10 de set. de 2011

LOVE


acho que é o formato dos olhos. se eles são meio caídos nos ângulos que estão bem acima das maçãs do rosto, é o que define muita coisa em sua vida. esse formato determina quantas vezes ou se alguma vez, as outras crianças irão te incluir em brincadeiras ou até mesmo em conversações. é ela o motivo, pelo menos no meu caso, de justificar boas notas, de saber fazer bons desenhos. essa queda natural dos olhos é algo que se tem menos na vida e que sempre se tem de reparar. e essa reparação é o mau. as outras crianças crescem e vêem o mau nos seus olhos. elas vêem quando você chega em uma mesa em um bar e quando elas vêem os seus olhos caídos, nunca se esforçam para te arrumar uma cadeira.

então você tem de compensar essa queda dos olhos. você tem de levantar cronicamente os ângulos das sobrancelhas. você passa a vida toda treinando essa maldade até você se questionar se você realmente se tornou ou se é mesmo mau. ou você pode simplesmente fazer uma cirurgia plástica para poder puxar as peles da testa e então seus olhos não ficam caídos nunca mais. é o que courtney fez. é o que eu ainda não pude fazer. mas a minha história é outra: eu sou cobain.

hoje acordei tão feio, e isso acontece quase sempre. acordei me sentindo tão feio e é o que acontece quase sempre. levanto e minha relação com sexo é uma velha suástica: homens caindo pelas suas pontas. eles não se importam do fato em fazer com que meus olhos estejam meio caídos porque eles já estavam assim quando simplesmente me devoraram. hoje, eu tenho alguém para perpetuar esse déficit de atenção, esse déficit de afeto, mantendo uma vida dupla; indo e voltando. o sumido 'paul mCcarthney', o garoto que eu guardo o cardigan que usei para cheirar depois, apenas mantém uma vida paralela: escondendo o ângulo dos meus olhos só para ele, escondendo do restante de sua vida. exatamente o contrário o que fazia a love.

back in nineties, seattle; love, courtney- respirava, e ligava para cobain calmamente depois de um coito totalmente animal com evan dando, jeff buckley ou seja lá quem for. ela não fazia questão de expor nos zines, nos tablóides da época. ela o protegia. ela o salvava da morte.
'paralel lines' era só um disco do blondie que tinha ficado 'back in the eighties' e agora eu preciso de alguém como love. preciso de uma love, love, love. quanto tempo mais vai durar essa pose?

ps. pose: a quantidade de vezes em que você tira auto retratos. não quero mais tirar nenhum, pois já estou convencido de que sou feio na quantidade de vezes que sempre tenho de tirar de novo e esse é mais um dos significados da vida que eu matei. quais alguns dos outros? 'as pessoas devem continuar vivas pelas outras?'. pode ser mais um, não sei. mas eu só diria nesse ponto, que se eu soubesse plenamente o significado da vida, eu não saberia explicar. assim como alguém cínico com os olhos caídos comete mais uma maldade ao cometer esse egoísmo.

6 de set. de 2011

DEAD ATHLETE


eu ia postar no facebook que minha gata siamesa tatyana lebedeva está viciada na trilha sonora do filme 'dead man' do jim jarmusch, que contém neil young tocando guitarra e johnny depp lendo poemas. mas fiquei cansado na cama de levantar para despertar inveja por causa de um mero objeto, por mais tenro que ele seja.

ouvi o barulho do carro do meu pai saindo de casa e oba! casa sozinha para mim: vou me alongar, colocar minha joelheiras e jogar voleibol no quintal, vou usar o corredor para dar tiros de corrida e fazer exercícios de saltos para no próximo fim de semana, melhorar minha marca de salto triplo que consegui antes de ontem.

parei por um segundo e tentei pensar como uma pessoa normal: como meu pai. 'este quintal não é um lugar próprio para a prática de esportes' e não é mesmo. hoje, eu jogaria voleibol de novo, faria os tiros de corrida de novo e no final de semana, eu superaria os nove metros que não consegui superar na semana passada.

back in 2003, eu fazia exatamente a mesma coisa. superava os nove metros no corredor do quintal de casa com dificuldade. então ia para a quadra de esportes da faculdade (que é feita de concreto) e facilmente superava os dez metros, até que superei os onze metros e meio em frente é uma galera dentro de uma calça jenas e um tênis de futsal. e fiz isso sem uma caixa de areia para aterrissar.

com roupas apropriadas, com um tênis apropriado, com um coach, com uma aterrissagem completa, eu facilmente superaria os treze metros. em uma pista de tartan, treinando três vezes por semana, indo ao gymn, aprimorando minha técnica, eu superaria logo logo os quinze metros, e no dia 05 de setembro de 2011, jeferson sabino foi campeão brasileiro com a marca de dezessete metros e sete centímetros. e eu, abandonei toda essa possibilidade largando o atletismo para conseguir um diploma de faculdade que não vale nem um tostão furado.

exatamente por isso, eu não vou calçar meus tênis azuis nem minha joelheiras, porque não vale absolutamente nada eu conseguir superar os nove metros nesse final de semana, já que logo logo vou deixar de ser a justine do melancholia e voltar a trabalhar full time (foi para isso que meu diploma furado me formou). mesmo estando tonto, com a marcha prejudicada, com a audição prejudicada, eu consegui superar oito metros e quarenta e dois centímetros aqui no corredor do meu quintal e então... o que fazer?

não chorar, e ouvir a trilha sonora do 'dead man' do jim jarmusch, que tem o neil young tocando guitarra e o johnny depp lendo poemas, com a minha gata ronronando encima de mim.

1 de set. de 2011

EXÉRCITO DE EXTERMÍNIO


estou parado em frente ao vhs raro do filme 'exército de extermínio' de george romero, de 1973. pois tenho de prestar atenção em alguma coisa esperando a mulher da empresa em que eu trabalhava me ligar, para ela me pagar mais, mas ela quer me pagar menos. isso me faz ficar concentrado em frente á esse vhs. você conhece? eu conheço, é o filme que george romero realizou logo após o cult movie 'a noite dos mortos vivos' de 1968. ficou muito tempo fora de catálogo e saiu em dvd há poucas semanas no brasil. pressiono o indicador na etiqueta dele e ele é só mais uma peça da coleção que me deixa orgulhoso. mas o objetivo dessa coleção enorme é ter alguém para rever ela todinha junto. alguém para ter orgulho por eu ter garimpado o vhs do exército de exermínio do george romero de 1973. enquanto a mulher não liga, eu lamento o universo verde que saiu dos meus ouvidos misteriosamente, mas eu não posso dar relatos patológicos, senão as pessoas não vão mais querer ser minhas amigas. eu não posso dizer que estou tendo dificuldades de ouvir vozes femininas, senão vou ter menos amigos ainda. eu só posso dizer que tenho um ponto na minha nádega direita porque eu espatifei uma mesa de centro. se eu disser isso as pessoas vão achar engraçado e vão querer ser minhas amigas. mas a divisão do vhs é o significado da existência do mundo. se eu parar de garimpar vhs raros, a razão da minha existência acabará, pois eu tenho certeza que tem alguém no mundo esperando para ver todos esses vhs´s ao meu lado. pois quando eu era pré-adolescente, eu tinha certeza que seria um rock star, hoje eu tenho certeza que não vou mais ser um rock star. quando eu era criança, eu tinha certeza que o garoto de 13 anos mais lindo da escola sabia que eu existia, hoje eu tenho certeza que ele não sabia. quando eu era bebê, eu precisava instintivamente dar sequência ao prazer oral e ao prazer de proporcionar inveja ao ter a mãe mais bonita que a sua. mas a minha mãe virou totalmente a mesa e nunca escondeu que eu sou feio. e hoje, eu já não tenho tanta certeza de que há alguém esperando para ver tantos vhs´s comigo. e isso me leva a desejar algo que eu não posso mais dizer, porque senão também não vou ter mais nenhum amigo.

23 de ago. de 2011

GOGH


ga ga ga p j harvey gaguejaria, cacarejaria 'sheela-na-gig' lá nos idos de 1992 na obra de arte 'dry' - eu não produzi, não tenho produzido nada depois da minha 'gagejada', 'cacarejada' na semana passada. após escrever coisas como hospital com 'u' ou palavras indescritíveis a conhecidos e flertes a desconhecidos, ainda me resta do van gogh á minha amiga bia, as críticas á tentativa de suicídio. 'o suicidio faz com que a sua família e os seus amigos se sintam seus assassinos' van gogh.

talvez seja melhor continuar vivo e cortar a própria orelha, não é mesmo? o pior é que se sua tentativa de suícidio não dá certo, sua família e seus amigos continuam te assassinando. afinal, putsss... não tolero mais essa palavra. não quero mais falar sobre isso (embora já esteja falando) e ficar dando relatos patológicos... é que não sobra muito.

coca-cola, café e agora 'melancholia' do lars von trier: novo vício. fui hoje pela terceira vez ao cinema vê-lo. a livraria cultura ainda não tem a trilha sonora para vender. 'ela arruinou meu casamento, não vou mais olhar para ela' essa frase, do personagem que organiza a festa de casamento da justine em 'melancholia' me lembra muito um escritor amigo meu (que já citei muito o nome). acho que ele não voltará a falar comigo e toda vez que me encontrar, ele irá esconder o rosto com a mão - no salão de dança, na barraca da sopa de cebola ou seja lá onde for.

eu e justine somos pedacinhos de cocô que temos certeza de que a vida no planeta terra é má, e que felizmente, ela está com os dias contados (momento pessimista).

patologicamente, ainda não estou bem. passei uma semana aterrorizado e agora vivo uma semana apática. ainda levo pequenos choques devido á agressão que fiz ao meu snc. tenho a impressão de estar enxergando um pouquinho menos e tenho tonturas (momento-documentário).

aliás, no último sábado fiz uma ponta em um curta metragem sobre o glauco mattoso, que meu querido amigo gustavo vinagre está filmando. foi uma experiência diferente. única. eu nunca tinha filmado antes, e este foi direto, reto, sem ensaios, sem enrolação: cheguei atrasado e filmei em questão de minutos. eu não esperava conhecer o glauco dessa maneira... ainda mais ele, o qual fui mais comumente comparado nas poucas críticas que sairam do meu livro de poemas 'poesia gay underground: história e glória' de 2008, inclusive pelo mesmo selo em que o glauco publica. disse isso a ele em cena. o curta tem previsão para ser lançado em dezembro deste ano e se chama 'filme para um poeta cego'.

vou cortar a orelha mais alguns meses para ver esse lançamento.

XOXO


13 de ago. de 2011

PUSH THE BOTTOM


Push the BUTTON
Just to check it out
Bring this elevator
But it´s not going to get you out.

Your packed up jesus
Coming down just as you've ordered
It´s not your haemorrhoid passport
To he push the BOTTOM

Push the BOTTOM

Make the world shine, babe
Make it a shining ball and walk
Then this elevator is so dark
After you push the BOTTOM

Touch yourself and penetrate it
Your hand will find another sketched cloud
Someday you´ll get outta there
If it´s just push a BUTTON

Push the BUTTON.

Hugo Guimarães

12 de ago. de 2011

CABELOS DE LAVAR CARROS



assim estou eu novamente, com esses 'cabelos de lavar carros'. claro que essa idéia vem da canção 'carwash hair' do mercury rev. a questão é que eles estão alaranjados novamente, e essa é a minha cor de cabelo da loucura. quando fico melhor, mudo a cor novamente.

respondendo a postagem abaixo, that´s NOT all folks. not yet. na última sexta feira, deixei uma carta para a minha família, a música que eu queria que tocassem na minha cerimônia de cremação e meus últimos textos inéditos com o santiago nazarian, meu querido irmão mais velho. hospedei-me em um hotel e aproveitei o que seriam meus últimos dois dias.

o santiago e a querida adrienne myrtes me encontraram e tentaram me fazer mudar de idéia, disseram que eu seria um operador de britadeira no inferno eternamente caso cometesse o suicídio. tivemos um 'daydream' e os dois até foram comigo assistir ao troféu brasil de atletismo, coisa que ninguém gosta, só eu.

como em psicose, norman bates tenta convencer marion crane a voltar e devolver os quarenta mil dólares que tinha roubado. marion foi convencida disso, mas ironicamente foi morta no chuveiro pelo próprio norman minutos depois.

mas não funcionou comigo. na madrugada de domingo, ingeri oitenta comprimidos de stilnox, alprazolan e lamotrigina com uma quantidade de álcool. fui encontrado no quarto ainda consciente por volta das seis da manhã. fui burro, não ingeri a quantidade necessária de álcool, acho. fui levado para o hospital e passei dois dias de desintoxicação. 'what I expected, it didn´t work, I´ve had enough' lembra dessa frase daquela canção do pin ups?

durante meu desaparecimento, santiago ligou para os meus pais, adrienne ligou para os meus pais, e os mesmos fizeram da vida deles um inferno neste final de semana. adrienne já está amorosa como sempre. santiago está ríspido comigo, não sei se ele ainda vai querer seu irmão mais velho.

christian montenegro me trocou por kleber maia, alguém tão feminino quanto ele. acho que eles devem brincar de boneca na cama, mas isso não é da minha conta. lembra dos primórdios do som de balada? 'heart of glass' do blondie ? pois então, aquilo era de fato um marco. todas as bichas do glória tem um coração de vidro, nunca confie nelas. claro que isso não foi o motivo da minha tentativa de suicídio, mas intensificou meu estado depressivo que já vinha intenso mesmo na companhia do christian. o que eu preciso é de um homem de verdade.

tentativas de suicídio não são fáceis. talvez amy e janis tenham tentado, mas acredito que suas mortes foram acidentais. virgínia woolf só conseguiu suicidar se na terceira tentativa, kurt cobain, na segunda. essa só foi a minha primeira. não é fácil, não é fácil e não é facil.

'viver encarando a vida para simplesmente descartá-la' virginia woolf.
'o que mais eu poderia ser? todos os pedidos de desculpas' kurt cobain.

beijos, pessoas lindas.

5 de ago. de 2011

THAT´S ALL FOLKS!

that´s all folks... era o que a porra dos desenhinhos da hanna barbera diziam no final. ou seja, 'o showzinho acabaou', 'a brincedeira acabou'. você notava que o pernalonga nunca evitava, sempre fitava a câmera? ele comia cenoura olhando bem no fundo dos seus olhos.

that´s it... a vida resume-se em mostrar. o significado da vida é mostrar. mas mostrar para si mesmo não é o bastante, por isso há tanta repetição.

repetir dias extremamente infelizes é algo que não dá para colocar encima do palco, fellas. odiar a si mesmo e odiar tudo a sua volta é algo difícil demais.

não quero ser acusado de injusto ou ingrato. estou muito orgulhoso de poder escrever, de ter podido escrever. meu livro 'poesia gay underground: história e glória' de 2008 é brilhante, e meu recém terminado 'o estranho mundo de hugo guimarães' é tão brilhante quanto. também sei que sou bonitinho, inteligente, gostosinho e tenho saúde. mas carrego tudo isso junto com a infinita 'repetição' que resume-se a vida. é amargo demais.

parar agora, é simplesmente descer de um carro, descer de uma árvore. todos descerão. só quero agradecer do fundo do meu coração á todas as pessoas que foram amáveis comigo em toda a minha vida - ei, a vida é relativa! a presença de vocês é bem vinda na cerimônia da minha cremação. escolhi 'mayqueen' da liz phair como música de fundo. já implorei para minha mãe que não haverá comida durante a mesma.

é isso pessoas... não quero mais brincar.