3 de abr. de 2015

DERROTA EM CRISTO

hum, lembro agora que quando eu era criança, distribuíram um mini exemplar da bíblia para todas as crianças. era azul, bem pequenininha e parecia que tinha uma capinha de couro. e durante um ano eu me sentia uma criança culpada e um pouco má por nunca ter vontade de ler. ou por abrir as primeiras páginas e não entender e/ou não me seduzir. é isso o que chamam de "educação religiosa"? o brasil por acaso tinha deixado de ser um país laico durante aquele momento da minha infância? como assim distribuíram bíblias para as crianças na escola? distribuíram. a catequese. lembro também. todas aquelas crianças tolas que achavam que estavam na "casa de deus" durante aquelas aulas fascistas. uma deixava escapar um palavrão e a outra criança reprimia "por favor, estamos da casa de deus!!". a casa de deus não é a sua casa também? não, a sua casa é o mundo, onde você pode ser absolutamente escroto. e você foi, tenho certeza eu. era já, inclusive. desculpa, é que eu nunca entendi a parte do perdão. aqueles católicos afeminados da catequese, acho que eles não confortavam ninguém, não podiam perdoar ninguém. a culpa e o inferno sempre estiveram muito mais presentes na minha cabeça durante toda a minha formação do que o perdão. comecei a me sentir parte do inferno quando comecei a me masturbar na adolescência. será que se eu fizer embaixo do cobertor deus não vai ficar sabendo? eu sentia culpa. quando eu era adolescente, acho que os pais não falavam sobre sexo com os filhos como falam hoje, talvez. meu pai nunca me disse que masturbação é ok e que eu não deveria sentir culpa ou vergonha. demorou muito até eu me sentir confortável com o inferno. 

a consagração das chamas do inferno aconteceu também na minha adolescência quando eu percebi que sentia algo a mais pelos garotos além da mera admiração que eu sentia na infância. eu não queria só a companhia, na adolescência comecei a querer a carne também. 

sabe de uma coisa?, eu sequer pensei em negar quando a minha mãe disse que eu deveria fazer a catequese. não era sequer medo de a minha mãe se zangar. por incrível que pareça, era medo de deus se zangar...

oh crap... eu comprei um ingresso para ver o filme alemão "14 estações de maria" no espaço itaú de cinema no último sábado, mas me senti mal e fui para casa. o filme falava justamente sobre esse assunto.



minha mãe? ela levou a vida toda até finalmente decidir pelo budismo nos dias de hoje. é uma pena ela não ter decidido por isso antes. teria me poupado uma infância inteira de desentendidos bem desagradáveis. ou teria pelo menos tornado a coisa menos explícita. acho que minha mãe apenas se tornou menos desagradável após se tornar budista. bem menos de quando ela recebia um testemunha de geová na nossa casa para ter aulas. e a menininha, filha dela, acho que esquecia moedas no meu quarto de propósito para "testar" a minha honestidade. graças a deus, aquela testemunha de geová não conseguiu convencer a minha mãe a converter-se.

passei ainda boa parte da adolescência segurando a barra do inferno quando eu finalmente concluí lá pelos meus vinte anos, que eu era sim uma pessoa decente, boa e que merecia respeito e amor como qualquer outra de qualquer credo ou orientação sexual.

e agora? será que cristo está mesmo voltando? pelo menos o ódio aos gays parece estar aumentando... o ódio em geral, inclusive. você fez mesmo a idiotice de comprar peixe para fazer hoje no almoço? fez a idiotice de comprar um ovo de páscoa caro pra cacete só por causa da dificuldade em produzi-lo e a dificuldade na logística em trazê-lo até o consumidor? esses ovos não deveriam vir com um jesus de chocolate dentro? não é isso que simboliza? não quis nem comprar ovos nem ir comer peixe com o meu pai hoje. e estou seriamente desencorajado em comemorar o natal em família no final do ano. não sou católico. eu poderia ter feito qualquer coisa no natal do ano passado. e no ano novo do ano passado, fui gentilmente desconvidado a passar a reveillon com meus pais "vá para a paulista, hugo. vamos sair". tive que inventar que o pessoal da faculdade me convidou para uma festa de virada de ano, mas não tive pra onde ir, ninguém me convida para nada. passei a virada em uma sauna. e o pior é que eu gostei.

eu acho que acredito em deus assim como eu acredito em shopping centers. quando você anda em um shopping center, há de se pensar que o shopping center não funciona sozinho. alguém é responsável por manter aquele shopping center funcionando. assim acontece com esse planeta: não é possível que o processo de rotação aconteça tão perfeitamente, a noite e o dia. o ar, a água... alguém está gerenciando tudo isso e talvez esse alguém possa ser chamado de deus. mas nunca a igreja, nunca. esses homens aqui embaixo que construíram essa instituição maléfica, não podem continuar governando pessoas, sendo responsáveis por crianças crescerem sob opressão e culpa, assim como eu cresci. "fuck church" é o que eu escrevi na minha malha para competir atletismo. tenho muito orgulho em competir com ela. a copa usp de atletismo acontecerá no dia do meu aniversário em 11 de abril. deus me ajude.

XOXO

Um comentário:

Ellvis disse...

Cada vez mais as coisas perdem o sentido, quando nos livramos de algumas correntes opressoras, algo fica solto e é um tanto perturbador o não sentido, até mesmo o vazio.