e o evento deve acontecer em vias de setembro ou outubro.

Em dois de maio, abrem as inscrições para o anual programa nascente da USP, que premia artes de alunos da USP em diversas áreas como a literatura. Vou inscrever o meu romance inédito mais recente “Drag por drag”. O evento tem um prêmio de R$ 4.000,00 – além do “selo de qualidade”, que ajuda muito a viabilizar a publicação. Se eu não ganhar esse ano, significa que há algo de muito errado com o júri do prêmio ou comigo...

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#Elsewhere:

Domingo dia 23/04 eu participei da 2ª etapa do torneio estímulo master da AAVSP, na querida pista do Ibirapuera onde iniciei no atletismo. Eu pretendia competir no lançamento do martelo, no lançamento do dardo e no salto triplo. Porém, devido a problemas no programa horário, tive de abrir mão de competir no martelo. Dessa vez me preparei bem, aqueci bem, me concentrei bastante e fiz uma ótima competição. Venci a categoria M30 do salto triplo e do lançamento do dardo. No salto triplo, saltei 11,46m (pb*) e no lançamento do dardo, lancei 35,02m (pb*). *“pb” significa “personal best” para quem não conhece atletismo hehe. Essas marcas me deixam em quinto lugar no ranking da USP em 2017 nas duas provas. Fico bastante feliz, mas sei que ainda tenho muito a melhorar. Ainda estou um pouco longe das minhas metas para a copa USP (que acontece daqui a um mês). Mas decidi que vou trabalhar bem duro neste próximo mês para competir o melhor que eu puder.



#Elsewhere 2:

Também decidi dar um tempo com a literatura porque eu decidi voltar a estudar música.

Uma singela homenagem que postei uma vez nesse blog para um dos aniversários do "Nevermind" do Nirvana:

https://hugoguimaraesnoceu.blogspot.com.br/2011/09/come-as-you-are.html?m=0

XOXO