No último dia 29, meu romance inédito "DRAG POR DRAG" foi premiado com menção honrosa no prêmio "Programa nascente" da USP, prêmio esse que premia trabalhos de estudantes da USP em sete categorias de arte e que é muito tradicional no meio acadêmico. Foram 270 textos inscritos, 2 vencedores e 15 menções honrosas, inclusive para o meu texto, confira os resultados no link: http://prceu.usp.br/nascente/vencedor-de-texto-2017/. Estou muito feliz pelo meu "dragão", como chamo carinhosamente meu livro, esse é mais um passo rumo a sua publicação em uma jornada tão difícil quanto a do meu protagonista, o ansioso Igor, que atravessa a cidade de São Paulo em um caos dramático e fantástico de chuva rumo ao seu terrível objetivo do dia. Inicio aqui a campanha "adote um dragão", se você é um editor, adote um dragão ;) Confira abaixo a sinopse e o primeiro capítulo na íntegra!
“Drag
por drag” Hugo Guimarães.
Sinopse: Chove
no mundo inteiro sem parar há dez dias. Igor enfrenta o caos e arrasta um
martelo de arremesso pela cidade de São Paulo, da Vila Mariana até a
Universidade de São Paulo para um acerto de contas com a sociedade e com ele
mesmo. “Drag” significa “arrastar”, significa “atraso de vida”.
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“DRAG POR DRAG”
Hugo Guimarães
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Essa obra foi
livremente baseada no livro “O Maravilhoso Mágico de Oz”, escrito por Lyman
Frank Baum, publicado em 1900.
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Este
livro é dedicado para a morte, homem; essa é a garota.
Eu
ainda vou escrever muitos livros. Nenhum deles é para você.
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Imagem de um martelo de arremesso.
Martelo
de atletismo de bronze 7,26 kg 110 mm para lançamento. Pode ser usado em competições
e treinamento. Cabeça com diâmetro de 110 mm com acabamento rígido de bronze
(resistente à ferrugem) e núcleo de chumbo, peso e diâmetro precisos, formato
esférico, equilíbrio perfeito e superfície totalmente lisa. Cabo de aço
galvanizado com 3,2 mm de espessura e 987 mm de comprimento. Empunhadura
curvada com suporte e anel de aço e apoio de mão de alumínio. Peso total
(incluindo cabo e empunhadura): 7,265 a 5,285 kg.
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CAPÍTULO UM / Lambendo metal
Sou
o último homem de uma geração de homens e eu não me importo. Só consegui pegar
no sono ás sete da manhã devido ao ódio. Só ás dez eu consegui finalmente me
arrastar para fora da cama. I can’t go on. Can’t go on. Everything I have is gone.
Stormy weather. Stormy weather. Stormy. Stormy[1]. Inverno de país tropical tsc tsc. As
orelhas da gata e meus pés evoluem a esfriar noite adentro. Tão repentino é
como vem o frio. Ei, por que você não cobre essas orelhas, gata? Vá, me deixe
cobri-las com o cobertor, não seja tão difícil, tão vaidosa. Por que gatos
evitam os cobertores? Por que apenas deitar-se sobre um corpo é suficiente?
Muita sorte, muita sorte que meu martelo de arremesso pesa sete quilos e
duzentos e sessenta gramas, muita sorte. A sorte é que eu não me deito toda
noite em uma cama de madeira, mas em uma cama macia. Desta forma, o martelo não
vem rolando até a minha cabeça, pois ele descansa na maciez, sabe? Se fosse uma
cama de madeira, teria eu um problema; desde que me viro para a direita,
esquerda, para cima e para baixo e mesmo assim a gata que pesa oito quilos
mantém-se por cima de mim seja qual for a posição em que me mudo, me aquecendo
tanto a gorda peluda – daí com todos esses movimentos o martelo rolaria contra
a minha cabeça (Sim, eu durmo com o meu martelo). Corpo tão quente e orelhas
ainda tão geladas, é muito desproporcional ao ser humano, desisto de entender
gatos, mas. Devo assumir que o que de fato tirou meu sono foi o ódio, o ódio
que eu sentia. / .
Deve
estar muito frio lá fora, meu quarto virou uma sauna natural, nunca abro as
janelas. Não abria tanto antes e não abro desde que a chuva começou. Tão longas
chuvas. Vivo em uma cidade onde chuvas de dez dias seguidos acontecem (Não como
essa, que já duram sete, chovendo vinte e quatro horas). Desconfio ter algo em
mim que quer mudar para Lima, mas não o faria porque lá está cheio de peruanos.
[deus. Ó deus e. E se essa chuva não parar nunca como andam dizendo? Lima é tão
alto, não? Lima fica nos Andes ou fica ao nível do mar? Deus... A coisa é que teremos
que nos tolerarmos lá em cima nos Andes. Deus... Logo não haverá mais vazão
para tanta água em cidades a setecentos metros acima do nível do mar como essa
que estou. Fingir é uma tática? E se eu encontrar os mesmos peruanos lá em
cima? Os que eu tive desavenças recentes? Ei, o que você está fazendo em nosso
país seu xenófobo de merda? Por que não tenta sobreviver na sua cidade amiga
dos gays, amiga da assepsia, em uma boia colorida com cabeça de girafa? Seu
veado de merda!] Uau! Que pesadelo. Mantenho as janelas fechadas por causa das
suas orelhas geladas, amada gata. Preocupo-me também que fique toda gelada.
Passo quase o dia todo fora de casa. Obrigado. Eu sabia que você entenderia por
você me dever tanta gratidão por eu ter tirado você de um orfanato, você se
lembra? hehe, é o que eu sempre lhe digo quando você me olha com essa cara
turrona. “Eu vivo há tanto tempo com você porque você não sabe falar”. Hehe,
pensei até em te homenagear no Facebook
com essa frase e um retrato seu mas. Ai, o feminismo... Pensando que você é uma
fêmea, minhas amigas feministas me chamariam de misógino, iriam facilmente
concluir que quis dizer que todas as fêmeas passam melhor caladas. Um equívoco.
/ .
Quer?
Você quer saber o que eu tenho a dizer sobre mulheres? É que gosto de homens,
homens, homens. Deus ó, homens, homens e homens, pois. Uma nuvem escura do meu
tamanho flutua aqui sobre mim nessa cama. É o que minha tia bruxa (ou médium)
diz sobre as más energias que me mantém muito tempo na cama. É como se o carma,
a paixão, o sentimento. A nuvem é uma forma física da minha pessoa sonhando,
não subtraindo, mas dando energia para seguir na cama, esfregar as mãos e as
pernas nessa cama sem lençóis. Até quando vai continuar esse sonho? Fui eu, fui
eu uma má, uma má feminista na passada vida? Esse carma. Eu sonho acordado, é o
pior jeito de sonhar. Mencionei que não tenho sorte? Sorte com homens? Vá
facilitar a loucura, digo a mim mesmo. Tome alguns remédios para o cérebro, abandone
os remédios, retome, abandone de novo, e repita e ciclo – é um trator que não
consegue empurrar tanto entulho, com tanta chuva. Ei garoto, preste uma breve
atenção: dou-lhe um doce se você encontrar alguns pênis nesse exercício
literário que faço. Sim, alguns pênis em perfeita ereção, é um jogo de
adivinhação e. Bah! Desconsidere, essa camiseta cheia de esperma seco nessa
cama faz com que ás vezes eu me sinta mais ainda cansado e humilhado como ao
ser espancado por um homem gay passivo; e o agravante do mal estar de me
encontrar dando uma bela lambida na cabeça do meu martelo coberto de bronze. É...
Uma bela de uma lambida enquanto abraço o cabo do martelo. / .
Por
acaso esqueci-me de mencionar a sujeira? Esqueci-me de mencionar o suor? Ou
mesmo urina de gato? Claro, eu deveria primeiro revelar a febre, que passeia
por mim durante a noite, e que também dificulta meu sono; creio que é a
negligência á própria saúde, acho que é o metal, a contaminação que devo ter já
sofrido por lamber a cabeça do martelo por alguns anos. Sim, pois eu lambo com
tal força que me dê um gosto temperado aceitável do bronze, que me satisfaça, e
me acalme. Por suar raiva, por sujar tecidos com pomada para acne mas. Agora
sofro uma melhora, eu, a pele está mais calma, meu rosto está melhor agora.
Sabia que o cheiro do seu suor é pior se você está sentindo raiva? A expressão
“Suar raiva” vem disso, é uma cultura útil que aprendi com uma colega enfermeira.
Eu sim. Eu suo muito raiva, mas ok. Faço isso muito na musculação, na pista de
atletismo; de outra forma eu já teria me tornado um homem bomba se não suasse
toda essa raiva por lá, aposte. Ok vá embora, homem. Vá embora, homem bomba. O
homem árabe que esteve por ultimo na minha cama, nunca mais voltou, nunca
conversou mais. Que bomba. Que descontentamento bombástico. Meu último namorado
me disse sobre meu suor, mas só disse depois que eu o abandonei. É... Mesmo
cheirando como um porco eu é que o abandonei, não o contrário. Talvez ele gostasse
do cheiro secretamente. Gosto, opinião. Veja lá como os europeus cheiram tão
naturalmente e está tudo bem, veja. Gosto. Outro dia, um rapaz começou a fazer
sexo oral em mim; ficou lá por um tempo e cuspia, continuava e então cuspia de
novo. Merda. Apenas pensei “Que bela merda”. Tentei depois empurrar minha
espinha para baixo para tentar o self
sucking mesmo sabendo que jamais consegui, para checar se o gosto era de
fato tão ruim, pois que. Logo depois veio outro rapaz e ficou me fazendo sexo
oral por meia hora sem cuspir uma só vez. Homens (...). Veja Drácula, amigo;
suga sangue do pescoço e sai sorrindo, não? Homens.../.
Quando
vou a um encontro sexual, eu normalmente não me banho, apenas lavo o pênis em
uma pia. Assim como um homem. Assim como um hétero? Não, mas apenas como um
homem. Qualquer homem. Eu não sou um homem? Imagine uma mulher negra, filha de
escravos, na América dos anos de 1900, tentando participar de um movimento
feminista argumentando “Eu não sou uma mulher?” com aquelas senhoras brancas de
longas saias. Claro que ela é. É o mesmo que digo aqui. Eu não sou um homem? Um
homem feio, mas ainda um homem. Veja: ainda sobre cultura útil, eu sempre
respondo para a enfermeira com cultura inútil, sou o rei da cultura inútil
hehe; Eu lembro que disse a ela sobre o processo de antropoformização, processo
esse em que um animal tende a sentir-se e agir como se fosse um ser humano. Os
veterinários dizem que é muito comum acontecer em animais domésticos que não
tem contato com outros animais. Faz sentido ao que determinado animal desse
tipo deve pensar “se só há seres humanos à minha volta, então eu também sou um
ser humano!”. Eu não me comporto como um animal e não sofri o processo de
zoomorfização, perdão lhe desapontar se você pensou que era isso que eu ia
dizer na sequência. O que eu ia dizer é que sofri um processo similar quando
fui aceito na melhor universidade do país, quando comecei a treinar atletismo
por lá e por consequência conviver com garotos tão bonitos todos os dias: acho
que passei a achar que eu também era um garoto bonito e, logo, ter “acesso” a
eles. Apenas não, apenas não sei explicar, desde que sou um ser como o macaco e
sim, eu vejo o meu próprio reflexo no espelho. / .
E
quanto ao tempo? E quanto ao limbo, de novo? Costumo finalmente perceber que
preciso sair da cama quando o telefone vibra. E ele vibra de prima quando é meu
gerente escrevendo ou ligando. Quando estou na cama sonhando acordado, não
consigo perceber que devo chegar ao trabalho no mesmo horário que os demais;
juro, eu só percebo o prejuízo quando estou de pé e vestido, penso que é o
estado de “pré-mania” como disse a psiquiatra por último. De pé e vestido para
já começar o dia sentindo culpa, se o dia já não tivesse começado ruim por ter
de acordar sozinho. Por que não? Por que não posso ter um comportamento romântico?
Por que, querido amigo homo? É utópico demais o desejo de amar alguém? O desejo
de ter alguém para conversar? Ter um e apenas um parceiro sexual? Ter ciúmes? É
muito másculo, muito alfa, não? O problema, a doença do gay moderno e desejar
comportar-se, parecer um homem hétero, certo? Ganhar belos músculos como um,
vestir-se como um, esconder, tentar imitar com tal fala, conversa, para então
não objetivar ser aceito por uma sociedade tal, conservadora, mas para ser
aceito por outros homens gays. Essa lamentável doença também sintoma de
safar-se, de agradecer a tal sociedade por não ser espancado, ou espancado até
a morte apenas por ser gay. Você anda lendo muito Foucalt ou não anda
entendendo muito bem o que ele diz? Ou só anda aos nervos porque um homem gay
com uma atitude um pouco mais masculina que a sua não quer mais ir para a cama
com você? Você é muito jovem? Anda se comportando como uma feminista genérica?
Somos uma gangue? Todos os homens gays juntos formam uma gangue? Temos de
comportar-nos igual? Onde está o raio da pluralidade? Veja quanta gente hétero,
ninfomaníaca, que não almeja a reprodução, frequentam clubes de orgias. Eu
quero ir. Eu quero ir para a orgia bissexual. Eu quero ir para o carnaval mas.
Apenas até eu descolar um marido, ok? . / .
Morto
de bruços, eu me viro, eu olho para o teto e quero morrer (como se não fosse
melhor morrer de bruços). Acho que é aquele garoto. Por. Quando penso nele
lembro que eu queria dizer olhando bem nos olhos dele: “Eu não acredito que só
existem sete maravilhas no mundo”. Isso acontece depois de uma masturbação, a
qual inclui o imaginário de sexo real com homens feios, com homens até
bonitinhos e fantasias com homens realmente belíssimos como o sonho virando
verdade. Imaginar para ajudar a imagem a se realizar, como o budista recomenda,
não funciona. / .
XOXO
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