2 de jun. de 2017

COLD COLD HEART


I tried so hard my dear to show that you're my every dream


Yet you're afraid each thing I do is just some evil scheme


Why can't I free your doubtful mind and melt your cold cold heart


And so my heart is paying now for things I didn't do


Why can't I free your doubtful mind, and melt your cold cold heart


There was a time when I believed that you belonged to me




"Cold, Cold Heart", Hank Williams, 1951.

XOXO

24 de abr. de 2017

O ÚLTIMO HOMEM NA TERRA



Eu vou cria-lo som por som, sozinho. E sóbrio. E uma merda histórica no último treze de abril.

Três de dezembro último. Foi difícil pegar o coração partido em dois, juntar a coisa gosmenta e costurar lentamente, com coragem, ponto por ponto com o fio. Esperar a gosma dos pontos secar aos poucos, com paciência; e depois tirar o fio dos pontos, com coragem e “seguir em frente”.

Agora, ele parte em dois novamente – me dá calafrios em ter de pegar as duas partes gosmentas de novo, para começar a juntar. Vocês que cursam biologia, vocês são só amor, só amor. Agora eu encontrei a definição perfeita para a palavra “amor”: amor é usar os outros e virar as costas de uma forma bem atual: ignorar quem você acabou de usar. Não é uma reclamação, é uma constatação. Eu também já fiz isso com outras pessoas, mas você só percebe o quanto isso é ruim quando você atira no próprio pé.

Porém, eu devo admitir que você, futuro cientista rico e famoso, salvou minha vida na última sexta-feira. Só por ter falado comigo. Eu já tinha aceitado que você não voltaria a faze-lo. Eu tinha um suicídio agendado para essa quarta-feira. O serviço do 141 do governo, eu penso que ele não ajuda. Eu jamais ligaria para pedir ajuda. Quem decide fazer, apenas decide. Nada tira isso da ideia.

Eu escreveria no blog por último que você, olharia pela última vez no espelho na sua vida enrugado, velho, feio e rico. E eu, olharia para o espelho pela última vez jovem, atleta, belo, branco e pobre. Mas como você salvou minha vida na sexta-feira, eu fui treinar no sábado, eu fui competir no domingo, fiz as melhores marcas da minha vida em duas provas, talvez porque eu estava feliz por ter um encontro agendado com você logo depois á tarde. Não existe nada mais cruel do que tirar um doce da boca de uma criança pobre, Antônio.

Não importa, não importa o que te escrevi depois para externar minha frustração, e me desculpar por isso depois. Você não vai voltar a me dirigir a palavra e me ver: tampouco.
Eu pensei que eu tinha aprendido alguma coisa com o meu caótico último relacionamento, que eu não cometeria os mesmos erros ao me apaixonar de novo, mas não. Eu continuo neurótico. E eu devo agradecer o cloridrato de venlafaxina que tem acabado com a minha libido desde que voltei a tomar. Nem é uma dose muito grande, mas tem sido o bastante. Desliguei o hornet desde que conheci você. Ainda sou frequentemente assediado por contatos no whatsapp, e tenho pacientemente recusado todos os convites para sexo da forma mais delicada que posso.
Domingo, quando eu te encontraria, eu não tomei a venlafaxina só porque achei que ia te ver, para a libido responder, para poder fazer amor com você. E fizemos, fizemos muito amor – você me recusou e me ignorou, Antônio; isso é amor.

Era difícil sustentar a libido só por causa do sentimento súbito que tive por você, mas agora não há mais necessidade. Tomei a venlafaxina á noite no domingo, tomei hoje. Faz tempo que não bebo álcool (que é depressivo); no lugar, tenho comido doces. Sim, doces, que trazem felicidade. E não preciso me preocupar em engordar, como uma pessoa que faz sete sessões de treino de atletismo por semana pode ter a preocupação em engordar?

Acordei sozinho nessa segunda-feira ensolarada com as baratas depois do ataque químico. Sou o último homem da terra, mas não é justo dizer que estou sozinho, porque eu tenho a mim mesmo. A diferença é que dessa vez eu não tenho suicídio nenhum agendado. Há mais do que sol na minha varanda. Há vida lá fora.

***

Embora eu não vejo muito além dos cinco livros que escrevi (três publicados e dois inéditos), embora eu tenha decidido que vou tirar umas “férias” (não ler nem escrever nada por seis meses), há o que fazer na literatura no que há por vir. Quarta-feira última de manhã dei uma entrevista via skype para o querido Daniel Manzoni, doutorando em teoria literária da Unicamp que está fazendo um disciplina sobre poesia e escolheu o tema poesia homossexual para um ensaio. Ele disse que pesquisou autores e escolheu os que mais gostou para o trabalho, e um deles foi o meu debut “Poesia gay underground: história e glória” (Ed. Annablume, 2008). Foi nostálgico, estranho falar sobre um livro que escrevi há nove anos atrás. Eu era outro escritor, eu era outra pessoa. Sou totalmente diferente agora. Mas contribuí como pude. Daniel disse que vai me mandar o ensaio quando ficar pronto.

Recebi também uma proposta para um evento literário na universidade federal do Piauí, em Teresina (Com passagem, hospedagem e alimentação pagas!). Fui convidado pelo organizador, por ele acompanhar e admirar meu trabalho, e comentar o quanto eu combino imagem e texto no meu trabalho exibindo meu corpo com pouco pudor. Vou montar o escopo da minha apresentação no mês de maio e o evento deve acontecer em vias de setembro ou outubro.

Em dois de maio, abrem as inscrições para o anual programa nascente da USP, que premia artes de alunos da USP em diversas áreas como a literatura. Vou inscrever o meu romance inédito mais recente “Drag por drag”. O evento tem um prêmio de R$ 4.000,00 – além do “selo de qualidade”, que ajuda muito a viabilizar a publicação. Se eu não ganhar esse ano, significa que há algo de muito errado com o júri do prêmio ou comigo...

***

#Elsewhere:

Domingo dia 23/04 eu participei da 2ª etapa do torneio estímulo master da AAVSP, na querida pista do Ibirapuera onde iniciei no atletismo. Eu pretendia competir no lançamento do martelo, no lançamento do dardo e no salto triplo. Porém, devido a problemas no programa horário, tive de abrir mão de competir no martelo. Dessa vez me preparei bem, aqueci bem, me concentrei bastante e fiz uma ótima competição. Venci a categoria M30 do salto triplo e do lançamento do dardo. No salto triplo, saltei 11,46m (pb*) e no lançamento do dardo, lancei 35,02m (pb*). *“pb” significa “personal best” para quem não conhece atletismo hehe. Essas marcas me deixam em quinto lugar no ranking da USP em 2017 nas duas provas. Fico bastante feliz, mas sei que ainda tenho muito a melhorar. Ainda estou um pouco longe das minhas metas para a copa USP (que acontece daqui a um mês). Mas decidi que vou trabalhar bem duro neste próximo mês para competir o melhor que eu puder.



#Elsewhere 2:

Também decidi dar um tempo com a literatura porque eu decidi voltar a estudar música.

Uma singela homenagem que postei uma vez nesse blog para um dos aniversários do "Nevermind" do Nirvana:

https://hugoguimaraesnoceu.blogspot.com.br/2011/09/come-as-you-are.html?m=0

XOXO




29 de mar. de 2017

A SEMANA PRETA

O corredor da morte no Brasil é a porta da rua. Decidi que eu vou fazer só o que eu quero nos meus últimos dias. Aproveitar que paguei pela “Diamond league” dos velhos? Não quero mais ir ao curso de letras. Procurei um lugar escuro do prédio onde ninguém pudesse me ver e fiquei lá bebendo cerveja. Decidi ir à sauna e não beber, usar drogas, a noite toda, para ter atenção. Decidi ir para casa tomar umas drogas que tenho guardadas para antecipar a morte. Decidi comprar hambúrgueres, e deitar com a minha gata. Eu gosto de deitar com ela, acordar e ir atrás do antidepressivo que acabou sexta-feira e me deixa com tanto ódio que não consigo explicar. Quando se faz trinta anos, você já tem a sensação de estar morto. Aos trinta e cinco, você morre de verdade. Isso significa que eu ainda tenho três anos de vida. Imagina o que eu posso fazer em três anos? Eu posso mudar minha vida.

***

Igor encontra um cara agindo de forma estranha, agindo como Elisa Lam antes de ir parar morta dentro da caixa d’água. Igor pensou “Esse deve ter drogas...”. Sim, Igor. Balançou o pau e o cara elogiou, foram para o quarto dele. Um ato sexual meio estranho, que não evoluía. Ao perceber que a droga não era mencionada, Igor vestiu a toalha para se retirar e o cara “Quer pó?”. Quero, tirou a toalha e comeu o cara até ele gozar por dois bons tiros. Sim, Igor.


Igor deixa um cara tocar nele o bastante para ele assumir se tem pó ou não para continuar a tocar nele, sim, Igor. Igor cheira uns três tiros enquanto chupa o cara, que tem um pênis mais grosso e por o seu, não responder tão bem já que o único atrativo do cara em questão era o pó. Nem o pó era bom. Era azedo. Igor prometeu pissing, mas só dar o mijo, não receber. Igor fechou a porta do banheiro dizendo que precisava usa-lo por um minuto. Passou meia hora lá até o cara desistir. Sim, Igor.


Olga adora portas abertas. Sim, Olga. Entrou lá para ser chupada por um educado rapaz. Ele é que falou do pó. Ela só pediu porque ele mencionou sobre o pó. Aquela porta abria-se a fechava-se. E Olga sempre dava uma passava lá para ver se a porta estava aberta, por causa do pó mais do que por ser chupada, porém Olga é mais expansiva, conversava bastante. Sim, Olga.


Olga passa por um belo rapaz e espera até que ele o siga. Sim, Olga. Ela prefere ser abordada ao invés de abordar por incrível que pareça. Já mais desperta pelo pó do homem da porta aberta, Olga perguntou se o rapaz tinha pó depois que ele já estava com a mão dentro do sexo dela. Foram ao quarto do rapaz. Cheirar mais e conversar mais, muito. Além de gozar, o rapaz fotografou Olga, filmou-a. E ela gostava, estrelava. Olga podia ficar mais, esperar o rapaz sair para comprar mais pó e voltar, mas Olga estava cansada. Estava há doze horas naquele lamentável lugar. E estava com dores nas costas ainda por cima. Olga decidiu ir pra casa morrer. O pós do pó, horrível. Um dia inteiro na cama para decidir seguir em frente ou não. Sim, Olga.


***

Então você consegue uma vitória, olha para o teto de concreto erguendo as mãos. Mas o que você está olhando mesmo é para meros conjuntos visíveis de partículas diminutas de gelo ou água em seu estado líquido ou ainda de ambos ao mesmo tempo (mistas), que se encontram em suspensão na atmosfera, após terem se condensado ou liquefeito em virtude de fenômenos atmosféricos: as nuvens.
É isso que você chama de deus? Tem a cara de pau de dizer isso? Ou melhor, diga que esculturas ou pedras brutas que foram achadas após muita escavação também são imagens de deus. Após terem deixado as pedras bonitinhas, passaram batom nas pedras, pegam as pedras e produzem gravuras fazendo essas pedras brutas parecerem o mais próximas de uma feição humana para que pessoas como você possam se identificar. Daí, inventam mentiras baseadas em violência extrema com pessoas utilizando tortura com pregos ou fogueiras. Tudo isso, tudo isso que inventaram está por cima das nuvens? É isso que você acha? É o que te protege? É o que protege seu quintal dos ratos? É o que te faz alguém mais justo, mais limpo, melhor? Eu, eu mesmo, levantei as mãos olhando para essas “nuvens” umas duas vezes esse ano. Mas fui enganado. O que eu agradecia, foi logo, bem logo tirado de mim.

***

Você, você que me olha rindo, por ter feito high school no colorado, por ter entrado em engenharia aos 22, você ainda não pode andar com os pés sobre mim. Sabe por quê? Porque eu tenho acesso à água potável, à moradia, à comida, à educação apesar de muita gente no mundo não ter. A insistência me levou a minha primeira competição de atletismo de 2017, a primeira etapa do “Torneio Estímulo”, organizada pela AAVSP. É melhor estrear na temporada em um ambiente saudável como o master. É chato ter de aguentar o pessoal da FEA e da POLI me olhando como a Angela Merkel olha para o Trump, é incômodo lidar com isso. Disputei a prova do salto em distância e venci a categoria M30 com um salto de 5,58m (O corredor de saltos estava lamentavelmente duro, não havia uma tábua de impulsão que impulsionasse ninguém, colocaram fitas adesivas brancas em cima dela para parecer uma tábua de verdade. Além disso, eu não fiz um bom aquecimento; por não ter feito um bom aquecimento, tive problemas na corrida durante a competição e errei a finalização do meu segundo salto, que me daria um resultado melhor). Eu poderia ter saltado mais, sou muito exigente comigo mesmo, mas saltei o suficiente pra vencer. Essas etapas servem como preparação para o campeonato estadual máster que acontecerá em agosto. No ano passado, o vencedor da minha categoria fez 5,72m para vencer. E eu posso fazer bem mais que isso, e vou trabalhar para fazer. Quero ser campeão estadual máster e ganhar o troféu do torneio estímulo no final do ano (Eles somam as cinco etapas e dão troféus para cada um dos atletas que pontuaram mais em cada prova).
Além disso, foi bom voltar à pista do Ibirapuera. Foi lá que comecei a treinar em 2006 com o Neilton Moura (Que hoje é técnico da seleção brasileira). Embora lá no atletismo da USP ninguém me incentiva para nada, tomo mundo acha que sou um bosta, o Neilton gostava de mim, ele sempre me elogiava nos treinos, acreditava no meu talento. Me arrependo até hoje de ter abandonado o treino para ir fazer faculdade de logística. Sim, a escolha mais estúpida de toda a minha vida.


26/03/2017, pista de atletismo do Ibirapuera.

***

Eu pensei em matar alguém. Ou em matar muitas pessoas antes de me matar. Para fazer a morte valer a pena. Porém, eu não sinto ódio por ninguém a não ser por mim mesmo. Eu não quero matar ninguém. Perceba que, curiosamente, quando você deveria ter acordado morto, por ter provocado a própria morte, você recebe uma notícia boa de alguma forma. As drogas para a antecipação da morte estão/ficaram guardadas no meu armário.

A editora portuguesa Chiado incluiu um poema meu na II antologia de poesia contemporânea brasileira “Além da terra, além do céu”. Bem, antes da escolha eu já sabia que meu poema era bom. 70 poetas estão nessa antologia. Sabe para que serve uma antologia como essa? Para vender 70 livros, no mínimo. Não, os poetas não receberão exemplares da antologia, terão de comprar. Mesmo assim, é um prazer. É algo acontecendo. A internet não imortaliza, não imortalizará ninguém. Papel imortaliza, livros imortalizam. Vejam meu poema selecionado:

“Seis horas da manhã”

Eu quero ser uma senhorita
Do campo
Esfaqueada
Sangrando e repousando pela manhã

Eu sou uma mulher ruiva
Quando acordo
Arrancando bacon do porco
Amamentando uma espingarda de dois canos

(Hugo Guimarães)

A parte boa é que é uma editora portuguesa fazendo esse tipo de antologia. Eles tem filial no Brasil também. Aqui ninguém lê poesia. Aqui só dá J.K. Aqui só dá Stephenie. É a educação que o povo tem, o que há de se fazer? (A educação que tem na escola e em casa). É o QI do brasileiro... Não há nada a fazer além de lamentar. Mas e em Portugal? Será que se lê poesia em Portugal? Lá deve ser mais provável que alguém tenha acesso ao meu texto.

Ainda sobre literatura. Acho que saraus em cursos de letras em universidades são importantíssimos. Decidiram então, no próximo dia 30/03, fazer o primeiro sarau de literatura lgbt do curso de letras da USP. Bem, normalmente há “convidados” nesse tipo de evento. Esses convidados expõem sua obra, leem trechos, respondem perguntas e depois há o microfone aberto para quem quiser declamar o que quiser. Por ter 3 livros publicados (um deles ganhador do proAC), ter livros resenhados por gente como Santiago Nazarian e Micheliny Verunschk, ter um livro editado por alguém como Marcelino Freire e por ser aluno matriculado na USP (O que deveria ser uma prioridade ao me escolherem como autor convidado), por todos os “autores” que comentaram os posts no mural do evento se oferecendo para participar (Nunca ouvi falar em nenhum deles). Pois bem, fiquei já meio incomodado por terem demorado horrores para confirmar minha presença. Seria legal, expor meus livros, me expor, declamar.
O principal do evento seria questionar essa “tarja” de literatura lgbt (Eu não sou um autor lgbt, nem faço literatura lgbt) Eu sou um homem gay que faz literatura e abordo diversos temas nos meus livros que vão ao encontro de qualquer ser humano independente do sexo ou da sexualidade. Seria legal debater com o público sobre isso. Porém, nos últimos dias as coisas começaram a ficar ainda mais estranhas. Sabe o que vai ter no sarau? A presença da unidade móvel do Centro de Cidadania LGBT Arouche durante o evento, realizando o teste de HIV e prestando atendimento aos interessados (wtf??). Isso é um erro imperdoável da organização, associar gays com o HIV de uma forma tão explícita (de novo), totalmente desnecessário. Existem N locais gratuitos em São Paulo onde uma pessoa pode se testar, para que fazer isso em um sarau de literatura só porque é um sarau de literatura “lgbt”? Um dia antes do evento, decidi cancelar minha participação. Eu não preciso vender livros, eu não preciso me expor, e não preciso compactuar com isso. Achei que seria uma experiência interessante caso a organização não tivesse sido um tanto infeliz na questão dos testes de HIV no evento. Eu não me importo em não ter um vídeo meu declamando no youtube para divulgar meu trabalho. Não filmaram nenhum dos shows da Gal Costa da turnê “Vapor barato” de 1971, que é uma das coisas mais importantes da história da música brasileira. Por que haveria de existir algum registro meu recitando em um sarau? No horário do sarau estarei na pista de atletismo treinando lançamento do dardo. Preciso lançar 40 metros até a copa USP, não há tanto tempo.


XOXO 

26 de fev. de 2017

A FELIZ AUSCHWITZ

Dos pouquíssimos sonhos que tive na vida, não consegui realizar nenhum.

É preciso uma frase de efeito para começar uma narrativa, não? Parece que está na moda. O melhor romance da nossa história, ao contrário, tem uma frase de efeito no final:

Não tive filhos. Não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.

Faço das palavras de machado, as minhas. Essa frase de machado é atualíssima, e eterna.

Julian Fúks e suas longas barbas, e seu jabuti, é elogiado pela autora da orelha de seu livro “A Resistência” a começar pela primeira frase do livro. A Noemi fez orelha, sim, júri de N prêmios literários, editais, etc.
Eu desisti de insinuar que é preciso ter os amigos certos para sobreviver no mundo literário, não posso escrever sobre o que não sei.
O que sei é que li a orelha, e não, não dá vontade de ler.
Pelo menos é um homem ganhando alguma coisa, já que as mulheres estão dominando o mundo.
Eu estava louco para ler o “Quarenta dias” da Maria Valéria Rezende. Li a sinopse e não: não dá vontade de ler.
Os autores de literatura brasileira contemporânea estão a deixando chata e isso encurta ainda mais o seu tempo de vida, a meu ver.
Infelizmente é difícil ser excelente e incrível como o Marcelino, como a Micheliny, como a Verônica.
Depois de ter lido Sylvia Plath, Dostoiévski e Micheliny, além de ter a dolorosa experiência de terminar meu próprio livro novo, pensei em comprar um gibi do Duck Tales hoje, edição especial, capa dura, mas achei desnecessário pagar 60 reais em um gibi. Sim, minha bipolaridade anda razoavelmente controlada, não tenho rasgado dinheiro com tanta facilidade.

***

Eu serei capaz de opinar.

Fui hoje ao cinema ver o novo dos irmãos Dardenne, “A Garota Desconhecida”(La Fille Inconnue) enquanto a feliz Auschwitz urrava pela rua Augusta. Todos os velhos que lotavam a sessão saíram reclamando. Ok, ok, é o filme mais monótono dos irmãos Dardenne, mas está longe de ser um filme ruim, eu achei classudo no último. Já que os irmãos não precisam mais provar nada para ninguém, apenas fizeram o que queriam fazer e fodam-se vocês. Não gostou? Vá ver La La land.

Essa foi uma das metas do dia, além de conseguir cortar os cabelos. Cortar os cabelos me acalma quando tenho excesso de ódio.

Eu percebi mais uma vez que não tenho educação. Não se responde deselegância com deselegância. Sim, ao ser absurdamente maltratado pela garota na bilheteria do cinema, eu disse a ela “Se não fosse esse vidro te protegendo, eu meteria a mão na sua cara!”

E eu já tinha cortado os cabelos.

Descendo a augusta, procurando o cabeleireiro, na feliz Auschwitz, cheio de meninos sem camisa com músculos mixurucas, que devem ter conseguido em um intensivo de três meses de academia, eu mantive minha camiseta preta, eu não precisava mostrar os meus músculos, que são bem maiores e mais bonitos do que a maioria, construídos em pouco mais de três anos treinando o mais nobre dos esportes: o atletismo; porque hoje é meu dia de ser invisível, eu quero ser invisível hoje.  


            XOXO

22 de fev. de 2017

NUDES PARA O LUCAS




passei o dia todo pensando em você como um adolescente. se eu me dividir em dois, eu sou dois adolescentes grudados em um rudemente.

até semana passada, eu me disse o quão raro eram os pálidos olhos azuis de outro jovem garoto. tão raro quanto o azul de um galão barato de água mineral e não. eu não teria a chance de chegar perto daqueles olhos.

uma ou duas vezes olhando bem dentro daqueles olhos, tentando hipnotizar, agora eu finjo que morri. ontem vim trabalhar vestido de flores devido a campanha da semana do carnaval da empresa. hoje vim de luto.

passei o fim da noite de ontem comendo vários sanduíches de peito de peru com cream cheese por causa da irritabilidade, mas eu estava na verdade me comportando como um mendigo.

o professor da academia mudou meu treino justo ontem á noite. o treino além de novo, era pesado, a academia cheia e apenas dois professores disponíveis, mas não foi por isso que abandonei o treino pela metade para ir para casa mais cedo.

o android comeu todas as minhas nudes bonitas por causa de espaço. meu iphone novo está vazio. meu vizinho, sempre tão dócil, disse que tiraria novas para mim, mas todo mundo toma remédio para dormir, e ele dormiu.

os pálidos olhos azuis foram-se ao que dei uma boa olhada no espelho, e desisti. o sorriso do lucas era só um sorriso e um pau grosso, nunca o vi ao vivo. as nudes que eu mesmo fiz para ele não ajudaram muito, é difícil se auto fotografar.

daí passei mensagem ao jovem engenheiro wannabe, que também treina salto triplo na usp "triplistas estão em extinção, não?" "competição de salto triplo parece convenção de bruxos ou de harpistas, não?", esse  mesmo jovem que flertei muitos meses atrás. ele respondeu. esses adolescentes siameses que me compõe, eles nunca crescem. nunca. o jovem engenheiro tem muita paciência, ele apenas responde perguntas, nunca me faz nenhuma.



o corpo não é nada mais do que uma extensão da mente e você deveria protege-lo mais do que você o faz.

cheguei em casa ontem á noite tão apressado que destratei minha gata. tomei um banho apressado, tentei arrumar os cabelos apressado. reclamei tanto da sujeira da gata, o vômito e a merda; gritei com ela quando começou a miar. ela ficou magoada e desapareceu antes de dar um miado que parecia um choro. fui até a varanda e lá ela estava no telhado do vizinho. comecei a chamar por ela, mas ela não voltava. voltei para o quarto porque ainda estava preocupado em fazer as nudes, as nudes, a gata logo volta mas. quando voltei para a varanda a gata não estava mais no telhado do vizinho nem em lugar nenhum. coloquei os óculos. olhei para todos os telhados com atenção. chamei muitas vezes. fiquei desesperado. saí para a rua seminu e bati na porta dos vizinhos para perguntar se a gata caíra no quintal de algum deles, mas não. voltei para casa, fiquei só na varanda. "pôxa, gata. só vivo nessa casa por sua causa, só pago esse aluguel caro por sua causa e você simplesmente foge?". voltei para o quarto e fiquei bem triste "oh meu deus, eu perdi minha única amiga...". meia hora depois, a gata surge, estava debaixo da cama.

***

o que sobrou para a noite passada foi enviar, enviar. cópias do meu romance novo para todo mundo que pudesse ajudar de alguma forma. o bebê nasceu ontem. bem, a exata data foi ontem, já que foi a data em que tudo foi revisado, notas de rodapé e etc, no mesmo dia em que minha avó completaria 97 anos se viva. pensei em dedicar o livro a ela. mas não quero fazer isso. 

o livro é homem. "o" livro, ele tem um gênero masculino na língua portuguesa. isso significa que ele é uma criatura frágil como todos os homens. li o terrífico último livro da micheliny verunschk e agora quero ler a maria valéria rezende. mulheres, mulheres, mulheres. meu livro tão frágil, um livro de um homem.

desde que nasceu, o livro não tem mais nada de mim. sua publicação não tem a ver com hugo guimarães, o livro é apenas assunto do "drag por drag", ele é um ser independente agora. eu apenas o pari. agora, devo lutar por ele em um mundo onde eu nunca soube como plantar leitores, se é que é possível mas. "drag por drag" é tão independente que talvez ele não precise de leitores, só de um isbn, assim como uma pessoa precisa de um rg, precisa só existir, mais nada. sabe por que? porque eu acho uma pena um livro tão bom morrer em uma gaveta. é por isso que vou lutar pelo meu filho, meu mais novo amigo. eu também vou acabar em uma gaveta de madeira, mas eu tive uma chance. 

breve protesto:




XOXO

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PICS FOR LUCAS

I spent the whole day thinking of you like a teenage. If I split myself in two I am two teenagers, glue in one rudely.

Until last week I wondered how rare was the pale blue eyes of another young guy. Pretty rare like a cheap gallon of gross water and no. I wouldn’t have the chance of get close of those eyes.

Once or twice looking deep in his blue eyes trying to hypnotize, now I pretend I’m dead. Yesterday I came work dressed with flowers due company’s carnival week, today I came in black.

I spent the end of last night eating lots of turkey on cream cheese sandwiches due irritability, but I was behaving like a beggar that same night.

Gymn professor changed my training just last night. Training was new, hard, the gymn was so full, there were just two teachers available but it wasn’t because of that I left the training by its half to go home earlier.

Android ate all my pretty pictures where I’m naked, for space. My new Iphone is empty of images. My neighbor always so nice, offer himself to take new pictures of me naked, but he takes pills to sleep just like everyone and didn’t show up.

The pale blue eyes are gone like I looked deeply to mirror and just gave it up. Lucas smile was just a smile and a thick dick in picture, I never met him. The pictures I made myself didn’t help a lot, it’s hard to self picture.

Then I still messaged the young engineer wannabe, which I flerted many months ago. He answered. These Siamese teenagers that compose me, they never grow up. Never. The engineer has a lot of patience, he just answers questions, he never ask me a question.



Body is nothing but it’s an extension of your mind, you should protect it more than you do.

I arrived home last night so hasty that I mistreated my cat. Having a bath so hasty, trying to comb the hair so hasty, that I claimed so much about my cat’s dirt, puke and shit; I yelled at her when she started to mew. She got hurt and disappeared after mew almost crying for last. I went to the porch and there she was in a neighbor roof. I started to call her on and on but she won’t come back. I returned to the room because I was still hushed by the nudes, the nudes, the cat will soon come back but. When I went to the porch again, the cat wasn’t there anymore. I looked for all the neighbor roofs, called for her on and on. I got desperate. I went to the street half naked and knocked the neighbor doors to know if the cat had fallen in their backyards or something but no. I came back home, stayed alone at the porch. “Oh cat, I just live on this house, I pay for this high rent because of you and now you just run away?”, I came back to my room and though real sad “Oh my god, I lost my only friend”. Half an hour later, the cat showed from under the bed.

***

Last night what is left was send, send. Copies of my new novel to everyone who could help it to be published somehow. Baby was born yesterday. Well the exact date was yesterday since the review was finished as all bottom lines and everything, the same day that my grandmother would turn 97 if alive. I thought of dedicate the book to her, but I don’t want to do that.

The book is man. “The” book, it’s got a male gender in the Portuguese language. It means that it’s a fragile creature like all men. I read micheliny verunschk's terrific last book and now I want to read maria valeria rezende awarded book. Women, women, women. That makes my poor book so fragile, a book of a man.

Since it’s born the book is not about me anymore. Its publication is not about hg, but the book is about dod. Dod is a being, it’s nothing to do with me anymore, I just delivered it. And I must fight for it in a world where I never knew how to plant readers if that is possible but. Dod is so independent that it don’t need readers perhaps, just a isbn, like a person needs an ID, it must exist. Do you know why? Because I think it’s a real shame a book so good die inside a drawer. That’s for I’ll fight for dod, my new friend. I know I'll end up in a wooden drawer too, but I had a chance.

brief protest:



XOXO

29 de jan. de 2017

A SUPERPOPULAÇÃO

E eu ainda não posso me esquecer da barba. Da barba.
Meu ex-namorado é uma assombração que me assombrou terrivelmente durante cinco meses. Hoje, ele têm me assombrado cada vez menos.
Mudei-me há cinquenta dias, frígido.
Até hoje já recebi três homens no meu quarto novo.

Elsewhere 1#
Poderia ter recebido mais, não fosse o caos do treino e os problemas que venho enfrentando com o treino, a extrema preocupação com a evolução da técnica, das marcas. Eu não entendo, eu não entendo a planilha que meu treinador me envia todas as semanas.
Não posso mais treinar junto com os outros. Consegui um trabalho em Alphaville. Você sabe onde fica Alphaville? Fica um pouco pra lá da China. Consigo chegar á pista bem no finalzinho do treino, quando todos os outros já estão terminando o treino.
Pergunto ao treinador o que devo fazer, e fico lá fazendo, sozinho, no escuro, pois um raio caiu no refletor há dois meses e deus sabe quando vão consertar.
Eu odeio repelente. Tenho um nojo indizível de repelentes. Mas voltei a passar ontem porque tem mais mosquito na USP do que na Amazônia e estou com o corpo todo com marcas de picada de inseto.
Não é fácil trabalhar dez horas por dia, ir para a academia quatro vezes por semana, treinar salto triplo, salto em distância e lançamento do dardo o suficiente para competir de uma forma “decente”. É difícil encaixar tudo isso em uma rotina. Também é difícil ter paciência com as dores. Mas decidi que é uma das minhas “missões” em 2017. Fazer tudo isso bem durante o ano e conseguir boas marcas, apenas porque é difícil. Há um ditado japonês que não vou saber transcrever por não lembrar com exatidão. Algo como “É difícil? Então é isso que quero fazer”.



A mulher, além de trabalhar, estudar e cuidar da casa, a sociedade ainda a impõe a “obrigação” de ter um homem. Eu lembro de um comentário assim em uma conversa com a amiga escritora Adrienne Myrtes. Com o homem é diferente: além de trabalhar, estudar e treinar, a sociedade ainda o “obriga” a cuidar da barba!

Elsewhere 2#
Vamos falar da morte, que é o que interessa.
Ocorre que sexta-feira, terminei meu mais recente romance (também tenho um inédito de poesia). Eu deveria comemorar bebendo sozinho na minha varanda uma garrafa de um belo vinho do porto. Mas não tinha dinheiro para isso, pois como comecei a trabalhar em doze de dezembro só terei um mês de salário na próxima terça-feira.
Primeira dica sobre dinheiro: se você quiser começar a sair com um homem jovem, pós- adolescente, saia com um que possa dividir a conta. Aliás, você não é o pai nem a mãe dele.
Bem, a começar a empilhar livros começo a pensar na superpopulação e nos seus males. Grandes escritores, parte deles escreveram muitos livros e partes, poucos, ok, mas começo a achar que estou escrevendo demais. Além disso, meus livros são meus “filhos” e eu já tenho três filhos. Estou grávido de mais dois. E honestamente, desejo abortar um deles, o de poesia, simplesmente porque acho que não gosto mais dele e que o romance é extremamente superior em tudo: qualidade literária, originalidade, potencial comercial, etc.

O infante terrível:
O meu romance novo tem 100 páginas.
Ele se chama “DRAG POR DRAG”. Claro, uma óbvia alusão ao álbum “BLONDE ON BLONDE” do Bob Dylan de 1966.
Sinopse: Chove no mundo inteiro há sete dias. Muitos acham que o mundo se acabará em água. Mesmo assim, Igor, com seu casaco e capuz preto, arrastando seu martelo de arremesso, sai de casa no bairro da Vila Mariana com o objetivo de chegar até a Universidade de São Paulo. Igor tem um motivo terrível para enfrentar o caos da cidade e chegar até a universidade; e as adversidades que encontrará no caminho compõe a trama desse romance.
Gosto de Dostoiévski e gosto de Eça de Queiroz. É possível perceber influência dos dois na estrutura narrativa.
Quanto ao estilo, creio que pela primeira vez consegui articular como nunca todos os meus talentos. Ele não é tão explícito e violento como “O Estranho Mundo”, mas não é tão contido ou polido e difícil quanto “O Tiro de um milhão de anos”. Porém, ele é mais “possível” do que qualquer outro livro meu, é meu livro mais “acessível”, mais “fácil”, tanto que é possível até “filmá-lo”, algo inimaginável para meus livros anteriores. Porém, meu estilo está lá, não deixei de ser eu mesmo, apenas evoluí. E o livro, como terminou, acabou me surpreendendo. A ideia original era fazer um livro de sessenta páginas. Trinta páginas com texto, e trinta páginas com imagens. Acabou que não consegui dizer o que eu queria em trinta páginas de texto e o livro acabou evoluindo para um romance “comercial” de 100 páginas e nenhuma imagem.
Em 2017 começa a corrida para a publicação. Esse, eu faço muita questão. De publicar, de divulgar. Simplesmente porque acho que o mundo precisa mais de livros como esse. Embora seja difícil, vou apresenta-lo para algumas editoras durante o ano e ficarei ligado aos editais. Se “O tiro de um milhão de anos” ganhou o proac em 2014, acho bem possível que esse “Drag por drag” ganhe algum edital por ser infinitamente melhor.
E ainda tenho que cuidar da barba.



XOXO

20 de jan. de 2017

THE KRISTEN PFAFF MEMORIAL


“The Kristen Pfaff Memorial”

I left home with a trash face
Didn’t want to leave
No teeth brush
No bath

Got hidden trash face
Got hidden trash hair
With a cap

A boxer sweater
It was not that cold

47 days and I still don’t know
If I closed a coffin
Or if I’ve opened a coffin

Worse than a taste of bleeding
Is a taste of morning

Didn’t want to leave
Life is worst when you’re awake
Eighteen hours a day

I said I’m ok
Said proud that I’m ok to him
But I’m not

It is the devil
Every day
Eating olives at my porch
At my wet porch
It has been raining every day

I pay for my room
Cat ate pig meat yesterday
I have fly bites all over my body
I have a pain in a bone in my leg
That shall never pass
I have no money for the metro next week
I need dad to lend me some money
But my triple jump is improving
Four centimeters a week
And my writing is terrific

There is no idealism for sure
47 days he’s gone

(Hugo Guimarães)

“O Memorial de Kristen Pfaff”

Saí de casa com uma cara de lixo
Não queria ter saído
Sem escovar dentes
Sem banho

Escondi a cara de lixo
Escondi o cabelo de lixo
Com um boné

Um moletom pesado
Não estava tão frio

47 dias e eu ainda não sei
Se fechei um caixão
Ou se abri um caixão

Pior que gosto de sangue
É o gosto da manhã

Não queria ter saído
A vida é pior quando se fica acordado
Dezoito horas por dia

Disse que estou ok
Disse orgulhoso pra ele
Mas não

É o diabo
Todos os dias
Comendo azeitonas na minha varanda
Na minha varanda ensopada
Tem chovido todos os dias

Eu pago pelo quarto
A gata comeu carne de porco ontem
Tenho picadas de inseto por todo o corpo
Tenho uma dor em um osso da minha perna
Que parece nunca passar
Não tenho dinheiro para o metrô semana que vem
Preciso que meu pai me empreste dinheiro
Mas meu salto triplo está evoluindo
Quatro centímetros por semana
E minha escrita está terrífica

Não há idealismo decerto
47 dias que ele se foi


(Hugo Guimarães)