3 de fev. de 2011

A ÚLTIMA VIOLÊNCIA

imagine nunca poder tocar um garoto incrível, ímpar, que acabas de conhecer. imagine não tocá-lo uma duas três vezes. certa noite você decide seguí-lo, ele então caminha em direção ao cemitério e desaparece exatamente nos portões.
era alguém que não acreditava em nada além da vida, ainda preso nela.

deus não existe. estou cada vez mais certo e mais seguro disso. já posso cometer assassinatos e estupros. roubos.
finalmente, após tantas marcas pretas e roxas de cintos; tantas marcas que criaram feridas com casca de fivelas; tanta espanação, esfoliação facial depois, lá estarei eu no meu velório.

não haverá concessão.
a cerimônia será feita exatamente, violentamente como meus pais quiserem, o contrário do que eu desejo para ela.
as tatuagens estúpidas, não serão removidas para servirem de porta - pires. os legistas vão rir, e meus pais: consentir.
depois de vestir roupas de defunto por tantos dias durante minha longa e amarga vida, não terei uma trégua no dia do meu ingresso á morte: serei velado e enterrado de terno.

na frança, no norte da frança exatamente, cheguei a pesquisar e ver alguns velórios no qual colocam o morto sentado ao invés de deitado, abrem lhe os olhos e dão um jeito para parecer que estão olhando para o céu.
mas o que minhas tias iriam pensar?
o que a comunidade budista local iria pensar?

mortos não comem. haveria muita comida. o contrário do que acho justo e respeitoso para a ocasião.
eu jamais comeria em um velório.

um homem branco com pêlos castanhos claros dentro de um terno preto, uma camisa branca: parece um bolo decorado do pentágono.
será que vão demorar muito para cortar o primeiro pedaço?

deus não existe mesmo.

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