dizer "sim". sei que pode parecer cafona citar a Clarice. não é,
sabe. as pessoas é que fizeram com que fosse cafona citar a Clarice. no começo de
“a hora da estrela” ela disse que o mundo se formou porque uma estrela disse “sim”
para outra, daí causou-se uma grande catástrofe que resultou em algo tão
fantástico como esse planeta, ou este mundo. dizer "sim".
cafona é você. o começo de “a hora da estrela” é um dos melhores
começos de livro que li na vida. aliás, “a hora da estrela” é um dos melhores
livros que li na vida. você leu obrigado para o vestibular? achou chato? não se
emocionou? então você não tem coração. cafona é você.
bem, o que eu ia dizer sobre dizer “sim” na verdade, é uma
conclusão (sempre acho melhor dizer “conclusão” do que dizer “tese” ou “teoria”,
pois ainda me confundo ao identificar o que é tese e o que é teoria): sobre a
minha relação com o mundo; tudo o que é preciso ser feito para algo
extraordinário acontecer na minha vida, é eu dizer “sim” para o mundo e o
mundo dizer “sim” para mim. honestamente, eu não sei dizer se o mundo já disse “sim”
para mim, mas eu com certeza ainda não disse “sim” para o mundo.
o mundo, eu quero dizer. não a vida. sim, na minha cabeça são duas
coisas diferentes. eu tenho quase certeza de que a vida é uma mulher. e eu acho
que o mundo é um homem. talvez seja mais fácil, mais fácil o mundo dizer sim
para mim. e eu também acho que, talvez, o mundo seja bom. a vida é má, tenho
quase certeza. porém, contudo, se haver esse “sim”, esse esperado “sim”, algo
extraordinário aconteça. esse “algo” extraordinário pode até ser algo que eu tenho
perseguido há trinta anos, e que parece cada dia mais impossível: eu aceitar a
vida.
***
repita para você mesmo: você não é a kelly key cantando a música
da rosana (google it) e você não é a Catherine Deneuve passando roupas com o fio
do ferro fora da tomada em “repulsion” (google it either).
***
sei que
estamos no zimbabwe ocidental e não na américa, mas é impossível não se lembrar que é
valentine’s day. embora eu esteja mais calmo, bem mais calmo por voltar a tomar
xanax para tolerar melhor a vida, eu achei melhor vir para casa antes de
terminar de ver o filme “brooklin” que está em cartaz no cinema. eu devia ter
escolhido “joy” ou “a garota dinamarquesa”. “brooklin” é apenas divertido e a
garota protagonista desenvolve uma história de amor tão bonitinha com um bofe
tão bonitinho que não me contive de inveja. bem, na verdade não é bem isso. a verdade
é que passaram por mim vários flashbacks da minha relação com homens no que diz
respeito a relacionamentos amorosos. tive trabalho ao escrever “relacionamentos
amorosos” ao invés de “sexo”, pois eu
não sei mais o que é um relacionamento amoroso há muito tempo. e é sempre o meu
problema de dizer “sim” a mim mesmo antes de me oferecer a outro homem e dizer “sim”
para ele, e esperar e acreditar que ele também diga “sim” para mim. primeiro é
o corpo. três meses atrás, com o corpo perfeito, em pleno treino, com a pele
perfeita, eu não me achava apto a ter um relacionamento com ninguém por causa
da minha cicatriz nas costas, que nem se vê, que nem é o fim do mundo. e agora
então que estou fora de forma e com acne? sei que já estou recuperando a forma
e a acne já está melhorando, mas nessa exata condição, eu posso já ter a exata
vertigem de outra certeza que eu já havia comentado por aqui, no réveillon: o corpo
não é seu, você apenas o está usando, e você tem de devolver no fim da vida. nesse exato momento, eu tenho a sensação de que já devolvi o corpo.
conclusão:
eu preciso voltar a conhecer o nome do homem antes de conhecer seu pênis. estou com
saudades de conhecer primeiro o nome do homem, para depois conhecer seu pênis. ok
ok, mas só depois que eu estiver em forma. só depois que a acne sumir
totalmente.
XOXO