25 de jun. de 2011

HARPA













“Harpa”

A religião que eu fundei
Diz que eu vou tocar harpa
Em uma nuvem fofinha,
E alguém pintou as paredes
Em um azul bem angelical
Para que os aviões deslizem,
Haverá um homem ou dois
Para tocar harpa
E foder.

Poderiam ser dezenas de virgens
A escolha é sua
Mas você não mata em massa
Como o tempo passará?
Se haverá homens
Haverá corpos
E meu corpo realmente
Será absolvido do cansaço?
Irão os órgãos sexuais
Facilmente subir e descer?
Irão os homens só sorrir?
Haverá tantos
Diferentes sons de harpa
Para que eu não fique entediado?
Deus diz não
E deus diz não
Eu não quero saber
Porque eu só tenho questões infantis
Que pais não conseguem explicar
Como deus não explica a morte
E eu acredito
Eu acredito na harpa
E você pode vir comigo
A escolha é sua
Tocar harpa em uma nuvem fofinha.

Mas os anjos
Não aparecem somente
Nas paradas gays da cidade
Eles só se transformam neles
Esporadicamente
Para mostrar o quanto são safados
Como é problemático
O reinado da pele
A arrogância
E o vazio
E isso não tem sido fácil
De engolir
E como soa.

Eu acreditava
Que eu precisava
Me preparar para morrer
Porque as pessoas continuam
Vivendo como morreram
No outro lado
Como um prêmio
A quem se prepara
Para morrer.

Então o garoto perfeito
Que me humilha
Perturbaria-me eternamente
Se ambos de nós
Morrermos agora?
Poderei existir na morte
Por tanto tempo
Com algoz?

Então a harpa finalmente
Calou-se
Porque minhas habilidades
Morreriam comigo
E seguiriam nas nuvens,
O quanto eu não sei tocar harpa
E a harpa se calou
Pois a arrogância
E a pele
Não morreriam.

Então eu percebi
Que é melhor fazer pó
Só o que me consola
É que o seu corpo perfeito
Desaparecerá em 100 anos
Como todas essas malditas
4 milhões de pessoas
Nessa parada vulgar.
Só sobreviverá a prova
Da sua escravidão da imagem.

Só suas roupas
E objetos sobreviverão
Aos 100 anos
Seus milhões de objetos
Pequenos sacos
De pós-exumação
A parada dos fantasmas,
Só sobreviverão
Os objetos
E as muitas
Harpas presas em lojas
Que você esqueceu
De comprar.

Hugo Guimarães.

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