15 de nov. de 2018

O MEDO DO PALCO


"No dia 23/11 ás 18h30 na sala de debates do CCSP estarei em uma mesa literária dentro da programação do festival mix brasil deste ano. O tema da mesa é "Debate: Autores gays para além das temáticas de nicho". estarão comigo na mesa os escritores Tobias Carvalho, Danilo Leonardi e Agnaldo Nascimento. Alexandre Rabelo mediará a mesa. Para mim, o tema é muito interessante, pois não faço apenas literatura lgbt, também faço literatura alternativa, experimental, fantástica e regional (sim, porque literatura paulistana também é literatura regional, e São Paulo é o palco de todos os meus livros). Creio que os demais autores também não devem se limitar apenas como "autores de literatura lgbt", daí a graça da mesa. Vale lembrar que a livraria blooks estará vendendo meus livros "O Tiro de um milhão de anos" (Ed. Pasavento, 2015) e "O Estranho mundo de Hugo Guimarães" (Ed. Edith, 2013). Para os que não me conhecem pessoalmente, é uma oportunidade ímpar, pois raramente participo de mesas literárias. Além disso, toda a programação de literatura do evento está fantástica. Não percam! Veja programação completa no link abaixo: 


Esse é a minha postagem no facebook sobre a minha mesa no mix brasil no dia 23/11. A minha última aparição pública foi em janeiro de 2016, na Biblioteca na FFLCH USP, falando sozinho na mesa para poucas pessoas. Esse hiato me criou um certo pânico de voltar a enfrentar um palco de novo, Como Liz Phair tinha medo do palco no início da carreira. Dessa vez, vou dividir a mesa com três escritores e terá um mediador, o Alexandre Rabelo, que entende muito mais de literatura contemporânea do que eu. 

"Tudo o que eu tenho a dizer está nos meus livros, não tenho nada para falar", pensei em começar minha fala com essa frase, mas temo já garantir a antipatia de todos, embora seja a pura verdade. Porém eu mantenho esse blog desde 2010, falando sobre muitas coisas além da literatura e além dos meus livros, isso dá um certo conforto. 

Porém, estou com medo do palco.

XOXO 


3 de nov. de 2018

A METAMORFOSE


Estou lendo “a metamorfose” do Kafka. Comprei enquanto esperava um amigo que se atrasou, na livraria do conjunto nacional. Uma banda de sopros se apresentava por lá. Estou curioso para saber o que vai acontecer com o corpo de Gregor, com as perninhas de Gregor. Pelo menos a leitura deixa a viagem de metrô mais rápida. Durante o “Rehab” (três meses e meio de desemprego na casa dos meus pais), também acabei de ler o “neve negra” do Santiago nazarian. Gostei muito da forma como ele concatena a história da família com a história de terror, que é muito boa, e o final é muito bom. Santiago está vivo, não é alternativo nem independente, mas é uma das coisas que posso recomendar. Não consegui ir ao lançamento de “mauricéa”, novo livro da incrível adrienne myrtes, mas pretendo convida-la para um café em breve e pedir para ela me levar uma cópia para vender. Ela é uma das autoras vivas brasileiras contemporâneas e independentes que mais admiro. É outro nível de genialidade, bem acima do meu, com a minha literatura macha, agressiva, confessional, desvairada e não planejada. Alexandre rebelo também lança livro novo nessa terça, bem no dia da minha aula de Latim que não posso mais faltar, mas vou tentar ir. Alexandre foi a primeira pessoa que deu feedback para meu livro novo (não o quarto, mas o quinto). Trata-se de um livro de poemas de 45 páginas que escrevi em aproximadamente 40 dias. Ele se chama “eu vou contar para a sua mãe”. Trata-se de sexo e drogas, tabagismo, a volta para casa dos pais depois dos 30, a aceitação da sexualidade, as relações familiares, transtornos psiquiátricos, prostituição e desemprego. O título significa uma ameaça ao ex-namorado viciado em cocaína e prostituto, mas claro que não pretendo dizer nada a ninguém. Embora seja poesia confessional, há seus exageros estéticos.  Tudo isso em verso livre, bem influenciado por Sylvia plath. Alexandre disse que o livro é excelente e, como no livro anterior, pedi cobaias via facebook para ler o livro para ter uma primeira resposta. Até agora, só tenho tido críticas positivas. Mandei para algumas editoras, mas as que recebi retorno todas tinha-se de dividir as custas e não posso fazer investimentos no momento. Fiquei muito feliz com o retorno da editora kotter, que disse que meu livro é ácido e impactante e me disse parabéns, infelizmente achei meio caro publicar com eles. A alternativa mais barata que encontrei foi a editora penalux, que cobra do autor 40 a 60 livros do lançamento. Fica mais viável. Mas... sem emprego, um pobre poeta não pode publicar. Preciso esperar alguma empresa finalmente ir com a minha cara e dizer sim. Agora que recuperei o peso na casa da minha mãe e estou com uma aparência mais saudável, é mais possível que eu consiga um emprego. Não será fácil, tive de omitir a empresa dos chineses do currículo para não ter que explicar por que fiquei apenas 4 meses e meio lá, então segundo meu currículo estou fora do mercado desde fevereiro desse ano. Não será fácil. Pelo menos estou recebendo uma ajuda do governo enquanto isso, mas ficar na casa dos meus pais sem fazer nada é quase insuportável. Tento controlar com o cigarro e com rivotril, mas ainda assim é difícil. Parece que sofri uma metamorfose como Gregor, mas não por fora, por dentro. Como se eu não conseguisse ser mais ser o mesmo que consegue trabalhar, estudar e treinar atletismo, além de escrever. Que vivo para dormir. Uma boa notícia é que estarei em uma mesa na programação de literatura no festival mixbrasil desse ano. Minha mesa será no dia 26 de novembro e assim que sair a programação completa, eu posto por aqui. Estou um tanto preocupado. Nem lembro qual foi a última mesa que participei. Não sei o que dizer e não sei como me comportar. Tentarei ficar na defensiva e fazer contatos com editores que estarão lá. Vou levar umas cópias impressas do “Igor na chuva” e do “eu vou contar para a sua mãe”. Ao escolher o que ler, devo escolher um trecho do Igor e um poema do eu vou contar..., não quero ler nada do que eu já publiquei, já faz tanto tempo (meu último livro saiu há três anos)... já sou outro escritor agora. Quero ler coisa fresca. Bem, espero que a metamorfose acabe, que eu possa ter um gerente nem que seja como o do Gregor, que eu possa alugar um quarto novo na vila mariana e aparecer no mixbrasil lindo de gravata borboleta.
Abaixo, leia mais um poema de “eu vou contar para a sua mãe”

“Da Cabeça Aos Pés”

Com a boca cheia de sangue
Eu vou fumar até eu morrer

Com um grito de umbanda
Eu vou ser louco até eu morrer

Como uma viúva negra
Com a pata presa na teia
Vou atrás de homens até eu morrer

Julgado e condenado
Eu vou espalhar culpa até eu morrer

Se o destino é vilão
Como cupins de demolição
Eu vou ficar nessa casa até eu morrer.

XOXO