4 de jul. de 2011

INTRO

em um trem, alguém usando roupas que não condizem com o clima, diz:
"eu odeio meu pai"

em uma convenção de moda, há alguém tirando pêlos brancos de uma camisa azul, dizendo:
"eu odeio dizer bom dia"

***

"vinil", um poema:

essa mente horrível
é o buraco do vinil
esse corpo horrível
essa cama horrível
expande-se até
a borda do vinil

hugo guimarães.

***

30 de jun. de 2011

BREJO

na última sexta feira, estive em uma mesa de discussão sobre a criação do personagem lgbt, parte da programação da diversidade cultural na semana da parada lgbt de são paulo.
foi a minha 'valsa'.

pois bem, cheguei cedo, com uma puta dor de estômago e não havia ninguém no local senão uma pessoa do site brejeira malagueta, que me recebeu. logo conheci os meus fofos colegas de mesa, matei a saudade do brunno e aguardei. já se passavam 15 minutos do começo e nenhuma alma na platéia.
'ótimo, será um papo de comadre' pensei.

mas... em dois minutos apareceram pessoas da escada, do tubo de ventilação, do carpete, da janela, e ENCHEU a sala.

o tema proposto foi discorrido pelos palestrantes em pouquíssimas palavras. o kizzy disse como criava seus personagens (quando o deixavam falar), e eu disse que não acredito em personagens fora da primeira pessoa, que não é possível criá-los só com o que os corpos deles dizem. disse que isso só é possível com uma coisa que inventaram por aí: a 'técnica' ou a 'simulação de arte'.

também comentei sobre o fluxo (estado psicológico que os artistas atingem no movimento da criação), disse que lia mais livros de psiquiatria do que livros de literatura, e logo fiz uma amiga bipolar na platéia, a querida elida (que levou um livro meu assinado).

ainda sobre isso, temos um clássico exemplo: a poesia. rimar, rimar e rimar naturalmente, é um sintoma psicótico grave segundo a psiquiatria. mais um indício de que poetas são loucos. aliás, é interessante ressaltar que rappers não são poetas, pois só a 'produção' da rima não é o suficiente para um texto ser poético.

ainda sobre o personagem, uma escritora na platéia, a lúcia, levantou algumas coisas relevantes sobre os finais tristes que os personagens homossexuais tinham na maioria das histórias. as brejeiras defendem o final feliz. ainda sobre a palavra homossexual, disse que detesto a palavra 'gay'. conheci a origem da palavra 'lesbica'.

começo a perceber que, em todos os eventos de discussão com temática homossexual com qualquer tema, sempre se discutem muito mais o preconceito da sociedade em si e as experiências pessoais de descoberta da homossexualidade (o que deixa essas discussões um pouco piegas).

acabou que o tempo acabou, e eu e o kizzy não pudemos ler trechos de nossas obras que levamos.

27 de jun. de 2011

OS CABELOS, O PAU E A VARA

os cabelos
não pára de crescer cabelos na sua cabeça
para esconder seu rosto
para esconder seu rosto redondo
eu ainda estou careca, e esses cabelos
me acompanham.

o pau
em uma ilha perdida
há no lugar de uma palmeira
um pau gigante com muita pele
e não é como um de sebo, que te derruba
mas um que te gruda para masturbá-lo
para sempre.

a vara
você tem um corpo perfeito
de um atleta. todos os dias você vem correndo
com sua vara que te joga para cima
mas chega uma hora em que a vara
vira giz e não enverga
e quebra polegada por polegada.

hugo guimarães.

25 de jun. de 2011

HARPA













“Harpa”

A religião que eu fundei
Diz que eu vou tocar harpa
Em uma nuvem fofinha,
E alguém pintou as paredes
Em um azul bem angelical
Para que os aviões deslizem,
Haverá um homem ou dois
Para tocar harpa
E foder.

Poderiam ser dezenas de virgens
A escolha é sua
Mas você não mata em massa
Como o tempo passará?
Se haverá homens
Haverá corpos
E meu corpo realmente
Será absolvido do cansaço?
Irão os órgãos sexuais
Facilmente subir e descer?
Irão os homens só sorrir?
Haverá tantos
Diferentes sons de harpa
Para que eu não fique entediado?
Deus diz não
E deus diz não
Eu não quero saber
Porque eu só tenho questões infantis
Que pais não conseguem explicar
Como deus não explica a morte
E eu acredito
Eu acredito na harpa
E você pode vir comigo
A escolha é sua
Tocar harpa em uma nuvem fofinha.

Mas os anjos
Não aparecem somente
Nas paradas gays da cidade
Eles só se transformam neles
Esporadicamente
Para mostrar o quanto são safados
Como é problemático
O reinado da pele
A arrogância
E o vazio
E isso não tem sido fácil
De engolir
E como soa.

Eu acreditava
Que eu precisava
Me preparar para morrer
Porque as pessoas continuam
Vivendo como morreram
No outro lado
Como um prêmio
A quem se prepara
Para morrer.

Então o garoto perfeito
Que me humilha
Perturbaria-me eternamente
Se ambos de nós
Morrermos agora?
Poderei existir na morte
Por tanto tempo
Com algoz?

Então a harpa finalmente
Calou-se
Porque minhas habilidades
Morreriam comigo
E seguiriam nas nuvens,
O quanto eu não sei tocar harpa
E a harpa se calou
Pois a arrogância
E a pele
Não morreriam.

Então eu percebi
Que é melhor fazer pó
Só o que me consola
É que o seu corpo perfeito
Desaparecerá em 100 anos
Como todas essas malditas
4 milhões de pessoas
Nessa parada vulgar.
Só sobreviverá a prova
Da sua escravidão da imagem.

Só suas roupas
E objetos sobreviverão
Aos 100 anos
Seus milhões de objetos
Pequenos sacos
De pós-exumação
A parada dos fantasmas,
Só sobreviverão
Os objetos
E as muitas
Harpas presas em lojas
Que você esqueceu
De comprar.

Hugo Guimarães.

19 de jun. de 2011

CADEIRAS

onde, quando e sobre; está escrito aí encima.

falta de mesas nas mesas;
indução da arte;
impossibilidade do personagem fora da primeira pessoa;
visão equivocada da igualdade;
o mau da técnica;

entre outros que só saberei no dia.

levem os amigos, pipocas com manteiga e tudo mais.

até lá.

PS: escrevi a palavra 'agradecemos' errado no post abaixo. todo mundo erra sempre, todo mundo vai errar.

17 de jun. de 2011

SONHOS

quando cheguei a sua casa, você estava com a cara esporrada, na semana passada. você chorava, disse que o cara que você acabou de trepar, tinha te batido e ido embora.

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o mais importante não são as cordas verticais ou não do piano. nem o som. mas a parede pintada de vermelho atrás dele. e o silêncio. "sonhos"

***

gustavo camaroto finalmente me pegou. fiquei tão surpreso como ser pego por uma bola de voleibol, uma pedrada. as coxas logo acima do joelho, estão bem duras. os braços estão bem duros. os dele. fomos ao extremo da plataforma da estação de trem, lá poderia acontecer sexo oral. mas as cadeiras estavam todas molhadas pela chuva. e dez pessoas nos olhavam. o interior do trem também estava molhado. o deixei e disse 'te vejo em 10 minutos', fui ao shopping center. olhei mesas com pessoas desinteressantes. tirei o filé de peixe de dentro de um sanduíche e saí andando comendo ele com as mãos. nunca mais vi o gustavo camaroto.

***

pessoas me desconstróem na terra. pessoas me amaldiçoam e no final a minha casa cái como em 'a queda da casa de usher' do poe. não consigo esquecer. e não consigo perdoar. já comentei sobre minha rotisserie no inferno, não? ( no inferno, onde todas as pessoas que já me fizeram mau trabalhariam, me servindo carboidrato e massageando meus pés ). pois sim, meus funcionários estão crescendo, e a presença extrema de carboidrato está sendo até secundária. "sonhos"

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agradeçemos muito a você, mas nós dois sabemos que você é um bosta. volte aqui em agosto.

***

não vou voltar nunca mais. "sonhos"

14 de jun. de 2011

SANYA RICHARDS REVISITADA



Parte reescrita do meu conto 'Sanya Richards nos Jardins' que revisei hoje. Ele é parte do livro 'O Estranho Mundo de Hugo Guimarães' ( título provisório ) ainda á ser lançado.

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Quando eu era criança, minha mãe deveria ter me dito ‘Sorria, sorria como um psicopata’ e acrescido ‘Mas só sorria quando você for muito má’.

‘Quem essa bicha preta pensa que é?’ pensa a garota do cofee shop.
Ela acha que não posso ouvir seus pensamentos, mas eu posso. E eu também consigo pensar, miniatura negra... Eu sou a maior merda do mundo, uma negra alta mais do que uma negra anã. Bem mais. Agradeça-me por aceitar ser atendida por uma negra como você. Se eu fosse uma estudante ou uma advogada, traria uma empregada para lhe pedir esse café, pois você não teria nível para falar comigo; nem para tocar meu dinheiro, nem mesmo para reciclar meu copo vazio de papel. Agora tenho esse chantilly em minhas mãos para me livrar dele com meu mijo – e você não tem futuro. (Entro na pista em Lausanne, Suiça; sabia, sabia que eu poderia conceder outro grande show e foi o que eu fiz, pois não há vento que possa me parar, pois o mesmo vento que está contra mim em 200 metros, me empurra quando completo os 400, simples como o vento). O que uma negra tão pequena como você pode fazer a não ser anotar nomes sem ouvir ou entender muito bem? Todos devem ter nomes bem parecidos na sua vizinhança, não? X-ene? Y-ene? X-eide? Y-eide? X Burger-eide? Isso deve certamente descender de velhíssimas vilas aborígines, negras e mágicas, já leu? Não, claro. Agora minhas pernas são mágicas e as suas não cresceram... O que uma negrinha como você pode fazer pelo resto da vida além de limpar o chão? Perder até isso por não ser boa em fazer absolutamente nada. Nada mais do que uma negrinha inútil, mãe de negros inúteis de diferentes homens negros inúteis. Eu não sorri. Não por não ter conseguido ser bem má de novo, mas por você ser tão pequena, tão escura, tão insignificante, tão fora e abaixo do meu raio de visão.
Queima o estômago esse café...

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espero poder te oferecer a sanya e muitos outros quando o livro sair. saudações.