manutenção de mortos la la la
em mijos territoriais la la la
olha isso:
***
"anos depois / ânus depois"
underground
on the ground
o que é melhor?
embaixo do chão
ou jogado nele?
o que é pior?
embaixo do chão
ou jogado nele?
h.g.
***
não apanhei nessa década. parei de apanhar aos quatorze, entrei na década com quinze. 'o brega que virou bacana' = 'antes e depois' = 'depois da fonte da juventude' = nada disso cabe á mim visto que a diferença de hoje para dez anos atrás é algo bem superficial na minha pele; apenas fui comprando roupas novas.
eu não tinha dúvida alguma que me tornaria um rock star na década que acaba hoje. agora, tenho a absoluta certeza que fui plenamente um rock star dentro do meu quarto quente, dentro da minha caixa toráxica. enquanto alanis morissette abria a boca no mundo inteiro, todo o silêncio da minha vida me fez atingir o 'nirvana'.
nenhum dos traumas anais gerou me um câncer. gosto de saúde.
apenas quebrei meu coração muitas vezes...
a década foi boa só para as garotas.
nem mesmo domino a cronologia, a essência dos movimentos literários que vinham se transformando desde o século doze em portugal. ainda assim me orgulho do livro de poesia que escrevi. muito muito muito. hoje, não há mais movimento literário algum, e eu faço parte disso. portanto, não há crítica.
não plantei as três árvores para compensar a impressão das 500 cópias do meu livro. elas não fariam diferença para o mundo, para mim ou para você. mas meu livro fez; para mim.
aliás é isso o que eu sou, um escritor.
então...
mais um dos últimos poemas que fiz nessa década:
***
"anjo"
eu não quero mais ser
um anjo pobre
eu quero ser
o príncipe das trevas
h.g.
***
31 de dez. de 2010
18 de dez. de 2010
ROASTBEEF COM PIERCINGS
notas retrospectivas:
precisei saber que menos um ao quadrado resulta em um positivo para me formar em logística. essa é a minha referência, meus cumprimentos aos educadores do brasil.
eu mesmo posso viver o adhemar ferreira da silva no cinema. sequer preciso ser negro. estou publicamente me oferecendo já que tenho certeza que o filme dele será feito logo depois que o do ayrton senna sair de cartaz. quero ver um tapete de pipocas.
mesmo faltando alguma sujeirinha do calendário para acabar o ano, já posso considerá-lo 'morto'. mesmo porque fazem 2 semanas que não posto devido á minha atual existência á base de aspirina. >
'a casa do sr. wilson'
no natal vamos arrancar minha casa do chão, com móveis, lâmpadas e animais dentro. vamos colocar em um caminhão e transportá-la até a granja julieta, assim como fizeram com a casa do sr. wilson em 'denis o pimentinha'. assim ficarei paradinho como uma cêra esculpida.
enquanto isso, todos esses dias que se passaram sem carboidrato, deixaram minha libido destruída. agora que volto a comer direito aos poucos, minha libido volta bastante desconfiada: é melhor olhar para o chão do que para homens da rua.
todos os outros 25 anos se passaram, e a matéria do homem perfeito ainda permanece bem longe: o roastbeef com piercings.
volto antes do calendário virar. aquele que diz 'mais um ano para eu e você - mais um ano sem nada para fazer'
em 2010 eu ganhei um diploma. consegui um excelente trabalho. não fui preso. não me envolvi em nenhuma briga. perdi quilos importantes. não recebi proposta de publicação alguma de nenhum dos meus livros inéditos. não consegui ficar rico. não consegui ficar famoso. não consegui voltar a treinar atletismo. não consegui me casar com o luan maitan, e também não consegui mudar de casa.
merry?
o natal é uma festinha muito da capitalista. jesus não iria se o convidassem. eu gosto.
já comprei meus presentes, e estou louco para comer peru e panetone. posso esperar mais um pouco para comer meu roastbeef com piercings...
precisei saber que menos um ao quadrado resulta em um positivo para me formar em logística. essa é a minha referência, meus cumprimentos aos educadores do brasil.
eu mesmo posso viver o adhemar ferreira da silva no cinema. sequer preciso ser negro. estou publicamente me oferecendo já que tenho certeza que o filme dele será feito logo depois que o do ayrton senna sair de cartaz. quero ver um tapete de pipocas.
mesmo faltando alguma sujeirinha do calendário para acabar o ano, já posso considerá-lo 'morto'. mesmo porque fazem 2 semanas que não posto devido á minha atual existência á base de aspirina. >
'a casa do sr. wilson'
no natal vamos arrancar minha casa do chão, com móveis, lâmpadas e animais dentro. vamos colocar em um caminhão e transportá-la até a granja julieta, assim como fizeram com a casa do sr. wilson em 'denis o pimentinha'. assim ficarei paradinho como uma cêra esculpida.
enquanto isso, todos esses dias que se passaram sem carboidrato, deixaram minha libido destruída. agora que volto a comer direito aos poucos, minha libido volta bastante desconfiada: é melhor olhar para o chão do que para homens da rua.
todos os outros 25 anos se passaram, e a matéria do homem perfeito ainda permanece bem longe: o roastbeef com piercings.
volto antes do calendário virar. aquele que diz 'mais um ano para eu e você - mais um ano sem nada para fazer'
em 2010 eu ganhei um diploma. consegui um excelente trabalho. não fui preso. não me envolvi em nenhuma briga. perdi quilos importantes. não recebi proposta de publicação alguma de nenhum dos meus livros inéditos. não consegui ficar rico. não consegui ficar famoso. não consegui voltar a treinar atletismo. não consegui me casar com o luan maitan, e também não consegui mudar de casa.
merry?
o natal é uma festinha muito da capitalista. jesus não iria se o convidassem. eu gosto.
já comprei meus presentes, e estou louco para comer peru e panetone. posso esperar mais um pouco para comer meu roastbeef com piercings...
27 de nov. de 2010
OUR WONDERING DAYS ARE OVER
"vou te cortar, vou te passar"
eu não vivo mais em um mundo onde essa frase foi tombada como tradução de trans. aliás nunca vivi. claudia wonder foi a primeira e única trans que já trocou palavras comigo em toda a minha vida, e ela parecia uma fada, bem longe daquele estereótipo vulgar e ultrajante que a nossa sociedade impressa na tv vende. "os olhos da tv são os seus olhos"
conheci claudia na premier de um filme do lufe em 2006 "beija-me se for capaz". infelizmente, nunca mais voltei a vê-la. ontem fui surpreendido com a notícia da morte dela. fiquei tocado com a forma que ela morreu.
reverendo do mackenzie, afanásio, adolescentes com lâmpadas na av. paulista, riem lamentando o tamanho de seus pênis.
o engraçado é que um pombo defecou na nossa gloriosa claudia wonder, e lhe transmitiu a doença que a matou. o mítico, o clássico, é pensar que merda é uma síntese de condenação. o distinto, é que a merda veio do céu. 'é o que o céu pensa de você' desferem os homens maus.
estou comovido. a merda é um material de um ser vivo. a merda nutre plantas. os coprófilos se perpetuam vendo o mundo de baixo para cima, amam.
estou comovido. essa é uma morte incomum, inevitável e lírica. não há médicos reanimando o corpo, não há pílulas. o céu apenas determinou que era a hora dela, o céu a pegou pelo braço.
reverendo do mackenzie morre lentamente como uma fruta seca que finalmente de estraga. afanásio enfarta com imensa dor. garotos da paulista morrem nas ferragens de uma nave espacial a caminho da praia, vislumbrando a falta dos pés, vislumbrando o irreconhecimento das mãos.
claudia sobe ao céu em gala, de escadas.
eu não vivo mais em um mundo onde essa frase foi tombada como tradução de trans. aliás nunca vivi. claudia wonder foi a primeira e única trans que já trocou palavras comigo em toda a minha vida, e ela parecia uma fada, bem longe daquele estereótipo vulgar e ultrajante que a nossa sociedade impressa na tv vende. "os olhos da tv são os seus olhos"
conheci claudia na premier de um filme do lufe em 2006 "beija-me se for capaz". infelizmente, nunca mais voltei a vê-la. ontem fui surpreendido com a notícia da morte dela. fiquei tocado com a forma que ela morreu.
reverendo do mackenzie, afanásio, adolescentes com lâmpadas na av. paulista, riem lamentando o tamanho de seus pênis.
o engraçado é que um pombo defecou na nossa gloriosa claudia wonder, e lhe transmitiu a doença que a matou. o mítico, o clássico, é pensar que merda é uma síntese de condenação. o distinto, é que a merda veio do céu. 'é o que o céu pensa de você' desferem os homens maus.
estou comovido. a merda é um material de um ser vivo. a merda nutre plantas. os coprófilos se perpetuam vendo o mundo de baixo para cima, amam.
estou comovido. essa é uma morte incomum, inevitável e lírica. não há médicos reanimando o corpo, não há pílulas. o céu apenas determinou que era a hora dela, o céu a pegou pelo braço.
reverendo do mackenzie morre lentamente como uma fruta seca que finalmente de estraga. afanásio enfarta com imensa dor. garotos da paulista morrem nas ferragens de uma nave espacial a caminho da praia, vislumbrando a falta dos pés, vislumbrando o irreconhecimento das mãos.
claudia sobe ao céu em gala, de escadas.
21 de nov. de 2010
DANÇAR COM UM LIVRO
hoje é o dia da consciência negra. coincidentemente, também é o aniversário da minha mãe, e sua consciência negra. o triste é que só eu posso vê-la nessa cor, ela não sente culpa. aliás, questiono o significado da palavra consciência, questiono a existência da consciência, afinal as pessoas vivem se perdoando, não é mesmo?
estamos em época de mais uma balada literária. esse é um evento exemplar idealizado e organizado pelo grande marcelino freire. no ano passado fui acordado por ele em uma certa manhã, ele subitamente disse que haveria uma mesa com jovens poetas e me convidou para participar. aceitei imediatamente, sem pensar, porque não podia recusar um convite do marcelino, era uma honra para mim.
subi naquele palco no dia 21 de novembro de 2009 como um peixe fora d´agua, uma novidade. logo percebi que os três poetas que me acompanhavam eram gritantemente diferentes de mim, e que eles não eram "artistas", mas "produtos" do mercado literário. fora esse deslocamento, opino que uma pessoa para subir em um palco deve ter algo para ensinar as pessoas, deve ter algo para compartilhar, além dos poemas, é claro. infelizmente, as poetas que estavam lá estavam mais interessados em serem simpáticos, carismáticos, do que sinceramente, honestamente, tentarem "dar" algo para todas aquelas pessoas que estavam na platéia assistindo.
- a sua mesa foi chata, disse santiago nazarian á mim.
- eu sei.
eu não tenho nada para ensinar para as pessoas. declaro isso com absoluta honestidade. a minha postura legitimou isso, acho. sou apenas um poeta puro que não tem nada para ensinar á ninguém - esse foi meu ensinamento.
analisando a situação friamente, um ano depois, deveria ter dito que eu não tinha livros em casa, meus pais não liam e não lêem absolutamente nada, meu pai fala português intermediário e minha mãe tem um diploma falso. e, diferente da letra de caetano, aqui há muitas livrarias, muitas bibliotecas, muitos livros. o simples fato de um dia na vida eu ter tido a idéia de tocar um lápis em um papel para escrever qualquer texto poético, é uma anomalia, um evento, e sou muito grato á esse momento.
quanto a leitura das outras pessoas, quanto ao mercado literário, acredito que só a legislação pode corrigir a acomodação e a falta de cultura das pessoas em ler blockbusters vazios, ruins e desinteressantes que infestam as vitrines das livrarias. deveria haver uma lei que limitasse ás livrarias á colocarem esse tipo de livro em suas vitrines, e que parte dela, obrigatoriamente deveria conter literatura contemporânea nacional, e não estou sendo ingênuo ao sugerir isso. vamos promover um boicote á stephenie meyer?
quanto á educação, acredito friamente que os professores não deveriam incluir somente literatura pré-histórica em seus planejamentos, mas livros novos de autores vivos também. claro que shakespeare é importantíssimo, claro que a forma com que machado de assis manipula as palavras é belíssima, mas o problema é que as crianças crescem sem saber que hoje em dia, grandes livros continuam sendo escritos e grandes autores existem. a maioria dessas crianças crescem sem saber disso, e quando adultas, não tem motivos para converter tal situação. ou seja, os professores ensinam as crianças que a literatura é algo velho e que não existe mais, assim como os dinossauros.
três amigos meus me perguntaram quando falei da balada literária:
- o que é balada literária? as pessoas ficam dançando com livros?
- não, não ficam.
amanhã é o último dia da balada 2010, não percam!
http://baladaliteraria.zip.net/
estamos em época de mais uma balada literária. esse é um evento exemplar idealizado e organizado pelo grande marcelino freire. no ano passado fui acordado por ele em uma certa manhã, ele subitamente disse que haveria uma mesa com jovens poetas e me convidou para participar. aceitei imediatamente, sem pensar, porque não podia recusar um convite do marcelino, era uma honra para mim.
subi naquele palco no dia 21 de novembro de 2009 como um peixe fora d´agua, uma novidade. logo percebi que os três poetas que me acompanhavam eram gritantemente diferentes de mim, e que eles não eram "artistas", mas "produtos" do mercado literário. fora esse deslocamento, opino que uma pessoa para subir em um palco deve ter algo para ensinar as pessoas, deve ter algo para compartilhar, além dos poemas, é claro. infelizmente, as poetas que estavam lá estavam mais interessados em serem simpáticos, carismáticos, do que sinceramente, honestamente, tentarem "dar" algo para todas aquelas pessoas que estavam na platéia assistindo.
- a sua mesa foi chata, disse santiago nazarian á mim.
- eu sei.
eu não tenho nada para ensinar para as pessoas. declaro isso com absoluta honestidade. a minha postura legitimou isso, acho. sou apenas um poeta puro que não tem nada para ensinar á ninguém - esse foi meu ensinamento.
analisando a situação friamente, um ano depois, deveria ter dito que eu não tinha livros em casa, meus pais não liam e não lêem absolutamente nada, meu pai fala português intermediário e minha mãe tem um diploma falso. e, diferente da letra de caetano, aqui há muitas livrarias, muitas bibliotecas, muitos livros. o simples fato de um dia na vida eu ter tido a idéia de tocar um lápis em um papel para escrever qualquer texto poético, é uma anomalia, um evento, e sou muito grato á esse momento.
quanto a leitura das outras pessoas, quanto ao mercado literário, acredito que só a legislação pode corrigir a acomodação e a falta de cultura das pessoas em ler blockbusters vazios, ruins e desinteressantes que infestam as vitrines das livrarias. deveria haver uma lei que limitasse ás livrarias á colocarem esse tipo de livro em suas vitrines, e que parte dela, obrigatoriamente deveria conter literatura contemporânea nacional, e não estou sendo ingênuo ao sugerir isso. vamos promover um boicote á stephenie meyer?
quanto á educação, acredito friamente que os professores não deveriam incluir somente literatura pré-histórica em seus planejamentos, mas livros novos de autores vivos também. claro que shakespeare é importantíssimo, claro que a forma com que machado de assis manipula as palavras é belíssima, mas o problema é que as crianças crescem sem saber que hoje em dia, grandes livros continuam sendo escritos e grandes autores existem. a maioria dessas crianças crescem sem saber disso, e quando adultas, não tem motivos para converter tal situação. ou seja, os professores ensinam as crianças que a literatura é algo velho e que não existe mais, assim como os dinossauros.
três amigos meus me perguntaram quando falei da balada literária:
- o que é balada literária? as pessoas ficam dançando com livros?
- não, não ficam.
amanhã é o último dia da balada 2010, não percam!
http://baladaliteraria.zip.net/
15 de nov. de 2010
NORAH ZOMBIE JONES
parabéns, ekaterina gamova. bruxa. sono fatiado para ver uma final de voleibol. acordei finalmente com um grito do narrador quando lioubov sokolova levou uma bolada exemplar no rosto; coincidentemente, curiosamente esse era meu apelido quando eu jogava voleibol: sokolova - isso no tempo em que ela sabia se proteger. no final nathalia disse: 'vamos esperar mais quatro anos, né?' minha gata olhou para mim e disse 'não posso esperar quatro anos. quatro anos são quarenta para mim'. eu posso, mas não sei se quero esperar.
me peguei nessa em uma jornada. em uma desbravação. uma fila imensa, interminável, lenta, que prometia levar á uma deusa, uma heroína zumbi-mãe: norah jones. caracóis e mais caracóis de filas de pessoas para adentrar um parque bastante verde, para ela ligar o piano para cantar 'chasing pirates'. metida, não? meus joelhos não puderam seguir pela fila até o fim, mesmo morto, mesmo zumbi, acho que ninguém conseguiu ver algo além do som, da voz de fada, do píano, das pernas talvez. acho que norah jones não existe, ou existe somente parcialmente como a dona do tom.
norah ainda cantará bastante. o que me entristece muito é jamais ter conseguido ver marion jones.
também fiquei triste por não terem passado o filme do bruce labruce inteiro.
estou bem cansado, como um zumbi.
me peguei nessa em uma jornada. em uma desbravação. uma fila imensa, interminável, lenta, que prometia levar á uma deusa, uma heroína zumbi-mãe: norah jones. caracóis e mais caracóis de filas de pessoas para adentrar um parque bastante verde, para ela ligar o piano para cantar 'chasing pirates'. metida, não? meus joelhos não puderam seguir pela fila até o fim, mesmo morto, mesmo zumbi, acho que ninguém conseguiu ver algo além do som, da voz de fada, do píano, das pernas talvez. acho que norah jones não existe, ou existe somente parcialmente como a dona do tom.
norah ainda cantará bastante. o que me entristece muito é jamais ter conseguido ver marion jones.
também fiquei triste por não terem passado o filme do bruce labruce inteiro.
estou bem cansado, como um zumbi.
6 de nov. de 2010
O QUE ESSA PESSOA ESTÁ PRETENDENDO?
finalmente tenho tido dias sem adentrar em uma sala de cinema. a mostra acabou. estou cansado, exausto, estou louco para dormir e acho que vou ficar um tempo sem ir ao cinema. vi 20 dos 35 filmes que queria ver. cada um vê os filmes que pode, não é mesmo?
o que pretendo com isso? pergunto-me toda vez que entro em uma sala de cinema da mostra. cansei me muito, tenho meio século de vida. meio século de vida fodida. não consigo imaginar a outra metade, pois as nuvens do 'aurora' a cobrem. "o que essa pessoa está pretendendo?" pensei eu sobre o protagonista do filme 'aurora' que no final do filme se entrega á polícia depois de cometer diversos assassinatos para redimir se de si mesmo. esse, junto com o canadense 'ondulação' foram dois dos filmes que me decepcionaram na mostra, nesse último, o pai super protetor opta por nunca matricular a filha na escola, que será então tão estúpida e analfabeta quanto ele. eu me formo no mês que vem na faculdade, estou prestando serviços para uma multinacional finlandesa, deixei de comer chocolates e beber refrigerantes e quero fazer sexo com menos frequencia também; mas não sei bem o que é 'melhorar' e também não sei 'para quê' melhorar. não sei o que fazer, e não sei se substituir o prazer do açúcar, do gás e do sexo me beneficiará tanto ao ficar só com o prazer do cinema, da literatura e do esporte na vida. mesmo com essa mudança ainda estarei sozinho, com dores nas costas e um tanto inútil no mundo, e tenho certeza que ir e voltar da chácara santo antônio todos os dias não me compensará, e não estou falando de dinheiro.
pois bem, esse é um prazer do homem moderno: o cinema. após duas semanas indo ao cinema todos os dias, tendo de optar entre dois filmes fantásticos muitas vezes, tenho aqui abaixo a minha lista dos dez melhores:
01. Sonho de Duas Passagens *****
(Two Gates Of Sleep, EUA, 2010) Dir: Alistair Banks Griffin
uma fábula sobre a vida e a morte, sobre o certo e o errado. bucólico, exótico, com uma trilha sonora incrivelmente emocionante, apesar dos poucos momentos de sua execução. rico em idéias, detalhes e situações até seu final cruel. um dos finais mais cruéis que já vi no cinema. incrível, valeu por toda a mostra.
02. Clube do Suicídio *****
(Suicide Club, GER, 2010) Dir: Olaf Saumer (presente na sessão)
este é um filme otimista. mesmo com a falta de carisma dos atores e persoangem e uma certa monotonia no começo, as situações inusitadas e o roteiro levam o espectador a apaixonar se por eles durante o filme. nem o final hollywoodiano decepciona. ao contrário, o deixa mais surpreendente.
03. O Estranho Caso de Angélica *****
(POR, 2010) Dir: Manoel de Oliveira
uma aula de cinema proporcionada por um cineasta centenário. mais um filme rico em situações e personagens. a aparente simplicidade da história é justificada em seu terrível final, onde a intolerância aos judeus é expressada em poucos segundos em uma curta encenação com a câmera estática, pasma; também fiquei pasmo.
04. Elvis e Madonna *****
(BRA, 2010) Dir: Marcelo Laffitte
essa é uma comédia deliciosa. tinha de ser para contar uma história tão incomum como essa, e não tem a pretensão de ser um filme de arte. garante o que uma comédia deve garantir: é extremamente divertido e inteligente.
05. Politécnica ****
(Polytechnique, CAN, 2009) Dir: Denis Villeneuve
esse é o que mais se aproxima de um filme de terror (já que não vi nenhum na mostra). bastante violento, mas é extremamente introspectivo e melancólico, o que o aproxima mais de um filme de arte. filmado em preto e branco, o que evidencia ainda mais o contraste do sangue e da neve. os motivos do assassino e as feridas deixadas nos vivos também o diferencia de outros filmes sobre massacres em universidades.
flyer do filme 'arcadia lost' que vi na cinemateca. acho que eu fui o único na sala que sabia que ele tinha exatamente a mesma idéia de um clássico do terror chamado 'carnival of souls' de 1962, que serviu de inspiração para george romero, por exemplo
06. Três Quintais ****
(3 Backyards, EUA, 2010) Dir: Eric Mendelsohn (presente na sessão)
Filmado na mesma formula de 'babel' ou 'magnolia'. porém o conteúdo das histórias não continham fórmula. vi personagens incríveis nesse filme, situações inusitadas também. a garota perdida na selva, que oferece um beijo na bochecha de um homem perturbado em troca de ter uma jóia de volta, quando tudo apontava para um estupro; a mulher negra procurando emprego e morrendo após conseguir e não conseguir o trabalho, e a carona á vizinha famosa banalizando totalmente a fama, são de uma itensidade ímpar.
07. Irmandade ****
(Broderskab, DEN, 2010) Dir: Nicolo Donato
este, tanto pode ser um filme 'gay' quanto um filme sobre nazismo, mas não um filme de nazistas gays. mesmo porque um filme gay nórdico nunca é denso, sempre mostra atores extremamente belos e motivos fálicos. não é o caso deste, que além de oferecer belos protagonistas e cenas extremamente excitantes, aborda a traição do ser humano (gay ou não) e a consequência de uma forma convincente.
08. Sou Terrorista ***
(Ich Bin Eine Terrorristin, FRA, 2010) Dir: Valérie Gaudissart (presente na sessão)
pela sinopse é natural esperar ver um filme sério e introspectivo, mas "sou terrorista" é exatamente o contrário: é uma fábula sobre o comunismo do leste europeu partindo do ponto de vista de uma garota de 11 anos. não é um filme político, contudo. é uma fantasia. uma bela fantasia, aliás.
09. O Outro Mundo ***
(L'Autre Monde, FRA, 2010) Dir: Gilles Marchand
sinopse bastante interessante, filme nem tanto. apesar do começo excelente, com muito suspense, o filme não se desenvolve satisfatoriamente, e o final é fraco, a história é fraca. vale pelo clima, pelo esforço em criar o jogo, pela semelhança física da protagonista com marylin monroe e sua obsessão pela morte. esperava mais, mas é um filme no mínimo interessante.
10. Na Senda do Crime ***
(BRA, 1954) Dir: Flaminio Bollini Cerri
sessão única deste filme que mostra imagens nostálgicas da cidade de são paulo nos anos 50 para ilustrar uma história simples sobre assaltantes. bem filmado, interessante pelo esforço da produção, não causa sono, descolaram um protagonista com a cara do james dean, mas é prejudicado pela cena final: não tinham um boneco menos ridículo para jogar do alto do prédio?
ano que vem, tem mais.
leia as sinopses em http://www.mostra.org/
25 de out. de 2010
MUESTRA DE BALONES
uma despachante carioca toda felizona
uma espanhola raquítica
um veadinho ao fundo observando tudo > envolvidos em um negócio legalzinho de B A L Õ E S !
página virada, colegas. não importarei mais essas bolas. página virada: acho que essa expressão vem da morte da mulher do ben harper, pelo pastor, na película "night of the hunter" do charles laughton, no qual a morte por assassinato é mostrada como uma página virando-se. uma classe só. esses "balones" estão mortos. só o jingle que continua na minha cabeça "muestra de balones... muestra de balones..." jingle que eu fiz, por sinal. "balones" agora, são partes coloridas da vida.
34ª mostra internacional de cinema de são paulo: esse é um evento que espero ansiosamente, anualmente. até agora separei 30 filmes interessantes que prentendo ver. na última sexta feira, encontrei mateus e o apresentei o cinesesc.
- veja! a marília gabriela.
- sério? não notei.
marília gabriela permaneceu parada como uma vassoura durante a projeção de "clube do suícidio". o diretor fez um fofíssimo pronunciamento antes do filme. a sessão estava bem cheia e o clima perfeito para um ótimo espetáculo. mateus não pode ficar pois teve de viajar, txt.marília gabriela mandou um beijo para você e disse que não há a remota possibilidade de um dia eu ser entrevistado por ela.txt
a projeção mostrava a história de cinco anônimos que planejam cometer suicídio coletivo jogando-se do alto de um prédio. não desenvolvi empatia pelos personagens, mas sim pela forma com que a trama se desenvolveu. no final, muitas palmas. uma das presentes comentou o seguinte
- roteiro maduro para a idade do cara, não? ele deve ter o que? uns vinte e poucos anos?
dei nota máxima e depositei na urna.
no sábado, separei os filmes interessantes e saí de casa para a sessão no unibanco da augusta para ver "irmandade" um filme dinamarquês sobre nazistas gays. na fila, o lipe rowe respondeu minha mensagem de texto e me convidou para ir mais tarde, ver um documentário sobre willian burroughs com depoimentos de gente como patti smith, por exemplo. irmandade é um filme que proporciona além de ereções, exemplos da rotação do planeta onde você paga pelos atos cedo ou tarde. o final mostra duas imagens separadas, com consequências. nota 4,0 (de 1,0 a 5,0).
antes de encontrar o lipe tinha de passar o tempo de alguma forma. ia encontrá-lo só ás 20h00 e ainda eram 17h30. tive a brilhante idéia de ir ver "atividade paranormal 2" no center 3. fui ver porque tinha de ver algo de terror em meio a tantos filmes da mostra que não são de terror. shopping. adolescentes magérrimas aparentando ter 14 anos sentaram-se atrás de mim em um numeroso grupo. comentários, risadas e nunca mais assisto filme de terror em shopping. o filme desenvolvia-se de uma forma interessante, mas eu estava mais concentrado em segurar minha incrível vontade de urinar. consegui aguentar até o final do filme. final fraco, diga-se de passagem.
que saudade do lipe e que saudade da cintia ferreira que estava com ele. lipe é um lourinho engajado com a política, fã do hole e bastante interessado em rock feminino. cintia, conheci há cinco anos atrás em um trabalho. ela, junto com outras quatro garotas fundou a banda 'justiça' que não está mais na ativa.
depois de NÃO conseguirmos ver o documentário, já que acabaram-se os ingressos meia hora antes da sessão, fomos beber umas cervejas, e cintia convidou-me para ir ao aniversário de uma amiga dela (também uma ex justiça). descemos até o alto pinheiros - veja só - e fomos parar no condomínio onde a garota morava. desnecessário dizer que as garotas do alto de pinheiros não tem o que fazer no rock (principalmente no rock underground), mas cada um tem seu modo de vista, paciência. infelizmente vivemos em um país que a principal representante do rock feminino underground é uma menina rica: a prezada elisa gargiulo (...) por esse motivo NUNCA teremos uma banda PARECIDA com o bikini kill neste país. pois enquanto elisa e suas comparsas adoram fazer piadas com pessoas que moram em regiões menos privilegiadas da cidade, kathleen hanna era um atendente do mcdonald´s antes de montar o bikini kill.
lá na festa da rockeira playgirl, encontrei pessoas que não eram parecidas comigo. aliás detesto que pessoas me desejem boa noite no elevador do prédio, sempre detestei isso. duas pessoas naquele elevador que nunca tinha visto na vida me desejaram boa noite. íamos sair da festa á meia noite e meia, mas cintia mudou os planos e tivemos que ficar até ás 04 da manhã naquele inferno, quando ela finalmente conseguiu chamar um táxi para nos tirar de lá. ao menos conversamos bastante.
- o underground não existe - cíntia disse.
no final da festa os balões foram estourados.
voltarei em breve para comentar mais sobre a mostra.
19 de out. de 2010
VOCÊ GOSTA DE DANÇAR?
planeta terror de robert rodriguez livro de sangue baseado em clive barker os anões também começaram pequenos de werner herzog pausado em seu vigésimo minuto brides of dracula do terence fisher lacrado. não sou crítico de cinema. mas poderia. na verdade pouco importa ser crítico de cinema, sendo que a satisfação é direcionada á mim mesmo, mas a questão é que pouco importa falar sobre todos os filmes de terror que adquiri recentemente. a serventia da minha coleção será compartilhá-la com meu futuro marido. estou cuidando bem dela, da minha coleção, estou comprando canecas bonitas para bebermos porcarias vendo os filmes.
acordei ás 16h00 de novo no maior bode no domingo. mateus, meu mais novo comparsa me convidou para ir á 'pixel show 2010'. vamos. eu estava mais animado para ir ao starbucks do que para ir até lá, na verdade. no masp, descemos um montão até chegar á rua dr plínio barreto com as pessoas nos atravessando voltando de lá. atrasei só uma hora graças ás malditas obras do metrô para instalação de portas de plataforma. desculpe.
mateus é bem alto. eu já sabia o tamanho de um homem de 1m90, por isso não comentei o quanto o achei alto. haha . - moscas para p j harvey ; eu chegando lá com mateus no final do evento. lá encontraríamos a amiga dele que trabalhava lá, camila ( a cara da ketleyn quadros ). tudo já estava sendo recolhido, acabado, liquidado, guardado, escondido, carregado quando chegamos lá. nunca vi tantas pessoas heterossexuais juntas, uma visão de inferno. um evento de toy art é um lugar perfeito para encontrar pessoas que parecem gays, mas que na verdade são heteros bem amargos. que bosta... lembrei que não gosto de toy art. revistas... camisetas, livros, mochilas. alguma coisa ainda estava por lá. gostei de uma banheira, mas não levei porque nem me preocupei em saber se ela estava á venda.
( ketleyn quadros e mateus )
- você está dançando?
- não, estou fazendo fisioterapia
- que louco
- você gosta de dançar?
expliquei toda a origem do movimento. fui informado que a música tinha acabado há uma hora atrás, se ainda tivesse música eu ainda poderia dançar. esperando camila nos deparamos com coisas reparáveis que ainda estavam por ser retiradas. um retrato em preto e branco da elis regina ou da bjork (saímos sem ser informados quem era de fato) e uma porta super esperta que ilustra essa postagem.
- a modelo foi embora sem avisar e não ajudou a retirar os stands
- foda-se
- ei mateus, vamos ajudar a retirar os stands.
uma mosca. sou uma mosca de xadrez azul neste evento (note a imagem) eu era o público final daquele evento, um público fora d´agua. assim como um ou outro que chegou cedo demais á arena assistindo o show da p j harvey quando na verdade esperavam para ver... U2! detesto U2.
subimos tudo de novo até o masp. eu e mateus. chegamos lá encima ofegantes, os dois, como se o esforço de subir ruas se igualasse ao sexual. engraçado. no starbucks começamos a falar de velhas. gosto de caçoar de senhoras em cafés.
- reunião de formandas de 1988
- a primeira colava chiclete no cabelo das outras meninas
- a segunda fazia banheirão e transava com os professores
- adoro café gelado, é a melhor coisa do mundo.
mateus precisava ir para casa, pois tinha de acabar de se mudar para a casa de seu namorado. ainda fomos á fnac e deixei de comprar o calendário 2011 do mickey. merda... vou ter que voltar lá só pra comprar o bendito calendário. mateus me acompanhou até a consolação prazer em conhecê-lo me cozinhe um dia uma torta de queijo.
ao beber muita coca cola fiquei com uma puta preguiça de voltar para casa. eu poderia passar a noite fora e ensinar muitos meninos a dançar por aí. mas como sou um garoto responsável e comportado, voltei para casa e dormi com a minha siamesa.
dancei.
11 de out. de 2010
ONIBABA - A MULHER VELHA DEMÔNIO
fui demitido pelo chinês feioso para qual eu trabalhava. o filho de puta o fez simplesmente por eu reclamar dos benefícios. adoro. a ociosidade me fez comprar 8 dvd´s, assisti 4, o 2º foi este 'ONIBABA - a mulher demônio' lançado em dvd no brasil pela paragon pictures com a capa mais sem graça de todas as disponíveis. o pôster que ilustra essa postagem é da edição americana do dvd. ONIBABA, literalmente, significa 'a mulher velha demônio' e não somente 'a mulher demônio'.
pois bem, este é um dos vários filmes de terror clássico que eu não conhecia e que são vendidos pela bagatela de R$ 45,60 pela livraria cultura. sai bem mais barato comprar a edição americana da criterion collection por USD 17,00 porém a droga da minha conta na amazon está inativa, cancelada, acabada, alvejada, proibida, bom...
este aqui, eu tomei conhecimento pelo meu livro de posteres de filmes de horror, que junto com o kwaidan, ringu e audition, ilustrava a parte de cinema oriental do livro. antes de ver o onibaba, detestava cinema oriental. achava os orientais muito sem graça, sem expressão, sem emoção. eu tinha visto o 'kwaidan' anteriormente e foi preciso paciência para aguentar os 160 minutos do filme. mesmo ele sendo de uma beleza estonteante, extremamente bem filmado, sons assustadores, cores impressionantes e blablabla não é o tipo de filme de agrada plenamente um fã do 'o massacre da serra elétrica' do tobe hooper.
também detesto filmes de época, quase desisti da compra do dvd ao ver que a história se passa no século 14.
pois bem² comprei o dvd do onibaba pela história macabra me chamar a atenção: uma japinha muito da malvada que arquieteta um plano diabólico para manter a companhia da nora, depois que seu filho morre na guerra. pelo pôster com essa assustadora figura presa em uma máscara, há de se imaginar o que acontece á ela. ONIBABA começa com seu canavial até a câmera se dirigir ao buraco negro onde as duas protagonistas, nora e sogra, jogam os corpos de suas vítimas, a fim de sobreviver da venda de seus pertences. até o título aparecer, há uma narração de um texto existencialista. a música é pesada e nem um pouco clássica. típica introdução de filme de arte. eu adoro filmes de arte.
não há recriação de época. o filme se passa totalmente no meio do mato, onde as protagonistas se escondem da guerra e tentam sobreviver. elas sobrevivem exatamente ao fazer armadilhas á guerreiros perdidos no mato e vender suas armas e vestimentos a troco de comida. certo dia, um dos homens que acompanhavam o filho da velha demonia haha se instala nas próximidades da cabana e desperta a atenção da japinha que perdera seu marido na guerra.
temendo a solidão, a fome, a morte, o desaparecimento, a velha tenta de todas as formas impedir o relacionamento dos dois, até o dia em que recebe uma visita horrível: um guerreiro perdido com uma máscara tenebrosa. ao mostrar o caminho de kyoto á ele pelo canavial, ela naturalmente o faz cair no buraco negro onde todos os outros caíram. ela então, coloca em prática o seu 'plano diabólico' ao roubar a máscara. com ela, no meio da noite, assusta a japinha em seu caminho para fazer amor com seu novo amante. a imagem da mulher com a máscara no meio da noite, naquele canavial é uma das mais assustadores imagens de filmes de terror que ja ví. mais ainda que o conde drácula levantando-se em 'nosferatu' de murnau, mais ainda do que a aparição do frankenstein, mais ainda do que o personagem desmascarado no primeiro 'o fantasma da ópera'. porém, depois de algumas 'intervenções' a máscara fica presa ao seu rosto.
li uma crítica, uma interpretação de ONIBABA que dizia que ele contava a história de uma mulher traída por sua própria inveja. eu não consegui ver dessa forma. acho que uma mulher velha morreria de fome sozinha naquele mato, naquele nada. o filme na verdade é existencialista. é sobre o medo, o terror do abandono, o terror de desaparecer em meio á também, a inveja da juventude e da beleza, observando sua bela nora a abandonar com o viril guerreiro que ela mesma ofereceu-se antes para o matrimônio. no final, livre da máscara, com o rosto deformado, a mulher velha demônio corre pelo canavial gritando 'eu sou um ser humano, eu sou um ser humano'.
ONIBABA é um filme de terror assustador, é um filme de arte denso com uma fotografia maravilhosa e os atores sim, são bastante expressivos. ONIBABA entrou para a lista dos meus favoritos de terror de todos os tempos. não dos top 10, mas dos top 20 com certeza.
é um filme japonês, se fosse chinês jamais veria. aliás odeio os chineses depois de conhecer esse último que me demitiu e, o starbucks não deveria importar da china as suas lindas canecas que são vendidas por R$ 39,00. por esse preço eles poderiam importá-las da europa e, deixaram de vender uma caneca para esse simpático portuguesinho que os escreve.
só para constar: 'alice sweet alice' (1976) e 'o exorcista 2 - o herege' (1977) são dois dos dvd´s que comprei e são ruins para cacete. não deixe de perdê-los.
pois bem, este é um dos vários filmes de terror clássico que eu não conhecia e que são vendidos pela bagatela de R$ 45,60 pela livraria cultura. sai bem mais barato comprar a edição americana da criterion collection por USD 17,00 porém a droga da minha conta na amazon está inativa, cancelada, acabada, alvejada, proibida, bom...
este aqui, eu tomei conhecimento pelo meu livro de posteres de filmes de horror, que junto com o kwaidan, ringu e audition, ilustrava a parte de cinema oriental do livro. antes de ver o onibaba, detestava cinema oriental. achava os orientais muito sem graça, sem expressão, sem emoção. eu tinha visto o 'kwaidan' anteriormente e foi preciso paciência para aguentar os 160 minutos do filme. mesmo ele sendo de uma beleza estonteante, extremamente bem filmado, sons assustadores, cores impressionantes e blablabla não é o tipo de filme de agrada plenamente um fã do 'o massacre da serra elétrica' do tobe hooper.
também detesto filmes de época, quase desisti da compra do dvd ao ver que a história se passa no século 14.
pois bem² comprei o dvd do onibaba pela história macabra me chamar a atenção: uma japinha muito da malvada que arquieteta um plano diabólico para manter a companhia da nora, depois que seu filho morre na guerra. pelo pôster com essa assustadora figura presa em uma máscara, há de se imaginar o que acontece á ela. ONIBABA começa com seu canavial até a câmera se dirigir ao buraco negro onde as duas protagonistas, nora e sogra, jogam os corpos de suas vítimas, a fim de sobreviver da venda de seus pertences. até o título aparecer, há uma narração de um texto existencialista. a música é pesada e nem um pouco clássica. típica introdução de filme de arte. eu adoro filmes de arte.
não há recriação de época. o filme se passa totalmente no meio do mato, onde as protagonistas se escondem da guerra e tentam sobreviver. elas sobrevivem exatamente ao fazer armadilhas á guerreiros perdidos no mato e vender suas armas e vestimentos a troco de comida. certo dia, um dos homens que acompanhavam o filho da velha demonia haha se instala nas próximidades da cabana e desperta a atenção da japinha que perdera seu marido na guerra.
temendo a solidão, a fome, a morte, o desaparecimento, a velha tenta de todas as formas impedir o relacionamento dos dois, até o dia em que recebe uma visita horrível: um guerreiro perdido com uma máscara tenebrosa. ao mostrar o caminho de kyoto á ele pelo canavial, ela naturalmente o faz cair no buraco negro onde todos os outros caíram. ela então, coloca em prática o seu 'plano diabólico' ao roubar a máscara. com ela, no meio da noite, assusta a japinha em seu caminho para fazer amor com seu novo amante. a imagem da mulher com a máscara no meio da noite, naquele canavial é uma das mais assustadores imagens de filmes de terror que ja ví. mais ainda que o conde drácula levantando-se em 'nosferatu' de murnau, mais ainda do que a aparição do frankenstein, mais ainda do que o personagem desmascarado no primeiro 'o fantasma da ópera'. porém, depois de algumas 'intervenções' a máscara fica presa ao seu rosto.
li uma crítica, uma interpretação de ONIBABA que dizia que ele contava a história de uma mulher traída por sua própria inveja. eu não consegui ver dessa forma. acho que uma mulher velha morreria de fome sozinha naquele mato, naquele nada. o filme na verdade é existencialista. é sobre o medo, o terror do abandono, o terror de desaparecer em meio á também, a inveja da juventude e da beleza, observando sua bela nora a abandonar com o viril guerreiro que ela mesma ofereceu-se antes para o matrimônio. no final, livre da máscara, com o rosto deformado, a mulher velha demônio corre pelo canavial gritando 'eu sou um ser humano, eu sou um ser humano'.
ONIBABA é um filme de terror assustador, é um filme de arte denso com uma fotografia maravilhosa e os atores sim, são bastante expressivos. ONIBABA entrou para a lista dos meus favoritos de terror de todos os tempos. não dos top 10, mas dos top 20 com certeza.
é um filme japonês, se fosse chinês jamais veria. aliás odeio os chineses depois de conhecer esse último que me demitiu e, o starbucks não deveria importar da china as suas lindas canecas que são vendidas por R$ 39,00. por esse preço eles poderiam importá-las da europa e, deixaram de vender uma caneca para esse simpático portuguesinho que os escreve.
só para constar: 'alice sweet alice' (1976) e 'o exorcista 2 - o herege' (1977) são dois dos dvd´s que comprei e são ruins para cacete. não deixe de perdê-los.
7 de out. de 2010
EU MATEI MINHA MÃE (J’AI TUÉ MA MÈRE)
hoje fui ver o 'eu matei minha mãe (j´ai tué ma mére)' na seção das 22 horas do espaço unibanco do shopping frei caneca. antes, acordei ás 13 horas no maior bode! isso porque coloquei o celular para despertar a fim de não perder o jogo de voleibol da seleção brasileira. ouvi a parte final do jogo enquanto tentava levantar da cama, enquanto minha gata siamesa (cada vez mais inconveniente) miava pedindo para eu abrir a porta do quarto, para que ela então pudesse vagabundar um pouco. na noite anterior, eu já havia deixado a porta aberta para sua livre circulação mesmo temendo a entrada de um espítiro ruim, um ladrão ou sei lá o quê. não gosto de dormir com a porta aberta. mamãe fez o favor de fechar a porta novamente pela manhã, proporcionando assim, o meu despertar pela manhã mais pelos miados da gata do que pelo despertador do celular.
pois bem, ao andar pela casa senti que estava com um dor nas costas danada. acho que foi porque dormi de mal jeito, tudo porque tinha que equilibrar o remédio que pinguei dentro do ouvido na noite passada... mas que bela bosta! tive de desmarcar um encontro com um garoto por causa dessa dor. também achei que estivesse no início de uma gripe forte. felizmente, estava enganado.
perambulei pela cidade. fui ao mcdonald's e encontrei o prezado senhor fábio cruz quando saía de lá. 'o que você comeu?' ele perguntou. "o mesmo que você está comendo" apontei para a mesa dele. 'você voltou a comer carne? por isso que está gordo desse jeito!'. ao invés de começar a chorar, disse apenas "que engraçado... quando eu era vegetariano e mais magro, trepava bem menos" e fui para a minha sessão.
esse 'eu matei minha mãe' eu já queria ter visto na mostra internacional do ano passado, mas acabei tendo de optar. acabei indo ver o 'todos com quem dormi' com o insuportável do meu ex namorado, o que me garantiu uma carona para casa. má escolha... devia ter ido ver esse.
só descobri que o filme era canadense depois de acessar a internet para copiar a foto que ilustra essa postagem. é um filme franco canadense, achei que fosse francês. fora a extrema beleza dos atores, que lembra muito as pessoas da zona leste de são paulo, o filme ofereceu mais do que beleza. os diálogos eram bastante intensos, tanto que julguei minha relação com a minha mãe até apreciável comparando com o conflito entre os protagonistas do filme, mãe e filho. não consegui me imaginar dando descarga na minha mãe durante toda a projeção, os diálogos eram de fato intensos e as interpretações apreciáveis, ao meu ver.
desnecessário dizer que o personagem protagonista, hubert, era homossexual e mantinha um relacionamento com antoine, outro garoto de 16 anos. desconfio que o mesmo foi mandado para um colégio interno depois de a mãe descobrir sobre a homossexualidade do filho, mas tudo isso chega a ser secundário perto da força do conflito exposto pela película. assumi o lugar da mãe, bem mais do que o do filho, mesmo sendo homossexual e não fazer tanto tempo assim que tive 16 anos de idade. também me lembro o quanto era imaturo e desagradável quando tinha essa idade e o quanto deve ser difícil ser mãe (óóó...).
é o segundo filme franco canadense que aprecio bastante. o outro se chama 'a oeste de plutão', que vi na mostra internacional no ano passado. 'eu matei minha mãe' está em cartaz nos principais cinemas da região da consolação, e eu recomendo, eu apoio.
adoro pegar o último metrô para voltar para casa. minha dor nas costa ainda não melhorou. vou passar pomada, tomar outra aspirina e dormir (o quanto gata permitir).
3 de out. de 2010
BICHAS VOTANTES
votarei amanhã.
me obrigaram.
vou andar de bicicleta amanhã de manhã no parque vila lobos, mas infelizmente terei de ir votar á tarde, comprometendo assim a excelência do meu domingo.
em quem?
essa semana discuti sobre o assunto no facebook e observei outras opiniões também. vejam:
hugo guimarães: detesto política.
porém ás vesperas da eleição, vou opinar: os partidos que aceitaram as bizarras candidaturas do tiririca e da mulher pêra são da coligação da senhora dilma roussef, além de ela ser apoiada pelo nosso presidente que se vangloria por não ter curso superior e mal saber falar português. eu ME FODI na facul...dade para conseguir um maldito diploma e acho um absurdo o presidente da república não ter um
leandro hainis gosta disso :)
hugo guimarães: votaria com certeza na senhora marina silva porque acho a postura dela exemplar e também acho ela a candidata mais bem preparada. porém, eu como homossexual não posso dar meu voto para uma mulher evangélica.
portanto, só me resta votar no senhor JOSÉ SERRA no domingo.
thiago silva gosta disso :)
marcelo savignano: Hugo, querido. uma coisa nao tem nada a ver com a outra. Eu tbm sou gay e vou votar na Marina Silva para presidente! PSDB nao, ne?
alessandro feitosa: Eu tambem...gayzão e vou votar na Marina 43! XD
eduardo modesto: Perdoe a intromissão, mas é fato: Ninguém governa sozinho.. a população gay do país é gigante, e embora não ache que seja o caso, mesmo que ela quisesse prejudicar ou atrapalhar o bom andamento de propostas que favoreça o público gay do Brasil, não ia conseguir.
hugo guimarães: marcelo, alessandro, eduardo: obrigado pelos comentários, vou refletir um pouco mais.
marcos dias: PSDB never
gustavo joris: Meu, a Marina é crente, gente, acorda! Ela vai continuar fingindo que gay não existe!
lipe rowe: É, Marina não róla pra mim não, a crença fala BEM mais alto nas decisões, sinceramente.
hugo guimarães (homem facilmente manipulável): Isso é verdade. O que ela puder fazer contra os homossexuais, ela fará. Mesmo sendo o melhor para o país, ela não é o melhor para mim.
vou votar naquele careca do serra mesmo.
gustavo joris: eu acho que o PT avançaria os direitos dos gays antes que o Serra, mas acho que no fim das contas rolará independetemente de quem estiver no poder, sendo apenas questão de tempo já que se trata de uma tendência ocidental.
hugo guimarães: a dilma parece com o meu pai. não me sentiria bem votando nela.
marcelo savignano: Reduzir a política de um Estado aos direitos civis dos gays é muita ingenuidade, para não dizer amadorismo ou provincianismo; assim como reduzir o histórico político da Dilma no PT à sua ficha criminal dos tempos da ditadura!
No caso da Mari...na Silva, os seus dogmas morais, ou melhor, religiosos, não interferem em nada no programa político do PV de um Brasil urgente de reformas fiscais e de reforma agrária, além de sua grande e visionária plataforma política de desenvolvimentismo sustentável.
Também é preciso dizer que muitos políticos que se lançam sob a chancela dos "direitos dos gays", na verdade, utilizam-se desse discurso muito mais para fortalecerem as suas campanhas eleitoreiras, e consequentemente os seus corpos de eleitores, do que para fazer alguma coisa em prol dos gays, de fato.
Por último, apesar do Brasil ser teoricamente um Estado laico, na prática, e pela reflexão historicista, nós estamos sempre muito mais próximos, e ameaçados, por políticas ecoadas do conservadorismo da Igreja Católica (com exceção da teologia da libertação) do que por políticas feitas através de alguma crença evangélica.
Poeta, poeta... Você está me saindo um poetinha reacionário e ambivalente demais (aliás, outra tradição histórica sobre os poetas e escritores brasileiros). De novo, PSDB NÃO, NÉ?
Aqui, algum esclarecimento sobre a real postura de Marina Silva: http://www.youtube.com/watch?v=NrgUeEVS2wU.
Beijos...
lipe rowe: Não é uma questão de simplesmente reduzir aos direitos dos gays, até pq uma pessoa que é da Assembléia de Deus não vai pensar somente nos direitos gays, mas vai interferir em várias outras questões a favor dos bons costumes e da boa moral, desculpe, e não caio nessa, ela pode ter as melhores intenções do mundo, mas para mim religiosos só sabem causar grandes retrocessos ao país.
lipe rowe: Serra me lembra MUITO a era FHC, também não róla, Dilma acredito que tenha mais preparo nessas questões, ou é nela ou eu anulo rs
andré fischer (grande e influente homem gay): Vou votar Verde no domingo.
21 pessoas gostam disso.
izabel guimarães (minha mãe): tome aqui uma cola, não deixe de votar no meu padrinho!
26 de set. de 2010
O ESTRANHO MUNDO DE MAURREN HIGA MAGGI
esse era um ano especial para a minha atleta favorita. ela voltava de uma atroscopia que a afastou das pistas por um ano inteiro, fez duas competições no ano mas a mais esperada delas era o Troféu Brasil. acabei em casa vendo pela televisão o triunfo de Fabiana Murer falhando em três tentativas de um novo recorde nacional de 4,90m.
acho que eu e Maurren, no final dessa temporada, fomos para casa, nostálgicos, recapitulando a presença no estranho mundo do atletismo brasileiro. eu, no estranho mundo das pessoas brancas no atletismo brasileiro.
eu tinha treze anos quando ela fez um dos dez melhores saltos em distância de todos os tempos com um incrível esforço de 7,26m no dia 26 de Julho de 1999, nas perfeitas condições para prática de saltos de Bogotá, Colômbia: Altitude e vento de 1.8 m/s. um mês depois ela ficou famosa ao vencer os jogos pan americanos de Winnipeg, Canadá, saltando bem menos e mostrando seu lindo sorriso e suas unhas pintadas com bandeiras do Brasil. Lá estava uma “entertainer” e não somente uma atleta.
eu não sabia muito sobre atletismo naquela época. mesmo essa modalidade sendo a base de todos os outros esportes e o mais incrível de todos eles, eu infelizmente nasci em um país onde jogadores de futebol assassinos são celebridades, onde pensam que automobilismo é um esporte e que Ayrton Senna é um herói.
fui informado do fracasso de Maurren nos jogos olímpicos de Sidney, Australia, apenas alguns dias depois de ela desaabar na caixa de areia com seu quadríceps contundido ainda nas eliminatórias. a excelente e assombrosa Maurren Higa Maggi não teve a importância reconhecida naquele momento específico.
então eu fui trabalhar em uma grande seguradora. então eu fui um adolescente explorado no trabalho. então eu tive gastrite. Então eu tive depressão e tive de custear meus próprios remédios com o dinheiro do meu trabalho mal pago. Ganhei muitos quilos. fiquei ausente da prática de esportes até 2003 quando entrei na faculdade. eu tinha 18 anos.
nodia 15 de junho de 2003 eu comprei um exemplar do jornal Folha de São Paulo. no caderno de esportes havia um especial sobre a Maurren. tudo porque ela tinha feito a melhor marca do mundo naquele ano e era a principal atração do XVII Troféu Brasil de Atletismo que aconteceria naquele mesmo dia. infelizmente, depois de vencer a competição ela foi flagrada em um exame antidoping para clostebol. mesmo sendo um doping involuntário, mesmo todos acreditando em sua inocência, ela recebeu uma suspensão de dois anos.
eu começava então a entender um pouco de atletismo lendo aquele jornal e apenas um dia depois tivemos todos a notícia chocante do doping. nosso país perdia um herói. o futuro era incerto para essa incrível atleta. lembro que fiquei extremamente triste vendo a chorar em entrevistas, acompanhando o caso nas semanas decorrentes. ela de fato não escapou da punição.
então eu comecei a saltar.
primeiro, no quintal da minha casa, medindo meus saltos com uma régua de 30 centímetros e vendo que eu era bom. depois na quadra da faculdade vendo que eu era realmente bom, recebendo parabéns dos meus colegas e nunca sendo superado por nenhum deles.
saltando, rompi os ligamentos do meu joelho esquerdo em 2004. Ok
logo melhorei e finalmente fui aceito no centro olímpico do Ibirapuera (no Constâncio Vaz Guimarães) na minha segunda tentativa. estava bem feliz e otimista mesmo tendo muita dificuldade para treinar: eu trabalhava de manhã das 08 ás 14 ia para a faculdade das 15 ás 18 e desembocava no Ibirapuera ás 18h30 para o treino. era muito cansativo.
etão lá estava eu treinando com todos aqueles negros. me saía melhor do que muitos deles. eles não gostavam de mim não só por ser branco, mas por ser homossexual, claro. eu não tomava banho com os outros depois do treino, porque eu sou tímido e porque eu não queria me expor a nenhuma situação desagradável. no fim do treino eu fazia um trajeto de uma hora e meia até minha casa, de ônibus. fazia isso todas as terças e quintas. eu ainda jogava handebol no time da faculdade ás segundas-feiras e voleibol ás sextas. tinha uma boa barriga, coxas e braços.
bom... tenho de terminar esse texto, certo? estou bem envergonhado... bom, eu vivo em um país onde jogadores de futebol assassinos são celebridades e onde as pessoas pensam que automobilismo é um esporte e que Ayrton Senna é um herói e ele NÃO é. não pude continuar treinando por causa disso. diz tudo.
então eu fui para casa.
então Maurren Higa Maggi saiu de casa em um belo dia do ano de 2005 e foi para a pista dizendo que queria voltar a treinar, depois de ter acabado o período de punição, depois de ter tido um bebê. virei tiete novamente. e então ela se tornou a primeira mulher brasileira campeã olímpica em prova individual da história. então eu não fiquei tão decepcionado assim no último domingo. então, não estou mais decepcionado.
18 de set. de 2010
BARBIE KILL
muito boa tarde, senhores churrasqueiros.
o email da juju mostra que o absurdo se tornou realidade. "churrasco nas dependências da empresa das 13 ás 17"
eu e a Yuri já estamos organizando a jogatina, o que caracteriza crime; por isso teremos uma advertência na segunda feira, graças á deus.
beatriz:
nós achamos que a senhorita deveria parar de tomar água de côco e vir buscar a sua carta de referência na sexta feira ás 14h00. assim você fará a juju trabalhar em pleno churrasco e ainda pode pegar carona no mesmo e ficar aqui jogando truco conosco até ás 17h00. além do mais você poderá desejar feliz aniversário para a igloo e trazer para ela um bolo em formato de igloo (será muito gentil da sua parte).
PROGRAMA DO CHURRASCO 2010!!!!!!
BEBEDEIRA DE HOMENS DESCLASSIFICADOS DA LOGÍSTICA
JOGATINA AGRESSIVA (COM DIREITO Á COLAGEM DE ZAP NA TESTA)
ZOAÇÃO COM A IGLOO
COMILANÇA DE CARNE DE CACHORRO, JACARÉ E OUTROS ANIMAIS PESTILENTOS DE ACORDO COM A CULTURA CHINESA
GANHAGEM DE BOLAS VAGABUNDAS DA ROSANA
DEMONSTRAÇÃO DE BRINQUEDOS HORROROSOS DA CHINA
FOFOCAGEM SEM LIMITES E SEM NENHUM BOM SENSO
DESLIGAGEM DE BEBEDOURO DIVERSAS VEZES DURANTE Á TARDE
CHUTAGEM DE BEBEDOURO PARA VER SE O MOTOR QUEBRA
YURI DEMONSTRANDO A DANÇA LAMBADA DANÇANDO COXA COM COXA COM O HONGZUO TENG
DESFILE DE ROUPAGEM DA JESUÍTA
'PARABÉNS A VOCÊ' PARA A IGLOO
SUJAGEM DE MESA COM LÁPIS E CANETÃO PARA O JOÃO DE BARRO LIMPAR
PEDAÇOS DE CARNE, GORDURA, LINGUIÇAS, PÃO, VINAGRETE E MAIONESE PELO CHÃO DE TODA A DEPENDÊNCIA DA EMPRESAAAAAAAAA
MATAGEM DOS GATOS QUE CIRCULAM PELA PORTARIA PARA INCLUIR NO CHURRASCO
CHUPAGEM NA LINGUIÇA DO SENHOR LUÍS PELA SENHORA JESUÍTA
OFICIALIZAÇÃO DO ROMANCE VIVIDO PELA IGLOO COM O SR INCRÍVEL
PASSAGEM DE GELÉIA NAS CARAS DE BOLACHA DA DONA BOCHECHA 1 E 2
ESPIONAGEM DE DONA BOCHECHA 1 E 2 NOS GRUPINHOS FORMADOS PARA POSTERIOR ADVERTÊNCIA E QUEIMAÇÃO DE FILME
INSERÇÃO DE LACRE DE CONTAINER NO BOLO DE ANIVERSÁRIO DA IGLOO
LEMBRANDO QUE TUDO ISSO ACONTECERÁ AO SOM DO CANTO DE JOÃO DE BARRO E STEVIE WONDER AO PIANO!!!!!!!!!!!!!!
6 de set. de 2010
BENTO RIBEIRO EM ALEXANDRIA
esse é o conto incluído do especial "manuscritos de alexandria" feito pelo marcelino freire e que está no ar no site da revista zunai. para + :
http://www.revistazunai.com/contos/index.htm
MINHA CAMA COM BENTO RIBEIRO
Hugo Guimarães
Eu me mumifico embaixo do cobertor e minha gata de cinco quilos descansa sobre o meu pescoço. Ela é um cachecol vivo. Eu finjo que são os braços de Bento Ribeiro. Eu sei que não são, assim como minha gata pesa três quilos e meio e essa porcentagem de peso a mais que me referi é a porcentagem do meu corpo que necessita o Bento. Ele me enforca. Não é exatamente o mesmo, mas é uma sensação. Ela anda sobre mim. E seus pés viram os braços dele como um asterisco vira uma tarântula. Eu sinto seus braços. Ele veleja sobre mim.
Quando eu deito aqui com o Bento nessa cama, não há Aspirina pouca que não funcione. Não há falta de Depakote que machuque. Não há variedade de Tamiflu que me assuste. Minha cabeça facilmente viaja enquanto várias coisas são azuis: Meu cobertor, a TV no escuro e os olhos da minha gata. Todo o azul está no olho azul dele onde todo esse quarto repousa e veleja dentro de uma meia lua azul.
Eu esfrego meus joelhos na cama. E eu movo como eu nado. Ele nem mesmo está nas minhas costas e eu o vejo pulando da TV imaginando como seria levar uma gozada de um homem daquele. Eu já engoli, eu já tenho o gosto de leite na minha mente, é crônico. E eu nado, nado... Ele só diz “Deixe o seu passado de orgias”. Ele não diz coisas como “Chegue mais perto do meu coração para saber o quanto sinto sua falta”. Ele nem mesmo canta coisas como “If you knew how much I need you, wouldn´t stay away”. Pixies em “la la love you”. Ele é perfeito porque ele fica com a droga da boca fechada e é assim que um homem de verdade deve ser: quieto. Quieto como a porra. A porra do silêncio das dez da noite.
Quanto mais poeira queima meu nariz torto dentro desse quarto, mais o mau parece estar do lado de fora, mãe. A porta do meu quarto com um pedaço quebrado porque eu não consegui ouvir meu pai quando ele me chamou. Havia música dos Pixies ecoando por todo o quarto quando ele quebrou a porta. Agora estamos em silêncio: eu, minha gata e o Bento Ribeiro. Estamos rodeados pela nuvem nociva de poeira que meu olho não pode ver, não tolera, não consegue mais: Meu pai e minha mãe.
“Pronto, mestre” como um cão obediente. Os trabalhos do meu intestino grosso obedecem ao seu trabalho. Não há merda nessa cama, nesse ensolarado novo dia, nesse fresco dia. Eu lavei meu cu e você me falou sobre a arte de lamber cu, Bento. Falou sobre a arte da pele lisa. Então eu fui até o lugar onde fazem isso. Fui depilar a coisa toda. Não há muitos lugares para depilar homens nessa bosta de cidade. Quase não há lugar para ficar bem liso nesse maldito país de três raças tristes. Poucos lugares para homens macios aqui nessa distância de Copenhagen. Nessa merda.
Sabe, eu nunca soube quais são as três raças tristes desse país... Eu pensei que era tudo uma tristeza só. Pensei que todos eram tristes. E no estúdio de depilação havia uma mulher escura horrenda. Grotesca como a forma que ela puxava a cera, mas lá eu estava finalmente, liso para o homem. Eu disse “Tenho um presente” e ele não estragaria tudo indo tão rápido assustando os trabalhos do meu intestino grosso. Ele tomou toda a sua cerveja preta no carro comigo. Um longo e longo beijo e eu estava com muita e muita dor de cabeça.
Muito idêntico sexo anal depois, eu disse á mim mesmo que não me importo com o futuro. Eu sou um animal. Eu sou um vendedor de sorvete. Eu sou um fã do Leonard Cohen (Ó, Meu Deus!). Quando meu vinil pulava enquanto ele cantava “Suzanne”, ele falava sobre Jesus. E Jesus era um vendedor. E eu era um vendedor de sorvete, eu era um vendedor de vinil, eu era um vendedor de coisas inúteis e sem valor, fadado á pobreza e á voltar para o meu marido rico. Bento, você é um animal também. E essa animalesca pobreza poderia ser amor, amor! Mas vim á saber que Jesus não era um vendedor, Jesus era um velejador em “Suzanne” quando o apático MP3 chegou em nossas vidas.
Então não éramos mais nada, sem nenhuma magia: eu era um velejador de sorvete, velejando sobre o seu tórax e sua barriga com todo o creme branco e doce. Velejando com a minha boca. Velejando sobre a sua saliva e suas ejaculações sucessivas, suas numerosas forçadas ejaculações. Essa barriga ficará seca. Esse oceano secará. Minha visão será melada e eu virarei um trator. Vou mastigar o seu mais seco dos paus. Eu vou ser um velejador de vinil... Na verdade não serei, isso é coisa para delinqüente.
Velejada. Não haverá velejada. Não se sou um pássaro preto trazendo comida para a sua boca rosa. Haverá vendas. Vendas porque a baía é podre para velejar. É vergonha. Cadáveres boiando e é porque a água é verde. Não há ar fresco. Não há liberdade. Não há homem salgado sem calça molhada. Fome.
A água vai podre para a baía e volta limpa para o escritório. O escritório onde eu vendo coisas para o meu aluguel e tudo mais. A água volta limpa para as fossas dos banheiros. Há paredes por todo lado. E há um homem em roupas formais. Ele se divide com um cinto porque ele é dois, contudo. Um livre e outro vendedor. Uma divisão clássica das cabeças de um homem e elas estão em lados diferentes do cinto. Esse homem tem o cabelo úmido quase o tempo todo. Eu nem mesmo sei se ele é feminino ou não. Ele coloca seu pau longo para fora e sussurra me pedindo para chupá-lo. Quatro glubs glubs, ele já goza e seu esperma pela minha garganta abaixo é uma onda, uma onda salgada. Não consegui ouvir a voz dele e ele não pode nadar. “Obrigado por nada” é o que o seu dedão e sua boca esticada de desaprovação me dizem. E eu digo “Volte ao trabalho” com a minha piscada e o meu sorriso falso.
Tudo em seu devido lugar assim como eu posso imaginar a foda dupla: O diretor e o faxineiro me fodendo. O diretor fode minha boca e o faxineiro fode meu cu. Por quê? O cu é sujo e a boca pode dizer coisas, tem voz. O diretor goza no chão e eu cago na camisinha do faxineiro. E ele tem que limpar tudo. Mas não há diferença, não há privilégio nesse selvagem lugar chamado escritório, tudo aqui é justo: o diretor e o faxineiro tinham paus do mesmo tamanho.
Eu volto para casa ao pôr-do-sol e nenhum pau é mais gostoso que o do Bento Ribeiro. Nessa casa. Nessa cama. Então eu fui comprar coisas para ela.
Mais uma queda da noite e mais treino para engolir esperma. Mestre ao fundo. De novo o espancamento seguido pelo derramamento na goela abaixo. Outro dia, foi o teste de sangue: De novo a ação bareback, mas era o casamento da tal ação. Tão mal abençoada como casamentos religiosos: houve foda antes. Houve outro bareback antes. Viemos do doutor para casa como um trem-bala. Uma foda de estaca, de trem-bala. Um susto fácil, um susto leve, um sentimento leve.
A noite cai de novo e eu é que tenho mais uma nova velha escoriação. Seus socos quando seu pau está dentro de mim e você me vê gozando assim, enquanto você me acerta e me acerta. Um sentimento amortecido. Um sentimento velho.
Sabe, quando Elvis Presley parou de dançar balançando a pélvis daquele jeito, eu acho que nenhum homem conseguiu ser tão interessante. Os sabores são muito iguais. Eu temo que todos os homens hoje tenham o gosto do Brandon Flowers. Eles são Lego. E eu sou cego.
Na verdade eu não consigo olhar para a face deles. Eu não consigo olhar para os olhos e não se olha a face se não olhar os olhos. Mesmo quando eu vejo o Brandon na TV e seus olhos penetram a câmera e eu penso “Que homem quente...”, eu não consigo olhar para os cópias dele que andam pelas ruas. Eu não consigo olhar aqueles misteriosos homens que atravessam a rua por debaixo das pontes com a metade do sol em suas faces. Eu não consigo olhar para os olhos de um homem muito belo, porque eles se quebram como um espelho se quebraria com feiúra. Eu evito tal constrangimento. É a distância de Elvis: Os homens não conseguem se olhar nos olhos.
Então eu decidi pirar nos últimos dias, Bento. Eu entrei pelas portas da MTV tão amistosamente com a minha arma. Eu subi tão docemente pelas escadas. Eu usava botas. E eu invadi o show do Bento Ribeiro. Eu mostrei minha arma. Eu não disse nada, mas disse á garota do show: “Agora eu vou fazer o que você tem medo, sua frouxa!”. Deitei Bento no chão com a ponta da minha arma e disse “Chupa meu saco suado, seu putinho!”. Esfreguei meu saco na cara dele como nunca. Eu não o beijei, eu procurei seus dentes do fundo com a minha língua e o segurei pela mandíbula. Encontrei tais dentes e os lambi e lambi. Rasguei sua camisa e seu terno de morto e lambi seus peitos como nunca fiz. Chupei e mastiguei os mamilos como nunca. Eu tinha raiva. E eu olhei bem dentro dos olhos dele, com muita raiva. Tirei suas calças e eu nunca fui tão desavergonhado e agressivo com um pau na boca, olhando bem dentro dos olhos dele. Todos nós sabemos como chupar um pau como uma puta bem vulgar, mas temos vergonha de demonstrar tal talento. Eu não tive nenhuma, cheguei ao seu reto e ao seu ânus e ele não queria abrir as pernas. Minha língua insistia e insistia, como um inseto transportando dezenas de vezes o próprio peso. Eu me despi e meus intestinos não tinham obrigação nenhuma. Eu sentei nele e eu não murchei minha barriga. Eu não fingi nenhuma dificuldade ou dor. Eu sentei nele como uma puta. E eu senti ele gozar. Eu levantei e disse a ele “Só não caguei em você porque você é muito lindinho”. Então eu fui embora para a minha casa de arma, cuecas e botas.
Agora minha gata está tomando banho em cima de mim. A bosta dela está na areia e eu limpo quando eu quero. Essa é a minha solitária vida e eu adoro.
*
http://www.revistazunai.com/contos/index.htm
MINHA CAMA COM BENTO RIBEIRO
Hugo Guimarães
Eu me mumifico embaixo do cobertor e minha gata de cinco quilos descansa sobre o meu pescoço. Ela é um cachecol vivo. Eu finjo que são os braços de Bento Ribeiro. Eu sei que não são, assim como minha gata pesa três quilos e meio e essa porcentagem de peso a mais que me referi é a porcentagem do meu corpo que necessita o Bento. Ele me enforca. Não é exatamente o mesmo, mas é uma sensação. Ela anda sobre mim. E seus pés viram os braços dele como um asterisco vira uma tarântula. Eu sinto seus braços. Ele veleja sobre mim.
Quando eu deito aqui com o Bento nessa cama, não há Aspirina pouca que não funcione. Não há falta de Depakote que machuque. Não há variedade de Tamiflu que me assuste. Minha cabeça facilmente viaja enquanto várias coisas são azuis: Meu cobertor, a TV no escuro e os olhos da minha gata. Todo o azul está no olho azul dele onde todo esse quarto repousa e veleja dentro de uma meia lua azul.
Eu esfrego meus joelhos na cama. E eu movo como eu nado. Ele nem mesmo está nas minhas costas e eu o vejo pulando da TV imaginando como seria levar uma gozada de um homem daquele. Eu já engoli, eu já tenho o gosto de leite na minha mente, é crônico. E eu nado, nado... Ele só diz “Deixe o seu passado de orgias”. Ele não diz coisas como “Chegue mais perto do meu coração para saber o quanto sinto sua falta”. Ele nem mesmo canta coisas como “If you knew how much I need you, wouldn´t stay away”. Pixies em “la la love you”. Ele é perfeito porque ele fica com a droga da boca fechada e é assim que um homem de verdade deve ser: quieto. Quieto como a porra. A porra do silêncio das dez da noite.
Quanto mais poeira queima meu nariz torto dentro desse quarto, mais o mau parece estar do lado de fora, mãe. A porta do meu quarto com um pedaço quebrado porque eu não consegui ouvir meu pai quando ele me chamou. Havia música dos Pixies ecoando por todo o quarto quando ele quebrou a porta. Agora estamos em silêncio: eu, minha gata e o Bento Ribeiro. Estamos rodeados pela nuvem nociva de poeira que meu olho não pode ver, não tolera, não consegue mais: Meu pai e minha mãe.
“Pronto, mestre” como um cão obediente. Os trabalhos do meu intestino grosso obedecem ao seu trabalho. Não há merda nessa cama, nesse ensolarado novo dia, nesse fresco dia. Eu lavei meu cu e você me falou sobre a arte de lamber cu, Bento. Falou sobre a arte da pele lisa. Então eu fui até o lugar onde fazem isso. Fui depilar a coisa toda. Não há muitos lugares para depilar homens nessa bosta de cidade. Quase não há lugar para ficar bem liso nesse maldito país de três raças tristes. Poucos lugares para homens macios aqui nessa distância de Copenhagen. Nessa merda.
Sabe, eu nunca soube quais são as três raças tristes desse país... Eu pensei que era tudo uma tristeza só. Pensei que todos eram tristes. E no estúdio de depilação havia uma mulher escura horrenda. Grotesca como a forma que ela puxava a cera, mas lá eu estava finalmente, liso para o homem. Eu disse “Tenho um presente” e ele não estragaria tudo indo tão rápido assustando os trabalhos do meu intestino grosso. Ele tomou toda a sua cerveja preta no carro comigo. Um longo e longo beijo e eu estava com muita e muita dor de cabeça.
Muito idêntico sexo anal depois, eu disse á mim mesmo que não me importo com o futuro. Eu sou um animal. Eu sou um vendedor de sorvete. Eu sou um fã do Leonard Cohen (Ó, Meu Deus!). Quando meu vinil pulava enquanto ele cantava “Suzanne”, ele falava sobre Jesus. E Jesus era um vendedor. E eu era um vendedor de sorvete, eu era um vendedor de vinil, eu era um vendedor de coisas inúteis e sem valor, fadado á pobreza e á voltar para o meu marido rico. Bento, você é um animal também. E essa animalesca pobreza poderia ser amor, amor! Mas vim á saber que Jesus não era um vendedor, Jesus era um velejador em “Suzanne” quando o apático MP3 chegou em nossas vidas.
Então não éramos mais nada, sem nenhuma magia: eu era um velejador de sorvete, velejando sobre o seu tórax e sua barriga com todo o creme branco e doce. Velejando com a minha boca. Velejando sobre a sua saliva e suas ejaculações sucessivas, suas numerosas forçadas ejaculações. Essa barriga ficará seca. Esse oceano secará. Minha visão será melada e eu virarei um trator. Vou mastigar o seu mais seco dos paus. Eu vou ser um velejador de vinil... Na verdade não serei, isso é coisa para delinqüente.
Velejada. Não haverá velejada. Não se sou um pássaro preto trazendo comida para a sua boca rosa. Haverá vendas. Vendas porque a baía é podre para velejar. É vergonha. Cadáveres boiando e é porque a água é verde. Não há ar fresco. Não há liberdade. Não há homem salgado sem calça molhada. Fome.
A água vai podre para a baía e volta limpa para o escritório. O escritório onde eu vendo coisas para o meu aluguel e tudo mais. A água volta limpa para as fossas dos banheiros. Há paredes por todo lado. E há um homem em roupas formais. Ele se divide com um cinto porque ele é dois, contudo. Um livre e outro vendedor. Uma divisão clássica das cabeças de um homem e elas estão em lados diferentes do cinto. Esse homem tem o cabelo úmido quase o tempo todo. Eu nem mesmo sei se ele é feminino ou não. Ele coloca seu pau longo para fora e sussurra me pedindo para chupá-lo. Quatro glubs glubs, ele já goza e seu esperma pela minha garganta abaixo é uma onda, uma onda salgada. Não consegui ouvir a voz dele e ele não pode nadar. “Obrigado por nada” é o que o seu dedão e sua boca esticada de desaprovação me dizem. E eu digo “Volte ao trabalho” com a minha piscada e o meu sorriso falso.
Tudo em seu devido lugar assim como eu posso imaginar a foda dupla: O diretor e o faxineiro me fodendo. O diretor fode minha boca e o faxineiro fode meu cu. Por quê? O cu é sujo e a boca pode dizer coisas, tem voz. O diretor goza no chão e eu cago na camisinha do faxineiro. E ele tem que limpar tudo. Mas não há diferença, não há privilégio nesse selvagem lugar chamado escritório, tudo aqui é justo: o diretor e o faxineiro tinham paus do mesmo tamanho.
Eu volto para casa ao pôr-do-sol e nenhum pau é mais gostoso que o do Bento Ribeiro. Nessa casa. Nessa cama. Então eu fui comprar coisas para ela.
Mais uma queda da noite e mais treino para engolir esperma. Mestre ao fundo. De novo o espancamento seguido pelo derramamento na goela abaixo. Outro dia, foi o teste de sangue: De novo a ação bareback, mas era o casamento da tal ação. Tão mal abençoada como casamentos religiosos: houve foda antes. Houve outro bareback antes. Viemos do doutor para casa como um trem-bala. Uma foda de estaca, de trem-bala. Um susto fácil, um susto leve, um sentimento leve.
A noite cai de novo e eu é que tenho mais uma nova velha escoriação. Seus socos quando seu pau está dentro de mim e você me vê gozando assim, enquanto você me acerta e me acerta. Um sentimento amortecido. Um sentimento velho.
Sabe, quando Elvis Presley parou de dançar balançando a pélvis daquele jeito, eu acho que nenhum homem conseguiu ser tão interessante. Os sabores são muito iguais. Eu temo que todos os homens hoje tenham o gosto do Brandon Flowers. Eles são Lego. E eu sou cego.
Na verdade eu não consigo olhar para a face deles. Eu não consigo olhar para os olhos e não se olha a face se não olhar os olhos. Mesmo quando eu vejo o Brandon na TV e seus olhos penetram a câmera e eu penso “Que homem quente...”, eu não consigo olhar para os cópias dele que andam pelas ruas. Eu não consigo olhar aqueles misteriosos homens que atravessam a rua por debaixo das pontes com a metade do sol em suas faces. Eu não consigo olhar para os olhos de um homem muito belo, porque eles se quebram como um espelho se quebraria com feiúra. Eu evito tal constrangimento. É a distância de Elvis: Os homens não conseguem se olhar nos olhos.
Então eu decidi pirar nos últimos dias, Bento. Eu entrei pelas portas da MTV tão amistosamente com a minha arma. Eu subi tão docemente pelas escadas. Eu usava botas. E eu invadi o show do Bento Ribeiro. Eu mostrei minha arma. Eu não disse nada, mas disse á garota do show: “Agora eu vou fazer o que você tem medo, sua frouxa!”. Deitei Bento no chão com a ponta da minha arma e disse “Chupa meu saco suado, seu putinho!”. Esfreguei meu saco na cara dele como nunca. Eu não o beijei, eu procurei seus dentes do fundo com a minha língua e o segurei pela mandíbula. Encontrei tais dentes e os lambi e lambi. Rasguei sua camisa e seu terno de morto e lambi seus peitos como nunca fiz. Chupei e mastiguei os mamilos como nunca. Eu tinha raiva. E eu olhei bem dentro dos olhos dele, com muita raiva. Tirei suas calças e eu nunca fui tão desavergonhado e agressivo com um pau na boca, olhando bem dentro dos olhos dele. Todos nós sabemos como chupar um pau como uma puta bem vulgar, mas temos vergonha de demonstrar tal talento. Eu não tive nenhuma, cheguei ao seu reto e ao seu ânus e ele não queria abrir as pernas. Minha língua insistia e insistia, como um inseto transportando dezenas de vezes o próprio peso. Eu me despi e meus intestinos não tinham obrigação nenhuma. Eu sentei nele e eu não murchei minha barriga. Eu não fingi nenhuma dificuldade ou dor. Eu sentei nele como uma puta. E eu senti ele gozar. Eu levantei e disse a ele “Só não caguei em você porque você é muito lindinho”. Então eu fui embora para a minha casa de arma, cuecas e botas.
Agora minha gata está tomando banho em cima de mim. A bosta dela está na areia e eu limpo quando eu quero. Essa é a minha solitária vida e eu adoro.
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4 de set. de 2010
UM DIA NA VIDA
hugo guimarães
27.08.2010
09h08
abertura de planilha de atividades diárias 27.08.2010
checagem inicial de email
bilhetagem, risadas
atrasos frequentes
cumprimento de advertência
churrascos podres
contenção de desejo de assassinato
rastreamento constante e estressante de bolas coloridas da rosana
revolta
ira
vontade de dormir
vontade de ir embora
almoço despedida da beatriz
volta ao trabalho com lágrimas escorrendo pelo rosto
criação de documento para dispensa vitalícia de beatriz
cancelamento da férias da igloo
checagem de emails de piadas da eliane
bla bla bla
consulta de disponibilidade de pagamento com a juju
certeza de pagamento só depois da meia noite
comida de rabo da senhorita bochecha na senhorita yuri
revolta
ira
desbunde
sono
início de planejamento de greve geral da importação
arquitetura de plano de furagem de todas as bolas coloridas da rosana
tomagem de café
tomagem de água
tomagem de chá
começão de waffle de limão que a senhorita yuri trouxe irresponsavelmente, ignorando minha necessidade de regime
planejamento de agressão super violenta contra a 'guarda chuva aberto'
tiragem de maçãs da mochila
boicotagem junto á transportadora para evitar o recebimento das bolas da rosana
contratação do comando vermelho para interceptar a carga de bolas da rosana
distribuição das bolas da rosana na favela do buraco quente para crianças carentes
enrolação até a hora de ir embora
corrida para a porta depois do sinal
tchau.
27.08.2010
09h08
abertura de planilha de atividades diárias 27.08.2010
checagem inicial de email
bilhetagem, risadas
atrasos frequentes
cumprimento de advertência
churrascos podres
contenção de desejo de assassinato
rastreamento constante e estressante de bolas coloridas da rosana
revolta
ira
vontade de dormir
vontade de ir embora
almoço despedida da beatriz
volta ao trabalho com lágrimas escorrendo pelo rosto
criação de documento para dispensa vitalícia de beatriz
cancelamento da férias da igloo
checagem de emails de piadas da eliane
bla bla bla
consulta de disponibilidade de pagamento com a juju
certeza de pagamento só depois da meia noite
comida de rabo da senhorita bochecha na senhorita yuri
revolta
ira
desbunde
sono
início de planejamento de greve geral da importação
arquitetura de plano de furagem de todas as bolas coloridas da rosana
tomagem de café
tomagem de água
tomagem de chá
começão de waffle de limão que a senhorita yuri trouxe irresponsavelmente, ignorando minha necessidade de regime
planejamento de agressão super violenta contra a 'guarda chuva aberto'
tiragem de maçãs da mochila
boicotagem junto á transportadora para evitar o recebimento das bolas da rosana
contratação do comando vermelho para interceptar a carga de bolas da rosana
distribuição das bolas da rosana na favela do buraco quente para crianças carentes
enrolação até a hora de ir embora
corrida para a porta depois do sinal
tchau.
28 de ago. de 2010
"recebendo kate moss" crônica minha publicada na revista junior#20 deste mês de agosto.
“recebendo kate moss”
hugo guimarães
Ás vezes me sentia como parte de trigêmeos siameses gays. Alemão, Hans, pronunciado como “hanshsh” um chihuahua dizendo “hanshsh” na minha boca pequena.
Meus dois irmãos gays grudados em mim eram os mais felizes exemplos da homossexualidade que já vi. Percebi então, que nasci sozinho.
Habitei a parte mais escura do útero. Meus irmãos cresciam se tocando embaixo de cachoeiras de proteína e suas cabeças não desgrudaram quando nasceram e eu só os carregava no corpo. Os garotos ganhando luz neon e todos aqueles gritos me disseram que eu começava uma vida quieta.
Então comecei a tocar o mundo com os pés com meus irmãos como uma centopéia enquanto pessoas tinham garotos gays esmagados embaixo dos sapatos por que não queriam ouvi-los. Mas meus irmãos gritavam, eles riam tão alto que eu não podia processar tanta empatia.
Meu coração murchava. Temia que pudesse cair como um nariz canceroso de um corpo, tendendo a ser uma peça morta balançando, um irmão morto, tendendo a acabar com a felicidade. Então, eles olhariam para mim.
Desisti de falar.
Temia por meus irmãos. Uma carnificina - É como as pessoas enxergam gays se conectando. Mas já somos uma carnificina grudada, elas não precisam imaginar nada pior. Nossos assassinatos não seriam feios. As pessoas só se livrariam de nós para evitar em ser o próximo molestado, parodiado, tocado, recrutado... Mas iria doer.
Eu vivia nessa carnificina ate encontrar Kate Moss. Até eu começar a observar o parto de Kate Moss. Até eu começar a me confundir sobre como eu queria ser tocado pelas louras robóticas da TV. Eu só sabia que era crime colorir meus cabelos.
Eu vivia uma vida heterossexual quieta comigo mesmo. Tentava empurrar minha alma fantasmagórica e coagulada pelas minhas entranhas abaixo, por que ela se alimentava da felicidade dos meus irmãos. Eu só queria mesmo nascer de novo em outro corpo observando o corpo da Kate ensangüentado e bizarro em um parto de um adulto. Era como ela estava vinda a mim.
Eu disse adeus para os meus irmãos. Eu disse adeus para minha mãe e disse a ela para limpar a sujeira dos sapatos por que eu não precisava cheirá-la para saber que é ruim ser gay.
Eu estava iluminado por raios de fogo enquanto via o castelo queimar. Sua mãe rastejando em fuga por ela não ser necessária mais, por ela estar nascendo somente das luzes.
Chovia dentro de mim. Meu lago azul e invernal no estômago a esperava para que pudesse se lavar, se esfriar, boiar.
O parto era tão vagaroso e iluminado como o elevador quebrado da torre Eiffel. Todas aquelas luzes dando a vida e fios a nutrindo e queimando algumas de suas partes com açúcar escuro.
Ela crescia. Desgrudava-se grandiosamente como a lua de queijo perdendo um pedaço.
Seus finais banhos de sangue fizeram em me sentir impossível... Quando ela se levantou monstruosamente, imponente como Nosferatu, eu era insignificante... É como uma garota senta em você.
As fumaças pretas finais, os cometas. Eu estava familiarizado quando ela matou sua mãe. Mas quando eu finalmente a vi por completo, eu ainda tinha um corpo.
As estrelas começaram a explodir e ela estava virando ouro. Olhando para os meus olhos em lágrimas como rabos dos cometas, ela disse:
– Você precisa se libertar, não pode ser um veado imbecil.
Cristo andava sobre as águas e Kate movia os braços:
– Venha comigo... Venha comigo...
Eu não esqueço aquele dia. Eu tinha uma faca de cortar bois no meu bolso e eu podia me separar dos meus irmãos gays. Eu podia fazer um vale de sangue abaixo daquelas montanhas de carnificina que eram nossos corpos e finalmente todas as lágrimas de gozo desceriam do topo com o verão amarelo como uma garota.
Kate se vestiu quando a manhã chegou e olhava pela janela.
O tempo passou tão rápido quanto o tempo em que uma garota vai embora.
Eu decidi não usar a faca de cortar bois simplesmente por que eu não posso matar a mim mesmo.
Kate sacou seu batom vermelho e ele se tornou seu companheiro. Ela disse que não podia sorrir ou não podia sorrir para ninguém que não se matasse por ela. É por isso que você a observa assim.
Eu deixei Kate ir e me tornei um veado para sempre.
"recebendo kate moss" faz parte do meu livro inédito de contos que estou quase terminando e ainda não estou certo do título. ele estará pronto em tempo de ser inscrito no prêmio sesc de literatura deste ano.
21 de ago. de 2010
POESIA GAY UNDERGROUND: HISTÓRIA E GLÓRIA
"impressões interiores"
matéria de edson pielechovski sobre meu primeiro livro "poesia gay underground: história e glória" de 2008.
Quem era aquele moço semi-nu na resenha da Mix Brasil? Poesia ainda era algo estritamente diletante antes que meu primeiro e-mail lhe fosse enviado, solicitando seu trabalho. De vez em quando eu recebia edições independentes de seus peculiares versos que, agregados a escritos inéditos, culminaram no livro "Poesia Gay Underground: História e Glória" - lançado pela coleção da DIX editorial, da editora Annablume.
Como todo bom artista, biográfico, ele tem estilo às vezes elegíaco, ou escatológico...
Foi no ano de 2006 que comecei a acompanhar sua paidea interior de personalíssimos frames. Procurei sempre não me ater apenas a seu aspecto gay, pelo fato d´eu não escolher minhas preferências culturais segundo os rizomas classificatórios que emaranham patrimônios intelectuais de maneira que muitos leitores deixem de considerar material de qualidade. Hugo Guimarães perpassa o gênero LGBT com uma complexa designação narrativa, bem resolvida, objetiva e pouco barroca. É nesse ponto que, provando ser um poeta que transcende em vida - segundo ele próprio diz em um de seus poemas - ele classifica e modifica as coisas ao seu redor, sempre atento ao que deixa guardado para um documento futuro, quando os signos em questão estiverem pasteurizados no resultado final do leite de suas ruminações, mesmo que ele diga já ter bebido todo o conteúdo possível...
Sua divertida e aderente maneira de expressão pode ter seu lado mais profundo despercebido. O que ele tem de tradição e ruptura é uma voz blasé, de beesha ativa (literariamente falando), decididamente pragmática - nisso semelhante a da portuguesa Adília Lopes; voz essa que, sempre rebelando-se contra cada verso anterior, surpreende e enterra uma idéia que nem chegou a esfriar, embora ainda formalmente ligada à proposta geral do corpo do poema (93% das vezes uma mini-estorinha).
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"Eu pus uma garrafa no meu cu
Para se uma mente suja tentar
Dizer alguma merda
O som morrer.
.
Meu cu viajou para um lugar longínquo
Eu disse que ele era um planeta morto
Mas agora eu digo que ele só está em processo de beleza
Ecoando, sozinho e lindo."
.
..
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Sem prejudicar a compreensão da leitura, a duração dos poemas reflete o suicídio involuntário da moral, como se estivesse de cabeça pra baixo, aquilo que uma vez o poeta disse ser impressão interior é na verdade a derrocada de arquétipos aceitáveis em uma sociedade hipócrita. Como sob uma pele de pobre mística, que vai sendo arranhada e marginalizada, vemos o esqueleto de sua libertadora, construtiva rima interior, bem-humorada e jamais fosca. Nem mesmo seus pais escapam, um tema recorrente, como se estes fossem os filhos, analisados e redirecionados, sem pudor, a uma superação trágico-cômica que usa e abusa do Édipo, ao longo de raríssimos constrangimentos. Resolutamente lamentado, o patriarcalismo é visto através de fracassados sujeitos sob um céu de estômago. Hugo está longe de se sentir culpado por um amor mal-consumado. Nessa particularidade o artista mais do que nunca demonstra que, embora ainda muito jovem, já está acima de qualquer suspeita formado em base firme. A problemática familiar não tem a gravidade sugerida e sutilmente camuflada nos dramas pessoais que tanto adoram explorar e (semi) divulgar relatos da vida real no labirinto do desejo do ego. O amor é tratado em diversas camadas, (como nos graus de 1 a 5, segundo a psicologia) Hugo Guimarães não só sabe que todo homem tem tendências homossexuais, como também ri e cobra por isso. O tesão mais enrustido não lhe escapa, sendo arrombado e repercutido em todos os outros teores sexuais ainda idealizados, porém já antecipadamente fadados em seus amantes.
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"Pit boys
Vão me espetar numa cruz
Vou gozar mais
Ou menos?"
.
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A frustração não deixa-se seduzir por um alegre pessimismo, saudável: nesse ponto encontrando uma espécie de iluminação nietzschiana, estabelecendo um lugar comum aos famigerados e ridículos apelidos a um derredor de ratos, TV, sadismo, peixes, perspicácias dos intuitos aspirantes ao sucesso... tudo visto por olhos que, sentados e tranquilos, como num trono, vão ordenando o desfile das ilusões rumo ao abismo.
Poderia ser um bestiário fisiológico a contribuição de seu chocante álbum de imagens. Segundo o que já disse uma análise anterior, seu bom gosto não crê na etiqueta culta e ascética. Sendo almodovariano, inusitado, ele cria culinária nova.
O sabor e o peso do concretismo é seminal, gelado, levado nas costas, quando ele não está a doá-lo aos garotos ao contrário (falsos heteros); drenando, secando e petrificando-os o poeta se vinga dos baixos graus de homossexualidade com uma fina malícia subtextual às coisas mais prosaicas e/ou rotineiras, como um simples chek-up.
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"Eu disse à mama 'tchau' e ela disse 'boa sorte'
Eu fui ao médico e ele era lindo
Ele era gentil, ele tocou meu joelho
E eu disse 'quer casar comigo?'
Ele estendeu sua mão e me disse que a vida é linda"
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Se vemos o mais alto grau de afetação típico das bibas que freqüentam a buatchy A Loca, Del Candeias poderia cair de amores e introduziria o ainda pouco conhecido poeta no mundinho literário em uma jornada pelos tipos mais bizarros da noite urbana...
Seu lado espiritual também é exercitado, andando com um "cavalo no pescoço" - Platão lhe segue, todo arregaçado. Abusando e logo descartando as figuras de Jesus Cristo, Lúcifer, Bob Dylan... Todas suas influências o acompanham de modo pouco óbvio, tanto é que sua escolha por um cardápio mais carnal e auto-narrativo oferece um passado literário, como em filmes de terror e rock n´ roll, apenas na forma de mera colagem contribuitiva, entendendo o "cavalo" no sentido nagô/ iorubá/ caboclo sem explorar o total uso dessa entidade em pastiches psicográficos de um paladar lingüístico já inadequado e rapidamente arcaizante das escolhas e montagens imagéticas exteriores.
Ocultando e digerindo os já manjados mecanismos de sistematização da vida poética em um novo, pós-moderno e desbravador EU lírico, trilhando uma promissora e renovadora voz que, tendo rompido até com seus pais, é acompanhada na sua busca no decorrer do livro, aqui não há a simples e recorrente falta de escrúpulos e fé: ele vai além da formalização de acidulantes paganismos estéticos, a desenvolver desse modo uma doce crueldade no ponto G para o sincero envolvimento meta-pessoal com o leitor, afiado na perfilação de elementos e estados de matéria, devidamente assimilados e citados ao meio de uma proeza orgânica de relacionamentos brutos.
Além de ter a herança artística no pescoço; o óleo no ar; o cérebro de ar; o rato no cu; o cu verde; o já comentado sêmen de concreto; a vagina nos olhos; os joelhos secos; guitarras masturbadas; bonecos de lama; junto com os garotos ao contrário e os pit boys aparecem os garotos migrantes, os garotos pop, cocô; a história do pau...
Há de se notar também um clima teatral em suas questões e jogos de relação fetichista, os heteros e o mundo normal são vistos por um crivo de observações neo-rodrigueanas, deixando passar apenas os segredos sexistas (-por um triz-) e as despóticas-afetividades, esquecidas de bom relato há tempos na literatura brasileira; enquanto a maioria dos poetas insiste e esforça-se pra esconder seu lado inadequado, ele faz questão de armar cenas que exageram periculosidades sentimentais com uma mordacidade que Ana Rüsche ainda não foi capaz de exprimir, prestes (e para a alegria das diferentes opiniões) a desfazer-se perante a bondade pueril de aguardada aproximação alheia...
.
.
"Reage meu assalto
Aperta meu saco
Eu escovo seus dentes
E misturo pasta quente
Quase caindo da sua gente
No teu punho tem corrente.
e aperta minha mão
Aberta minha mão.
.
Eu vou entrar
No seu lugar"
.
.
O que consta parecer uma rima óbvia e fácil é desculpada pela distante verdade; perto dele ela é recebida com carinho e com a possibilidade de transformação que todo espírito aberto às solidões alheias pode aceitar, lançando à extremidade de seu pensamento trocadilhista uma maleabilidade de relação com o outro, a ressaltar assim pontos positivos em vantagem à poesia trancafiada das geografias abstratas, que não dispõe de saídas em um mundo pessoal penoso, exagerado, glamourizando a dor. Por isso Hugo Guimarães não se afoga em típica afetação, não sufoca sua riqueza vocabulária com um vazio exteriormente existencial. Lendo todo o livro nota-se uma progressiva melhora e abertura do gênero em que ele escolheu lançar-se.
.
.
"É noite na água
Eu odeio salva - vidas
Sexo não salva
A queda de uma rocha no mar"
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Tomara que ele não ceda à armadilha de cair na própria caricatura, de maneira que possa continuar evoluindo sua arte.
edson pielechovski.
ps: edson também divulgou na matéria, o endereço do meu antigo blog> http://www.hugorguimaraes.blogspot.com/
matéria de edson pielechovski sobre meu primeiro livro "poesia gay underground: história e glória" de 2008.
Quem era aquele moço semi-nu na resenha da Mix Brasil? Poesia ainda era algo estritamente diletante antes que meu primeiro e-mail lhe fosse enviado, solicitando seu trabalho. De vez em quando eu recebia edições independentes de seus peculiares versos que, agregados a escritos inéditos, culminaram no livro "Poesia Gay Underground: História e Glória" - lançado pela coleção da DIX editorial, da editora Annablume.
Como todo bom artista, biográfico, ele tem estilo às vezes elegíaco, ou escatológico...
Foi no ano de 2006 que comecei a acompanhar sua paidea interior de personalíssimos frames. Procurei sempre não me ater apenas a seu aspecto gay, pelo fato d´eu não escolher minhas preferências culturais segundo os rizomas classificatórios que emaranham patrimônios intelectuais de maneira que muitos leitores deixem de considerar material de qualidade. Hugo Guimarães perpassa o gênero LGBT com uma complexa designação narrativa, bem resolvida, objetiva e pouco barroca. É nesse ponto que, provando ser um poeta que transcende em vida - segundo ele próprio diz em um de seus poemas - ele classifica e modifica as coisas ao seu redor, sempre atento ao que deixa guardado para um documento futuro, quando os signos em questão estiverem pasteurizados no resultado final do leite de suas ruminações, mesmo que ele diga já ter bebido todo o conteúdo possível...
Sua divertida e aderente maneira de expressão pode ter seu lado mais profundo despercebido. O que ele tem de tradição e ruptura é uma voz blasé, de beesha ativa (literariamente falando), decididamente pragmática - nisso semelhante a da portuguesa Adília Lopes; voz essa que, sempre rebelando-se contra cada verso anterior, surpreende e enterra uma idéia que nem chegou a esfriar, embora ainda formalmente ligada à proposta geral do corpo do poema (93% das vezes uma mini-estorinha).
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"Eu pus uma garrafa no meu cu
Para se uma mente suja tentar
Dizer alguma merda
O som morrer.
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Meu cu viajou para um lugar longínquo
Eu disse que ele era um planeta morto
Mas agora eu digo que ele só está em processo de beleza
Ecoando, sozinho e lindo."
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Sem prejudicar a compreensão da leitura, a duração dos poemas reflete o suicídio involuntário da moral, como se estivesse de cabeça pra baixo, aquilo que uma vez o poeta disse ser impressão interior é na verdade a derrocada de arquétipos aceitáveis em uma sociedade hipócrita. Como sob uma pele de pobre mística, que vai sendo arranhada e marginalizada, vemos o esqueleto de sua libertadora, construtiva rima interior, bem-humorada e jamais fosca. Nem mesmo seus pais escapam, um tema recorrente, como se estes fossem os filhos, analisados e redirecionados, sem pudor, a uma superação trágico-cômica que usa e abusa do Édipo, ao longo de raríssimos constrangimentos. Resolutamente lamentado, o patriarcalismo é visto através de fracassados sujeitos sob um céu de estômago. Hugo está longe de se sentir culpado por um amor mal-consumado. Nessa particularidade o artista mais do que nunca demonstra que, embora ainda muito jovem, já está acima de qualquer suspeita formado em base firme. A problemática familiar não tem a gravidade sugerida e sutilmente camuflada nos dramas pessoais que tanto adoram explorar e (semi) divulgar relatos da vida real no labirinto do desejo do ego. O amor é tratado em diversas camadas, (como nos graus de 1 a 5, segundo a psicologia) Hugo Guimarães não só sabe que todo homem tem tendências homossexuais, como também ri e cobra por isso. O tesão mais enrustido não lhe escapa, sendo arrombado e repercutido em todos os outros teores sexuais ainda idealizados, porém já antecipadamente fadados em seus amantes.
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"Pit boys
Vão me espetar numa cruz
Vou gozar mais
Ou menos?"
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A frustração não deixa-se seduzir por um alegre pessimismo, saudável: nesse ponto encontrando uma espécie de iluminação nietzschiana, estabelecendo um lugar comum aos famigerados e ridículos apelidos a um derredor de ratos, TV, sadismo, peixes, perspicácias dos intuitos aspirantes ao sucesso... tudo visto por olhos que, sentados e tranquilos, como num trono, vão ordenando o desfile das ilusões rumo ao abismo.
Poderia ser um bestiário fisiológico a contribuição de seu chocante álbum de imagens. Segundo o que já disse uma análise anterior, seu bom gosto não crê na etiqueta culta e ascética. Sendo almodovariano, inusitado, ele cria culinária nova.
O sabor e o peso do concretismo é seminal, gelado, levado nas costas, quando ele não está a doá-lo aos garotos ao contrário (falsos heteros); drenando, secando e petrificando-os o poeta se vinga dos baixos graus de homossexualidade com uma fina malícia subtextual às coisas mais prosaicas e/ou rotineiras, como um simples chek-up.
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"Eu disse à mama 'tchau' e ela disse 'boa sorte'
Eu fui ao médico e ele era lindo
Ele era gentil, ele tocou meu joelho
E eu disse 'quer casar comigo?'
Ele estendeu sua mão e me disse que a vida é linda"
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Se vemos o mais alto grau de afetação típico das bibas que freqüentam a buatchy A Loca, Del Candeias poderia cair de amores e introduziria o ainda pouco conhecido poeta no mundinho literário em uma jornada pelos tipos mais bizarros da noite urbana...
Seu lado espiritual também é exercitado, andando com um "cavalo no pescoço" - Platão lhe segue, todo arregaçado. Abusando e logo descartando as figuras de Jesus Cristo, Lúcifer, Bob Dylan... Todas suas influências o acompanham de modo pouco óbvio, tanto é que sua escolha por um cardápio mais carnal e auto-narrativo oferece um passado literário, como em filmes de terror e rock n´ roll, apenas na forma de mera colagem contribuitiva, entendendo o "cavalo" no sentido nagô/ iorubá/ caboclo sem explorar o total uso dessa entidade em pastiches psicográficos de um paladar lingüístico já inadequado e rapidamente arcaizante das escolhas e montagens imagéticas exteriores.
Ocultando e digerindo os já manjados mecanismos de sistematização da vida poética em um novo, pós-moderno e desbravador EU lírico, trilhando uma promissora e renovadora voz que, tendo rompido até com seus pais, é acompanhada na sua busca no decorrer do livro, aqui não há a simples e recorrente falta de escrúpulos e fé: ele vai além da formalização de acidulantes paganismos estéticos, a desenvolver desse modo uma doce crueldade no ponto G para o sincero envolvimento meta-pessoal com o leitor, afiado na perfilação de elementos e estados de matéria, devidamente assimilados e citados ao meio de uma proeza orgânica de relacionamentos brutos.
Além de ter a herança artística no pescoço; o óleo no ar; o cérebro de ar; o rato no cu; o cu verde; o já comentado sêmen de concreto; a vagina nos olhos; os joelhos secos; guitarras masturbadas; bonecos de lama; junto com os garotos ao contrário e os pit boys aparecem os garotos migrantes, os garotos pop, cocô; a história do pau...
Há de se notar também um clima teatral em suas questões e jogos de relação fetichista, os heteros e o mundo normal são vistos por um crivo de observações neo-rodrigueanas, deixando passar apenas os segredos sexistas (-por um triz-) e as despóticas-afetividades, esquecidas de bom relato há tempos na literatura brasileira; enquanto a maioria dos poetas insiste e esforça-se pra esconder seu lado inadequado, ele faz questão de armar cenas que exageram periculosidades sentimentais com uma mordacidade que Ana Rüsche ainda não foi capaz de exprimir, prestes (e para a alegria das diferentes opiniões) a desfazer-se perante a bondade pueril de aguardada aproximação alheia...
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"Reage meu assalto
Aperta meu saco
Eu escovo seus dentes
E misturo pasta quente
Quase caindo da sua gente
No teu punho tem corrente.
e aperta minha mão
Aberta minha mão.
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Eu vou entrar
No seu lugar"
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O que consta parecer uma rima óbvia e fácil é desculpada pela distante verdade; perto dele ela é recebida com carinho e com a possibilidade de transformação que todo espírito aberto às solidões alheias pode aceitar, lançando à extremidade de seu pensamento trocadilhista uma maleabilidade de relação com o outro, a ressaltar assim pontos positivos em vantagem à poesia trancafiada das geografias abstratas, que não dispõe de saídas em um mundo pessoal penoso, exagerado, glamourizando a dor. Por isso Hugo Guimarães não se afoga em típica afetação, não sufoca sua riqueza vocabulária com um vazio exteriormente existencial. Lendo todo o livro nota-se uma progressiva melhora e abertura do gênero em que ele escolheu lançar-se.
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"É noite na água
Eu odeio salva - vidas
Sexo não salva
A queda de uma rocha no mar"
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Tomara que ele não ceda à armadilha de cair na própria caricatura, de maneira que possa continuar evoluindo sua arte.
edson pielechovski.
ps: edson também divulgou na matéria, o endereço do meu antigo blog> http://www.hugorguimaraes.blogspot.com/
15 de ago. de 2010
V CONCURSO DE POESIA FALADA ESPAÇO PARLAPATÕES
aqui estou eu escrevendo em meu segundo blog (sempre em letras minúsculas). o primeiro, "35", durou três postagens. estive ontem declamando no v concurso de poesia falada do espaço parlapatões, na roosevelt, centro de sp. estive lá no ano passado com meu amigo gustavo vinagre e conheci outros poetas legais como rui mascarenhas e analu andriguetti.
esse ano fui bem animado para a minha primeira leitura pública do ano, mas o resultado foi algo que eu poderia definir como 'parlapatacoada' mas não vou dizer isso porque levei meu amigo leandro perez, que acabou levando o segundo lugar por seu poema "cesariana, meu bem". bom para ele que é um poeta bom, cheguei a conclusão que não sou um poeta bom, mas um poeta único e isso não é atrativo para concursos, prêmios e blablabla.
leandro também está organizando o "sarau da ursa" um sarau só para poetas homossexuais masculinos, o qual espero que será um evento bastante interessante. voltando ao concurso, ao pouco populoso concurso, fui o quarto a subir no palco para ler o meu "dizendo não". fui o primeiro poeta a desejar boa noite á platéia. li melhor do que no ano passado, quando li tremulamente meu "boa noite". nada relevante... preferiram premiar como melhor interpretação o homem mais sexy que subiu no palco, que estava sem cueca e declamou um poema sobre pássaros com seu passarinho marcando a calça... achei válido. como melhor poema, foi premiado um cara que declamou enquanto eu estava no banheiro. o júri popular premiou um senhor que declamou profeticamente, belamente, em alto tom, um poema irrelevante. fiquei feliz por ter levado o leandro, meu amigo, que foi parabenizado depois do evento por uma das poetas, que também me disse que meu poema era "depressivo". o evento foi depressivo, feita exceção os "pássaros": passei boa parte do evento notando a volumosa mala do assistente de palco. abaixo o meu "dizendo não", um dos melhores não-premiados da noite:
“Dizendo Não”
A sociedade disse ‘não’ para mim de novo
E eu disse ‘não’ para ela
Eu digo ‘não’
Em dobro
Eu fico muito fraco tão cedo ás manhãs
Meus amantes e meus ídolos dormem em lã
Eu fico muito decepcionado
Nessas roupas formais
Se você me perguntar quem eu sou
Não vou ter o que dizer, mas
Que o Hitchcock não me filmaria
Porque estou torto e amassado
Não sou eu
Me sinto muito mal
Por que a sociedade não pode
Desistir de desamassar?
Porque os rebeldes não podem
Ajudar o país a rastejar
Até podem, só os livres
Tão fraco e triste
Eu fui de novo para a estrada
Um longo caminho até Bill Gates
E uma última chance da sociedade
E não tenho pena
E chance de mim mesmo e me disse‘não’
Punk é utopia
E meu mundo empobrece e toca as minhas mãos
E eles disseram ‘não’ para mim em dobro
E eu disse ‘não’ ao quadrado
Talvez eles viram de novo
Meu coração amassado
Então eu fui para a marginalidade
Procurar meu velho príncipe no sexo sujo
Humilhado, eu voltei para casa
Com a camisa para fora das calças
Dizendo ‘não’
Não.
esse ano fui bem animado para a minha primeira leitura pública do ano, mas o resultado foi algo que eu poderia definir como 'parlapatacoada' mas não vou dizer isso porque levei meu amigo leandro perez, que acabou levando o segundo lugar por seu poema "cesariana, meu bem". bom para ele que é um poeta bom, cheguei a conclusão que não sou um poeta bom, mas um poeta único e isso não é atrativo para concursos, prêmios e blablabla.
leandro também está organizando o "sarau da ursa" um sarau só para poetas homossexuais masculinos, o qual espero que será um evento bastante interessante. voltando ao concurso, ao pouco populoso concurso, fui o quarto a subir no palco para ler o meu "dizendo não". fui o primeiro poeta a desejar boa noite á platéia. li melhor do que no ano passado, quando li tremulamente meu "boa noite". nada relevante... preferiram premiar como melhor interpretação o homem mais sexy que subiu no palco, que estava sem cueca e declamou um poema sobre pássaros com seu passarinho marcando a calça... achei válido. como melhor poema, foi premiado um cara que declamou enquanto eu estava no banheiro. o júri popular premiou um senhor que declamou profeticamente, belamente, em alto tom, um poema irrelevante. fiquei feliz por ter levado o leandro, meu amigo, que foi parabenizado depois do evento por uma das poetas, que também me disse que meu poema era "depressivo". o evento foi depressivo, feita exceção os "pássaros": passei boa parte do evento notando a volumosa mala do assistente de palco. abaixo o meu "dizendo não", um dos melhores não-premiados da noite:
“Dizendo Não”
A sociedade disse ‘não’ para mim de novo
E eu disse ‘não’ para ela
Eu digo ‘não’
Em dobro
Eu fico muito fraco tão cedo ás manhãs
Meus amantes e meus ídolos dormem em lã
Eu fico muito decepcionado
Nessas roupas formais
Se você me perguntar quem eu sou
Não vou ter o que dizer, mas
Que o Hitchcock não me filmaria
Porque estou torto e amassado
Não sou eu
Me sinto muito mal
Por que a sociedade não pode
Desistir de desamassar?
Porque os rebeldes não podem
Ajudar o país a rastejar
Até podem, só os livres
Tão fraco e triste
Eu fui de novo para a estrada
Um longo caminho até Bill Gates
E uma última chance da sociedade
E não tenho pena
E chance de mim mesmo e me disse‘não’
Punk é utopia
E meu mundo empobrece e toca as minhas mãos
E eles disseram ‘não’ para mim em dobro
E eu disse ‘não’ ao quadrado
Talvez eles viram de novo
Meu coração amassado
Então eu fui para a marginalidade
Procurar meu velho príncipe no sexo sujo
Humilhado, eu voltei para casa
Com a camisa para fora das calças
Dizendo ‘não’
Não.
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