Eu vou cria-lo som por som, sozinho. E sóbrio.
E uma merda histórica no último treze de abril.
Três de dezembro
último. Foi difícil pegar o coração partido em dois, juntar a coisa gosmenta e
costurar lentamente, com coragem, ponto por ponto com o fio. Esperar a gosma
dos pontos secar aos poucos, com paciência; e depois tirar o fio dos pontos,
com coragem e “seguir em frente”.
Agora, ele parte em
dois novamente – me dá calafrios em ter de pegar as duas partes gosmentas de
novo, para começar a juntar. Vocês que cursam biologia, vocês são só amor, só
amor. Agora eu encontrei a definição perfeita para a palavra “amor”: amor é
usar os outros e virar as costas de uma forma bem atual: ignorar quem você
acabou de usar. Não é uma reclamação, é uma constatação. Eu também já fiz isso
com outras pessoas, mas você só percebe o quanto isso é ruim quando você atira
no próprio pé.
Porém, eu devo
admitir que você, futuro cientista rico e famoso, salvou minha vida na última
sexta-feira. Só por ter falado comigo. Eu já tinha aceitado que você não
voltaria a faze-lo. Eu tinha um suicídio agendado para essa quarta-feira.
O serviço do 141 do governo, eu penso que ele não ajuda. Eu jamais ligaria para
pedir ajuda. Quem decide fazer, apenas decide. Nada tira isso da ideia.
Eu escreveria no
blog por último que você, olharia pela última vez no espelho na sua vida
enrugado, velho, feio e rico. E eu, olharia para o espelho pela última vez
jovem, atleta, belo, branco e pobre. Mas como você salvou minha vida na
sexta-feira, eu fui treinar no sábado, eu fui competir no domingo, fiz as
melhores marcas da minha vida em duas provas, talvez porque eu estava feliz por
ter um encontro agendado com você logo depois á tarde. Não existe nada mais
cruel do que tirar um doce da boca de uma criança pobre, Antônio.
Não importa, não
importa o que te escrevi depois para externar minha frustração, e me desculpar
por isso depois. Você não vai voltar a me dirigir a palavra e me ver: tampouco.
Eu pensei que eu
tinha aprendido alguma coisa com o meu caótico último relacionamento, que eu não
cometeria os mesmos erros ao me apaixonar de novo, mas não. Eu continuo
neurótico. E eu devo agradecer o cloridrato de venlafaxina que tem acabado com
a minha libido desde que voltei a tomar. Nem é uma dose muito grande, mas tem
sido o bastante. Desliguei o hornet desde que conheci você. Ainda sou
frequentemente assediado por contatos no whatsapp, e tenho pacientemente
recusado todos os convites para sexo da forma mais delicada que posso.
Domingo, quando eu
te encontraria, eu não tomei a venlafaxina só porque achei que ia te ver, para
a libido responder, para poder fazer amor com você. E fizemos, fizemos muito
amor – você me recusou e me ignorou, Antônio; isso é amor.
Era difícil
sustentar a libido só por causa do sentimento súbito que tive por você, mas agora
não há mais necessidade. Tomei a venlafaxina á noite no domingo, tomei hoje. Faz
tempo que não bebo álcool (que é depressivo); no lugar, tenho comido doces. Sim,
doces, que trazem felicidade. E não preciso me preocupar em engordar, como uma
pessoa que faz sete sessões de treino de atletismo por semana pode ter a
preocupação em engordar?
Acordei sozinho nessa
segunda-feira ensolarada com as baratas depois do ataque químico. Sou o último
homem da terra, mas não é justo dizer que estou sozinho, porque eu tenho a mim
mesmo. A diferença é que dessa vez eu não tenho suicídio nenhum agendado. Há mais
do que sol na minha varanda. Há vida lá fora.
***
Embora eu não vejo
muito além dos cinco livros que escrevi (três publicados e dois inéditos),
embora eu tenha decidido que vou tirar umas “férias” (não ler nem escrever nada
por seis meses), há o que fazer na literatura no que há por vir. Quarta-feira última
de manhã dei uma entrevista via skype para o querido Daniel Manzoni, doutorando
em teoria literária da Unicamp que está fazendo um disciplina sobre poesia e
escolheu o tema poesia homossexual para um ensaio. Ele disse que pesquisou
autores e escolheu os que mais gostou para o trabalho, e um deles foi o meu
debut “Poesia gay underground: história e
glória” (Ed. Annablume, 2008). Foi nostálgico, estranho falar sobre um livro que escrevi há nove anos atrás. Eu era outro escritor, eu era outra
pessoa. Sou totalmente diferente agora. Mas contribuí como pude. Daniel disse
que vai me mandar o ensaio quando ficar pronto.
Recebi também uma
proposta para um evento literário na universidade federal do Piauí, em Teresina (Com passagem, hospedagem e alimentação pagas!). Fui convidado
pelo organizador, por ele acompanhar e admirar meu trabalho, e comentar o quanto eu
combino imagem e texto no meu trabalho exibindo meu corpo com pouco pudor. Vou montar
o escopo da minha apresentação no mês de maio e o evento deve acontecer em vias
de setembro ou outubro.
Em dois de maio,
abrem as inscrições para o anual programa nascente da USP, que premia artes de
alunos da USP em diversas áreas como a literatura. Vou inscrever o meu romance
inédito mais recente “Drag por drag”. O evento tem um prêmio de R$ 4.000,00 – além
do “selo de qualidade”, que ajuda muito a viabilizar a publicação. Se eu não
ganhar esse ano, significa que há algo de muito errado com o júri do prêmio ou comigo...
***
#Elsewhere:
Domingo dia 23/04 eu
participei da 2ª etapa do torneio estímulo master da AAVSP, na querida pista do
Ibirapuera onde iniciei no atletismo. Eu pretendia competir no lançamento do
martelo, no lançamento do dardo e no salto triplo. Porém, devido a problemas no
programa horário, tive de abrir mão de competir no martelo. Dessa vez me
preparei bem, aqueci bem, me concentrei bastante e fiz uma ótima competição. Venci
a categoria M30 do salto triplo e do lançamento do dardo. No salto triplo,
saltei 11,46m (pb*) e no lançamento do dardo, lancei 35,02m (pb*). *“pb”
significa “personal best” para quem não conhece atletismo hehe. Essas marcas me
deixam em quinto lugar no ranking da USP em 2017 nas duas provas. Fico bastante
feliz, mas sei que ainda tenho muito a melhorar. Ainda estou um pouco longe das
minhas metas para a copa USP (que acontece daqui a um mês). Mas decidi que vou
trabalhar bem duro neste próximo mês para competir o melhor que eu puder.
#Elsewhere 2:
Também decidi dar um tempo com a
literatura porque eu decidi voltar a estudar música.
Uma singela homenagem que postei uma vez nesse blog para um dos aniversários do "Nevermind" do Nirvana:
https://hugoguimaraesnoceu.blogspot.com.br/2011/09/come-as-you-are.html?m=0
XOXO
Nenhum comentário:
Postar um comentário