OTTO COM GENTE MORTA

Diga a eles

Que você é uma maricona

Hoje

Amanhã

E depois

E depois

E depois

E sempre

E sempre

E sempre

Porque eles se esquecem

Acham que o outing

Vale só por um dia

Tem de dizer

Bom dia, sou viado

Bom dia, sou viado

Bom dia, sou viado

Assim seu pai

Não se choca

Ao te ver experimentando

Uma roupa da sua mãe

E o ronco do surdo

O que está acontecendo?

Ó meu deus

 

***

 

E quando essa

Droga de telefone tocar

Eu capricho no esculacho

 

- Me conhecer?

Pais ainda não aceitam

Seus filhos gays

Dizem que aceitam

Para não ficar para traz

De outros pais

De filhos gays

Porque está “na moda”

Porque os artistas da Globo

Estão se assumindo

Mas de noite na cama

Se vocês pudessem escolher

O trocariam por um filho hétero

Não me importa o que você me diz

Na minha cara

Me importa o que você me diz

Pelas costas

Eu tenho 2021 anos

Você não me engana

Lembro quando eu era jovem e trouxa

O bastante para levar namorado em casa

Se você pensar na composição

Original da palavra família

Verá que gay nasce

Sem família e morre

Sem família.

XOXO

LOLITOS

Doze de outubro

Dia santo para comemorar

Pelas crianças

E a santidade

A santa paciência

Mas não eram carrinhos nem bonecos

O brinquedo que os velhos beatos

Gostavam de dar às crianças

Na velha França

 

Eram de carne e sangue

E esperma

Eu lembro

Eu tinha menos de dez anos

Quando vi um pênis adulto pela primeira vez

Senti estranhamento, alguma aversão

Foi em um chuveirão em um clube

Todos tomavam a ducha de sunga

Mas o velho quis se mostrar

Eu nunca tinha visto esperma

Aos 10 ou 12

Eu fazia

Masturbação e sexo oral

Com os amiguinhos da minha idade

E todos os garotos gostavam

Era o nosso universo

Estávamos nos descobrindo

Aquilo pertencia à nós

Não a nenhum velho

O aspecto do nossos pênis

O cheiro deles

A falta de pelos deles

O fato de não masturbarmos direito

E de não chuparmos direito

Era nosso

Fazendo essas equações não tão difíceis

Resolvo o quanto deve ser nojento

Ser vítima de pedofilia

Ei, padres

Vocês sabem que padres não existem

Não existe bíblia

Não existe cristo

Não existe pecado

Mas crime existe

A santa paciência

 

É...

90 anos

Do maior cartão postal

Do maior favelão

Do maior tiroteio interino

Já quis visitar

Dizem que é a maior sujeira lá em cima

Mas eu só queria andar de bondinho

Até que me eduquei

90 anos

No topo da pedra

Desse povo ladrão

E sem educação

Por que não colocam um Ianomami empalado lá em cima?

O Vaticano que inventou cristo

Uma parte do lucro exorbitante

Desse espantalho enorme

Feito de concreto por dentro

E pedra sabão por fora

Do redentor?

Remete-se ao Vaticano?

Depois de vê-lo de perto

É o suficiente para você se redimir?

E voltar para a sua vidinha?

Voltar a ser um monstro?

 

Até agora quatro morreram na estrada

Até Aparecida

Bem, cada um paga seus pecados como merece..

Para nossa senhora

Nossa?

É minha também?

A minha parte

Eu abro mão

Obrigado

 

A santa paciência.

XOXO

ANTÔNIO REVISITADO

“Fé Revisitada”

 

Eu não me importo mais com as grades

É idiotice

Assim como os rolos de tabaco

Que minha mãe e irmã

Raspam nos cultos.

 

***

 

“Antônio Revisitado”

 

Eu não sou capaz

De diferenciar o sim do não

Mas eu posso diferenciar um pouco

Quando uma garota quer ser mais garota

Que a garota

 

É ok fumar crack mas

Apenas não o faça na casa dos pais, ok?

Você parou de me convidar, a vampira

Mas meu pênis ainda serve

 

A vampira é uma garota francesa louca

Que uma vez convidada, quer voltar

E quer seu sangue

 

Mas eu virei uma pedra de crack

Quando você viu que eu era louca

 

Mas eu vi a luz

Nos seus olhos

Na nossa primeira noite.

 

É difícil dizer sim ou não claramente

Para uma garota francesa louca

 

E agora você está ocupado

Com as aulas de remo

Sonhando com a Itália.

XOXO 

INFORTÚNIO

 “Infortúnio”

Agora que essa competiçãozinha

Contra você mesmo acabou

Agora que você sabe

Que quando seus números eram altos

Eram só para te dar uma ilusão

De uma fama que você nunca teve

 

Essa corridinha maluca

Escorregou em uma casca de banana

Alguém pôs o pé para você cair

Você chutou a barreira de propósito

E dessa vez o árbitro viu

 

Ainda quero ser atropelado

Por um milionário adolescente

Ainda quero que minha mãe biológica

Não seja você

 

Quero e preciso que a autêntica seja bem rica

E não me submeta à tortura psicológica

Que essa mãe me impõe

A ponto de eu duvidar se vou ver 2022

 

Gente do interior

O que você esperava?

Criam galinha, porco, vaca

Acham que criam gente é igual

 

Setembro não foi um mês fácil

 

Como eu detesto quando o comprimido de lítio quebra

 

Meus pais não tem culpa

De ambos terem nascido e crescido agricultores

E que tiveram uma educação

Bem pior que a minha

 

Divergi da minha mãe

- Quando o gato te afofa

É porque ele está estudando

O lugar seu mais vulnerável

Para te matar

- Não, filho. Eles fazem isso

Quando estão procurando um local

Onde há dor ou doença

 

Não tenho nada nas pernas

Nem no pênis

Afofe minha cabeça

Afofe minha cabeça

 

Haboob

Haboob.37.carniça

Haboob

Haboob.37.carniça

Haboob

Haboob.37.carniça

 

- Agora que você está sumindo, né?

- Errado. O que some, aparece

Eu estou desaparecendo mesmo

 

Três dias sem Quietiapina

Acabou na sexta-feira

Not my fault

Gostou dos três dias de fantasias eróticas?

Gostou dos três dias com ilusões afetivas?

Da quantidade de homens?

Da dor no pau?

Certamente não

Dos três dias sem dormir

Da realidade da dor

Na segunda feira

De noite três anjinhos me embalaram

E tive minha vagina

De volta outra vez.

XOXO

P

 ponto de desaparecimento.

31 GRAUS SEM NUVENS

“Elegia 31 de agosto de 2015”

 

Por que estou aqui?

Estou aqui já que você também está aqui e deus:

Como está aí embaixo, pedaço de lixo? E eu:

Bem, até; 31 graus sem nuvens.

 

***

 

Eu passo duas camisas
Uma vermelha e uma azul
Uso terças e quintas a azul
E segundas e quartas a vermelha
Sempre a calça preta
Sexta-feira, eu visto só preto
Sábado eu queimo as roupas
A camisa azul e a vermelha
E a calça preta.

II

Por mais que tomasse banho
Todos os dias
Eu estava ainda sujo
Por isso passei a deixar de tomar banho
Um dia ou dois.

XOXO

PREGO

 

“Da Cabeça Aos Pés”

 

Com a boca cheia de sangue

Eu vou fumar até eu morrer

 

Com um grito de umbanda

Eu vou ser louco até eu morrer

 

Como uma viúva negra

Com a pata presa na teia

Vou atrás de homens até eu morrer

 

Julgado e condenado

Eu vou espalhar culpa até eu morrer

 

Se o destino é vilão

Como cupins de demolição

Eu vou ficar nessa casa até eu morrer

 

***

“Prego”

 

Como gente pobre

Eu me colocaria na cruz

Velas para todo lado

Mais um prego,

Por favor

 

Como gente pobre

A próxima vida

Quem sabe? 

XOXO