15 de nov. de 2018

O MEDO DO PALCO


"No dia 23/11 ás 18h30 na sala de debates do CCSP estarei em uma mesa literária dentro da programação do festival mix brasil deste ano. O tema da mesa é "Debate: Autores gays para além das temáticas de nicho". estarão comigo na mesa os escritores Tobias Carvalho, Danilo Leonardi e Agnaldo Nascimento. Alexandre Rabelo mediará a mesa. Para mim, o tema é muito interessante, pois não faço apenas literatura lgbt, também faço literatura alternativa, experimental, fantástica e regional (sim, porque literatura paulistana também é literatura regional, e São Paulo é o palco de todos os meus livros). Creio que os demais autores também não devem se limitar apenas como "autores de literatura lgbt", daí a graça da mesa. Vale lembrar que a livraria blooks estará vendendo meus livros "O Tiro de um milhão de anos" (Ed. Pasavento, 2015) e "O Estranho mundo de Hugo Guimarães" (Ed. Edith, 2013). Para os que não me conhecem pessoalmente, é uma oportunidade ímpar, pois raramente participo de mesas literárias. Além disso, toda a programação de literatura do evento está fantástica. Não percam! Veja programação completa no link abaixo: 


Esse é a minha postagem no facebook sobre a minha mesa no mix brasil no dia 23/11. A minha última aparição pública foi em janeiro de 2016, na Biblioteca na FFLCH USP, falando sozinho na mesa para poucas pessoas. Esse hiato me criou um certo pânico de voltar a enfrentar um palco de novo, Como Liz Phair tinha medo do palco no início da carreira. Dessa vez, vou dividir a mesa com três escritores e terá um mediador, o Alexandre Rabelo, que entende muito mais de literatura contemporânea do que eu. 

"Tudo o que eu tenho a dizer está nos meus livros, não tenho nada para falar", pensei em começar minha fala com essa frase, mas temo já garantir a antipatia de todos, embora seja a pura verdade. Porém eu mantenho esse blog desde 2010, falando sobre muitas coisas além da literatura e além dos meus livros, isso dá um certo conforto. 

Porém, estou com medo do palco.

XOXO 


3 de nov. de 2018

A METAMORFOSE


Estou lendo “a metamorfose” do Kafka. Comprei enquanto esperava um amigo que se atrasou, na livraria do conjunto nacional. Uma banda de sopros se apresentava por lá. Estou curioso para saber o que vai acontecer com o corpo de Gregor, com as perninhas de Gregor. Pelo menos a leitura deixa a viagem de metrô mais rápida. Durante o “Rehab” (três meses e meio de desemprego na casa dos meus pais), também acabei de ler o “neve negra” do Santiago nazarian. Gostei muito da forma como ele concatena a história da família com a história de terror, que é muito boa, e o final é muito bom. Santiago está vivo, não é alternativo nem independente, mas é uma das coisas que posso recomendar. Não consegui ir ao lançamento de “mauricéa”, novo livro da incrível adrienne myrtes, mas pretendo convida-la para um café em breve e pedir para ela me levar uma cópia para vender. Ela é uma das autoras vivas brasileiras contemporâneas e independentes que mais admiro. É outro nível de genialidade, bem acima do meu, com a minha literatura macha, agressiva, confessional, desvairada e não planejada. Alexandre rebelo também lança livro novo nessa terça, bem no dia da minha aula de Latim que não posso mais faltar, mas vou tentar ir. Alexandre foi a primeira pessoa que deu feedback para meu livro novo (não o quarto, mas o quinto). Trata-se de um livro de poemas de 45 páginas que escrevi em aproximadamente 40 dias. Ele se chama “eu vou contar para a sua mãe”. Trata-se de sexo e drogas, tabagismo, a volta para casa dos pais depois dos 30, a aceitação da sexualidade, as relações familiares, transtornos psiquiátricos, prostituição e desemprego. O título significa uma ameaça ao ex-namorado viciado em cocaína e prostituto, mas claro que não pretendo dizer nada a ninguém. Embora seja poesia confessional, há seus exageros estéticos.  Tudo isso em verso livre, bem influenciado por Sylvia plath. Alexandre disse que o livro é excelente e, como no livro anterior, pedi cobaias via facebook para ler o livro para ter uma primeira resposta. Até agora, só tenho tido críticas positivas. Mandei para algumas editoras, mas as que recebi retorno todas tinha-se de dividir as custas e não posso fazer investimentos no momento. Fiquei muito feliz com o retorno da editora kotter, que disse que meu livro é ácido e impactante e me disse parabéns, infelizmente achei meio caro publicar com eles. A alternativa mais barata que encontrei foi a editora penalux, que cobra do autor 40 a 60 livros do lançamento. Fica mais viável. Mas... sem emprego, um pobre poeta não pode publicar. Preciso esperar alguma empresa finalmente ir com a minha cara e dizer sim. Agora que recuperei o peso na casa da minha mãe e estou com uma aparência mais saudável, é mais possível que eu consiga um emprego. Não será fácil, tive de omitir a empresa dos chineses do currículo para não ter que explicar por que fiquei apenas 4 meses e meio lá, então segundo meu currículo estou fora do mercado desde fevereiro desse ano. Não será fácil. Pelo menos estou recebendo uma ajuda do governo enquanto isso, mas ficar na casa dos meus pais sem fazer nada é quase insuportável. Tento controlar com o cigarro e com rivotril, mas ainda assim é difícil. Parece que sofri uma metamorfose como Gregor, mas não por fora, por dentro. Como se eu não conseguisse ser mais ser o mesmo que consegue trabalhar, estudar e treinar atletismo, além de escrever. Que vivo para dormir. Uma boa notícia é que estarei em uma mesa na programação de literatura no festival mixbrasil desse ano. Minha mesa será no dia 26 de novembro e assim que sair a programação completa, eu posto por aqui. Estou um tanto preocupado. Nem lembro qual foi a última mesa que participei. Não sei o que dizer e não sei como me comportar. Tentarei ficar na defensiva e fazer contatos com editores que estarão lá. Vou levar umas cópias impressas do “Igor na chuva” e do “eu vou contar para a sua mãe”. Ao escolher o que ler, devo escolher um trecho do Igor e um poema do eu vou contar..., não quero ler nada do que eu já publiquei, já faz tanto tempo (meu último livro saiu há três anos)... já sou outro escritor agora. Quero ler coisa fresca. Bem, espero que a metamorfose acabe, que eu possa ter um gerente nem que seja como o do Gregor, que eu possa alugar um quarto novo na vila mariana e aparecer no mixbrasil lindo de gravata borboleta.
Abaixo, leia mais um poema de “eu vou contar para a sua mãe”

“Da Cabeça Aos Pés”

Com a boca cheia de sangue
Eu vou fumar até eu morrer

Com um grito de umbanda
Eu vou ser louco até eu morrer

Como uma viúva negra
Com a pata presa na teia
Vou atrás de homens até eu morrer

Julgado e condenado
Eu vou espalhar culpa até eu morrer

Se o destino é vilão
Como cupins de demolição
Eu vou ficar nessa casa até eu morrer.

XOXO

2 de ago. de 2018

SHOTS



eu não tenho medo do cigarro. que baixa minha pressão, mas não vai me fazer desmaiar visto que tenho o estômago cheio de alimentos. não me incomoda a gata tentando escalar a porta de vidro para vir para a varanda enquanto estou fumando. ela já esteve com essa porta aberta por dois dias. não me incomoda ela roendo a sacola de lixo e vir a vomitar plástico. eu não tenho medo do meu nariz empinado, é só uma questão de cuidado. eu não tenho medo nem vontade de parecer a p j harvey já que tenho tudo alinhado para recuperar meus sessenta e oito quilos e já estou cansado de parecer a. nada como um bom e original ansiolítico e o farmacêutico pode enfiar no cu aquele tranquilizante natural que funciona como o placebo. eu não tenho medo da morte precoce agora que sei diferenciar um princípio de infarto com uma crise de ansiedade, como a que tive ontem por causa da falta do Rivotril, que me causou taquicardia e falta de ar. cheio de alimentos. estive hoje almoçando com a minha sorridente mãe, nunca parou de ser só sorridente, nunca mal humorada, por causa do budismo, que ela está envolvida há anos. fomos comprar roupas, para eu estrelar o próximo escritório. eu não tenho medo que não me ligam há duas semanas para me oferecer emprego. um peso. um peso e a pegada correta da mão no dardo. são dois shots que vou tirar para o meu instagram na sexta á noite e no sábado de manhã respectivamente. p j: ainda não posso fazer shots do meu rosto até que eu não pareça mais a. eu não tenho medo da volta. da volta ao atletismo. que é dura, bem dura. nem da competição que me aguarda daqui a quase três meses. e da responsabilidade que me impus a ganhar uma medalha. estou mortificado por ter perdido a inscrição do estadual máster, por estar depressivo na cama e não ter conseguido ir ao banco pagar a taxa e fazer a inscrição por e-mail. mas haverá muitos outros másters. eu não tenho medo da falta. da falta que me faz. o mundo dará as necessárias voltas. o tempo fará seu serviço. eu não tenho medo da segunda-feira, quando sairá o resultado do proAC. o que tiver de ser do meu inédito livro, será. não vai me fazer parar de escrever. sinto a apatia, o cansaço de uma carreira com pouca movimentação. mas eu ainda tenho o talento comigo. tenho o vício comigo. tenho a maldição comigo. parar de escrever não é tão simples assim. a literatura me chama. vai continuar me chamando. não tenho medo de Paraty. se não vivo, poderei estar lá cinquenta anos após a minha morte. eu não tenho medo. é só ter a responsabilidade de não deixar faltar meu bom e original ansiolítico.

XOXO

21 de jun. de 2018

PENAS


I hear you’re losing weight again
Mary jane

Desde que eu deixei o atletismo para viver a base de estimulantes, me acostumei a comer pouco. Meus músculos diminuíram drasticamente, e meu rosto. Comecei a fumar. Toda vez que vou fumar um cigarro de box amarelo, eu me sinto deliciosamente tonto. Os estimulantes têm me mantido acordado para jogar do celular, é minha vida for a trabalhar em uma multinacional nove horas por dia.




You lost your place in line again
What a pity

É uma pena que os estimulantes custam tão caro, é uma pena que eu me sinta amargamente desconfortável no meu emprego. Todos esses chineses olham como se não gostassem de mim. É uma pena que eu não consigo persuadir meu namorado a não fumar dentro do novo quarto na casa nova que não é nossa. É uma pena que a gata esteja presa dentro de um quarto sem janelas, mas que tem um banheiro só para nós; é um problema que a gata tem que resolver com ela mesma. Ela é uma gata, ela é boa nisso, a ter que se acostumar com lugares cada vez menores e mais fechados. É uma pena que os estimulantes acabam com a minha libido e então por quê meu namorado ainda está aqui? Será que sabemos o que é o amor? É uma pena que não tenho amado a mim mesmo.

Deixei o atletismo cinco meses atrás por questões de paixão para viver uma vida sem paixão nenhuma. Vícios não tem a ver com paixão, nem relacionamentos.

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Um escritor morto volta a vida:
Fui convidado para uma mesa lgbt [ah desculpe, enquanto escrevia esse texto fui interrompido por um distribuidor que vende nossos cabos de fibra ótica e que quer dar um treinamento dos nossos produtos para seus clientes]. Bem, lá vamos nós de novo: fui convidado para uma mesa lgbt dentro do festival mixbrasil deste ano (o mesmo que estive na época do lançamento do meu livro “O Estranho mundo” lá em 2013), estarei em uma mesa dedicada a escritores gays homens (haverá uma mesa dedicada a escritoras lésbicas e uma outra dedicada a escritorxs trans) [ah desculpa, tive de interromper esse texto de novo porque tive de colher assinatura do departamento fiscal para um documento que é um numerário de despesas de uma importação de 300km de cabos de fibra ótica para um grande cliente de telecomunicações], falando nisso, você precisa prestar mais atenção com o seu horário, Hugo. Dormi demais ontem e minha gerente disse que essa empresa não aceita gente trabalhando desse jeito.

Alexandre Rabelo, que conheci essa semana e que já passou uma noite com o meu namorado, que pequeno mundo, me convidou para o evento. Ele foi muito legal comigo, disse que vai ainda tentar conversar com seu editor para dar uma atenção especial para os originais do meu inédito livro “Igor na chuva”.

Terminei meu projeto para o proAC para publicar esse mesmo livro. O proAC me deu dez mil reais para publicar o meu livro “O Tiro de um milhão de anos” lá em 2015. [desculpe interromper esse texto de novo, mas estou um pouco nervoso e vou descer quinze andares para uma rápida fumada]. Bem, depois de fumar eu posso dizer que estou dez por cento menos nervosa (estou sem estimulantes hoje). Será que meu namorado conseguiu colocar as roupas na máquina? Estamos na nova casa já dez dias e ainda não conseguimos lavar a roupa porque a casa só tem uma máquina para as doze pessoas que moram lá. Estou nervoso o suficiente para terminar esse texto agora.

XOXO


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“Pities/Feathers”

I hear you’re losing weight again
Mary jane

Since I left athletics to live a life based up stimulants, I got used to eat no much. My muscles drastically reduced, my face. I started to smoke. Every time I go to pull smoke on a new yellow package smoke, I feel deliciously dizzy. The stimulants have kept me awake to play cell phone games, that´s my life besides work in an international company for nine hours a day.

You lost your place in line again
What a pity

It´s a shame that stimulants cost so high, it´s a shame that I feel bitterly uncomfortable at my job. All those Chinese they look at me as they don’t like me. It´s a shame that I can’t persuade my boyfriend to not smoke into our new room into a house that is not ours. It´s a shame that my cat is stuck inside a room with no windows, but we have a bathroom just for us, it´s a problem that the cat must to solve to herself. She´s a cat, she’s good in that, in having to get used to smaller places all the time. It’s a shame that stimulants slow down my libido and then why my boyfriend is still here? May be do we know what love is? It’s a shame that I been not loved myself.

I left athletics five months ago due a passion matter to live a life with no passion at all. Addictions are not about passion, neither a relationship.

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A dead writer comes back to life:
I was invited to a lgbt [oh I’m sorry during writing it I was just interrupted by a distributor who sells our fiber cables who wants to get a training about our products to then inform to his clients] well, here we go again: I was invited to a lgbt event inside the mixbrasil festival (which I been before while publishing my book “the strange world” back in 2013), I’ll be in a night dedicated to gay men writers (there will be a night dedicated to lesbian writers and a third to transgender writers) [Oh sorry, I had to interrupt this text again because I had to take a signature from the fiscal department girl to a document that is a pre payment request to import 300km of fiber cable to a big telecommunication company] remembering that, you must pay attention to your work time, hugo. I slept too much yesterday and my manager told me that this company do not accept people working that way.

Alexander Rabelo, who I knew this week and passed a night with my boyfriend, what a small world, invited me to the event. He was very nice to me, he said he will try to talk to his editor to give a special attention to my new book originals “Igor in the rain”.

I finished my project to proAC to publish this same book. proAC gave me 10.000 to publish my book “A million year dash” back in 2015. [sorry to interrupt this text again, I’m a little nervous and I’ll go down fifteen floors to a quick smoke]. Well after smoke I can say that I’m about ten percent less nervous (I don’t have stimulants today). May my boyfriend have a chance to make our laundry? We´re in a new house for ten days and we still had no chance to do laundry because the house has just one laundry machine for twelve persons who lives there. I’m nervous enough to finish this text now.

XOXO

6 de jun. de 2018

CAUSAS


"Causas"
Eu posso evitar o infarto do miocárdio atacando e/ou enfraquecendo a causa / tenho feito bem / sou homem bom bonzinho com uma saúde de um cavalo / quatro anos levantando 120kg nos ombros para então agachar / Eu posso evitar o divórcio atacando e/ou enfraquecendo o motivo / ele age estranho ás noites, me assombra, não o que ele faz a mim, mas a ele mesmo / um mês é uma tragédia / todo mês / Eu posso evitar a bancarrota atacando e/ou enfraquecendo a causa / mas não / que nem uma criança mimada: não / eu quero manter os vícios caros  / até que me perco / isso me assombra mais do que qualquer comportamento estranho ás noites / Eu posso evitar a morte da arte atacando e/ou enfraquecendo a causa/ uma vez artista sempre artista / o que está impresso, está impresso, não há redenção que / e também o que foi filmado / eu posso dividir o passado e futuro e então chegar no mesmo ponto / eu pela primeira vez recusei um convite para cinema e o diretor disse apenas ´ok´ / I não posso evitar a vida assim como não posso evitar a morte / se você não fitá-los eles o fitarão / ambos.
XOXO


“Causes”
I can avoid the myocardial infarction by attacking and/or weakening the cause/ I been doing well / I´m a good good man with a horse health / four years lifting 120kg in my shoulder and then squatting / I can avoid the divorce by attacking and/or weakening the reason/ he acts strange at nights, haunts me, not what he does to me but what he does to himself / a month is a tragedy / every month / I can avoid the bankrupt by attacking and/or weakening the cause/  but I do not / just like a spoiled child / I want to keep the expensive addictions / until I lose myself / that haunts me like any kind of weird behavior at night / I can avoid the death of art by attacking and/or weakening the cause / once artist always artist / what is printed is printed there’s no use try to redeem it / and also what is filmed / I can share the past and the future and then go to the same point / I rejected a invitation for cinema for the first time and director says just ‘ok’ / I can´t avoid life just like I can’t avoid death / if you don’t face it, it will face you / both.
XOXO

31 de mai. de 2018

PICKLES


Três de maio.
Faz quase um ano desde que escrevi “Maydays”, também um diário online, nesse mesmo blog. Maydays era um estranho passeio entre paixão não correspondida, rejeição por uma equipe de atletismo e desemprego.
Agora, um ano depois, tenho um namoro de quatro meses, um doce garoto que eu gosto o bastante para não me deixar louco e há um contraste interessante entre ele e eu: ele é feliz e eu sou triste mas. Desde que tenho estado com ele, não tenho desejo de suicídio, mas abandonei o atletismo e parei de escrever. Agora é só nós dois e a neve e talvez isso não seja ruim. Tenho um emprego. Trabalho em uma multinacional chinesa que me paga bem, uma vez por mês, mas bem, e minha vida está reduzida a trabalhar lá e no meu namorado.
Eu poderia continuar a treinar atletismo, mas a paixão acabou, acho que ganhei tudo o que eu merecia naquela cena universitária, nos quatro anos que treinei aquilo. Agora é tempo de passar adiante, de fazer outras coisas. Mesmo se é só meu trabalho, meu namorado e a neve sobre nós.
Nesse momento, acabei de chegar do trabalho, não tenho muito tempo de escrever por lá. Muito trabalho. Só comi dois pedaços de pão e alguns biscoitos no almoço e amanhã passarei o dia sem comer porque é o dia do meu pagamento e tenho planos melhores do que comer.

Quarto de maio.
A coisa mais esquisita é que não ando esquisito. Estou fumando regularmente porque meu namorado fuma. Durante a semana o cigarro me ajuda a dormir. Hoje não preciso me preocupar com comida porque tive um bom café da manhã, então posso passar o dia bem acordado. Hoje é sexta-feira. Meu namorado está me induzindo a sair. Quero ficar em casa, acho. Sempre quero ficar em casa. Acabei de terminar meu horário de almoço que dura meia hora fora de uma hora e meia que os chineses me dão. Quero acumular banco de horas. Não posso escrever aqui tão confortavelmente porque vendi um livro para um dos chineses que trabalha aqui. Ele apareceu na cozinha e pediu para eu assinar uma cópia do meu “O Tiro de um milhão de anos” de 2015, então ele pesquisou sobre mim e ele sabe sobre mim e sobre meu blog. Não posso perder o emprego. Meu namorado também lê o blog, o que me faz com que eu escreva com as mãos atadas então talvez eu possa criar um bruxo adolescente se não posso me expressar sobre a realidade como eu costumava fazer. Sim, um adolescente bruxo.

Cinco de maio.
É difícil escrever aos fins de semana porque passo a maior parte dele na cama com meu namorado. Ficamos lá causando dano ás nossas saúdes, jogando cartas, damas ou qualquer outro jogo trivial; assistimos filmes e é cada vez mais difícil decidir sobre qual filme ver, difícil conversar quando a relação passar de quatro meses. Ainda não treinamos a rotina para que cada um de nós tenha sua rotina separada e não fazer as mesmas coisas juntos sempre. Tenho passado muito tempo sem escrever que temo que não sou mais um escritor. São cinco da tarde aqui na multinacional chinesa e depois de fazer algum mau á minha saúde, decidi escrever um pouco, já que nesse exato momento não tenho  nada para fazer (o que é raro), sempre tenho muito trabalho a fazer.



Dezoito de maio.
A internet caiu e meu coração quase parou. Hoje e ontem á noite respectivamente. Por causa da internet, lembrei desse diário. Não sei mais como escrever. Acho que vou ser demitido do trabalho por faltar. Meu coração quase parou por causa do meu estilo de vida. Preciso de um corte de cabelo urgente para me sentir mais jovem de novo. Quando voltei do almoço, eu reclamava sobre como vim parar nessa vida desgraçada de analista de logística, que falhei como escritor, falhei como atleta e vou passar o resto da vida preso em um escritório. Se eu for demitido, está ok. Terei quase sete mil reais até eu conseguir outro trabalho. Sou bom em entrevistas de emprego. Na verdade, meu objetivo ontem era apenas acordar hoje. Disse ao meu namorado “estou com medo de dormir e não acordar mais, e você sabe por que”. Temi que estava vendo a cara dele pela última vez, que eu estava vendo luz pela última vez, que eu estava deixando só meu amável namorado. Dei a ele o número da minha mãe antes de dormir. Apenas no caso. Mas acordei e minha preocupação era apenas chegar ao escritório ao invés de estar vivo. Hoje o plano é mudar o estilo de vida, dormir muito e acordar em um sábado.

Dezenove de maio.
Só estou aqui porque prometi a mim mesmo que escreveria hoje. Minha mudança de estilo de vida durou só um dia. nesse momento, pareço uma gema de ovo jogada em uma vasilha de farinha de trigo. Estou tremendo um pouco. Meu namorado está ouvindo música enquanto escrevo, mas eu não quero dizer a ele que isso prejudica a minha concentração, mesmo tremendo um pouco. Não posso acreditar que o sábado á noite e meu fim de semana está quase acabando. Logo será segunda-feira e eu vou conhecer um chinês que fará uma estranha visita ao meu trabalho. Ele é um funcionário de logística. Mesmo assim, minha gerente foi para casa ontem e não me demitiu. Não posso escrever e falar ao mesmo tempo. Tanto que essa escrita termina aqui.

Trinta de maio.
Eu sei eu sei que não tenho escrito. É porque não tenho tempo no meu trabalho. E também porque quando chego em casa só quero fumar, nada mais. Isso até meu namorado chegar em casa e eu me preparar para dormir enquanto ele não está com sono. Encontrei meu psiquiatra hoje por acaso e ele me disse o quão magro estou, faziam seis meses que eu não o via. Ele me lembrou que larguei o atletismo, que deixei de escrever e que meu estilo de vida deveria mudar. Disse que minhas roupas estavam largas, que minhas roupas estavam soturnas de pretas, olhe as suas roupas ele disse. A preocupação acabou, passei da barreira de três meses no emprego e não me demitiram como eu temia. Não fui jogar tênis nos dois últimos domingos como eu planejava. A mudança é a casa, a casa; vou me mudar domingo para um nova casa, também compartilhada, mas uma casa melhor, com um banheiro só para mim e meu namorado. Ele também passou da barreira dos três meses no emprego dele e agora de fato temos emprego, mesmo que nada mais que isso. Tenho planos de publicar meu livro “Igor na chuva” até 2020, não estou com pressa. Eu já esperei cinco anos para publicar um livro antes e eu sei que posso ganhar algum edital ou que algum editor independente goste do livro por mais que eu tema que minha carreira como escritor acabou. Vou acordar em uma nova casa na segunda-feira, isso é fresco. Espero mudar o estilo de vida também. Esses pickles depois de um hiato sem publicar no blog são um agridoce começo.

XOXO

22 de jan. de 2018

O PROJETO 23


Vamos dizer que eu tenho 23. Sou independente. Eu trabalho. Faço faculdade. De letras. A melhor faculdade de letras da América Latina. Não sou pago no meu emprego para viver confortavelmente. Pior ainda se considerarmos o tipo de diversão que eu gosto. Mas é um bom dinheiro para alguém com 23, vamos dizer; mesmo eu estando vulnerável ao desemprego, ao suicídio e a prostituição, assim como qualquer homem jovem perdido em uma cidade gigante. Eu alugo um quarto em um bom bairro da cidade, o melhor da casa e eu tenho uma varanda só para mim e para minha gata que vem vivendo sob minha responsabilidade há nove anos. meus pais não gostam da gata, acho que é o mesmo em relação a mim, eles acham que vou afiar minhas unhas no sofá, no carpete, vou me pendurar na cortina da sala com minhas unhas, derrubar coisas... é como meus pais são comigo, eles não gostam de como sou, não gostam de mim. Não adianta dizer que gostam de mim do jeito deles, não faz sentido pra mim. Ou você me ama como sou ou não me ama, vocês só amam suas próprias expectativas sobre mim e quem vocês gostariam que um dia em me tornasse, é isso que vocês amam, não a mim.

Aos 23 a vida se mostra longa para mim. Tenho um longo caminho. Sou jovem o bastante para fazer coisas como publicar livros e sonhar em ser reconhecido, respeitado pela minha escrita. Sou jovem o bastante para voltar para a escola de música, para competir no atletismo universitário, para acreditar no amor, para acreditar no futuro. Então está tudo bem, Hugo. Então apenas respire fundo, tome um Rivotril, tome uma Risperidona e você vai ficar bem, sim pois você não tem coragem para se matar como sua mãe te disse, você é um tipo de covarde. Sim, mas pelo menos eu não acredito no papai Noel e eu não carrego uma bandeira que não é minha – “carregar uma bandeira que não é minha” é um dos meus projetos para 2018, sabia? Ignorar o natal, digo. Já que não sou cristão. Evitar agir como um hipócrita pelo menos um dia no ano, sabe? Talvez eu fique em casa sozinho no dia 24/12, talvez eu faça uma lasagna, compre algumas cervejas e algo para me distrair e assista um clássico de terror qualquer pela décima vez.

Você apenas volta assim do nada, alto Lucas? Esqueceu do que me disse no ano passado? Que seria melhor não nos pegarmos mais? Eu estava envolvido. Estava virando mais do que sexo para mim. E agora, mesmo sabendo que você feriu meus sentimentos outrora, você volta querendo: sexo; sexo em grupo, melhor dizendo e eu devo dizer que meu interesse por sexo tem sido baixo e eu não voltaria a te visitar nem que eu pudesse guardar meu dardo na sua casa, porque eu não estou mais envolvido, seu sexo não é suficiente para me fazer voltar a te visitar. Desculpe. Se você fosse o Antônio, eu poderia talvez, talvez pensar em reconsiderar, mas você não é ele.

Eu não consigo explicar para mim mesmo a sua súbita fascinação em relação a mim, mesmo eu ouvindo isso de você todos os dias. Você trocou a diversão que tinha com os outros garotos, muitos outros garotos para ficar comigo, com a diversão que eu tenho para oferecer, que eu sei que não é tanta quanto a que você tinha com os outros garotos. Estou tocado e confuso. Você só tem 13. Eu me sinto tão cansado e tenho medo de ferir seus sentimentos. Nossa relação apenas começou, mas eu não sei o que vai acontecer se eu dizer adeus, se vou sentir sua falta, quer saber? Faz muito tempo que eu não tinha ninguém para jogar cartas comigo em um sábado á noite. Apenas estou confuso. Mas é que eu sou jovem. “ele passou a virada do ano com você”, “Lúcifer poderia ter escolhido qualquer mulher do mundo para ser a mãe de seu filho e escolheu você!”



Eu ainda estou deslumbrado pelo que fiz no último agosto. Saltei 12,50m no salto triplo e ganhei uma medalha no TUNA, lancei 40 metros no estadual máster. Desde então tenho treinado menos e menos. Perdi músculos, perdi força e perdi motivação desde que consegui o que queria e continuar a competir seria apenas repetir o que já fiz. Bem, não é uma ideia tão ruim, eu sei. Estar saudável é bom, competir é bom, ter um belo corpo é bom e eu amo o atletismo. Devo voltar a treinar em fevereiro e espero estar em boas condições no meio do ano, ou desistir de novo e de novo como tenho feito desde agosto.

Será fácil ir treinar porque vou ter de estar na faculdade de qualquer forma, já que tenho duas ambições: me tornar um professor e falar grego como eu falo português.

XOXO

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ABROAD VERSION:

“The 23 project”

Let’s say I’m 23. I’m independent. I work. I do college. Language college. Best language course of Latin America. I don’t get paid at my job to be comfortable. Even worst if I consider the kind of diversion I like. But it’s a good money to someone at 23 let’s say, even I’m vulnerable to unemployment, suicide or prostitution, just like any young man lost in a giant town. I rent a room in a good village of town, the best room of a house and I have a porch only for me and for my cat, which have been living under my responsibility for nine years. My parents don’t like my cat guess it’s the same about me, they think I’ll scratch my nails in their sofa, in the carpet and hang my nails in the living room curtain, drop things… that’s why my parents are about me, they don’t like me the way I am, they don’t like me. It’s not worth they say they love me their way, it doesn’t make sense to me. Or you love who I am or you don’t love me, you just love your own expectations about me and who you wish I may someday become, that’s what you love, not me.

At 23, life shows itself long to me. I have a long path. I’m young enough to do a lot of things like publishing books and dream about recognizing, respect about my writing. I’m young enough to go back to music school, to compete at university track and field, to believe in love, to believe in future. Then it’s ok, Hugo. Then just take a deep breath, take Rivotril and you’ll be alright, take Risperidona and you’ll be alright, yes you’ll be because you have no courage to kill yourself as your mom told you, you’re such a coward. Yeah but at least I don’t believe in Santa Claus and I don’t carry a flag that it’s not mine – “to carry a flag that is not mine” is one of my projects for 2018, you know? Ignore Christmas, I mean. Since I’m not a Christian. Avoid to behave like a hypocrite at least a day in the year, you know? Maybe I’ll stay home alone at dec.25, cook a lasagna, drink some beers, buy something to distract me and maybe watch some classic horror film for the tenth time.

Are you just back now, tall Lucas? Did you forget what you told me last year? That it would be better if we don’t hang out anymore. I was involved. It was getting more than sex to me. And now, even knowing that you hurt my feelings once, you come back wanting: sex; group sex better saying and I should say that my interest for sex have been low and I wouldn’t back to visit you not even if I could keep my javelin in your house, because if I’m not involved anymore, your sex is not sufficient to make me visit you again. Sorry. If you were Antonio I could maybe, maybe think about considering it, but you’re not him.

I can’t explain to myself your suddenly fascination with me even I’m hearing it from you every day. You took away the fun you had to other boys, many other boys to stay with me, with the diversion I have to offer, which I know is not that much that you had with all the other boys. I’m flattered and confused. You’re only 13. I feel so tired and I’m afraid to hurt your feelings. This thing we been through has just began but I don’t know what will happen if I say good bye to you, If I’ll miss you, you know there was a long time I had not one to play jacks with me in a Saturday night. But I’m just confused. But I’m just young. He spent the new year with you. Satan could have chosen any woman of the world to be the mother of his son and chose you!

I’m still mesmerizing for what I did last august. I leapt a triple jump of 12.50m and earned a medal of TUNA, I threw 40 meters on the state master championship. Since then I have been training less and less. I lost muscles, I lost strength and I lost motivation since I got what I wanted and keeping on competing was just repeating what I already did. Well, this is not a bad idea, I know. Being healthy is good, competing is good, have a fit body is good and I love track and field. I’ll try to restart the training at February and try to be in good conditions of compete at the middle of the year, or just give up over and over, what I been done since august.

That will be easier go to train because I have to go to college and I have two ambitions: become a teacher and speaking Greek as I speak Portuguese.

XOXO