9 de jun. de 2023

Elegie June.09.2014

Eu tinha separado uma imagem ofensiva para anexar á frase "Feliz corpus christi". Até que percebi que é melhor ignorar o corpus christi.

Pensei em postar algo sobre a parada lgbtqia+ de São Paulo, mas percebi que não é mais necessário; a nossa parada venceu!

Esse é um velho poema;

"ELEGIE JUNE.09.2014"

I'm fed up
as
dad cuss fags
as
mom cuss dykes
as I see
old fags
old dykes
untill / then
I see myself

1000 poets
1000 poets to read
1000 poets
repeating themselves
and I'm not
I never said I was
well, I'm not

as dykes
chews
as old dykes
chews
they smells,
not good
consequently
as mom feel sick
comparing them to men.
until / then
I'm around
chewing
spreading bread crumbs
over my clothes.

(hugo guimarães)

XXX





26 de mai. de 2023

Salmos do Tráfego



* Dei comida, dei água, só não dei amor.

* Até eu dar um Jack Nicholson nessa porta.

* Quando sinto seu cheiro, ai, ai, ai - vem e diz que me adora; depois levanta a calça e vai embora.

* No meu caso eles não caíram do céu. Eles subiram do inferno.

* Não é sobre viver na contra mão. É sobre viver no acostamento. Ás vezes dentro de uma mala.

* Passou direto pela minha porta antes de sair. Sem dizer que sou especial. Porque não sou especial.

* Aspirei um pouco de pó. Borrifou um pouco de desodorante ruim. Na santa paranoia.

* Levantar a cara do chão e deixar uma poça de sangue.

* Queria ser tantas coisas... menos eu.

* Bater a cabeça lá embaixo e ver as minhocas saindo.


XXX

 

11 de mar. de 2023

o boletim leve



 






                  “Descer”*                    

 

Mãe olha para baixo e vê a barriga murcha
O bebê se foi
O príncipe se foi

fui dormir príncipe

Acordei uma pedra de gelo

E desci pelo ralo.



(Hugo Guimarães)

* A ser lançado no livro "Lixeira de Celofane" pela editora Arpillera em outubro desde ano.





Muito feliz de ser um dos contemplados da chamada de originais da editora TAUP. Eu havia enviado meu original antes de enviar meu original e fechar com a Arpillera. Mas estou feliz com mais esse "selo de qualidade" do meu "Lixeira de Celofane"
😉

Duas editoras querendo publicar um livro meu quase ao mesmo tempo? E as duas assumindo os custos? Inédito na minha vida. Nunca pensei que fosse acontecer. Nunca fui hipócrita, sei que minha "Lixeira de Celofane" é excelente e dessa vez outras pessoas estão achando isso também...

***





XXXX 

16 de fev. de 2023

bonsai



"Bonsai"


É só um espectro na minha vagina

Meu pênis sobe e já declina

Arregalado na Ritalina

Pleito e glória é medicina


Sempre dorme em mim

Sempre morde em mim

Sempre grita pra mim

Sempre morre pra mim


Bonsai, Tina

Bonsai, Tina

Bonsai, Tina

Bonsai, Tina


Na cova, não é mais menina

Levanta e vai limpar urina

Sai leite e entra cafeína

Nutra o seu sonho de anorexia

Sou deprimida e sou uma vadia

Psicotrópicos e atraso de vida

Eu quero hormônio pra ser menina

Eu tolero o vício da pederastia


Sempre dorme em mim

Sempre morde em mim

Sempre grita pra mim

Sempre morre pra mim


Bonsai, Tina

Bonsai, Tina

Bonsai, Tina

Bonsai, Tina


(Hugo Guimarães)




XXXX

4 de fev. de 2023

him




Texto que escrevi sobre o livro de um amigo.


    O livro "Igor na Chuva", de Hugo Guimarães, editora Folhas de Relva (2019).

    Autobiografia? Ficção? Autoficção? Fiquemos com esta última, sem nos atermos à complexidade de sua conceituação, mas procurando encontrar no conteúdo algumas evidências que o situam no terreno complexo da autobiografia ficcional.
O narrador, um protagonista cheio de ódio e de dúvidas que narra suas aventuras e suas reflexões, em primeira pessoa, desde o amanhecer no quarto onde mora, até sair às ruas e chegar ao centro de esportes da USP.
A chuva. Sempre a chuva. Sexo. Humor.
A ambiguidade narrativa desafia o leitor a se situar entre a realidade e a ficção. Chove no que é real. Chove no que é irreal. E o literário fica sempre em primeiro plano com metáforas e ironias desde o início e durante toda a narrativa. “Sou o último homem de uma geração de homens, e eu não me importo. Só consegui pegar no sono às 7 da manhã devido ao ódio”. “...comecei a chorar desesperadamente dentro das minhas duas mãos”. O ódio explícito do protagonista e o choro diante das inusitadas situações no transcorrer do enredo são recorrentes e revelam pouco a pouco sua conturbada personalidade.
Igor caminha por conhecidos endereços de São Paulo, encontra poucos personagens, conversa com alguns, apenas olha uns outros e esses encontros funcionam como pretextos para suas reflexões de crítica, de raiva e também para provocar e instigar o leitor que se vê mergulhado entre o que é e o que não é. Mas nesse mergulho no poço da contradição da fantasia e do real realiza-se um envolvimento que conduz o leitor a uma leitura ininterrupta como que hipnotizado pelo fluxo narrativo do narrador. O protagonista não é Igor, ele é apenas uma estratégia textual para mostrar o mundo do autor, Hugo Guimarães. Portanto, Igor é o alter-ego do escritor.
Este é um livro sem doçura, sem afagos. Conteúdo indigesto. Uma narração sem piedade de quem lê, escrita para incomodar com palavras e imagens. Para surpreender com um ritmo em que jorram ideias que ora estão no presente, ora voltam ao passado e constroem a vida do protagonista, revelando sua infância, sua adolescência e seu momento atual.
O narrador, ao contar a história, avança e retrocede durante todo o percurso e utiliza o tempo para expandir a percepção do leitor em um mundo ficcional ambíguo, expresso com linguagem que encanta e preocupação estética que alicerça a história com eficácia poética.

Jorge Ribeiro, 2019

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