Matem ele
v
- Hoje eu declaro o fim da
cocaína no mundo, ao me levantar e ver o sangue no espelho, e ver o peso de
calotear o prestador de serviço
- Traficante outro que ele ia
me entregar para a morte quando eu devia muito, ela, ela o pagou, hoje ela
disse que ia acabar morrendo só porque eu estava morrendo, ele disse que assim
que ela morresse, eu daria risada da morte dela e ali eu percebi que nunca apanhei
em casa, porque o agressor precisa ser humano e ele não é um homem, ele é um
bicho
- Meu deus! O que ele tinha na
cabeça ao dizer algo tão grave?
- A menor unidade de um ser
vivo por dentro e um par de chifres por fora
- O que temos aqui? Um
nivelamento de monstros? Um nivelamento de psicopatas? O que tivemos foi uma
tentativa pífia de quem tem ódio tentando persuadir outrem a ter ódio também,
mas quem me pariu foi ela e quem pariu ele, parece que não gostou nem um pouco
- Disse isso a ele?
- Não, além do refresco na
memória da intenção de ele me entregar para a morte, eu disse algumas vezes
"Esse homem não é meu pai!"
- Como assim? Você está
dizendo que eu traí seu pai?
- Sei lá, devo ter sido
trocado, só sei que alguma coisa está muito errada
- E o que ele disse?
- "Você vai se foder
quando precisar de mim"
- Antes de dormir, trancou a
porta do quarto onde fica o computador com meus textos, meus estudos, minhas
parcas contas
- Conseguiu?
- Consegui, amanheci pesando
setenta quilos e quatrocentos gramas
v
- A aposta serve para você
perder, não para você ganhar, no meu caso, eu estou apostando em homens
- Nesse tipo de jogo não é a
máquina, não é a cartela, não é um jogo burocrático que empatou, o desenho da
mula sou eu, é a minha cara que está em jogo o tempo inteiro
- Seria poético se não fosse
podre dizer que se trata de um bando de homens desclassificados dizendo
"sim" uns para os outros e assim nasceu o universo de Clarice, mas se
dependesse de mim, o universo jamais teria nascido
- Eu peço o "sim",
mas eles não me devolvem, cada vez mais, eu noto que a lista a porcentagem de
"sim" encolhe, mais e mais, eu finjo que não é comigo, porque se eu
considerar que essa constante subida de sarrafo significa que eu sempre fui
feio, onde vou arrumar retaguarda para lidar com isso?
- Ontem eu estive na Babilônia
da Coreia do Norte de novo, 2m², cachorros e guardas atrás das portas e das
janelas, imitação, mas apenas indução de prazer, só figura, mas nenhum
conteúdo, ao contrário da disposição, da longevidade, um cansaço grudento, nem
quero falar de mim ou dela, mas o resultado desse fundo de poço, desse lodo, é
que eu não vou voltar para a universidade no ano que vem e talvez nunca mais
- Os homens que amanhecem é um
engavetamento que eu não quero resolver
v
- Quarenta comprimidos de
clonezapem, dez de zolpidem e três de quietiepina, o estudo da faca mais
pontuda para enfiar a mais adequada no meu pescoço, os comprimidos, senão
morte, coma, mas acordei no dia seguinte cheio de panos brancos, como uma
senhorita de dois séculos atrás
- O monstro já disse várias
vezes que a aposentadoria dos dois é o suficiente para que vivessem e que minha
mãe, idosa, só precisa levantar cedo para trabalhar cinco vezes por semana, por
minha causa, caiu-me então a ficha, não tem lugar para mim nessa casa, são seis
anos já atuando como peso morto e isso os cansa, e é por isso que eles fazem
coisas horríveis, me dizem coisas horríveis, há uma atualização, eu não tenho
casa, eu não tenho família, eu não tenho pais.
- O que aquele pó podre,
nojento, aquela favela nojenta, me pararam de novo, me fez perder algo de novo
e para quê? Ficar nu, adorar meu pênis, receber elogios por ele, receber
convites, mas sempre recuso por estar sujo, por ter preguiça e principalmente
porque o pênis é um pedaço muito pequeno de um homem, e muitas vezes eu vejo
minha cara como uma embolia, que é mais ou menos grave no espelho, eu já fui
jovem, já fui bonito, já fui musculoso, eu não hesitava em tocar ninguém
naquele pequeno inferno de homens de toalha, a porcentagem era muito alta dos
que me aceitavam, os que não, eu não me importava, o homem a meio metro próximo
aceitava, e então de repente eu acordei e eu tinha quarenta anos, hoje eu
consigo ter a noção da merda que eu sou, que eu já fiz três procedimentos no
rosto, que eu não tenho mais músculos, antes eu tinha muita confiança ao
abordar, agora eu nem sei mais sorrir, eu tenho medo de sorrir porque uma
devolutiva de desdém seria provavelmente algo que eu não saberia lidar, algo
pavoroso, houve um tempo em que meu pênis fazia sucesso, agora não faz mais,
que antes ou depois quando estou sóbrio, eu lembro que sequer tenho um pênis, e
eu nem faço mais questão de ter um pênis
v
- Daqui a vinte e dois dias
vou ficar sozinho, sim vou fazer um pedido, não pretendo tirar as roupas, não
pretendo acessar os Apps, não pretendo agradar a mim mesmo com minha nudez,
muito menos aos outros, estarei com meu produtinho em frente à TV, em paz,
gozando a privacidade, em liberdade, consideravelmente carcomido como Justine
Frischmann
v
- Visto que sou idiota, gravei
"King and Caroline" do Guided by Voices e mandei no WhatsApp para o
aniversário dela começar mais leve, mas que dia começa leve com aquele animal
em casa? Ele é pai de um porco ou de um galo, gosta de ser carinhoso com pets,
mas quando ficam doentes ele é frio, não se importa nenhum pouco quando morrem,
não tira um centavo do bolso para o veterinário, diz que não se deve mudar o
cotidiano por causa de um animal, vê sofrendo, mas instantaneamente muda o
afeto para o desprezo, por uma questão exclusivamente monetária, para ele, pets
são seres de segunda classe, mas ele é um ser de terceira classe, ele não vale
um porco
v
- Eu queria entrar naquela
favela, vestido de mulher, com uma arma muito boa, e quando um daqueles pretos dissessem
para eu levantar a blusa, mostrar a barriga e as costas, eu responderia "A
favela é sua, seu bosta?", e daria um tiro no abdômen dele, não, não se
escapa de um tiro no abdômen, eles compraram câmeras para monitorar a favela,
não? Eu não iria muito longe, mas eu descarregaria a arma na tenda onde ficam
os olheiros
- Realizei o fetiche
- Qual?
- De transar com um traficante
- Jura? E como foi?
- O mesmo que tinha me
entregado a droga me seguiu, era tarde da noite
- Não era um príncipe, mas não
era um sapo, era bem másculo
- E como aconteceu?
- Ele me alcançou e me
perguntou da minha sexualidade, logo eu estava fazendo sexo oral nele eu uma
rua escura, depois ele pediu para ver meu pênis, disse,
- Eu nunca chupei um pau, vou
ver como é
- E me chupou
- E ele gostou?
- Ele não tinha telefone
- E o que você achou?
- Pouco
- Pouco? Por quê?
- O fetiche é ser violentado
por um traficante mau, ou dois, ou três
- Tá, mas isso fica só no
inconsciente, não?
- Não, quando chego em uma
biqueira barra pesada, branquinho, olhos azuis, bem vestido, eu percebo o jeito
que eles olham para mim, case comigo, deixo tudo, venho morar nessa casa
minúscula e precária, farei suas contas, sempre quando a polícia aparecer eu
vou dizer que não sei de nada, que só te visito com frequência, que nada sei
dos seus negócios, eu sou uma putinha bem mentirosa, você sabe, só não quero
mentir para você, vou cuidar da casa para quando você chegar não encontrar
baratas, não gosto de vestir calcinha, me sinto patético nelas, mas o que há de
se fazer se você gosta de me ver vestido nelas? Eu sei, eu sei que por causa de
um motivo torpe, sem possibilidade de defesa, eu posso terminar esquartejado
dentro de uma mala, mas também posso acabar fazendo as malas para nos mudar
para outro lugar onde ninguém note que casamos
v
- O que aquele desclassificado vai fazer com
quatrocentos e vinte e oito milhões em bens?
- Morrer e deixar para alguém que voltará a ser
pobre
- Enquanto rico, irá comprar a lei para
estuprar pessoas
XOXO
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