31 de jan. de 2020

COMO SE MELHORA O SALTO, MELHORA-SE A AFINAÇÃO






Vai-se a depressão
E vai-se o poeta?
Eu não sei cantar
E se eu aprender?
Posso rachar alguns espelhos
Mas o Nazarian ainda diz
Que sou um dos poetas bonitos
Que ele pegou
Tenho uma barriga para perder
E um maço de cigarro por dia
Para enfiar no meu traseiro
Hugo toma chuva
Mas entrega os livros
Um por um
Um por um
Sei que você lê esse blog
Sei agora
Só não sei como vou tirar
Do meu traseiro
A pessoa que você quer
Eu quero
Quero
Minhas pernas são enormes?
Minhas panturrilhas são enormes?
Por que o Lucas Jaeger já está saltando
E eu não?
Lucas Jagger lerá o livro
Lucas Jaeger lerá não
Lucas Jaeger lerá o livro
Lucas Jaeger lerá não
Até não sobrar uma pétala
Não vou ao Rio
Não dessa vez
E se o Rio
Vier a mim?
No prêmio Rio?
Meus dois anos
Imersos na cocaína
Foram resolvidos
Em dois meses
A internação funciona
E engorda
E lá você se corta
Mas não me corto mais, ok?
Não, não
Eu sou bonzinho
Bonzinho pra você
O atletismo
Ele de novo
Tenho ovos e esperança
São seis sessões de treino
Por semana
Que logo serão doze
Eu quero incomodar o Lucas Jaeger
E ter o corpo da Maria Abakumova (Google it)
Eu quero voltar ás aulas de letras
Falar grego como você fala seu português pobre
Ser um professor gay quarentão
Que saberá escolher roupas de muito bom gosto
Para dar as aulas
O gift dessa semana é uma performance de
“Batmobile” da Liz Phair.
Assim como se melhora o salto
Melhora-se a afinação.


XOXO

22 de jan. de 2020

SEIS HORAS DA MANHÃ


“Seis horas da manhã”

Eu quero ser uma senhorita
Do campo
Esfaqueada
Sangrando e repousando pela manhã

Eu sou uma mulher ruiva
Quando acordo
Arrancando bacon do porco
Amamentando uma espingarda de dois canos.


(Hugo Guimarães)

A gift:
Unravel, Bjork.

19 de jan. de 2020

PRIDE


#Trecho

Um louco motorista dobrou a Oscar Freire em alta velocidade e podia, podia parar, mas acelerou mais, para atropelar os comunistas de propósito. Tudo fora carregado como neve, mas como lixo ao invés de neve, entende? Mas eram cadeiras, salsichas, pernas humanas, braços, sapatos, sangue, pele queimada, pele arrastada pelo asfalto de uma forma que o asfalto gruda na pele, e você sabe como as enfermeiras tiram asfalto grudado na pele no hospital? Pois nem queira saber. Enquanto o trator de neve tentava empurrar toda aquela sujeira da frente, eu disse “é meu ônibus”. Gritei “espere!” e corri até a porta do ônibus. Bati na porta três vezes além de gritar. O motorista facínora abriria a porta muito mais facilmente para uma bela moça. Ele abriu a porta enquanto já esbravejava coisas como “esses putos vadios!”. Eu já desisti de argumentar com motoristas de ônibus, taxistas. Pensei “termine logo de empurrar o lixo e me leve para a faculdade”. Estômago; precisa estômago para viver uma situação onde o caos pode não justificar, mas explicar crimes e desentendimentos.

Aveia e proteína isolada.

Um rapaz bem vestido no ônibus, branco, com óculos de lentes redondas disse um tanto assustado “eu nunca tinha visto uma fratura exposta antes”. Sentei-me bem ao lado dele. Sentindo algo da raiva e apatia no coração bem sendo já costurado com agulha e fios, melado e gosmento; nojento, mas ficando curado, lá eu estava ao lado do rapaz, com a cara da Cyborg, a lutadora. Quando eu adentro o transporte público, sempre me sento ao lado da pessoa mais bonita. E você?
“Você sabe o que é pior do que uma fratura exposta?” o rapaz diz não e eu “fratura exposta na chuva”.

A gift:
St. Loius Blues, Billie Holiday




XOXO


3 de jan. de 2020

RETRAP

Eu sei. faz um longo tempo que não posto aqui. por desânimo. por não ter o que dizer. mesmo tendo o que dizer, mas é difícil difícil levantar da cama quando se te depressão, difícil fazer qualquer coisa. nesse período aconteceram duas coisas muito importantes. passei dois meses em uma clínica para dependentes químicos e acho que dessa vez me livrei do vício em cocaína. a experiência foi muito traumática. estar em uma clínica é exatamente como estar na cadeia. uma vontade infernal de fumar e os monitores só te dão um maço de cigarros por dia. A comida é ruim e repetitiva, mas devolveram meus 70kg, que é meu peso ideal. No fechar das cortinas contrataram um monitor novo que agride as pessoal, agrediu o melhor amigo que fiz dentro da  clínica, e eu prontamente liguei para a família dele para dizer o ocorrido para que eles pudessem, visitar e averiguar o que estava acontecendo. A clinica se chama Plenitude e fica em Itu no interior de São Paulo e não, não recomendo para ninguém.

no fechar das cortinas do ano, depois de um longa gestação e parto apressado, dei a luz ao meu quinto filho, a auto ficção "Igor na Chuva". Sempre maravilhoso publicar mais uma vez. O lançamente não foi mais cheio quanto eu esperava, mas mesmo assim fiquei satisfeito e estou começando a vender cópias pelo facebook.

Veja na íntegra, de presente, o primeiro capítulo do meu mais no pupilo:

 
Imagem de um martelo de arremesso.


Martelo de atletismo de bronze 7,26 kg 110 mm para lançamento. Pode ser usado em competições e treinamento. Cabeça com diâmetro de 110 mm com acabamento rígido de bronze (resistente à ferrugem) e núcleo de chumbo, peso e diâmetro precisos, formato esférico, equilíbrio perfeito e superfície totalmente lisa. Cabo de aço galvanizado com 3,2 mm de espessura e 987 mm de comprimento. Empunhadura curvada com suporte e anel de aço e apoio de mão de alumínio. Peso total (incluindo cabo e empunhadura): 7,265 a 5,285 kg.










































CAPÍTULO UM / Lambendo metal












Sou o último homem de uma geração de homens e eu não me importo. Só consegui pegar no sono ás sete da manhã devido ao ódio. Só ás dez eu consegui finalmente me arrastar para fora da cama. I can’t go on. Can’t go on. Everything I have is gone. Stormy weather. Stormy weather. Stormy. Stormy[1]. Inverno de país tropical tsc tsc. As orelhas da gata e meus pés evoluem a esfriar noite adentro. Tão repentino é como vem o frio. Ei, por que você não cobre essas orelhas, gata? Vá, me deixe cobri-las com o cobertor, não seja tão difícil, tão vaidosa. Por que gatos evitam os cobertores? Por que apenas deitar-se sobre um corpo é suficiente? Muita sorte, muita sorte que meu martelo de arremesso pesa sete quilos e duzentos e sessenta gramas, muita sorte. A sorte é que eu não me deito toda noite em uma cama de madeira, mas em uma cama macia. Desta forma, o martelo não vem rolando até a minha cabeça, pois ele descansa na maciez, sabe? Se fosse uma cama de madeira, teria eu um problema; desde que me viro para a direita, esquerda, para cima e para baixo e mesmo assim a gata que pesa oito quilos mantém-se por cima de mim seja qual for a posição em que me mudo, me aquecendo tanto a gorda peluda – daí com todos esses movimentos o martelo rolaria contra a minha cabeça (Sim, eu durmo com o meu martelo). Corpo tão quente e orelhas ainda tão geladas, é muito desproporcional ao ser humano, desisto de entender gatos, mas. Devo assumir que o que de fato tirou meu sono foi o ódio, o ódio que eu sentia. / .

Deve estar muito frio lá fora, meu quarto virou uma sauna natural, nunca abro as janelas. Não abria tanto antes e não abro desde que a chuva começou. Tão longas chuvas. Vivo em uma cidade onde chuvas de dez dias seguidos acontecem (Não como essa, que já duram sete, chovendo vinte e quatro horas). Desconfio ter algo em mim que quer mudar para Lima, mas não o faria porque lá está cheio de peruanos. [deus. Ó deus e. E se essa chuva não parar nunca como andam dizendo? Lima é tão alto, não? Lima fica nos Andes ou fica ao nível do mar? Deus... A coisa é que teremos que nos tolerarmos lá em cima nos Andes. Deus... Logo não haverá mais vazão para tanta água em cidades a setecentos metros acima do nível do mar como essa que estou. Fingir é uma tática? E se eu encontrar os mesmos peruanos lá em cima? Os que eu tive desavenças recentes? Ei, o que você está fazendo em nosso país seu xenófobo de merda? Por que não tenta sobreviver na sua cidade amiga dos gays, amiga da assepsia, em uma boia colorida com cabeça de girafa? Seu veado de merda!] Uau! Que pesadelo. Mantenho as janelas fechadas por causa das suas orelhas geladas, amada gata. Preocupo-me também que fique toda gelada. Passo quase o dia todo fora de casa. Obrigado. Eu sabia que você entenderia por você me dever tanta gratidão por eu ter tirado você de um orfanato, você se lembra? hehe, é o que eu sempre lhe digo quando você me olha com essa cara turrona. “Eu vivo há tanto tempo com você porque você não sabe falar”. Hehe, pensei até em te homenagear no Facebook com essa frase e um retrato seu mas. Ai, o feminismo... Pensando que você é uma fêmea, minhas amigas feministas me chamariam de misógino, iriam facilmente concluir que quis dizer que todas as fêmeas passam melhor caladas. Um equívoco. / .

Quer? Você quer saber o que eu tenho a dizer sobre mulheres? É que gosto de homens, homens, homens. Deus ó, homens, homens e homens, pois. Uma nuvem escura do meu tamanho flutua aqui sobre mim nessa cama. É o que minha tia bruxa (ou médium) diz sobre as más energias que me mantém muito tempo na cama. É como se o carma, a paixão, o sentimento. A nuvem é uma forma física da minha pessoa sonhando, não subtraindo, mas dando energia para seguir na cama, esfregar as mãos e as pernas nessa cama sem lençóis. Até quando vai continuar esse sonho? Fui eu, fui eu uma má, uma má feminista na passada vida? Esse carma. Eu sonho acordado, é o pior jeito de sonhar. Mencionei que não tenho sorte? Sorte com homens? Vá facilitar a loucura, digo a mim mesmo. Tome alguns remédios para o cérebro, abandone os remédios, retome, abandone de novo, e repita e ciclo – é um trator que não consegue empurrar tanto entulho, com tanta chuva. Ei garoto, preste uma breve atenção: dou-lhe um doce se você encontrar alguns pênis nesse exercício literário que faço. Sim, alguns pênis em perfeita ereção, é um jogo de adivinhação e. Bah! Desconsidere, essa camiseta cheia de esperma seco nessa cama faz com que ás vezes eu me sinta mais ainda cansado e humilhado como ao ser espancado por um homem gay passivo; e o agravante do mal estar de me encontrar dando uma bela lambida na cabeça do meu martelo coberto de bronze. É... Uma bela de uma lambida enquanto abraço o cabo do martelo. / .

Por acaso esqueci-me de mencionar a sujeira? Esqueci-me de mencionar o suor? Ou mesmo urina de gato? Claro, eu deveria primeiro revelar a febre, que passeia por mim durante a noite, e que também dificulta meu sono; creio que é a negligência á própria saúde, acho que é o metal, a contaminação que devo ter já sofrido por lamber a cabeça do martelo por alguns anos. Sim, pois eu lambo com tal força que me dê um gosto temperado aceitável do bronze, que me satisfaça, e me acalme. Por suar raiva, por sujar tecidos com pomada para acne mas. Agora sofro uma melhora, eu, a pele está mais calma, meu rosto está melhor agora. Sabia que o cheiro do seu suor é pior se você está sentindo raiva? A expressão “Suar raiva” vem disso, é uma cultura útil que aprendi com uma colega enfermeira. Eu sim. Eu suo muito raiva, mas ok. Faço isso muito na musculação, na pista de atletismo; de outra forma eu já teria me tornado um homem bomba se não suasse toda essa raiva por lá, aposte. Ok vá embora, homem. Vá embora, homem bomba. O homem árabe que esteve por ultimo na minha cama, nunca mais voltou, nunca conversou mais. Que bomba. Que descontentamento bombástico. Meu último namorado me disse sobre meu suor, mas só disse depois que eu o abandonei. É... Mesmo cheirando como um porco eu é que o abandonei, não o contrário. Talvez ele gostasse do cheiro secretamente. Gosto, opinião. Veja lá como os europeus cheiram tão naturalmente e está tudo bem, veja. Gosto. Outro dia, um rapaz começou a fazer sexo oral em mim; ficou lá por um tempo e cuspia, continuava e então cuspia de novo. Merda. Apenas pensei “Que bela merda”. Tentei depois empurrar minha espinha para baixo para tentar o auto sexo oral mesmo sabendo que jamais consegui, para checar se o gosto era de fato tão ruim, pois que. Logo depois veio outro rapaz e ficou me fazendo sexo oral por meia hora sem cuspir uma só vez. Homens (...). Veja Drácula, amigo; suga sangue do pescoço e sai sorrindo, não? Homens.../.

Quando vou a um encontro sexual, eu normalmente não me banho, apenas lavo o pênis em uma pia. Assim como um homem. Assim como um hétero? Não, mas apenas como um homem. Qualquer homem. Eu não sou um homem? Imagine uma mulher negra, filha de escravos, na América dos anos de 1900, tentando participar de um movimento feminista argumentando “Eu não sou uma mulher?” com aquelas senhoras brancas de longas saias. Claro que ela é. É o mesmo que digo aqui. Eu não sou um homem? Um homem estranho, mas ainda um homem. Veja: ainda sobre cultura útil, eu sempre respondo para a enfermeira com cultura inútil, sou o rei da cultura inútil hehe; Eu lembro que disse a ela sobre o processo de antropoformização, processo esse em que um animal tende a sentir-se e agir como se fosse um ser humano. Os veterinários dizem que é muito comum acontecer em animais domésticos que não tem contato com outros animais. Faz sentido ao que determinado animal desse tipo deve pensar “se só há seres humanos à minha volta, então eu também sou um ser humano!”. Eu não me comporto como um animal e não sofri o processo de zoomorfização, perdão lhe desapontar se você pensou que era isso que eu ia dizer na sequência. O que eu ia dizer é que sofri um processo similar quando fui aceito na melhor universidade do país, quando comecei a treinar atletismo por lá e por consequência conviver com garotos tão bonitos todos os dias: acho que passei a achar que eu também era um garoto bonito e, logo, ter “acesso” a eles. Apenas não, apenas não sei explicar, desde que sou um ser como o macaco e sim, eu vejo o meu próprio reflexo no espelho. / .

E quanto ao tempo? E quanto ao limbo, de novo? Costumo finalmente perceber que preciso sair da cama quando o telefone vibra. E ele vibra de prima quando é meu gerente escrevendo ou ligando. Quando estou na cama sonhando acordado, não consigo perceber que devo chegar ao trabalho no mesmo horário que os demais, juro, eu só percebo o prejuízo quando estou de pé e vestido, penso que é o estado de “pré-mania” como disse a psiquiatra por último. De pé e vestido para já começar o dia sentindo culpa, se o dia já não tivesse começado ruim por ter de acordar sozinho. Por que não? Por que não posso ter um comportamento romântico? Por que, querido amigo homo? É utópico demais o desejo de amar alguém? O desejo de ter alguém para conversar? Ter um e apenas um parceiro sexual? Ter ciúmes? É muito másculo, muito alfa, não? O problema, a doença do gay moderno é desejar comportar-se, parecer um homem hétero, certo? Ganhar belos músculos como um, vestir-se como um, esconder, tentar imitar como tal fala, conversa, para então não objetivar ser aceito por uma sociedade tal, conservadora, mas para ser aceito por outros homens gays. Essa lamentável doença também sintoma de safar-se, de agradecer a tal sociedade por não ser espancado, ou espancado até a morte apenas por ser gay. Você anda lendo muito Foucalt ou não anda entendendo muito bem o que ele diz? Ou só anda aos nervos porque um homem gay com uma atitude um pouco mais masculina que a sua não quer mais ir para a cama com você? Você é muito jovem? Anda se comportando como uma feminista genérica? Somos uma gangue? Todos os homens gays juntos formam uma gangue? Temos de comportar-nos igual? Onde está o raio da pluralidade? Veja quanta gente hétero, ninfomaníaca, que não almeja a reprodução, frequentam clubes de orgias. Eu quero ir. Eu quero ir para a orgia bissexual. Eu quero ir para o carnaval mas. Apenas até eu descolar um marido, ok? . / .

Morto de bruços, eu me viro, eu olho para o teto e quero morrer (como se não fosse melhor morrer de bruços). Acho que é aquele garoto. Por. Quando penso nele lembro que eu queria dizer olhando bem nos olhos dele: “Eu não acredito que só existem sete maravilhas no mundo”. Isso acontece depois de uma masturbação, a qual inclui o imaginário de sexo real com homens feios, com homens até bonitinhos e fantasias com homens realmente belíssimos como o sonho virando verdade. Imaginar para ajudar a imagem a se realizar, como o budista recomenda, não funciona. / .



[1] Trecho da canção “Stormy Weather”, escrita em 1933 por Harold Arlen e Ted Koehler