10 de nov. de 2015

A VOLTA AO MUNDO Nº39

39ª mostra internacional de cinema de são paulo. ah, a mostra. um velho amor. é quando compenso um ano inteiro de filmes ruins, de poucos filmes bons. vejo mais filmes nesses quinze dias de mostra do que no resto do ano (em um ano comum). acho que não só eu. antes de ontem, domingo, eu esperava ver o islandês “pardais” ás 21h45, mas disseram que os ingressos esgotaram ás 15h00. é bom que tanta gente queira ver um filme  islandês no domingo ás 21h45. é ruim que eu não tive sorte de conseguir. mas o saldo é bom, é bom saber que vivo em uma cidade onde há sessões esgotadas para filme de arte. dei com a cara na porta também para as sessões de “pervert park” e “a bruxa”. este último, parece que a intensa procura não se justificou, pois não ganhou prêmio nenhum. eu não consegui ver os vinte filmes que costumo ver. estou com dó de gastar dinheiro por causa da crise, por causa dessa histeria coletiva. além disso, ando bastante baixo astral depois que parei de treinar atletismo em outubro, a temporada acabou e decidi tirar umas férias, volto a treinar só em março do ano que vem. tenho tido dores também. por isso, é melhor ficar na cama com a minha gata do que pegar o metrô e ir até o cinema. vi apenas treze filmes. como ando cansado, preferi fazer um top five ao invés de um top ten. ando tão cansado que dois dos resumos estão na postagem anterior.

  


01-THE PARADISE SUITE (HOL, 122’, 2015, Dir: Joost Van Ginkel)*****    

sinopse:
as histórias de seis pessoas que se cruzam e influenciam as vidas umas das outras de forma irreversível: jenya, uma jovem búlgara; yaya, um homem africano; ivica, um criminoso de guerra sérvio; seka, uma mulher bósnia; lukas, um pianista sueco; e o pai dele, stig.

o que dizer do único filme da mostra que me fez chorar? bem, talvez começando dizendo que não é o fato de que a frase “não venha para o nosso país, strangers keep out” seja a mensagem e o recado de muitos dos filmes deste ano. o que me fez chorar foram os conflitos humanos. para dois dos personagens, estrangeiros, a jovem búlgara e o homem africano, a holanda foi muito, mas muito cruel. eu aprecio, aprecio esse tipo de mensagem. o sonho europeu, o sonho americano. detesto o pesadelo que é o país em que vivo, a cidade em que vivo, mas é de onde eu sou, é o que eu sou, é aqui que devo ficar, sempre tive, tenho essa convicção. e a guerra civil? nós aqui não temos a noção do que é isso, por bem. o quão cruel é a guerra civil. e a educação, gente? e a educação? ainda há espaço para o garoto pianista que sofre bullying na escola e o pai rígido e frio, muito europeu. e o futuro da humanidade? o que dizer de Ivica que é um exemplo do homem mais perverso possível, dando banho em uma criança, mimando uma criança, seu filho, gente como Ivica se reproduzindo. o final, com o pai rígido pedindo desculpas ao filho e a garota búlgara reencontrando a mãe, me fez chorar copiosamente. sim, ao comparar com filmes com estrutura de roteiro parecida, eu gostei mais desse do que gostei de “três quintais” ou “magnólia”. a minha melhor experiência dessa mostra, sem dúvida.



02-DOENTE (bolesno, CRO, 2015, Dir: Hrvoje Mabic)*****

bolesno é um documentário que conta a terrível história de ana dragicevic, uma garota croata que ficou presa em uma clínica para dependentes químicos sob falsa alegação de ela ser viciada, quando na verdade estavam a tratando por sua homossexualidade. ela foi presa lá aos 16 e ficou por cinco anos. ana processou a médica responsável por sua internação e também seus pais que a internaram. de acordo com o documentário, o caso ficou razoavelmente famoso na croácia. é difícil encontrar na internet algo sobre ana que não esteja em língua local, então não pude checar exatamente quando se deu a internação, mas posso supor que aconteceu no começo dos anos 2000. Sim, no começo dos anos 2000 eles ainda faziam isso com homossexuais, quase o fizeram comigo e. meus pais 'descobriram' a minha homossexualidade no ano de 1999 ou 2000, não me lembro exatamente. eu tinha 15 ou 16. eu senti aquela 'lepra' que o escritor chileno pedro lemebel diz sobre a homossexualidade em um de seus mais memoráveis poemas. sim, pois meus pais me trataram como se eu não estivesse apenas doente da cabeça, mas da pele também. éramos uma família bem porquinha, mas quando minha mãe descobriu minha homossexualidade, ela me deu uma toalha só para mim e um sabonete só para mim. todos na minha casa usavam o mesmo sabonete, que ficava lá na saboneteira até acabar. lá nunca se controlava quem usava as toalhas também, minha mãe costumava colocar duas toalhas grandes no box e nossa família ia usando até que minha mãe julgasse que elas estivessem sujas e as colocava para lavar. mas quando minha mãe soube, ela foi bem clara em dizer que não era para eu usar aquelas toalhas, as do resto da família. ela me deu uma só para mim. não muito tempo depois, meus pais me levaram ao psicólogo alegando que eu estava 'muito nervoso'. na verdade, o que eles queriam é o que psicólogo 'curasse' minha homossexualidade. claro que não funcionou e naquela mesma ápoca, eu comecei a sentir sintomas de depressão que permanecem comigo até hoje, aos 31. o caso de ana dragicevic é muito mais desumano que o meu, é claro. quando o pai dela a visitava na clínica, ele se esquivava quando ela tentava tocar suas mãos. quando ana finalmente conseguiu a liberdade, o diretor acompanhou ana até a casa de sua mãe. ela abre a porta, vê ana e bate a porta. depois de anos de terapia e grave depressão, uma muito mais grave do que a que tenho, ana fica sabendo que sua mãe teve um ataque cardíaco. ana foi visitar sua mãe no hospital e ela chorou muito quando viu a filha. ana também escreveu uma carta para o pai, dizendo que não deseja nada de ruim para ele e que ela se lembra com carinho do tempo em que passou com ele até ter 16 anos de idade, uma época em que ela teve a sensação de ter sido amada. eu também tive esse 'buraco negro' na minha vida. minha mãe tornou-se budista há uns 5 anos atrás e se tornou uma pessoa mais fácil, meu pai também. agora eles me tratam bem, mas quando eu era adolescente, quando mais precisei deles, eles me viraram as costas, eu passei vários anos tendo a sensação de que ninguém no mundo me amava. parece que os pais começam a se arrepender do que fazem com os filhos gays adolescentes quando eles já tem mais de trinta anos. mas o passado nunca está morto, não é sequer passado.



03-GAROTA NEGRA (La Noire De... SEN, 65’, 1966 Dir: Ousmane Sembene) *****

Sinopse:
diouana é uma jovem senegalesa que é levada a antibes, na frança, por um casal francês. ela pensa que será governanta das crianças, mas é forçada pelos patrões a trabalhar como empregada, sem receber salário. diouna logo percebe a discrepância entre a realidade de sua vida na frança e seus antigos sonhos sobre o país europeu.

bem, muito antes de anna muylaert, lá em 1966, no longínquo senegal, já se tocava neste assunto com um olhar, com uma crítica, com um questionamento exemplar. o fato de ser uma garota africana indo trabalhar na frança toca mais explicitamente na ferida da escravidão, que em 1966 certamente era um assunto bem mais fresco. é o mesmo que acontece com as mulheres nordestinas hoje, na verdade. elas saem do nordeste e vem a são paulo cheias de sonhos, para então acabar escravizadas. a diferença é que as últimas citadas e a protagonista deste filme, vão trabalhar na casa das patroas por gosto. pois bem, a discrepância do que é acertado com o que é  praticado pela patroa neste filme é um conflito tão atual que é discutido hoje em dia no nosso país no que diz respeito a regulamentação da profissão das domésticas. além disso, vemos aqui um choque da expectativa do serviço e da relação patroa-empregada: diouana varrendo a sala de estar com um dos vestidos dados pela patroa e de salto alto. logo a patroa se irrita ao vê-la limpando a casa vestida assim “você não vai para uma festa, não deve se vestir assim”. podemos perceber que diouana, no alto de sua inocência, não se sente inferior a patroa, e entende que mantém apenas uma relação de troca justa, onde ela presta o serviço e recebe o salário por ele. dessa forma, por quê não podia usar os vestidos doados pela patroa e sapatos de salto enquanto trabalha? não, não podia. tanto naquela época quanto hoje em dia, as patroas fazem questão de deixar claro que há sim uma superioridade em relação as empregadas. tanto que as empregadas de luxo de hoje em dia ainda usam uniformes, brancos ou não. ainda se vê em novelas da rede globo, ainda se vê na vida real. além da discrepância das obrigações das empregadas em relação ao que foi combinado, além da necessidade de uma regulamentação que apenas hoje começa a se dar, há o fato de que muitas das empregadas moram no trabalho, na maioria das vezes estão em uma cidade onde não conhecem ninguém e daí a sensação de escravidão, onde o pouco ou nenhum tempo livre dificilmente é revertido em lazer. neste filme, diouana diz a si mesma “o que é a frança? é um buraco negro?” pois é o que ela vê da frança da janela de seu quarto quando o dia de trabalho termina. diz a si mesma porque depois que ela chega a frança, ela diz pouquíssimas palavras. isso porque os patrões não falam com ela senão para lhe dar ordens ou para reclamar de seu serviço. no final, nem a patroa nem a empregada estão satisfeitas uma com a outra, e a crescente tortura psicológica imposta pela patroa culmina em um final de cortar a garganta, literalmente. eu pessoalmente, jamais teria uma empregada em casa, por mais rico que eu fosse ou me tornasse.



 04-PIXADORES (Tuulensieppaajat, 2014, FIN, Dir: Amir Escandari)*****

este nem estava na minha programação. pagar para ver um bando de moleques finlandeses pixando por aí? jamais. a palavra 'pixar' ainda nem é reconhecida como palavra. porém, quando na hora em que me deu muita vontade de ver um filme em determinada hora e abri a sinopse deste filme, percebi que é um filme finlandês, mas sobre pixadores paulistanos. e que também é parte colorido e parte preto e branco. bem, fiquei curioso para ver como seria o olhar de um diretor finlandês para esses moleques brasileiros pixadores alienados. pouco antes da sessão, no espaço itáu da augusta, tinha gente de comunidade entrando com bebida alcoólica na sessão (fica um alerta para o pessoal da mostra e do espaço itaú).  olha, detesto esse povo de comunidade, acho desnecessária essa postura agressiva deles. o motivo desse tipo de atitude estava claro logo nos primeiros depoimentos: “nós gostamos do ódio que despertamos na sociedade”. o filme é um documentário sobre quatro pixadores paulistanos, todos moradores de comunidade, e que foram para berlin mostrar seu “trabalho” por conta de um edital da vida. eu adoraria saber quem foi o babaca que mandou esses quatro bandidos para berlin com o dinheiro dos nossos impostos.  sim, bandidos, visto que pixação ainda é o mesmo que “vandalismo” em nosso código penal, portanto é crime. se é crime, quem pratica é bandido, certo? certo. então vamos lá: o filme acompanha as aventuras desses marginais escalando prédios e sujando-os. três deles, sequer sabem escrever o  próprio nome. um deles, que é uma espécie de líder do grupo sim, é alfabetizado e um 'pseudo-culto', na hora em que o filmam na cama lendo nietsche, me ecoa uma frase ‘quando um babaca decide que quer ser culto e espertinho, a primeira coisa que vai ler é nietsche’. quando um dos moleques, que já tem um filho, é questionado sobre o que quer da vida, ele responde: “ meu sonho é ter uma casa”. dá vontade de gritar em direção a tela a seguinte frase ‘e você gostaria que chegasse alguém e pixasse a SUA casa?’. esse é o conflito principal da primeira parte do filme: um cara ‘pseudo-culto’ que acha que sujar a parede dos outros é “arte”, se junta a três analfabetos e os fazem pensar que também estão fazendo 'arte', que estão fazendo 'um trabalho', que estão 'transgredindo'. eles nem sabem o que estão fazendo, não sabem nem escrever o próprio nome.  a verdade é que esses moleques sem educação só o fazem, porque gostam e porque acham legal serem odiados pela sociedade, a velha “vitimização”. eles acham que eu e você, que moramos em regiões centrais em apartamentos (com muito esforço, inclusive; eu mesmo vou acertar o que devo de aluguel só no dia 15), somos culpados por eles morarem na comunidade. cara, eu não tenho culpa, não tenho mesmo, pago uma caralhada de impostos. agora, se os políticos pegam o dinheiro e enfiam no cu, não é minha culpa, não mesmo. legal, chega a notícia que os pixadores foram contemplados no edital e vão para berlin. o 'pseudo-culto' diz: 'Vamos lá mostrar para eles nossa arte política!'. daí o analfabeto responde “se é louco...” claramente, ele não faz a menor ideia do que é 'arte política'. bem, lá vão os pixadores para berlin com o dinheiro dos nossos impostos. daí, acontece o ápice do filme: quando os curadores da tal bienal de berlin os convidam para um evento onde supostamente devem mostrar a sua 'arte'. quando chegam no local, se deparam com paredes brancas de madeira destinadas ao 'trabalho' das pessoas. no local, os curadores falavam sobre o que era pintar paredes utilizando tinta spray para fazer desenhos, pinturas, ou qualquera. não, eles não saem por aí escalando prédios públicos e sujando-os. pois então o 'pseudo-culto'  diz que 'não é esse o nosso trabalho', e 'não viemos aqui para pixar essas madeiras brancas'. o que fizeram os quatro contemplados então? saltaram as madeiras, pixaram o prédio público e tombado que tinha atrás delas, jogaram tinta no curador do evento e a palhaçada terminou com a polícia, claro. falando de cinema, achei a atitude do diretor extremamente corajosa em fazer o trabalho. E u não acho nem que ele aprove o que esses marginais fazem, mas ele quis mostrar, quis dizer que aquilo existe, em um lugar onde ainda existem pessoas que não tem educação suficiente sequer para escrever o próprio nome e acham que são artistas, onde gente que tem uma educação básica e ruim pega um livro do nietsche e sai por aqui achando que é um gênio, achando que está arrasando no rolê.  eu dei cinco estrelas. pela coragem do diretor, pelo conflito, o documentário é muito bem feito, muito bem filmado, a fotografia em preto e branco está linda (só a parte filmada em são paulo está preto e branco, também concordo que são paulo só deve ser filmada em preto e branco). quando acabou o filme, bati palmas e saí apressado. a sala do espaço itaú da augusta estava lotada, tinha até gente em pé. o que será que aconteceu depois? será que os caras pixaram a sala?



05-NÓS SOMOS JOVENS, NÓS SOMOS FORTES (wir sind jung. wir sind stark, GER, 2014, 116’ Dir: Burhan Qurbani) ****

sinopse:
em agosto de 1992, três anos após a queda do muro de berlim, protestos anti-imigrantes aconteceram na cidade de rostock, no leste alemão. o alvo dos ataques era um abrigo para refugiados na periferia da cidade, que foi incendiado. o filme reconta esse acontecimento acompanhando um dia na vida de três personagens: lien, uma vietnamita que vive na alemanha; stefan, jovem entediado e raivoso que participa do tumulto; e martin, político ambicioso e pai de stefan.


já vi muito e sobre xenofobia no cinema, mas não consigo me lembrar de ter visto algo tão cruel, tão amargo, tão real. mais uma valiosa propaganda anti imigração. stefan e o pai (a juventude raivosa, alienada e o político que não sabe bem lidar com as divergências entre suas convicções políticas e o que o filho está “se tornando”), acho que não são os personagens principais do filme junto com a garota vietnamita, ela é o personagem principal, a vida dela e o contexto social e político no qual ela está envolvida é que é o grande conflito do filme. o evento histórico em si é uma demonstração cruel de xenofobia como muitas outras na europa, claro que chama muito a nossa atenção, pois é inimaginável algo assim no brasil (tente imaginar uma galera indo até o bairro do bom retiro para incendiar um prédio habitado por bolivianos como se fosse um evento, com cerveja e comida, como um protesto legítimo). aqui não há esse tipo de partido, as pessoas odeiam umas as outras quietinhas, e não acho isso ruim. voltando a garota vietnamita, ela quer continuar na alemanha, ela quer o visto permanente de trabalho, mesmo sendo claramente odiada e hostilizada. talvez seja o otimismo extremo, próprio desses asiáticos, mesmo saindo a rua com crianças a chamando de “china” (uma forma pejorativa de se referir a asiáticos na alemanha), ela sempre continua sorrindo, porque ela tem certeza de que tem o direito de estar onde está, tem a certeza de que é uma cidadã do mundo, de que é um ser humano, acima de tudo. e o filme termina assim, com essas duas diferenças de atitude: a pedra na mão da criança alemã e o sorriso da garota vietnamita.

é bem provável que eu passe a postar com pouquíssima frequência, pois retomei o projeto do meu quarto livro e tenho pretensões de terminá-lo.

XOXO.

4 de nov. de 2015

RELATO DE FÉRIAS 2

Prólogo

“Dizem que a vida passa pelos seus olhos quando você morre. A vida passa pelos meus olhos o tempo todo”.
   




“The past is never dead. It’s not even past” Willian Faulkner

“ A Croácia é uma sala branca? A França é um buraco negro?”


Parte 1

quando pedi ao meu gerente vinte dias de férias, para pagar algumas dívidas e para me preparar melhor para o lançamento do meu livro, ele diz 'tire treze dias, volte e depois tire os outros sete' ele pensa 'é claro que ele vai aceitar, ele nunca viaja'. ele está certo. eu nunca viajo. eu não economizo dinheiro durante o ano para. eu não tenho namorado ou um amigo tão próximo que tire as férias ao mesmo tempo que eu para viajar comigo. além disso, sempre disse a mim mesmo: "só vou viajar ao exterior quando eu tiver algo a fazer por lá". eu só vejo essa possibilidade daqui a quatro anos quando eu participar do campeonato mundial master de atletismo, quando eu tiver 35. sim, tenho esse sonho, quero ser campeão mundial master no salto em distância aos 35. para isso, preciso saltar por volta de 6,80m (um metro a mais do que salto hoje). é possível? sim, é terrivelmente possível. E esse não é meu único sonho. quer saber de uma coisa? quer que eu te conte um segredo? eu sonho o tempo todo. eu nunca parei de sonhar e é por isso que estou aqui, escrevendo nesse blog, andando por aí, deixando a cama todas as manhãs.



esse sou eu na minha festa de aniversário. chamo assim porque eu nunca faço um evento no meu aniversário. nunca levo amigos a um bar, por nunca ter dinheiro disponível ao décimo primeiro dia de abril, por não ter energia para isso ou por não ter amigos o bastante para encher uma mesa de bar. então, eu comemoro quando eu publico livros, de dois em dois anos, mais ou menos. funciona em parte, porque meu lançamento juntou pessoas suficientes para encher uma mesa de bar para um evento de aniversário, porque as pessoas ainda acham que publicar um livro é uma coisa importante, um orgulho mas. claro que foi um número bem pequeno de pessoas para um lançamento de livro. o sorriso amarelo do editor mais uma vez, faz eu me sentir o maior idiota do mundo. tentei divulgar o evento, tentei mesmo mas. eu definitivamente não sou popular. agora começo a achar que lançamento de livro não é uma boa ideia. vou pensar em algo diferente para o próximo livro. sim, haverá próximo livro, o quarto, que é tão bom quanto este que estou publicando agora. o quarto sairá não porque sou popluar, mas porque eu sei escrever, e isso é o mais importante.


Parte 2


39ª mostra internacional de cinema de são paulo. primeira parada: croácia.

“doente” (bolesno, CRO, 2015, Dir: Hrvoje Mabic) ⋆⋆⋆⋆⋆

bolesno é um documentário que conta a terrível história de ana dragicevic, uma garota croata que ficou presa em uma clínica para dependentes químicos sob falsa alegação de ela ser viciada, quando na verdade estavam a tratando por sua homossexualidade. ela foi presa lá aos 16 e ficou por cinco anos. ana processou a médica responsável por sua internação e também seus pais que a internaram. de acordo com o documentário, o caso ficou razoavelmente famoso na croácia. é difícil encontrar na internet algo sobre ana que não esteja em língua local, então não pude checar exatamente quando se deu a internação, mas posso supor que aconteceu no começo dos anos 2000. Sim, no começo dos anos 2000 eles ainda faziam isso com homossexuais, quase o fizeram comigo e. meus pais 'descobriram' a minha homossexualidade no ano de 1999 ou 2000, não me lembro exatamente. eu tinha 15 ou 16. eu senti aquela 'lepra' que o escritor chileno pedro lemebel diz sobre a homossexualidade em um de seus mais memoráveis poemas. aliás, tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente em 2013:


eu, marcelino freire e pedro lemebel.

sim, pois meus pais me trataram como se eu não estivesse apenas doente da cabeça, mas da pele também. éramos uma família bem porquinha, mas quando minha mãe descobriu minha homossexualidade, ela me deu uma toalha só para mim e um sabonete só para mim. todos na minha casa usavam o mesmo sabonete, que ficava lá na saboneteira até acabar. lá nunca se controlava quem usava as toalhas também, minha mãe costumava colocar duas toalhas grandes no box e nossa família ia usando até que minha mãe julgasse que elas estivessem sujas e as colocava para lavar. mas quando minha mãe soube, ela foi bem clara em dizer que não era para eu usar aquelas toalhas, as do resto da família. ela me deu uma só para mim. não muito tempo depois, meus pais me levaram ao psicólogo alegando que eu estava 'muito nervoso'. na verdade, o que eles queriam é o que psicólogo 'curasse' minha homossexualidade. claro que não funcionou e naquela mesma ápoca, eu comecei a sentir sintomas de depressão que permanecem comigo até hoje, aos 31. o caso de ana dragicevic é muito mais desumano que o meu, é claro. quando o pai dela a visitava na clínica, ele se esquivava quando ela tentava tocar suas mãos. quando ana finalmente conseguiu a liberdade, o diretor acompanhou ana até a casa de sua mãe. ela abre a porta, vê ana e bate a porta. depois de anos de terapia e grave depressão, uma muito mais grave do que a que tenho, ana fica sabendo que sua mãe teve um ataque cardíaco. ana foi visitar sua mãe no hospital e ela chorou muito quando viu a filha. ana também escreveu uma carta para o pai, dizendo que não deseja nada de mal para ele e que ela se lembra com carinho do tempo em que passou com ele até ter 16 anos de idade, uma época em que ela teve a sensação de ter sido amada. eu também tive esse 'buraco negro' na minha vida. minha mãe tornou-se budista há uns 5 anos atrás e se tornou uma pessoa mais fácil, meu pai também. agora eles me tratam bem, mas quando eu era adolescente, quando mais precisei deles, eles me viraram as costas, eu passei vários anos tendo a sensação de que ninguém no mundo me amava. parece que os pais começam a se arrepender do que fazem com os filhos gays adolescentes quando eles já tem mais de trinta anos. mas o passado nunca está morto, não é sequer passado.


Parte 3

39ª mostra internacional de cinema de são paulo. segunda parada: esculhambação.


“Pixadores” (Tuulensieppaajat, 2014, FIN, Dir: Amir Escandari) ⋆⋆⋆⋆⋆

este nem estava na minha programação. pagar para ver um bando de moleques finlandeses pixando por aí? jamais. a palavra 'pixar' ainda nem é reconhecida como palavra. porém, quando na hora em que me deu muita vontade de ver um filme em determinada hora e abri a sinopse deste filme, percebi que é um filme finlandês, mas sobre pixadores paulistanos. e que também é parte colorido e parte preto e branco. bem, fiquei curioso para ver como seria o olhar de um diretor finlandês para esses moleques brasileiros pixadores alienados. pouco antes da sessão, no espaço itáu da augusta, tinha gente de comunidade entrando com bebida alcoólica na sessão (fica um alerta para o pessoal da mostra e do espaço itaú).  olha, detesto esse povo de comunidade, acho desnecessária essa postura agressiva deles. o motivo desse tipo de atitude estava claro logo nos primeiros depoimentos: “nós gostamos do ódio que despertamos na sociedade”. o filme é um documentário sobre quatro pixadores paulistanos, todos moradores de comunidade, e que foram para berlin mostrar seu “trabalho” por conta de um edital da vida. eu adoraria saber quem foi o babaca que mandou esses quatro bandidos para berlin com o dinheiro dos nossos impostos.  sim, bandidos, visto que pixação ainda é o mesmo que “vandalismo” em nosso código penal, portanto é crime. se é crime, quem pratica é bandido, certo? certo. então vamos lá: o filme acompanha as aventuras desses marginais escalando prédios e sujando-os. três deles, sequer sabem escrever o  próprio nome. um deles, que é uma espécie de líder do grupo sim, é alfabetizado e um 'pseudo-culto', na hora em que o filmam na cama lendo nietsche, me ecoa uma frase ‘quando um babaca decide que quer ser culto e espertinho, a primeira coisa que vai ler é nietsche’. quando um dos moleques, que já tem um filho, é questionado sobre o que quer da vida, ele responde: “ meu sonho é ter uma casa”. dá vontade de gritar em direção a tela a seguinte frase ‘e você gostaria que chegasse alguém e pixasse a SUA casa?’. esse é o conflito principal da primeira parte do filme: um cara ‘pseudo-culto’ que acha que sujar a parede dos outros é “arte”, se junta a três analfabetos e os fazem pensar que também estão fazendo 'arte', que estão fazendo 'um trabalho', que estão 'transgredindo'. eles nem sabem o que estão fazendo, não sabem nem escrever o próprio nome.  a verdade é que esses moleques sem educação só o fazem, porque gostam e porque acham legal serem odiados pela sociedade, a velha “vitimização”. eles acham que eu e você, que moramos em regiões centrais em apartamentos (com muito esforço, inclusive; eu mesmo vou acertar o que devo de aluguel só no dia 15), somos culpados por eles morarem na comunidade. cara, eu não tenho culpa, não tenho mesmo, pago uma caralhada de impostos. agora, se os políticos pegam o dinheiro e enfiam no cu, não é minha culpa, não mesmo. legal, chega a notícia que os pixadores foram contemplados no edital e vão para berlin. o 'pseudo-culto' diz: 'Vamos lá mostrar para eles nossa arte política!'. daí o analfabeto responde “se é louco...” claramente, ele não faz a menor ideia do que é 'arte política'. bem, lá vão os pixadores para berlin com o dinheiro dos nossos impostos. daí, acontece o ápice do filme: quando os curadores da tal bienal de berlin os convidam para um evento onde supostamente devem mostrar a sua 'arte'. quando chegam no local, se deparam com paredes brancas de madeira destinadas ao 'trabalho' das pessoas. no local, os curadores falavam sobre o que era pintar paredes utilizando tinta spray para fazer desenhos, pinturas, ou qualquera. não, eles não saem por aí escalando prédios públicos e sujando-os. pois então o 'pseudo-culto'  diz que 'não é esse o nosso trabalho', e 'não viemos aqui para pixar essas madeiras brancas'. o que fizeram os quatro contemplados então? saltaram as madeiras, pixaram o prédio público e tombado que tinha atrás delas, jogaram tinta no curador do evento e a palhaçada terminou com a polícia, claro. falando de cinema, achei a atitude do diretor extremamente corajosa em fazer o trabalho. E u não acho nem que ele aprove o que esses marginais fazem, mas ele quis mostrar, quis dizer que aquilo existe, em um lugar onde ainda existem pessoas não tem educação suficiente sequer para escrever o próprio nome e acham que são artistas, onde gente que tem uma educação básica e ruim pega um livro do nietsche e sai por aqui achando que é um gênio, achando que está arrasando no rolê.  eu dei cinco estrelas. pela coragem do diretor, pelo conflito, o documentário é muito bem feito, muito bem filmado, a fotografia em preto e branco está linda (só a parte filmada em são paulo está preto e branco, também concordo que são paulo só deve ser filmada em preto e branco). quando acabou o filme, bati palmas e saí apressado. a sala do espaço itaú da augusta estava lotada, tinha até gente em pé. o que será que aconteceu depois? será que os caras pixaram a sala?

voltarei no próximo post para falar mais sobre a mostra.


Epílogo.




temos uma imagem do biffe de atletismo. eu também viajo quando corro para saltar, quando saio do chão, da tábua até a areia.


XOXO

17 de out. de 2015

BLACK CHRISTMAS



esse sou eu, lendo um pequeno trecho do meu livro novo, a ser lançado muito em breve. tive de tentar duas vezes. tentar fazer o vídeo. parei na segunda tentativa porque eu vi que seria inútil insistir. minha voz é muito exótica. nunca gostei dela. minha narina esquerda está quase obstruída desde que eu era adolescente, provavelmente depois de uma briga, onde levei uma bela surra de uma garota duas vezes maior que eu. só descobri que a narina está nesse estado hoje, há poucos meses. se eu apenas tapar minha narina direita com o dedo, eu posso perceber facilmente o problema, mas isso nunca me ocorreu em quinze anos. eu me lembro da palavra ‘mulher’ e a ‘sócio-política’, acho que se a vida é mesmo uma pessoa, como já escrevi sobre por aqui, ela é uma mulher, e isso é um agravante que ajuda a justificar por que não gosto dela. visto que gosto menos de mulheres do que gosto de homens em geral, e isso é por causa do meio social, político e moral no qual eu fui criado, não é minha culpa. veja só o estado na minha narina esquerda...

você se enxerga? eu tenho problemas em me ver, me identificar neste vídeo. não se parece comigo. eu não esperava que eu era assim. a voz extremamente anasalada, como tenho de me esforçar para manter a sobrancelha baixa, o quanto eu leio prosa como poesia e isso é cafona, bem, e o quanto eu gostaria de ser mais masculino. até que percebi que, vendo o vídeo, essa figura não se parece com a pessoa que escreveu este livro, ‘o tiro de um milhão de anos’.

Imagem.

bem, eu deveria ter imagens, mais do que uma, para mostrar como foi o biffe de atletismo, mas não tenho. satã mandou alguns atletas muito bons para a competição domingo e eu terminei em quinto lugar. 5,34m, looonge do recorde. então apenas fui embora para casa, muito irritado e triste. depois de todas as provas, haveria a cerimônia de entrega das medalhas, uma festa, um churrasco talvez. mas eu apenas fui embora para casa chorar. não consigo chorar. passei a tarde inteira tristíssimo, mas não consegui chorar. assim como minha personagem corvo, eu não consigo chorar. em alguns momentos naquela tarde, eu senti um embrulho no estômago e uma vontade de por para fora como se fosse um vômito (mas era o choro). tentei forçar o choro a sair, mas não saiu. nem uma lágrima sequer.

no dia seguinte, eu comecei a perceber que aquilo era só uma competição, ou uma festa. como o natal. visto que treinamos o ano inteiro para o biffe, assim como trabalhamos e somos bonzinhos para o papai do céu o ano inteiro, para então encontrar os parentes no natal e celebrar por. infelizmente, no biffe eu fui o tio bêbado que fez uma cena no meio ceia e passei a meia-noite no hospital tomando glicose na veia, enquanto os outros se abraçavam. mas não é só pelos abraços, ou pela vitória. eu tentei, tentei mesmo mas. não deu certo. agora eu já posso começar a reparar erros do passado, como não ter feito minha necessárias cirurgias nos joelhos e no nariz, que não fiz antes este ano por estar treinando para o biffe de atletismo.

estou tentando, tentando muito pensar que não sou o 'dom casmurro' do atletismo. tentando recuperar ou refazer a juventude na velhice, tentando ser o atleta que eu deveria ter me tornado quando eu era adolescente. estou tentando agora pensar que estou apenas me preparando para ser um bom atleta master. vou fazer minhas cirurgias logo, e vou continuar treinando.

escrevi um poema ontem, em inglês:

“Men”
A man is just a man and
A man is just one man
And that’s why I never get a boyfriend.

eu gosto de colocar o poema aqui. o facebook perde os poemas. não que esse blog seja mais durável que o facebook. Aliás, há um trecho do meu livro novo que diz: “se você acha que a internet é mais forte que os dinossauros, você está errado!”.

ainda sobre homens e o meu problema de reconhecimento da própria imagem, cito que após ser aceito por um lindo homem, eu teria de aceitar a mim mesmo depois, e isso seria muito mais difícil. é exatamente o que acontece com a minha personagem, cracolene, no meu livro novo, no momento em que ela se sente confortável com a própria morte.

eu ainda escreveria sobre cinema, mas o farei no próximo post. falarei sobre a estreia do “feeling blue” (curta metragem filmado em 2013, o qual protagonizo) que será hoje, e também falarei sobre a 39º mostra internacional de cinema de são paulo.

“Christmas”

Love was hard to find
But we have
Love was hard to find

(Lori Carson)

“White Christmas”

I'm dreaming of a white Christmas 
Just like the ones I used to know 
Where the treetops glisten, 
and children listen 
To hear sleigh bells in the snow

(Irving Berlin)





por favor, venha comer castanhas na minha festa de natal pessoal.


XOXO.

30 de set. de 2015

A DOR EM REPOUSO

88 pilas por um bom headphone. a gata come o fio do ouvido direito e agora o headphone está morto na gaveta. eu usava para ouvir música na cama, ouvir e ver todos aqueles artistas da música no youtube. usava os fones no celular porque o ótimo aparelho de som japonês não tem saída para fone de ouvido. o outro aparelho de som que tenho, holandês, tem, mas o design dele não ajuda, ele não fica em pé na cama, o colchão é muito fofo. não acredito que alguém tão lindo quanto jeff buckley tem de morrer, que aquela absurda beleza tem de morrer. ele morreu afogado no rio mississipi e o pior é imaginá-lo quando encontrado, é horrível o que um rio faz com um corpo em algum dias. eu sei, eu sei um corpo em perfeito estado dentro de um terno, maquiado, também será destruído por insetos, pela terra. bem, eu não consigo concluir visto que água consome corpo, terra consome corpo. ainda acho que água é pior desde que corpos não conseguem escapar da água após alguns dias parecendo tão belo, tão sexy até, quanto a garota que se mata no filme russo "leviatã". eu consigo enxergar que aquilo não é uma falha do filme, em não mostrar o realismo de um corpo retirado de um rio, pois até a morte deve parecer bela, visto que até a morte deve parecer sexy. bem, eu vejo minha própria fotografia desaparecer como um fantasma do meu celular quando a bateria acaba.

não gabriel, não há repercussão sobre a sex tape da última postagem. se eu me filmar matando uma pessoa e postar o vídeo aqui, nada vai acontecer, mas até que sim um pouquinho. a última postagem foi muito melhor acessada que muitas das anteriores, mas não me alarmo com isso. sexo é algo tão comum, tão natural, assim como a simples nudez, eu fiz já no cinema. lars von trier fez, gustavo vinagre fez, stalking que não é comum, stalking não é natural, não é ok mostrar a bunda, sua cicatriz na bunda, sua vida pessoal e real em detalhes para uma pessoa inventada por outra, só para te observar, te seguir, tentar te controlar. stalking não é legal. ainda sobre a sex tape, vocês nem imaginam o que eu fiz ontem e filmei, mas não vou postar aqui, visto que sexo é tão comum, tão natural.



vamos ao título dessa postagem:

semana última, última quarta-feira, tive intensas dores nos joelhos devido ao treino para os jogos da liga de atletismo da usp. treino ruim. bem, ainda não sei por que me estresso pedindo ao meu gerente para sair mais cedo do trabalho com o intuito de chegar ao treino no horário, desde que o aquecimento e os exercícios educativos são os mesmos para todos e dificilmente mudam, e quando vou saltar, quase sempre vou sozinho como aconteceu na última quarta. além disso, me fizeram fazer saltos sobre barreiras antes, o que piorou muito a dor. quando fui saltar, não consegui correr rápido por causa da dor. além disso, tive de aguentar as costumeiras provocações dos atletas da poli originadas também por problemas pessoais entre o meu treinador e o deles. aquilo prejudicou minha concentração e acabei caindo de cara da areia em uma das tentativas. antes do tombo, torci o pé esquerdo e também machuquei a mão. algo assim só acontece com principiantes, fazia um ano que eu não levava um tombo assim. bem, acabei ganhando a medalha de prata na competição com um salto de 5,53m. na competição, depois do aquecimento, eu não estava com dores significativas e esperava um resultado melhor. um atleta master (que me ajudou durante a competição devido a ausência do meu treinador) que costuma treinar no mesmo horário que eu, disse há duas semanas que já tenho condições de saltar mais de 6 metros pelo que apresento nos treinos. mas não saltei. saltei 5,78m em março e estamos em setembro. e eu não consegui melhorar um centímetro sequer. algo está errado, claro. ganhei a medalha de prata porque apenas um bom saltador foi competir: stefan angelin da fea. mais uma vez fui derrotado por ele. se na competição de março eu perdi para ele por 20cm, dessa vez fiquei 76cm atrás. não é difícil imaginar que algo está errado no meu treino. bem, eu também fiz o salto triplo porque quase ninguém fez e eu queria outra medalha. consegui, ganhei o bronze com um salto de 10,70m. o atleta master que estava lá me ajudando, disse que tenho já condições de saltar 12 metros (..)


três meses sem competir. arrumando a roupa, a sapatilha.


o resultado.


as medalhas.

a competição mais importante do ano acontece em duas semanas e estou a 30cm do recorde, meu objetivo, que é de 5,83m

bem, tudo isso acima não é importante de fato. o fato é que essa competição última aconteceu das nove da manhã ás cinco da tarde e eu passei o dia inteiro sozinho na pista. ninguém falava comigo, ninguém sentava ao meu lado por dez minutos. talvez seja porque ninguém quer falar comigo ou porque eu é que não quero falar com ninguém, ou talvez seja as duas coisas, ou talvez nenhuma delas. talvez, voltar para a terapia me ajudaria a descobrir mas. e então eu vou conhecer o terapeuta e ele é tão lindo, tão lindo que eu começo a mentir na segunda sessão. foi o que aconteceu da última vez que procurei terapia. talvez eu devo tentar uma terapeuta mulher.

hoje é dia 30 de setembro. 3 da tarde. faz 27 graus e faz sol ás vezes. sinto bem até mas. essa noite vou encontrar um dos meus editores, o marcelo nocelli e ele vai me entregar algumas cópias do meu livro novo, que já está impresso e eu vou ter o singular prazer de vê-lo pela primeira vez. é como ver a face do seu bebê pela primeira vez. não vou ser mãe ou pai mas. tenho já três bebês. hoje á noite vou ver a face do meu terceiro bebê e. não consigo explicar. ou tentar. o quão bom é.



espero não ter depressão pós parto, como aconteceu com meus últimos livros. e é o que quis significar no título. a competição mais importante, meu lançamento em outubro. não sei o que vai acontecer quando esses eventos passarem, se a dor vai piorar ou passar.

volto logo para dizer.


XOXO.

13 de set. de 2015

RELATO DE FÉRIAS 1

Férias. Disse que não viajaria. Como nunca viajo. Disse que faria um treino mais forte para competir em outubro. Bem, eu treinaria o mesmo se estivesse trabalhando. Na verdade, tirei duas semanas de férias para dormir doze horas por dia. E não me orgulho disso. Já se passou uma semana e eu não fiz coisas funcionais que prometi. Não marquei oftalmo. Estou ficando bem cego. Não fui tirar a segunda via do meu r.g. que esfarela. Pensei em ir a um puteiro no centro, cheirar bastante, no dia em que saí de férias, mas não. Preferi comemorar com homens e álcool como sempre. Eu tenho esse defeito. Fazer sempre as mesmas coisas. Bem, pelo menos fui conhecer o thermas lagoa. Veja só, fica tão perto da minha casa e nunca fui lá. Pois fui. Pois só tem os putos e as bichas septuagenárias que pagam por eles. Pensem que houvesse um terceiro publico. Pois não há. Visto que não sou prostituto nem septuagenário, não tinha negócios a tratar por lá. E eu não vou dar trezentos reais para chupar uma rola. Nem quando eu tiver trezentos anos. Permaneci lá por apenas vinte minutos. Afinal, é possível conseguir coisas tão grandes quanto, sem pagar um centavo (e esse garotão aí, além de tudo curte my bloody valentine (!) ):



Pelo menos ontem, após acordar ás 15 horas, comprei um cinto e uma carteira nova. Daí eu fui ao cinema, ah o cinema. Lembro que não comentei sobre cinema no meu último post. Acho que não tive espaço. Ou fôlego. Ok, eu já superei o fato de não ser crítico de cinema, de escrever sobre cinema. Afinal, escrevo sobre a vida e não existem críticos sobre a vida. O cinema é a vida na tela. Tenho ido muito ao cinema. Deixe eu pegar aqui os últimos ingressos que tenho. Em ordem crescente de data:

“Exorcistas do Vaticano” (The Vatican Tapes, 2015, U.S.A. dir: mark neveldine) Quando: 23/08 Onde: Cinemark Shopping Santa Cruz. Estrelas: 01. Comentário: Outro filme de BH Productions, cheio de sustos fáceis e com conclusão brochante. Ah que legal, quer dizer que a loirona se livra dos padres exorcistas e domina o mundo. Isso assim, de repente, nos minutos finais.



“Corrente do Mal” (It Follows, 2015, U.S.A. dir: david robert mitchell) Quando: 29/08 Onde: Espaço Itaú frei caneca Estrelas: 04. Comentário: O melhor filme de terror americano que vejo em muitos anos. Não é da BH productions. Claro, afinal é um filme bom. O que dizer da abertura clássica de filme de horror americano? Com aquela bela garota com as pernas de fora, correndo desesperada (de salto alto!!) de algo que não se vê na tela? E aquela conclusão splatter da sequência? Faz tempo que não via no cinema algo assim. Além disso, o filme tem coisas como nudez, incesto, estupro (Coisas que não se vê nos filmes da BH para pré-adolescentes). Além disso, “it follows” não abusa de sustos fáceis e mesmo assim, algumas sequências são realmente arrepiantes. E sim, a conclusão da sequência do conflito final, na piscina, o aproxima também de um filme de arte, não apenas de terror. Pena que ficou tão pouco tempo em cartaz e atrasou tanto para entrar em cartaz por esse motivo: Ele é bom demais para o público brasileiro.

“Que horas ela volta?” (2015, Bra, dir: anna muylaert) Quando: 29/08 Onde: Espaço Itaú frei caneca. Estrelas: 04. Comentário: a princípio a história não me apeteceu muito, a empregada nordestina que vem trabalhar em São Paulo como babá em uma casa de família de classe alta. Ela mora no trabalho. Bem, a começar que Regina Casé está ótima no papel principal, o da empregada. Isso já garante o interesse antes do conflito principal. A Filha adolescente da empregada, a qual ela não vê há 10 anos, vem morar com a mãe enquanto presta o vestibular para a FAU-USP. Para o mesmo curso que o filho da patroa também está prestando. Acontece que a menina filha da empregada se revela uma criatura surpreendentemente culta e o filho da patroa, o que tem de gostoso, tem de burro. Adivinha o que acontece? Pois bem, o filme é um documento sobre a ascensão das classes e o conflito que ela causa. Achei cruel, cruel, mas real a patroa interditando a piscina porque viu um “rato” nela, isso depois que a filha da emprega entrou na piscina.

“A Entidade 2” (Sinister 2, 2015, U.S.A. dir: ciaran foy) Quando: 1ª Tentativa: 05/09 á tarde (cinemark shopping center 3) 2ª Tentativa: 05/09 á noite (cinemark shopping Paulista) 3ª Tentativa: 11/09 (cinemark shopping Santa Cruz). Na primeira tentativa, uma bicha chata ficou tentando parecer engraçada tecendo comentários durante os trailers, em voz alta. Isso eu até poderia tolerar, visto que eu estava em um cinemark. O que eu não tolerei foi quando o som da sala ao lado começou a vazar para a sala em que eu estava. Saí da sala possesso, fui falar com o gerente, disse que aquilo era inadmissível, pedi meu dinheiro de volta e fui embora batendo cabelo. Que ódio. Na segunda tentativa, no cinemark do shopping paulista, uma gangue de pré-adolescentes estava na sala. Um deles fazia uma gracinha em voz alta em absolutamente todas as cenas. Consegui ficar na sala apenas vinte minutos. Passei o resto do filme no banheiro, no whatsapp, enquanto aguardava a próxima sessão, outra do “it follows”. Na terceira tentativa, ás 23h20 no cinemark do shopping santa cruz, pensei: “Acho que as mães não deixam as crianças irem ao cinema a essa hora”. Fora a costumeira falta de educação das pessoas (Gente passando na minha frente na fileira 10 minutos após o filme começar, e olha que são quase 20 só de trailer, contei oito atrasados passando na minha frente até descer para a primeira fila, onde é péssimo ver o filme nas salas do santa cruz), consegui ver o filme até o final. Estrelas: 01. Comentário: tanto trabalho para ver outro filme da BH productions. Outro filme cheio de sustos fáceis. Sim, os filminhos de tortura dentro do filme são realmente macabros e muito sádicos, porém é legal ver esse tipo de coisa dentro um contexto que não seja tão pobre, caso deste filme.



“Infância” (Bra, 2014, dir: domingos de oliveira) Quando: 12/09 Onde: Espaço Itaú Frei Caneca. Estrelas: 04 Comentário: Este, infelizmente não tinha conseguido ver na mostra do ano passado. Eram poucas sessões e tipo, na terça-feira ás 14h00. Sim, eu estava de férias na mostra do ano passado, mas quanto estou de férias, nem levantei da cama ás 14h00. Pois bem, no Itaú sim, dá para sentar na primeira fila e ver o filme perfeitamente bem. A tela não é tão alta. A sala cheia de velhinhos. O máximo que se podia ouvir da plateia era tosse! Hahaha. Bem melhor do que adolescentes histéricos. Pois bem, pouco importa que o começo do filme é um pouco chatão quando se tem Fernanda Montenegro arrasando como sempre. Como é prazeroso observá-la atuar. Ela está divertidíssima no papel da dona mocinha. Posso até dizer que ela É o filme. O filme, pois bem, é um bem humorado documento da sociedade brasileira nos anos 50, mais um documento de uma “decadente” (nem tanto) família da alta sociedade do rio de janeiro.

“Goodnight Mommy” (ich seh ich seh, Aut, 2014, dir: veronika franz, severin fiala) Quando: em algum dia de agosto Onde: Na casa do Daniel Estrelas: 04. Comentário: Bem, sou contra ver filmes na internet, antes da estreia no cinema. Porém estávamos de bobeira na casa do Daniel, eu ele e bruno, huguinho, Zezinho e Luisinho e Daniel sugeriu ver um filme. Quando Daniel disse que costumava ver todos esses filmes que vejo no cinema no computador dele, veio a ideia de ver este “Goodnight Mommy”. A história, de uma mãe que após um acidente e cirurgia de reconstrução facial, reaparece com a cara enfaixada e põe a dúvida nos filhos gêmeos se aquela figura realmente é a mãe deles. Você não esperava pela conclusão do filme? Nem eu. Mesmo a conclusão do filme sendo bem parecida com a do “The Other” (Robert Mulligan, 1972), um clássico de gênero, me arrisco a dizer que esse é o melhor filme de terror que vi desde “O Anticristo” do Lars Von Trier. Pode me xingar, não ligo. Esse “Goodnight Mommy” tem tudo que um grande filme de terror deve ter. É amargo, cruel, esquisito, violento e imprevisível. Mal posso esperar para ver na telona.

Elsewhere:

A grande notícia das férias! Meu terceiro e novo livro, o romance “o tiro de um milhão de anos”, contemplado pelo proac e que será lançado pela editora pasavento, já tem capa e data de lançamento:



Anote na sua caderneta:
O quê? Lançamento de “O tiro de um milhão de anos” de Hugo Guimarães
Onde? Livraria Martins Fontes, Avenida Paulista nº 509
Quando? Dia 24 de Outubro
Que horas? Das 16h00 ás 18h30.

PS: Ah, estou de saco cheio de contrariar o microsoft word e colocar letras minúsculas no começo das frases.


XOXO

4 de set. de 2015

ZIMBABWE OCIDENTAL

untitled 01:

wondering life, the trees, I resolve that I never found myself as a part of the world. I do try the recreation. it doesn’t work. it’s not something that someone did to me, spoke to me but. it’s life itself, like if it’s a person. it’s not the flu. it’s not the real state. I thought again, by addiction, that a gorgeous boy would come from shower at this locker room, but life did.


“Elegie August the 31st, 2015”

Why am I here?
I’m here just because YOU are here
How does it feel down there, piece of trash?
It feels fine, it’s 31 degrees and it’s sunny.

fluxo:

espere sair para depois entrar. é algo que os negros nordestinos não conseguem entender. talvez essa sentença não esteja lá clara. eles devem pensar que você deve esperar duas ou três pessoas saírem do trem. e então avançam. os que não conseguiram sair, que fiquem lá dentro. não está claro que você devem esperar TODAS as pessoas saírem do trem para só então você entrar. sendo assim, a mensagem deveria ser: “espere TODAS as pessoas saírem do trem, para depois VOCÊ entrar”. espere um pouco... será que assim os negros nordestinos pensariam que deveriam esperar TODAS as pessoas que estão dentro do trem desembarcarem em sua totalidade? eles pensariam: “será que é para esperar esvaziar o trem para só então eu entrar?”. sendo assim, os negros nordestinos jamais entrariam no trem. eu gosto. neste caso, não podemos dizer que trata-se das sutilezas da língua portuguesa, mas temos aí um claro e grave problema de compreensão, onde uma simples mensagem não chega a seu destino. nesse caso, os negros nordestinos. ando alguns metros. ai ai, que homem bonito. na esteira só cabem duas fileiras de pessoas, há um importante afunilamento. assim, obviamente, algumas pessoas devem entrar na frente das outras para que as duas fileiras sejam feitas. mesmo assim a velha não queria me deixar passar de jeito nenhum. a senhora percebeu que aqui só cabem duas fileiras de pessoas? ah que bom. aí a bicha. a bicha cabeçuda desfilando meio que bambeando lá pelo fim da esteira, onde seria bom que as pessoas aproveitassem para andar mais depressa.
- ai. o igor estava lá sentado. ai.
- ai. aí você chegou. ai.
- ai. perguntou por que eu não respondia as mensagenx. ai
- ai. o namorado do lucas? ai.
as bichas miando com a língua presa.
- ai moço, desculpa!!!
a bicha pisa no meu calcanhar e quase me tira o calçado. só aí já foram três bichas. comigo já são quatro. sento a bunda no assento do trem. nem ligo para o preto folgado com as pernas abertas que dificulta com má intenção a minha sentada. sentar eu adoro. se tivesse uma rola nesse assento então, melhor ainda. falo mesmo. pra mim mesmo. não preciso ter vergonha de mim mesmo, oras. bom é ler. voltei a ler ontem. bom é ler, que assim a viagem horrorosa de metrô termina mais depressa. subo as longas escadas rolantes. ai meu deus, lá vem o negro com o saco de biscoitos na mão. vai passar por cima de mim! quase. na esquerda livre, subiu até que rápido, um senhor japonês que aparentava uns 80, mas devia ter uns 130. não é a toa que só os japoneses alcançam as categorias mais velhas do atletismo master. será que eu consigo, meu deus? chegar até as últimas categorias do atletismo com esse joelhinho podre? ai ai que menininhos lindos. não são gêmeos e estão com a roupa igual. até a mochila é igual. devem ter comprado na mesma promoção. ah, olhando bem tem uma detalhe diferente no fecho, apenas a cor é igual. eita, bicho gordo! olha que preguiça! quase não consigo entrar na fila do ônibus por causa desse gordo. aí, minha gente, sabe quem eu encontro no ônibus? a flora cardoso. e reproduzir aqui o blá blá blá dá um alcorão, não um fluxo.

***

calma, calma, também tudo não é assim escuridão e morte. sei que fazem dois meses que não posto nada. preciso ter calma para não ficar também tão influenciado pelo ‘fluxo floema’ da hilda hist, que recomecei a ler essa semana. meses que não lia. meses que não escrevia. só leio quando quero. só escrevo quando quero. Since this place is not sponsored. mesmo estando na letras. sim, ‘na letras’. quando se faz letras na faculdade, você está ‘na letras’ não ‘nas letras’. é estranho, mas é como é. bem, até escrevi um fluxo logo acima. na verdade não sei se é um fluxo, visto que literatura não é arquitetura. não é só uma questão estrutural.

preciso de um fôlego fundo, calma. melhor mudar o parágrafo agora. não mudar o parágrafo nunca me deixa com falta de ar. ‘fôlego fundo’, no meu livro novo, é assim que eu traduzo ‘deep breath’. legal né? eu sei. digo ‘traduzi’ porque eu escrevo em inglês. depois recrio o texto em português. mais uma vez, outro livro, está prestes a sair, mais uma morte próxima. dessa vez com proac, quem diria? tem gente que faz até curso para ser aprovado em edital, sabia disso, hugo? não, não sabia. lembra da entrevista de clarice lispector na tv cultura? ela dizendo que os livros morrem depois que vão para a editora? pois é exatamente essa a sensação que tenho, que meu livro está quase morrendo. porém, eu tenho orgulho, tenho sim. não espero muita gente no lançamento, não espero vender, não espero críticas, não espero nada. assim terei paz dessa vez, esperando o pior. a editora pasavento fez o melhor. a capa do livro, o projeto gráfico, tudo ficou tão lindo. a alícia peres, que fofa, fez imagens tão bonitas para o miolo.

dois meses. perdi até os cabelos.



perdi os cabelos, mas ganhei bandagens.

o esporte. ah, o esporte. pensei em parar de vez, ir pra casa dormir depois do trabalho todos os dias. aqui não é a america, aqui é o zimbabwe ocidental (essa frase também está no meu livro, mas é do adriano cintra). desde que aqui é o brasil, não há porque ter aquela sensação de que você como atleta universitário está contribuindo para o nível esportivo da sua modalidade. ou seja, quanto mais gente praticando, quanto mais gente tentando praticar bem, o nível eleva até chegar nas principais camadas, consequentemente. aqui não. atleta universitário aqui é um idiota. sabe quem é atleta universitário aqui? um profissional que está na seleção que ganha uma bolsa na unisantana (depois que já está na seleção brasileira). quando nós, de fato atletas universitários, vamos competir no ct da bm&f bovespa em são caetano, os caras sequer colocam uma tábua oficial para a gente saltar, temos que saltar naquele toco de madeira velha fixada na pista. por que decidi continuar saltando? porque gosto. assim como gosto de refrigerante, açúcar, álcool, sexo casual e cocaína. sim, com as bandagens no joelho já senti menos dor no salto e tive uma melhora de uns 20cm logo no primeiro treino com elas.

o esporte. ah o esporte. passou tanto tempo sem postar que não falei sobre “o” evento esportivo recente. a disputa de mma entre a brasileira beth correa contra a americana ronda rousey. lembro que postei no facebook chamando mma de ‘rinha humana’. desde que o tempo pouco importa, posso falar sobre isso só agora. since this place is not sponsored. o esporte, ah o esporte. quando vejo a selvageria do mma, não consigo enxergar a magia do esporte naquilo. não consigo entender por que ronda trocou o judô por aquilo. consigo diferenciar mma de esporte com um claro conceito na minha cabeça: esporte é tudo aquilo que crianças podem assistir. agora temos outra questão no citado evento, muito discutida: a luta aconteceu no brasil entre uma brasileira e uma americana, mas as pessoas torceram para a americana. primeiro: deveriam ter torcido para a brasileira. sabe por quê? beth correa é a típica mulher brasileira: feia, burra, rude e mal educada. por quê o povo brasileiro não simpatizou com beth, então? porque o típico povo brasileiro é assim: feio, burro, rude, mal educado, mas não se enxerga.  



XOXO