29 de jan. de 2017

A SUPERPOPULAÇÃO

E eu ainda não posso me esquecer da barba. Da barba.
Meu ex-namorado é uma assombração que me assombrou terrivelmente durante cinco meses. Hoje, ele têm me assombrado cada vez menos.
Mudei-me há cinquenta dias, frígido.
Até hoje já recebi três homens no meu quarto novo.

Elsewhere 1#
Poderia ter recebido mais, não fosse o caos do treino e os problemas que venho enfrentando com o treino, a extrema preocupação com a evolução da técnica, das marcas. Eu não entendo, eu não entendo a planilha que meu treinador me envia todas as semanas.
Não posso mais treinar junto com os outros. Consegui um trabalho em Alphaville. Você sabe onde fica Alphaville? Fica um pouco pra lá da China. Consigo chegar á pista bem no finalzinho do treino, quando todos os outros já estão terminando o treino.
Pergunto ao treinador o que devo fazer, e fico lá fazendo, sozinho, no escuro, pois um raio caiu no refletor há dois meses e deus sabe quando vão consertar.
Eu odeio repelente. Tenho um nojo indizível de repelentes. Mas voltei a passar ontem porque tem mais mosquito na USP do que na Amazônia e estou com o corpo todo com marcas de picada de inseto.
Não é fácil trabalhar dez horas por dia, ir para a academia quatro vezes por semana, treinar salto triplo, salto em distância e lançamento do dardo o suficiente para competir de uma forma “decente”. É difícil encaixar tudo isso em uma rotina. Também é difícil ter paciência com as dores. Mas decidi que é uma das minhas “missões” em 2017. Fazer tudo isso bem durante o ano e conseguir boas marcas, apenas porque é difícil. Há um ditado japonês que não vou saber transcrever por não lembrar com exatidão. Algo como “É difícil? Então é isso que quero fazer”.



A mulher, além de trabalhar, estudar e cuidar da casa, a sociedade ainda a impõe a “obrigação” de ter um homem. Eu lembro de um comentário assim em uma conversa com a amiga escritora Adrienne Myrtes. Com o homem é diferente: além de trabalhar, estudar e treinar, a sociedade ainda o “obriga” a cuidar da barba!

Elsewhere 2#
Vamos falar da morte, que é o que interessa.
Ocorre que sexta-feira, terminei meu mais recente romance (também tenho um inédito de poesia). Eu deveria comemorar bebendo sozinho na minha varanda uma garrafa de um belo vinho do porto. Mas não tinha dinheiro para isso, pois como comecei a trabalhar em doze de dezembro só terei um mês de salário na próxima terça-feira.
Primeira dica sobre dinheiro: se você quiser começar a sair com um homem jovem, pós- adolescente, saia com um que possa dividir a conta. Aliás, você não é o pai nem a mãe dele.
Bem, a começar a empilhar livros começo a pensar na superpopulação e nos seus males. Grandes escritores, parte deles escreveram muitos livros e partes, poucos, ok, mas começo a achar que estou escrevendo demais. Além disso, meus livros são meus “filhos” e eu já tenho três filhos. Estou grávido de mais dois. E honestamente, desejo abortar um deles, o de poesia, simplesmente porque acho que não gosto mais dele e que o romance é extremamente superior em tudo: qualidade literária, originalidade, potencial comercial, etc.

O infante terrível:
O meu romance novo tem 100 páginas.
Ele se chama “DRAG POR DRAG”. Claro, uma óbvia alusão ao álbum “BLONDE ON BLONDE” do Bob Dylan de 1966.
Sinopse: Chove no mundo inteiro há sete dias. Muitos acham que o mundo se acabará em água. Mesmo assim, Igor, com seu casaco e capuz preto, arrastando seu martelo de arremesso, sai de casa no bairro da Vila Mariana com o objetivo de chegar até a Universidade de São Paulo. Igor tem um motivo terrível para enfrentar o caos da cidade e chegar até a universidade; e as adversidades que encontrará no caminho compõe a trama desse romance.
Gosto de Dostoiévski e gosto de Eça de Queiroz. É possível perceber influência dos dois na estrutura narrativa.
Quanto ao estilo, creio que pela primeira vez consegui articular como nunca todos os meus talentos. Ele não é tão explícito e violento como “O Estranho Mundo”, mas não é tão contido ou polido e difícil quanto “O Tiro de um milhão de anos”. Porém, ele é mais “possível” do que qualquer outro livro meu, é meu livro mais “acessível”, mais “fácil”, tanto que é possível até “filmá-lo”, algo inimaginável para meus livros anteriores. Porém, meu estilo está lá, não deixei de ser eu mesmo, apenas evoluí. E o livro, como terminou, acabou me surpreendendo. A ideia original era fazer um livro de sessenta páginas. Trinta páginas com texto, e trinta páginas com imagens. Acabou que não consegui dizer o que eu queria em trinta páginas de texto e o livro acabou evoluindo para um romance “comercial” de 100 páginas e nenhuma imagem.
Em 2017 começa a corrida para a publicação. Esse, eu faço muita questão. De publicar, de divulgar. Simplesmente porque acho que o mundo precisa mais de livros como esse. Embora seja difícil, vou apresenta-lo para algumas editoras durante o ano e ficarei ligado aos editais. Se “O tiro de um milhão de anos” ganhou o proac em 2014, acho bem possível que esse “Drag por drag” ganhe algum edital por ser infinitamente melhor.
E ainda tenho que cuidar da barba.



XOXO

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