hugo guimarães aos 50:
“finalmente começaram a ler meus livros, finalmente
começaram a me encher o saco”.
ou
“por mais que o mundo diminua a cada dia, ele ainda
é maior que o seu homem”.
ou
“até não saber o que dizer. até eu mal poder ajoelhar
para recolher os dvd’s que minha gata derrubou da prateleira. até por o direito
deles estar inchado devido aos saltos estranhos que eu faço. até que sim, eu
sei que estar indo atrás de outra medalha e ganhá-la, não me fará uma pessoa
melhor. até que sim, passar alguns meses na academia fortalecendo os músculos
até que eu consiga levantar 100 quilos no agachamento para que eu possa ganhar
outra medalha em novembro não vai me fazer uma pessoa melhor. até que sim, sei
que esportes substituem os psicotrópicos, sei que manter o corpo saudável
diminui a sensação de estar apodrecendo. até que sim, passei a acreditar na
tese, ou teoria, ou que, de que o corpo já sim começa a apodrecer a partir do
nascimento e não somente após a morte. até que eu posso questionar o
envelhecimento das células contra a renovação. elas morrem. então o processo de
apodrecimento já está iniciado quando nascemos; a supor. até que sim, a célebre
frase da purificación santamarta (google it) ‘uma medalha vale o mesmo que uma
tampa de gatorade para mim’ estende-se até a linha do significado da vida;
mesmo – até que sim, a minha posição na sociedade – a minha posição na
sociedade e qual a minha posição na sociedade – eu tenho uma posição na
sociedade? até que sim, ao derrubar barreiras, ao acumular, até que finalmente,
até que nunca posso esquecer de que nunca vou parar de seguir para bater a
cabeça bem de frente com a morte e que nada posso fazer a. até que sim, ou não,
não quero falar sobre isso, sobre a abreviação da vida mais uma vez visto que.
sim, já falei muito sobre isso”
ou
“não sou terrivelmente feliz, mas não sou o coitado
que as pessoas pensam”
ou
“até que o que me impede a, nesse momento, é o medo
de altura”.
ou
“até que não, a utilização da crase não é
indispensável. até que ela é apenas uma fusão. Até que sim, fui aceito pela
faculdade de filosofia, letras e ciências humanas da universidade de são paulo.
até que mal consigo sair da cama aos finais de semana. até que não consigo
lavar as louças ao ponto de que só lavo uma peça quando todas as demais estão
sujas. há sempre sacolas plásticas vazias e amarradas dentro da pia que foram
utilizadas para compressas de gelo nos meus joelhos. elas me causam má
impressão. até que sim, tenho nojo de cozinhar na minha cozinha amarela. cozinhas
devem ser brancas. não vou pintar a cozinha de branco porque essa cozinha não é
minha e não quero ter de pintar de amarelo de novo quando eu for embora desse
maldito apartamento, afinal eu mal tenho ânimo para levantar da cama no pouco
tempo que consigo ficar aqui. até que sim, todos esses fatos estão diretamente
ligados”
ou
“não consigo entender que a USP é uma casa de
tantas cabeças produtivas, tanta produção intelectual e é um lugar onde haja
tantas árvores... você consegue ligar essas duas informações? afinal, a
impressão de um livro consome x páginas, logo não deveria haver árvore alguma
na USP”
ou
“ser escritor e nunca para de escrever é a aceitação
da inabilidade de conseguir dizer o que pensa ou o que acha. por isso os escritores
morrem escrevendo, tentando atingir tal habilidade, morrendo sem nunca explicar
coisa alguma”.
ou
“odeio os dois livros que publiquei”
ou
“a impressão do livro não garante a imortalidade.
ela é apenas carimbo, uma etiqueta. muitas edições se perdem ao passar dos
séculos. se perdem para sempre. a internet também vai acabar, não duvide disso.
a impressão apenas facilita que outras pessoas, outras gerações futuras
mantenham reimprimindo os livros se você for digno de algum tipo de idolatria,
ou respeito. o escritor por si só não pode fazer nada para que essa
continuidade ocorra”
ou
“não vou fazer quase nada este ano. quase nada”
ou
“fiz tudo exatamente ao contrário, por isso vivo a
margem da sociedade. ou eu deveria escrever ‘á margem da sociedade’? descobri
que a crase não é indispensável, descobri isso na própria faculdade de
filosofia, letras e ciências humanas. só não consegui descobrir por quê o prédio
da filosofia fica tão longe do prédio da letras e da geografia e da história. até
que sim, este ano não darei entrevistas. nem nesse nem nos próximos nem jamais.
a última que dei foi para o gabriel marchi do site ‘a virgula’, em novembro do
ano passado. entrevista essa que jamais será publicada, devido a sempre,
absolutamente sempre, a cada segundo, haver algo mais legal a se dizer e ao se
publicar sobre, do que o livro de contos do hugo guimarães. até que sim, vou
participar de uma coletânea de contos chamada ‘a puta ria’ que está sendo
organizada pelo luis rafael montero e que é uma antologia de contos sobre prostituição que
tenham humor, onde pela primeira vez estou fazendo um texto sob encomenda. até
que sim, outro amigo me chamou para algo que não sei bem o que é. até que o
‘doamsepalavras.com.br’ deve perdurar. até que sim, este ano os dois
curtas-metragens em que atuei serão lançados [veja amostra abaixo]
ate que sim, estou quase
terminando meu romance. até que sim, eu esperava criar uma história com um
herói para ser comercial, mas acabei criando um livro de literatura
experimental que também é um livro de filosofia. até que sim, vou inscrever em dúzias
de editais e concursos. até que não, não consigo conter a desconfiança de que
um dia serei ouvido, lido, ou respeitado”
ou
HE’S
STRAIGHT
IF
HE’S GAY
HE
HATES
ME
(THIS
IS NOT A POEM, THIS IS A TATOO)
ou
“o homem apenas pode lhe oferecer a ilusão de que
ele é maior do que o mundo, mas. (veja o verso dois)”
ou
XOXO.
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