21 de nov. de 2024

PING PONG Nº11


Matem ele 

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- Hoje eu declaro o fim da cocaína no mundo, ao me levantar e ver o sangue no espelho, e ver o peso de calotear o prestador de serviço
- Traficante outro que ele ia me entregar para a morte quando eu devia muito, ela, ela o pagou, hoje ela disse que ia acabar morrendo só porque eu estava morrendo, ele disse que assim que ela morresse, eu daria risada da morte dela e ali eu percebi que nunca apanhei em casa, porque o agressor precisa ser humano e ele não é um homem, ele é um bicho
- Meu deus! O que ele tinha na cabeça ao dizer algo tão grave?
- A menor unidade de um ser vivo por dentro e um par de chifres por fora
- O que temos aqui? Um nivelamento de monstros? Um nivelamento de psicopatas? O que tivemos foi uma tentativa pífia de quem tem ódio tentando persuadir outrem a ter ódio também, mas quem me pariu foi ela e quem pariu ele, parece que não gostou nem um pouco
- Disse isso a ele?
- Não, além do refresco na memória da intenção de ele me entregar para a morte, eu disse algumas vezes "Esse homem não é meu pai!"
- Como assim? Você está dizendo que eu traí seu pai?
- Sei lá, devo ter sido trocado, só sei que alguma coisa está muito errada
- E o que ele disse?
- "Você vai se foder quando precisar de mim"
- Antes de dormir, trancou a porta do quarto onde fica o computador com meus textos, meus estudos, minhas parcas contas
- Conseguiu?
- Consegui, amanheci pesando setenta quilos e quatrocentos gramas

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- A aposta serve para você perder, não para você ganhar, no meu caso, eu estou apostando em homens
- Nesse tipo de jogo não é a máquina, não é a cartela, não é um jogo burocrático que empatou, o desenho da mula sou eu, é a minha cara que está em jogo o tempo inteiro
- Seria poético se não fosse podre dizer que se trata de um bando de homens desclassificados dizendo "sim" uns para os outros e assim nasceu o universo de Clarice, mas se dependesse de mim, o universo jamais teria nascido
- Eu peço o "sim", mas eles não me devolvem, cada vez mais, eu noto que a lista a porcentagem de "sim" encolhe, mais e mais, eu finjo que não é comigo, porque se eu considerar que essa constante subida de sarrafo significa que eu sempre fui feio, onde vou arrumar retaguarda para lidar com isso?
- Ontem eu estive na Babilônia da Coreia do Norte de novo, 2m², cachorros e guardas atrás das portas e das janelas, imitação, mas apenas indução de prazer, só figura, mas nenhum conteúdo, ao contrário da disposição, da longevidade, um cansaço grudento, nem quero falar de mim ou dela, mas o resultado desse fundo de poço, desse lodo, é que eu não vou voltar para a universidade no ano que vem e talvez nunca mais
- Os homens que amanhecem é um engavetamento que eu não quero resolver

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- Quarenta comprimidos de clonezapem, dez de zolpidem e três de quietiepina, o estudo da faca mais pontuda para enfiar a mais adequada no meu pescoço, os comprimidos, senão morte, coma, mas acordei no dia seguinte cheio de panos brancos, como uma senhorita de dois séculos atrás
- O monstro já disse várias vezes que a aposentadoria dos dois é o suficiente para que vivessem e que minha mãe, idosa, só precisa levantar cedo para trabalhar cinco vezes por semana, por minha causa, caiu-me então a ficha, não tem lugar para mim nessa casa, são seis anos já atuando como peso morto e isso os cansa, e é por isso que eles fazem coisas horríveis, me dizem coisas horríveis, há uma atualização, eu não tenho casa, eu não tenho família, eu não tenho pais.

- O que aquele pó podre, nojento, aquela favela nojenta, me pararam de novo, me fez perder algo de novo e para quê? Ficar nu, adorar meu pênis, receber elogios por ele, receber convites, mas sempre recuso por estar sujo, por ter preguiça e principalmente porque o pênis é um pedaço muito pequeno de um homem, e muitas vezes eu vejo minha cara como uma embolia, que é mais ou menos grave no espelho, eu já fui jovem, já fui bonito, já fui musculoso, eu não hesitava em tocar ninguém naquele pequeno inferno de homens de toalha, a porcentagem era muito alta dos que me aceitavam, os que não, eu não me importava, o homem a meio metro próximo aceitava, e então de repente eu acordei e eu tinha quarenta anos, hoje eu consigo ter a noção da merda que eu sou, que eu já fiz três procedimentos no rosto, que eu não tenho mais músculos, antes eu tinha muita confiança ao abordar, agora eu nem sei mais sorrir, eu tenho medo de sorrir porque uma devolutiva de desdém seria provavelmente algo que eu não saberia lidar, algo pavoroso, houve um tempo em que meu pênis fazia sucesso, agora não faz mais, que antes ou depois quando estou sóbrio, eu lembro que sequer tenho um pênis, e eu nem faço mais questão de ter um pênis

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- Daqui a vinte e dois dias vou ficar sozinho, sim vou fazer um pedido, não pretendo tirar as roupas, não pretendo acessar os Apps, não pretendo agradar a mim mesmo com minha nudez, muito menos aos outros, estarei com meu produtinho em frente à TV, em paz, gozando a privacidade, em liberdade, consideravelmente carcomido como Justine Frischmann

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- Visto que sou idiota, gravei "King and Caroline" do Guided by Voices e mandei no WhatsApp para o aniversário dela começar mais leve, mas que dia começa leve com aquele animal em casa? Ele é pai de um porco ou de um galo, gosta de ser carinhoso com pets, mas quando ficam doentes ele é frio, não se importa nenhum pouco quando morrem, não tira um centavo do bolso para o veterinário, diz que não se deve mudar o cotidiano por causa de um animal, vê sofrendo, mas instantaneamente muda o afeto para o desprezo, por uma questão exclusivamente monetária, para ele, pets são seres de segunda classe, mas ele é um ser de terceira classe, ele não vale um porco

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- Eu queria entrar naquela favela, vestido de mulher, com uma arma muito boa, e quando um daqueles pretos dissessem para eu levantar a blusa, mostrar a barriga e as costas, eu responderia "A favela é sua, seu bosta?", e daria um tiro no abdômen dele, não, não se escapa de um tiro no abdômen, eles compraram câmeras para monitorar a favela, não? Eu não iria muito longe, mas eu descarregaria a arma na tenda onde ficam os olheiros
- Realizei o fetiche
- Qual?
- De transar com um traficante
- Jura? E como foi?
- O mesmo que tinha me entregado a droga me seguiu, era tarde da noite
- Não era um príncipe, mas não era um sapo, era bem másculo
- E como aconteceu?
- Ele me alcançou e me perguntou da minha sexualidade, logo eu estava fazendo sexo oral nele eu uma rua escura, depois ele pediu para ver meu pênis, disse,
- Eu nunca chupei um pau, vou ver como é

- E me chupou

- E ele gostou?
- Ele não tinha telefone
- E o que você achou?
- Pouco
- Pouco? Por quê?
- O fetiche é ser violentado por um traficante mau, ou dois, ou três
- Tá, mas isso fica só no inconsciente, não?
- Não, quando chego em uma biqueira barra pesada, branquinho, olhos azuis, bem vestido, eu percebo o jeito que eles olham para mim, case comigo, deixo tudo, venho morar nessa casa minúscula e precária, farei suas contas, sempre quando a polícia aparecer eu vou dizer que não sei de nada, que só te visito com frequência, que nada sei dos seus negócios, eu sou uma putinha bem mentirosa, você sabe, só não quero mentir para você, vou cuidar da casa para quando você chegar não encontrar baratas, não gosto de vestir calcinha, me sinto patético nelas, mas o que há de se fazer se você gosta de me ver vestido nelas? Eu sei, eu sei que por causa de um motivo torpe, sem possibilidade de defesa, eu posso terminar esquartejado dentro de uma mala, mas também posso acabar fazendo as malas para nos mudar para outro lugar onde ninguém note que casamos 

 

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- O que aquele desclassificado vai fazer com quatrocentos e vinte e oito milhões em bens?

- Morrer e deixar para alguém que voltará a ser pobre

- Enquanto rico, irá comprar a lei para estuprar pessoas

 

XOXO

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