26 de out. de 2017

IGOR NA CHUVA 1




“Essa camiseta cheia de esperma seco nessa cama faz com que ás vezes eu me sinta mais ainda cansado e humilhado como ao ser espancado por um homem gay passivo; e o agravante do mal estar de me encontrar dando uma bela lambida na cabeça do meu martelo coberto de bronze. É... Uma bela de uma lambida enquanto abraço o cabo do martelo”.

Trecho de "Igor na Chuva", romance inédito de Hugo Guimarães.

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vim escrever encucado porque o estagiário da empresa onde eu trabalhava até ontem, visualizou meu perfil no linkedin. eu costumo chama-lo de "teenage dream" (só para mim mesmo, claro). toda vez que o via, dizia com a mente "bom dia, teenage dream", "chegou cedo hoje, teenage dream?" se ia embora depois do horário: "vai ser efetivado rápido desse jeito, teenage dream". porém, teenage "dream" é uma descrição perfeita para ele. engraçado eu no linked in? engraçado é você vir falar comigo depois de ter me excluído no facebook sei lá por quê, engraçado é você entrevistar alguém, levar a pessoa para a cama e depois não publicar a entrevista. isso é o que eu acho engraçadíssimo. e não mandei o convite só pra você, mandei aquela maldita corrente que manda o convite para todos os contatos do e-mail. 
meu sonho de um metro e oitenta e dois pode ter morrido, mas o do salto triplo de treze metros parece mais possível depois que eu saltei 12,50m em agosto desse ano. fui treinar salto triplo depois de ter passado uma bela noite com uma realidade de um metro e noventa e três, que. me deu sexo, sono, café de coador e ovos para mim de manhã. além disso, eu posso dialogar abertamente sobre o transtorno bipolar com o Lucas. toma essa, sociedade.
voltando a primeira linha sou o mais novo desempregado do brasil. fui demitido de novo. graças a deus, como diria a minha gerente evanjeca. detestava trabalhar para aquele departamento desorganizado e a culpa é claramente da evanjeca. é o demônio, só pode ser o demônio naquele departamento. eu, meu bem, eu já peguei meus chifres e caí fora daquela barca furada. detestava trabalhar lá dia após dia. pois bem, levantei um dia da cadeira, fui para casa tomar um porre de remédios, fui parar no hospital e por ficar dois dias sem ir trabalhar aqueles escrotos me demitiram. parabéns. ou não. mais uma vez o que tenho a dizer é "eu era bom demais pra vocês" profissional para trabalhar pra vocês tem que ser gente idiota, quadrada e ignorante igual a muitos de vocês. acho que a catho deveria me oferecer uma assinatura vitalícia...

a sinead o'connor tratava depressão cantando, sabiam? então eu comecei a aprender a cantar há alguns dias. essa é a pior versão de "summertime" que você vai ouvir na sua vida, mas por enquanto, é a que eu posso :D


XOXO

15 de out. de 2017

ATÉ QUARTA SE EU ESTIVER VIVO

Até quarta que vem se eu estiver vivo. Foi assim que eu te respondi depois de você falar por noventa minutos, coisas que eu entendo, coisas que eu não entendo, coisas que acho bonitas, outras pouco possíveis. Citou Ana C. finalmente em sua aula de literatura brasileira VI, não? Que avanço; mas isso não me animou, só me lembrou que Ana C depois de publicar seus três ou quatro livros e fazer a maravilha de tese na cidade de Essex que você também vai usar como base nessa fase do curso, pois bem Ana C se jogou do oitavo andar aos trinta e três. Isso vem de Sylvia Plath, isso vem de muita gente, muita gente de saco cheio que não consegue tolerar tudo isso. Foi uma noite de muito questionamento, por isso não ouvi quase nada do que você disse. Disse a mim mesmo “pelo menos vá até o final desse ano, depois tire seis meses de férias dessa faculdade para pensar se ainda a quer”, mas eu nem sei se tenho forças o suficiente para vir quarta que vem. Já escrevi publiquei meus três livros, grávido do quarto e não, não vou fazer intercâmbio porque eu sequer tenho ânimo para ir esquiar em Bariloche, se quer saber; e quer saber, quer mesmo saber? Está para ser escrito um livro mais chato que Macunaíma, com aquela adjetivação extrema irritante. “Não se forma em letras sem ler Macunaína, gente” disse um professor gordo no terceiro semestre, assim como o Caetano Veloso sósia que me dá aula agora diz que não se deve se formar em letras sem ler o tal Grande Sertão e. quando penso na grossura daquele livro, tudo o que consigo pensar é arremessar ele na cabeça do Antônio. Se eu sobreviver até o final dessa matéria, não espere de mim mais do que ver o filme, em cores, com o Grande Otelo, que vou ver no youtube, não vou gastar R$ 17,50 para ver na mostra internacional de São Paulo deste ano, pois essa mostra é um dos raros momentos de lazer e prazer na minha vida. Aliás ainda estou esperando minhas notas dos breves relatos que fiz sobre filme e livro de “Vidas Secas” e sobre “Deus e o diabo na terra do sol” e Grande Sertão: Veredas. Breves relatos que fiz sem ver os filmes inteiros se você quer saber. Sabe por quê? Porque o cinema está tão enraizado no meu coração que eu poderia escrever sobre um filme vendo apenas uma cena, comparar com o livro lendo apenas um trecho, eu posso ter um cérebro pequeno, mas tenho um coração grande e é isso o que falta nesses cinzentos corredores do curso de letras da universidade de São Paulo. Quero ver, quero só ver a nota que mereço por isso.

Agora acabou, não é? Acabou o micro hype da menção honrosa que recebi do programa nascente da usp pelo meu romance “Drag por drag”, que já considero mudar o título para “Igor na chuva”. Escolhi a paciência dessa vez. Mandei para dez editoras, o Santiago está lendo, o Marcelino não quis ler, até para a Patuá eu mandei. Dois anos, se eu implorar bastante eu consiga publica-lo em dois anos por uma editora que o respeite. Não que não seja respeitável uma auto edição, como Ana C já fez, como Rimbaud já fez, como o próprio Mario de Andrade fez mas. Uma auto edição agora parece amarga demais, parece um atestado de derrota. O pior é que o livro é bom pra cacete. É comercial ainda por cima, é emocionante, é movimentado, flerta com literatura fantástica e não é livro de gênero, é literatura humana, vai de encontro a qualquer ser humano. Em dois anos também pode haver outros prêmios, outros editais, outras pessoas para conhecer e pessoas para conhecer o livro, eu tenho apenas trinta e dois, sou um escritor jovem ainda e sim. Posso fazer outra sinopse para o livro, outra bem melhor e Ah sim! Este ano ainda tem o resultado do prêmio Paraná de literatura em dezembro. Não acho impossível, só acho bem, bem difícil.


Quando o vento sopra

E o céu está escuro

Quando anseio

Por ver você

Quando o vento sopra
E eu me sinto triste

Penso na sua beleza

Será que está bem?

Você vive feliz?

Consegue ver o meu coração?

Por que minha mente

Ficou nesse estado?

Consegue ver meu coração?

Por que minha mente

Ficou nesse estado?


Canção cantada pela personagem Yonguee, no filme “Na praia á noite sozinha” de Hong Sang-Soo (Kor, 2017)

Agora acabou, não é? Estou pensando em não ir á terapeuta na segunda-feira porque estou com vergonha de contar pra ela do meu fracasso. Desde maio esse sofrimento, não? Estamos em outubro. Eu sempre lá manifestando meu amor e você sempre me dando falsas esperanças mesmo nunca querendo nada de mim, além de encontros sexuais em cada dois meses, no máximo. Em dias de semana, claro. Nunca fui bom ou bonito o bastante para te ver em um sábado, para ir ao cinema com você, para conhecer seus amigos, não; antes eu servia para te dar sexo e te esquentar em uma noite de quarta-feira a cada dois meses, mas agora nem pra isso eu sirvo mais. Agora você inventou uma desculpa para eu nem poder ir á sua casa, não? Agora nossos encontros serão a cada dois meses em um dos vestiários escuros do IQ, não? E depois? Vai evoluir a quê? Não vou servir pra isso também? Depois o que vai acontecer? Vamos nos encontrar a cada três meses na porta do IQ para eu engraxar seus sapatos? Agora acabou, não é? Espero que você não se arrependa por não ter tido a vontade de ter algo sério comigo, porque você não vai mais falar comigo e nem me ver, nunca mais. Você é a pessoa mais sonsa e sádica que já conheci e talvez você não tenha tido culpa. Você não é obrigado a me querer e talvez você nunca tenha me dado expectativas, eu é que me dei. Ás vezes, tudo e apenas o que precisamos é de um tapa na cara pra acordar, sabia? E você não quis me dar esse tapa, me deixou nesse estado por cinco meses. Acho que a fluência de imagens do cinema também ajuda com os flashes da vida para lembrarmos o que é ruim e o que é insignificante. Ao desistir de você, achei que não iria treinar no final de semana, que ia ficar jogado na cama, que ia trabalhar na semana que vem como um robô e todos perceberiam que haveria algo de errado comigo, mas tudo bem, a experiência dura noventa dias, há tempo para tempos ruins e daí me veio a imagem dos porres do meu ex-namorado, o quanto ele se comportava como um bebê e eu tinha de cuidar dele, lembro dele mastigando aquela droga daquela pizza barata me encarando, me desafiando enquanto eu fazia menção de cheirar cocaína na frente dele porque isso o irritava. E o que eu tenho agora é a minha liberdade. E pensei que não há porque deixar de ir ao treino e ficar jogado na cama por causa de nada. Afinal, eu sequer tenho um homem. Se você tem um homem, você fica jogado na cama por causa dele e quando você não tem um homem? Vai ficar jogado na cama por causa do quê? Fui treinar hoje e foi um treino duro. Meu corpo está bonitinho, consegui lançar o dardo a 35,55m, mas preciso me dedicar á base, perder um quilo de gordura localizada imediatamente para aí sim ter um homem? Daí não vieram imagens do cinema, vieram canções; Jeff Buckley agonizando “It’s you I been waiting my life to see? It’s you I been waiting my life to see?” (Jeff morreu afogado no Mississipi aos 27 como todos sabem) ou Bowie cantarolar, Bowie sobre o que eu acho sobre meu homem, onde ele está: “There’s a starman waiting in the sky / He’d like to come and meet us / But he thinks he’d blow our minds / Let the children lose it / let the children use it / Let all the children boogie / lá lá lá lá… lá lá lá lá…


XOXO

2 de out. de 2017

LAMBENDO METAL

No último dia 29, meu romance inédito "DRAG POR DRAG" foi premiado com menção honrosa no prêmio "Programa nascente" da USP, prêmio esse que premia trabalhos de estudantes da USP em sete categorias de arte e que é muito tradicional no meio acadêmico. Foram 270 textos inscritos, 2 vencedores e 15 menções honrosas, inclusive para o meu texto, confira os resultados no link: http://prceu.usp.br/nascente/vencedor-de-texto-2017/. Estou muito feliz pelo meu "dragão", como chamo carinhosamente meu livro, esse é mais um passo rumo a sua publicação em uma jornada tão difícil quanto a do meu protagonista, o ansioso Igor, que atravessa a cidade de São Paulo em um caos dramático e fantástico de chuva rumo ao seu terrível objetivo do dia. Inicio aqui a campanha "adote um dragão", se você é um editor, adote um dragão ;) Confira abaixo a sinopse e o primeiro capítulo na íntegra!


Drag por drag” Hugo Guimarães.

SinopseChove no mundo inteiro sem parar há dez dias. Igor enfrenta o caos e arrasta um martelo de arremesso pela cidade de São Paulo, da Vila Mariana até a Universidade de São Paulo para um acerto de contas com a sociedade e com ele mesmo. “Drag” significa “arrastar”, significa “atraso de vida”.

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“DRAG POR DRAG”
Hugo Guimarães

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Essa obra foi livremente baseada no livro “O Maravilhoso Mágico de Oz”, escrito por Lyman Frank Baum, publicado em 1900.

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Este livro é dedicado para a morte, homem; essa é a garota.

Eu ainda vou escrever muitos livros. Nenhum deles é para você.

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Imagem de um martelo de arremesso.


Martelo de atletismo de bronze 7,26 kg 110 mm para lançamento. Pode ser usado em competições e treinamento. Cabeça com diâmetro de 110 mm com acabamento rígido de bronze (resistente à ferrugem) e núcleo de chumbo, peso e diâmetro precisos, formato esférico, equilíbrio perfeito e superfície totalmente lisa. Cabo de aço galvanizado com 3,2 mm de espessura e 987 mm de comprimento. Empunhadura curvada com suporte e anel de aço e apoio de mão de alumínio. Peso total (incluindo cabo e empunhadura): 7,265 a 5,285 kg.

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CAPÍTULO UM / Lambendo metal


Sou o último homem de uma geração de homens e eu não me importo. Só consegui pegar no sono ás sete da manhã devido ao ódio. Só ás dez eu consegui finalmente me arrastar para fora da cama. I can’t go on. Can’t go on. Everything I have is gone. Stormy weather. Stormy weather. Stormy. Stormy[1]. Inverno de país tropical tsc tsc. As orelhas da gata e meus pés evoluem a esfriar noite adentro. Tão repentino é como vem o frio. Ei, por que você não cobre essas orelhas, gata? Vá, me deixe cobri-las com o cobertor, não seja tão difícil, tão vaidosa. Por que gatos evitam os cobertores? Por que apenas deitar-se sobre um corpo é suficiente? Muita sorte, muita sorte que meu martelo de arremesso pesa sete quilos e duzentos e sessenta gramas, muita sorte. A sorte é que eu não me deito toda noite em uma cama de madeira, mas em uma cama macia. Desta forma, o martelo não vem rolando até a minha cabeça, pois ele descansa na maciez, sabe? Se fosse uma cama de madeira, teria eu um problema; desde que me viro para a direita, esquerda, para cima e para baixo e mesmo assim a gata que pesa oito quilos mantém-se por cima de mim seja qual for a posição em que me mudo, me aquecendo tanto a gorda peluda – daí com todos esses movimentos o martelo rolaria contra a minha cabeça (Sim, eu durmo com o meu martelo). Corpo tão quente e orelhas ainda tão geladas, é muito desproporcional ao ser humano, desisto de entender gatos, mas. Devo assumir que o que de fato tirou meu sono foi o ódio, o ódio que eu sentia. / .

Deve estar muito frio lá fora, meu quarto virou uma sauna natural, nunca abro as janelas. Não abria tanto antes e não abro desde que a chuva começou. Tão longas chuvas. Vivo em uma cidade onde chuvas de dez dias seguidos acontecem (Não como essa, que já duram sete, chovendo vinte e quatro horas). Desconfio ter algo em mim que quer mudar para Lima, mas não o faria porque lá está cheio de peruanos. [deus. Ó deus e. E se essa chuva não parar nunca como andam dizendo? Lima é tão alto, não? Lima fica nos Andes ou fica ao nível do mar? Deus... A coisa é que teremos que nos tolerarmos lá em cima nos Andes. Deus... Logo não haverá mais vazão para tanta água em cidades a setecentos metros acima do nível do mar como essa que estou. Fingir é uma tática? E se eu encontrar os mesmos peruanos lá em cima? Os que eu tive desavenças recentes? Ei, o que você está fazendo em nosso país seu xenófobo de merda? Por que não tenta sobreviver na sua cidade amiga dos gays, amiga da assepsia, em uma boia colorida com cabeça de girafa? Seu veado de merda!] Uau! Que pesadelo. Mantenho as janelas fechadas por causa das suas orelhas geladas, amada gata. Preocupo-me também que fique toda gelada. Passo quase o dia todo fora de casa. Obrigado. Eu sabia que você entenderia por você me dever tanta gratidão por eu ter tirado você de um orfanato, você se lembra? hehe, é o que eu sempre lhe digo quando você me olha com essa cara turrona. “Eu vivo há tanto tempo com você porque você não sabe falar”. Hehe, pensei até em te homenagear no Facebook com essa frase e um retrato seu mas. Ai, o feminismo... Pensando que você é uma fêmea, minhas amigas feministas me chamariam de misógino, iriam facilmente concluir que quis dizer que todas as fêmeas passam melhor caladas. Um equívoco. / .

Quer? Você quer saber o que eu tenho a dizer sobre mulheres? É que gosto de homens, homens, homens. Deus ó, homens, homens e homens, pois. Uma nuvem escura do meu tamanho flutua aqui sobre mim nessa cama. É o que minha tia bruxa (ou médium) diz sobre as más energias que me mantém muito tempo na cama. É como se o carma, a paixão, o sentimento. A nuvem é uma forma física da minha pessoa sonhando, não subtraindo, mas dando energia para seguir na cama, esfregar as mãos e as pernas nessa cama sem lençóis. Até quando vai continuar esse sonho? Fui eu, fui eu uma má, uma má feminista na passada vida? Esse carma. Eu sonho acordado, é o pior jeito de sonhar. Mencionei que não tenho sorte? Sorte com homens? Vá facilitar a loucura, digo a mim mesmo. Tome alguns remédios para o cérebro, abandone os remédios, retome, abandone de novo, e repita e ciclo – é um trator que não consegue empurrar tanto entulho, com tanta chuva. Ei garoto, preste uma breve atenção: dou-lhe um doce se você encontrar alguns pênis nesse exercício literário que faço. Sim, alguns pênis em perfeita ereção, é um jogo de adivinhação e. Bah! Desconsidere, essa camiseta cheia de esperma seco nessa cama faz com que ás vezes eu me sinta mais ainda cansado e humilhado como ao ser espancado por um homem gay passivo; e o agravante do mal estar de me encontrar dando uma bela lambida na cabeça do meu martelo coberto de bronze. É... Uma bela de uma lambida enquanto abraço o cabo do martelo. / .

Por acaso esqueci-me de mencionar a sujeira? Esqueci-me de mencionar o suor? Ou mesmo urina de gato? Claro, eu deveria primeiro revelar a febre, que passeia por mim durante a noite, e que também dificulta meu sono; creio que é a negligência á própria saúde, acho que é o metal, a contaminação que devo ter já sofrido por lamber a cabeça do martelo por alguns anos. Sim, pois eu lambo com tal força que me dê um gosto temperado aceitável do bronze, que me satisfaça, e me acalme. Por suar raiva, por sujar tecidos com pomada para acne mas. Agora sofro uma melhora, eu, a pele está mais calma, meu rosto está melhor agora. Sabia que o cheiro do seu suor é pior se você está sentindo raiva? A expressão “Suar raiva” vem disso, é uma cultura útil que aprendi com uma colega enfermeira. Eu sim. Eu suo muito raiva, mas ok. Faço isso muito na musculação, na pista de atletismo; de outra forma eu já teria me tornado um homem bomba se não suasse toda essa raiva por lá, aposte. Ok vá embora, homem. Vá embora, homem bomba. O homem árabe que esteve por ultimo na minha cama, nunca mais voltou, nunca conversou mais. Que bomba. Que descontentamento bombástico. Meu último namorado me disse sobre meu suor, mas só disse depois que eu o abandonei. É... Mesmo cheirando como um porco eu é que o abandonei, não o contrário. Talvez ele gostasse do cheiro secretamente. Gosto, opinião. Veja lá como os europeus cheiram tão naturalmente e está tudo bem, veja. Gosto. Outro dia, um rapaz começou a fazer sexo oral em mim; ficou lá por um tempo e cuspia, continuava e então cuspia de novo. Merda. Apenas pensei “Que bela merda”. Tentei depois empurrar minha espinha para baixo para tentar o self sucking mesmo sabendo que jamais consegui, para checar se o gosto era de fato tão ruim, pois que. Logo depois veio outro rapaz e ficou me fazendo sexo oral por meia hora sem cuspir uma só vez. Homens (...). Veja Drácula, amigo; suga sangue do pescoço e sai sorrindo, não? Homens.../.

Quando vou a um encontro sexual, eu normalmente não me banho, apenas lavo o pênis em uma pia. Assim como um homem. Assim como um hétero? Não, mas apenas como um homem. Qualquer homem. Eu não sou um homem? Imagine uma mulher negra, filha de escravos, na América dos anos de 1900, tentando participar de um movimento feminista argumentando “Eu não sou uma mulher?” com aquelas senhoras brancas de longas saias. Claro que ela é. É o mesmo que digo aqui. Eu não sou um homem? Um homem feio, mas ainda um homem. Veja: ainda sobre cultura útil, eu sempre respondo para a enfermeira com cultura inútil, sou o rei da cultura inútil hehe; Eu lembro que disse a ela sobre o processo de antropoformização, processo esse em que um animal tende a sentir-se e agir como se fosse um ser humano. Os veterinários dizem que é muito comum acontecer em animais domésticos que não tem contato com outros animais. Faz sentido ao que determinado animal desse tipo deve pensar “se só há seres humanos à minha volta, então eu também sou um ser humano!”. Eu não me comporto como um animal e não sofri o processo de zoomorfização, perdão lhe desapontar se você pensou que era isso que eu ia dizer na sequência. O que eu ia dizer é que sofri um processo similar quando fui aceito na melhor universidade do país, quando comecei a treinar atletismo por lá e por consequência conviver com garotos tão bonitos todos os dias: acho que passei a achar que eu também era um garoto bonito e, logo, ter “acesso” a eles. Apenas não, apenas não sei explicar, desde que sou um ser como o macaco e sim, eu vejo o meu próprio reflexo no espelho. / .

E quanto ao tempo? E quanto ao limbo, de novo? Costumo finalmente perceber que preciso sair da cama quando o telefone vibra. E ele vibra de prima quando é meu gerente escrevendo ou ligando. Quando estou na cama sonhando acordado, não consigo perceber que devo chegar ao trabalho no mesmo horário que os demais; juro, eu só percebo o prejuízo quando estou de pé e vestido, penso que é o estado de “pré-mania” como disse a psiquiatra por último. De pé e vestido para já começar o dia sentindo culpa, se o dia já não tivesse começado ruim por ter de acordar sozinho. Por que não? Por que não posso ter um comportamento romântico? Por que, querido amigo homo? É utópico demais o desejo de amar alguém? O desejo de ter alguém para conversar? Ter um e apenas um parceiro sexual? Ter ciúmes? É muito másculo, muito alfa, não? O problema, a doença do gay moderno e desejar comportar-se, parecer um homem hétero, certo? Ganhar belos músculos como um, vestir-se como um, esconder, tentar imitar com tal fala, conversa, para então não objetivar ser aceito por uma sociedade tal, conservadora, mas para ser aceito por outros homens gays. Essa lamentável doença também sintoma de safar-se, de agradecer a tal sociedade por não ser espancado, ou espancado até a morte apenas por ser gay. Você anda lendo muito Foucalt ou não anda entendendo muito bem o que ele diz? Ou só anda aos nervos porque um homem gay com uma atitude um pouco mais masculina que a sua não quer mais ir para a cama com você? Você é muito jovem? Anda se comportando como uma feminista genérica? Somos uma gangue? Todos os homens gays juntos formam uma gangue? Temos de comportar-nos igual? Onde está o raio da pluralidade? Veja quanta gente hétero, ninfomaníaca, que não almeja a reprodução, frequentam clubes de orgias. Eu quero ir. Eu quero ir para a orgia bissexual. Eu quero ir para o carnaval mas. Apenas até eu descolar um marido, ok? . / .

Morto de bruços, eu me viro, eu olho para o teto e quero morrer (como se não fosse melhor morrer de bruços). Acho que é aquele garoto. Por. Quando penso nele lembro que eu queria dizer olhando bem nos olhos dele: “Eu não acredito que só existem sete maravilhas no mundo”. Isso acontece depois de uma masturbação, a qual inclui o imaginário de sexo real com homens feios, com homens até bonitinhos e fantasias com homens realmente belíssimos como o sonho virando verdade. Imaginar para ajudar a imagem a se realizar, como o budista recomenda, não funciona. / .


[1] Trecho da canção “Stormy Weather”, escrita em 1933 por Harold Arlen e Ted Koehler 

XOXO