1 de dez. de 2015

O HABITAT

o habitat

   não há leitores no ambiente em que vivo. neste país, nessa cidade. isso invalida, inutiliza até, a minha tentativa de atingir o público. é um público minúsculo. o de literatura. acho. as grandes editoras é que são profissionais em garimpar esse público. e toma-lo. para mim, que não sei como, é um trabalho quase impossível.

   deste ambiente, das pessoas que consomem a literatura, muitas delas não a entendem, imagino. como “formar” leitores em um país onde a educação é tão ruim? onde a capacidade intelectual da maioria da população é tão baixa devido a isso?

   a literatura neste espaço então limita-se a uma troca de favores? onde escritores consomem a literatura uns dos outros? há também uma importante forma de divulgação que é conhecer pessoas. conhecendo pessoas, você pode sim aumentar o número de pessoas que pode ter acesso a sua literatura, e não entende-la. há sim, nos eventos literários, mesas por aí. pouco ou nunca sou convidado para nada. talvez porque não frequento os bares da vila madalena. nada contra. apenas falta ânimo. desses eventos, por mau, enxergo dois tipos de público: um que não entende nada ou pouco do que está acontecendo, do que está sendo dito, e o outro, que é formado por geniozinhos que se acham mais espertos do que os escritores que estão em cima do palco, e que demonstram em suas perguntinhas geniosas que aqueles pobres escritores que estão ali, não são bons o bastante para eles. lembro da minha mesa no festival mix brasil em 2013, prestes ao lançamento do meu livro “o estranho mundo”. marcelino freire estava mediando a mesa com escritores desconhecidos, eu inclusive, daí em certo ponto uma gay desagradável na platéia fez uma pergunta para o marcelino, como se os convidados que estavam ali não eram interessantes o bastante, tinham de fazer o marcelino falar para a mesa ter alguma graça. depois da mesa, indo para o bar, ainda tive de aturar a luciana penna comentar “marcelino, se não tivesse você nessa mesa, não iria ninguém! (de público)”. talvez seja melhor não ser convidado a nada.

   sendo assim, aceito que é difícil querer leitores. é melhor querer crítica. almejo conseguir uma indicação a algum prêmio literário. ficarei feliz. mesmo se eu não tiver nenhum leitor. quer saber? eu só comecei a acreditar que de fato sou bom depois que o proAC me disse que sou bom. antes, quando só leitores o diziam, eu não acreditava. agora sim, as editoras independentes estão começando a ser indicadas a prêmios literários, e a vence-los. apenas gostaria de expressar a opinião de que o fato de que isso esteja ocorrendo nada tem a ver com o "empenho" de pessoas como vanderley mendonça e eduardo lacerda. nada. os livros da edith e da patuá só começaram a ganhar prêmios literários por causa da excelência dos autores, não pelo "esforço" dos proprietários dos selos. afinal, o marketing desses citados homens, é levantar uma bandeira contra as livrarias alegando que o preço de capa é caro demais. eles simplesmente não colocam os livros de seus selos nas livrarias e os vendem em espaços e/ou eventos onde não se usa cartão de crédito e débito para que possam ter o máximo de lucro em cima dos livros. é só isso que eles querem: ter o máximo de lucro em cima dos livros (claro que eles sabem que a maioria do público dos autores que estão em seus catálogos frequentam esses eventos literários onde eles levam os livros para vender). o custo disso, é que os autores tem extrema dificuldade em fazer seus livros chegarem a mais pessoas, autores esses que ganham prêmios literários para um cara como eduardo lacerda ficar posando de herói do rolê por aí. o meu segundo livro, que saiu pela edith, não pode ser adquirido em lugar nenhum. o vanderley sequer colocou no site da edith para vender. o único lugar onde o livro podia ser encontrado, a livraria hussardos (que era dele), fechou em maio deste ano.

   marcelo noceli, editor do meu terceiro livro, sim, ele faz questão de distribuir bem os livros da reformatório e da pasavento. meu livro novo pode ser encontrado em qualquer livraria grande do país. não me importa se ele não vender uma mísera cópia, eu quero que meu livro esteja disponível na livraria cultura. todo autor quer. há poucos dias, fiquei sabendo que um livro da reformatório foi indicado ao APCA deste ano. estou feliz pela reformatório. eles merecem.

o habitat 2

   ainda sou um escritor jovem. aos 30 ainda se é um escritor “jovem”. serei até os 40. agora, tudo o que tenho de fazer é escrever. mesmo que embora no habitat lá fora, escrever não seja o bastante (além de escrever você tem de ser a sua assessoria de imprensa, fazer contatos, manter contatos, fazer amigos), < ah! por falar nisso, vejam o "press release" que eu fiz do meu livro novo (dias atrás eu nem sabia o que era um press release), não posso pedir aos outros divulgarem se não divulgo nem no meu próprio blog, nao? >


   é o que se deve fazer na essência, escrever. para isso, aproveitei que não estou fazendo musculação para limpar o quarto. tempos, tempos que essa mesa não estava tão limpa:




   mudei a air fryer de lugar, ela ficava em cima de uma pequena mesa que agora defini como minha mesa de escrever e ler:



   também tive a ideia de tirar da prateleira todos os livros que comecei a ler e não terminei. de mafalda a platão: uma soma de 22 livros... dá pra tomar o ano de 2016 inteiro lendo. fiz isso para pensar duas vezes antes de entrar em uma livraria e comprar alguma coisa. preciso ler os livros que compro! bem, admito que terei de começar pelo último que comprei, no último final de semana, que não é um livro de literatura aliás: o livro dos diários da presidência do fernando henrique cardoso. pode ser tendencioso ou até mentiroso o que ele diz lá? pode. como também pode não; mas o importante nisso tudo, é conhecer um pouco da história recente do brasil, e de política. não, não sou tucano, nem coxinha. nem petista também. apenas acho que o fernando é melhor do que o lula. porém, acho que a dilma é melhor que o aécio. acho que primeiro se deve votar nas pessoas, depois nos partidos.  

o habitat 3

   eu meço 1,73m de altura. eu peso por volta de 70 kg. tenho um corpo musculoso, de alguém que treina atletismo há dois anos. sou branco. caucasiano. o cabelo e os olhos são castanhos. claros. por pai, sou português. por mãe, metade isso. algo de holandês e algo de africano por parte dela também. o nariz é grande. torto e feio. a testa é grande. mas os olhos são bonitos. a boca também. e o maxilar também. tenho sete tatuagens. esse corpo é onde eu habito. quando vou a alguma putaria, não pego o cara mais bonito, mas pego o terceiro ou o quarto cara mais bonito. não posso reclamar.

   eu tenho um emprego. fica a meia hora de metrô da minha casa. por causa dele eu posso pagar o aluguel. posso comer todos os dias e posso ir ao cinema aos finais de semana. tenho saúde boa o suficiente para praticar esportes. e o faço. estudo na melhor universidade do país. e escrevo. posso fazer o que gosto, que é escrever. e publicar. já publiquei três livros. não importa se não sou famoso e que tenho poucos leitores, eu posso escrever e eu posso publicar. eu acho que não tenho uma vida ruim. tive essa sensação ontem, voltando para casa após assistir ao filme “ausência” do chico teixeira. será que é essa sensação que o chico quis que o público tivesse? não lembro de ter alguma vez saído da sala de cinema com essa sensação. ainda mais de uma sessão de cinema brasileiro, e cinema paulista aliás, que costuma ser amargo. deve ser porque limpei a mesa. lavei a pia do banheiro. arrumei a cama, finalmente coloquei nela o lençol que eu tinha lavado há dias. joguei bastante lixo fora. deve ser por isso. comecei a arrumar a bagunça, a sujeira que estava meu quarto. um lugar limpo ajuda o ânimo, diminui a tristeza.


XOXO

Nenhum comentário: