5 de jul. de 2025

(Nº135) Nº20

 



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- Todo mundo tá feliz? Todo mundo quer dançar? Tudo mundo quer subir? Mas ninguém vai pousar
- Quando você se decide e acha que vai ser tudo lindo, você se encontra em um lugar pobre, perigoso, com adolescentes transeuntes empunhando revólveres, você paga o preço, mas o "entregador" lhe pede um pouco mais, dei e ficou feliz, até me cumprimentou, a quantia era irrisória e era o meu espanto
- A noite é sempre boa, quando meus pais dormem é sempre bom, não dá para perceber a condição sub-humana em que me encontro, nu, no escuro, em um quarto sujo de quinquilharias e, ó, passei a noite lá por sou proibido de me trancar na maioria dos cômodos da casa
- A manhã é horrível, eles acordam e não tenho planos de parar porque paguei por estar ali, ele, sempre ele, foi até onde eu estava só para constatar se mais ou menos sub-humana, degradante, e aquém da minha percepção, ainda o agravante
- E então ele começa a me seguir pela casa, para que eu tema ruídos, saí de casa e entrei em um matagal na rua de baixo procurando paz, adentrei em um denso e alto mato - nu, sentado na minha camiseta, eu consegui o que procurei, da forma mais solitária e melancólica possível; não só eu, fui seguido, logo ouvi o mato se mexer na minha direção, não sei se era um ou dois que pensaram que eu não deveria estar lá, que aquele lugar era público e, que mesmo tão escondido era semi-público, como os táxis são semi-públicos; adentrei tanto que ele ou eles tinham dificuldade de me acessar, tive um medo de que poderia morrer ali, de que eu morreria marginalizado, vou vestir minha camisa ao contrário, mas eu não tinha camisa e, em contas rápidas, culpado, esperei o silêncio, me vesti e saí o mais breve - evitei o supermercado temendo ser empacotado, minha festa no Bateau Mouche sempre afunda
- Batom Mucho

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- Oi! Tudo bem? Chegou agora?
- Sim
- Eu cheguei quase agora
- E daí? Eu perguntei alguma coisa pra você?

- FAKE BLONDE LIVES MATTER
- Not every baby wants to get born, então enfie o seu cartaz no cu e não sabote, e não sabote, e não sabote!

- A vida não é possível aqui, faz anos vivendo aqui assim
- Por que está cochichando?
- Porque eu sou monitorado, já faz alguns anos tentando, uma esperança de fuga que chega a ser estranha
- Vamos falar de zoomorfização?
- Zoomorfização?
- Sim, meus pais me dão o recado que eu sou o animal da casa, escondendo comida e, quando tenho a audácia de comer a comida deles, brigam comigo, às vezes usam palavras, sempre elevam o tom, acho que eu devo ser um sonhador muito ferrenho, ninguém aguentaria viver em um lugar onde a vida não é possível, é outra coisa que me mantém podre, com pernas que ainda andam

- Toda vez que te imagino na mesma cama que eu, vestidos, conversando, agora penso que estou doente, envelhecer é uma doença, como fiz com outros, você agora faz comigo, conversar com um velho é um favor, eu, travesti, com a minha barriga mostrando ossos, fechei o portão americano da minha garagem e, aquilo significou que eu desisti e eu odeio meus vizinhos da frente, os dos dois lados também e eu me odeio por um dia ter cogitado que eles não me odeiam, vou dormir para tentar esquecer que se acorda, involuntariamente uso uma almofada para proteger o rosto da claridade e, asfixiar usando uma almofada é um dos tipos de homicídio mais clássicos e não sou eu, é a natureza do meu corpo que opera contra ele mesmo, diários de um velho n4t17

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Acordei limpando a mesa
- Nunca vi você limpando essa mesa...
- Pois tire uma foto
Arrastei um pouco a mesa
- O que vai fazer com essa mesa?
- Vender, acho difícil, talvez ela fique bem no fundo do quintal, se ninguém se incomodar, é claro
- E vai comprar outra?
- A ideia é essa
- Que tipo de mesa você está procurando?
- Uma mesa de negociações
- ...

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- Quando eu estava sob aquele efeito, que sempre julguei conhecer tão bem, eu não ouvi sons estranhos, como os da paranoia ou da confusão, as palavras eram limpas, claras, tanto que depois que passou o episódio, eu estava decidido a fazer uma denúncia assim que eu tivesse uma única prova, eram os negros, os vizinhos do lado fazendo imagens e vídeos de mim de novo enquanto eu usava a substância, sei lá se evitar dizer o nome é mais ético, talvez mais ético seja levantar bandeira contra, mas é que isso cansa, sabe? Mama pôs uma escada em frente à janela do banheiro e me mostrou que a janela dos negros não está exatamente em frente à nossa, está bastante à direita até, então o que explica a forma que o mecânico está me olhando? A forma que o garoto dos galões d'água está me olhando? A caixa do supermercado olha para baixo quando eu vou lá, como se estivesse envergonhada, ou seja, se tais imagens vazassem, o que a comunidade iria pensar? Eu não quero viver em uma comunidade assim, como se não bastasse viver em uma cela por anos, eu teria que viver com medo fora dela? Eu teria de aproveitar a opção de ir embora, para bem longe, e a opção é dizer sim e, na partida, olhar para trás e ver a casa dos negros se auto demolindo como a casa de Carrie White, vítima do próprio feitiço
- Eu não sou a gostosona do Morumbi, mas ultimamente todo homem que conheço, logo no primeiro encontro, me convida para morar com ele e/ou namorar com ele, talvez eu esteja fazendo uma coisa perigosa, eu me comporto na cama com eles da forma como eu gostaria de ser tratado, eu gostaria de ir embora para viver com qualquer um deles se fosse pelo que eu sou, mas ser o que eu não sou o tempo inteiro seria cansativo demais, injusto demais, punitivo demais

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- Elas rezam, rezam, rezam, se reúnem, trazem comida, decoram a casa, mas como eu acordei às cinco da tarde, sou digno de desprezo, a flor de cartolina que eu colei na parede foi das poucas coisas que não caíram no chão, elas rezam, cantam aquelas músicas de criança, se cumprimentam e fingem que tudo é lindo
- Brigaram comigo na presença de estranhos, ele sempre não perdendo a chance de ser tão amargo, repetindo que não se deve acordar às cinco da tarde e ainda brigou comigo mais vezes por motivos primários e aproveitar a ocasião para escoar a raiva acumulada
- E aquelas pessoas chiques que você aborda e entrega panfletos dos apartamentos de alto padrão que ela vende escoassem raiva em você? Então, meu caro, você saberia o que eles pensam de você, um sujeito feio, mal vestido, que cheira mal, tenta forjar uma educação que não tem e que não sabe falar português e, a maioria não pega o panfleto por educação, pega por pena
- A forma mais fácil de obter felicidade, mas não é, aqui mesmo ninguém está feliz e não há harmonia familiar nenhuma, que é o que todos vendem conseguir dentro de suas casas através da "prática", muito pelo contrário, aqui há briga produzida, os vizinhos do lado brigam como cachorros, até o cachorro reclama participar das brigas
- Eu não sei o que vocês entendem por educação, você é igual ao seu irmão redondo, vai à igreja, mas continua sendo a mesma pessoa, tratando mal a quem o ajuda e, o senhor, só sabe ser gentil com quem é do seu interesse, com quem pode lhe dar algo em troca, com a sua própria família, você é um escroto, pra dizer melhor, só dizendo dez vezes escroto, ou dizer apenas uma vez 'a educação pobre', que é seletiva, burra e usa o pior do ser humano para 'educar' sua prole, violência, violência grave, humilhação, a negação do direito de escolha, a distância da aspiração á liberdade, a imposição do medo, a escolha do silêncio já que a opinião é tão perigosa e, tudo isso para ser gente, sim, é assim que esses pais pensam que formam 'gente', isso é gente? Sim, gente que quando estiver no comando, talvez seja ela, talvez seja eu, mas é difícil

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- Odeio você assoviando, um dia você vai assoviar para dentro
- Sempre quando chovia, o barraco da mulher se enchia d'água, entrava aranha, ratos mortos, cobras... uma vez ela teve que jogar uma cama fora quando a água baixou, porque tinha um rato morto bem no meio dela, é por isso que eles trancam a porta do quarto deles quando saem
- A motocicleta, garoto e a motocicleta em ereção, passa por mim
- Ah, então você já é um homem maduro!
- Não, eu já caí da árvore e ainda me choquei com a cabeça no chão, o que me deixou ainda mais louco, um fruto podre; porém, as pessoas só se importam com suas falhas para acasalar, procriar e, se eu declarar independência disso tudo? Será que finalmente eu vou saber como é amar a mim mesmo?
- Hoje comecei a estudar ucraniano, pensei em fazer voluntariado no futuro próximo, uma das palavras que aprendi na primeira aula foi "TAK", que significa "sim" e, nessa mesma aula, eles não ensinam a dizer a palavra "não"
- Os americanos afirmam que destruíram Fordow, os Iranianos disseram que os danos foram "superficiais", "bateu, mas não doeu", agora dizem que a usina não está a oitenta metros de profundidade, mas a quinhentos, seiscentos metros de profundidade e, depois vão dizer o quê? Que a usina está no centro da terra? "Ah, não destruímos? Então vamos lançar uma bomba atômica sobre Teerã!"
- Aconteceu que o balão de Praia Grande matou mais gente do que a bomba atômica do Irã

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- Vamos abrir essa ferida podre cheia de larvas de novo? Todo sexo para mim só é interessante se houver pó, sexo sem? Só com o príncipe encantado e, ele existe para mim, qualquer babaca pode ser meu príncipe encantado, até que ele vá embora depois de me arruinar, como todos os outros; sim, eu sou um filé velho e você é um jovem pedaço de osso sem carne, hoje fui àquele lugar podre procurar sexo oral devido a minha absurda perda de privacidade e, tudo que eu consegui foi aproximação de bichas horrorosas, que só porque fazem as sobrancelhas com aquela tinta ridícula, vestem uma roupa bonitinha e arrumam aqueles cabelinhos de arame, acham que podem humilhar os outros, morando nesse lugar de gente feia, burra, pobre, que não falam português sequer intermediário, eles devem ser muito humilhados, então não perdem uma oportunidade de humilhar alguém; dignidade é mais gostoso que sexo oral, esse leite todo que eu fiz pra você, vou guardar infindavelmente até eu ter um câncer no testículo; voltei decidido a fazer greve de sexo, logo estarei longe do pó e, consegui chegar cedo o bastante para dormir e assim amanhã vou acordar bem antes das onze para fazer a minha entrevista com a companhia marítima; que tal substituir sexo e pó por um ótimo emprego e recuperar minha cidadania?
- Grande Satã, pequeno Satã, madame Satã





xoxo