22 de out. de 2013

CACHORROS NA TELA

será que paat é o cachorro?
difícil saber, pois nada sei sobre a língua farsi.
farsi é língua da loura farsa?
não, é uma das línguas dos homens-bomba. Bum!
paat é um filme iraniano da mostra internacional de são paulo neste ano.
o protagonista é um cachorro.
devo dizer que a melhor atuação que vi nessa mostra até agora...
foi desse cachorro.
a última vez que vi o cachorro dar o que falar foi quando fiona apple deixou de vir ao brasil...
por causa da cachorra.

a cachorrada é que é no brasil é onde se é mais difícil arrumar atores razoáveis.
bons então nem se fale.
vi um filme brasileiro nessa mostra com atuações péssimas: ‘depois da chuva’
antes da chuva, aliás. lembro que nesse dia tomei um belo banho da chuva!
os atores aqui não agem como eu ou como você
eles agem de uma forma estranha, justamente...
tentando parecer eu e você. e
daniel guarda-chuva
daniel guarda-volume
daniel guarda de trânsito
daniel retaguarda
daniel guarda lugar na mostra, mas continua perdendo várias sessões!
assim como todos os anos.

o bom da mostra é poder viajar a preço do ingresso, na realidade.
coisas aprendidas dessa vez até agora:

1.é proibido vender carne de boi em cuba
2.é proibido ter um cachorro de estimação no irã
3.os atores brasileiros atuam cachorramente.

vi nove filmes até agora. ontem, dia 20 de outubro, tive uma singular experiência: ver ‘o iluminado’ do Stanley Kubrick na telona em uma sala grande e bem confortável, na front row, baby. e comprovar mais uma vez que ‘o iluminado’ é um filme perfeito, irretocável.
o melhor dos novos que vi até agora, um polonês chamado ‘em nome de...’ fica á anos luz da excelência de Kubrick...

livro de contos do hugo guimarães entrando no forno, haha!
veja abaixo a capa:



data e local de lançamento...
em breve!


XOXO

7 de set. de 2013

NOTAS PARA O FUTURO

agora não faço mais notas, na realidade. pensei que faria. SAP até ajudando pequenas empresas agora, não? eles já estão até na televisão. pensei que faria, mas não farei. acho que só mesmo o faturamento. só mesmo a cobrança faz, mas outros tipos de notas. não as que eu costumava fazer. a FIORDE é que fará as minhas. não entrarei mais na FIORDE pela porta dos fundos pedindo trabalho, mas sim pela da frente agora. frente, pois sou cliente agora. mas eu fazia muitas notas. pela TOTVS. eu fazia tantas notas que até passava das seis da tarde. até chegava as nove. custava 100 reais o táxi de lá até minha casa. ás vezes, não – muitas vezes apareciam erros. muitas telas diferentes para fazer as notas. então eu ligava para ele. para o sr. demetroff. ele, pouco elegante, mal humorado, me tratava mal. ele chegava esbaforido. ele era consultor do sistema. ele parecia usar muitas blusas, mas não. ele era gordo. bufava.

trabalho agora para japoneses. não direi onde. para evitar o olho gordo. para evitar a perseguição. japoneses são bonzinhos. japoneses são bonzinhos. brasileiros me detestam ainda, mas mesmo assim eu vou ser bonzinho.

morri e nasci de novo. há algumas semanas. abri os olhos de repente depois de 28 anos vida. percebi o quanto de ódio, mágoa e ressentimentos tenho dentro de mim. vai demorar um bocado para eu me livrar disso tudo. estou aprendendo a andar.

tudo de repente volta a dar certo para o hugo. de repente o mundo volta a sorrir para o hugo;
‘feeling blue’ é um curta metragem de daniel guarda e aline ridolfi onde sou o protagonista, foi filmado em janeiro e deve ficar pronto e sair em breve; ‘nova dubai’ incrível iniciativa do querido gustavo vinagre, será filmado em outubro e eu farei um dos personagens. ‘o estranho mundo de hugo guimarães’, meu esperado livro de contos está quase fazendo o forno apitar. santiago nazarian, tão querido quanto, está fazendo a orelha. adrienne myrtes também está com intenções maquiavélicas  em um projeto literário que terei o prazer de participar. parei de beber. vou começar a andar de bicicleta no minhocão aos sábados. e ainda por cima, os japoneses são bonzinhos...


XOXO.

6 de ago. de 2013

A TÉCNICA DA TÁBUA

dia dez de agosto começa o campeonato mundial de atletismo de 2013. era para eu estar na rússia agora fazendo os últimos treinos para a competição. eu tenho 28 anos. eu teria 28 anos. espere, eu tenho mesmo 28 anos, mas parece que todas as palavras se acompanham com “ia” desde que parei estupidamente de treinar em 2006 para terminar uma estúpida faculdade de logística. logística NADA tem a ver com lógica e eu tenho um eterno gosto ruim na boca por causa disso. não por causa da lógica, claro.

porém, tudo acontece ou deixa de acontecer por um mero detalhe, muitas vezes pequeno, assim como a técnica da tábua no salto em distância. você conhece a técnica da tábua? é muito simples, você corre com a maior velocidade que puder em passos contados por aproximadamente quarenta e cinco metros e então coloca o seu pezinho de apoio em uma tábua de madeira branca fixada no solo que mede poucos e exatos vinte centímetros. caso o seu pezinho ultrapasse o limite dessa tábua, o seu salto não vale. ou seja, de nada vale correr tão rápido por tanta distância e menos ainda importará o esforço e a técnica que você imprimir enquanto estiver em pleno voo e não importará a sua técnica e empenho na aterrissagem. tampouco.

o que eu quero dizer é que ultrapassei a tábua na vida.


XOXO

27 de jul. de 2013

MAQUIAR UM CADÁVER

é melhor ficar preso dentro de um cubo de gelo d’água do que dançar dentro de uma garrafa de cerveja. sabe por quê? porque um dia o inverno simplesmente acaba e eu não consigo parar de dançar pelo cheiro do álcool, por causa do vidro, por causa da sujeira e do chão melado que me deixa tão preguiçoso de querer sair pelo buraco.

o paciente entrou na academia de ginástica, ótimo. ficou lá vislumbrando algo. hoje o paciente morreu. e nós temos uma sala de velório, apenas porque sabemos que os pacientes realmente acabam morrendo.

hugo, o maior momento da sua vida menor está por vir. e tudo que você pensa é sobre o que vai vestir: maquiando um cadáver, é claro, pois as feridas da depressão e do abismo espiritual ainda me consomem atrás do meu belo rosto, mas eu só consigo pensar na maquiagem para deixá-lo ainda melhor. e eu odeio o gosto musical da minha família, tio dorival morreu há duas semanas e a música da cerimônia dele foi trivial, foi um nada. e espero sinceramente que ninguém tenha tocado no tio dorival morto sem luvas, pois isso dá infecção cadavérica e mata uma pessoa. mas o importante é que as pessoas estão começando a morrer ao meu redor e eu provavelmente vou me tornar budista, pois as mães budistas devem deixar o altar para o filho homem e eu devo isso a minha mãe por ela ser tão boa e tão generosa comigo. eu sempre irei trocar as frutas daquele altar.

e hugo meu amigo, você ainda sabe como começar um texto? estamos perguntando apenas porque você parece muito cansado para desejar impressionar pessoas e a escrita é apenas isso: a intenção de impressionar pessoas. e tudo o que eu posso dizer é não, ou menos, sinto-me muito cansado e sem nenhuma vontade de impressionar ninguém mais. você entende porque eu não começo mais um texto adequadamente?

e a vida é ainda demorada como sempre. motociclistas param encima de faixas de pedestres. pessoas muito rudes, incompetentes e feias (?) te atendem na livraria cultura. e hugo deseja muito mudar-se para um sítio. hugo é ainda misantropo.

a vida sempre consegue ser um pouco mais amarga. acabo de terminar um longo relacionamento e eu não quero falar sobre isso para me respeitar e respeitá-lo, mas é triste admitir que o sonho do amor falhou de novo.

sobre o artista hugo guimarães? sim, meu livro de contos já começou a ser produzido e a previsão de lançamento é neste novembro. mês que vem vou filmar um super 8 com gustavo vinagre, o mesmo com que já trabalhei no filme sobre o glauco mattoso.

e talvez. apenas talvez, essas realizações ainda me façam capaz de TERMINAR um texto.

XOXO


29 de mai. de 2013

BRATISLAVA

sempre quando o céu assume tons de bomba atômica, é escuro quando eu penso rapidamente no garoto eslovaco, louro, amarelo, mas
 
eu sinto o frio diário de Bratislava sentindo a falta do aquecimento que ele deveria me oferecer e o fato de que todos vivemos nada mais que uma viagem, inter planetária ou não, faz de um tudo um mais frio ainda.
porquê não fazer?
 
mamãe, mãe, ou o que, ela vai esquecer. um dia ela vai esquecer, mesmo porque em todos esses partos e mortes, estamos sempre esquecendo. então, porque ela não esquecerá da vermelha imagem do meu corpo estraçalhado aos pés de um prédio?
 
mama, ela não consegue sentir a bomba atômica que eu tenho dentro de mim. a mãe, ela não consegue sentir a bomba atômica que eu tenho de carregar comigo, entrar no vagão do metrô com ela.
 
e isso é similar ao terror de saber nada, ou não saber o que fazer. e eu nem mesmo sei que Bratislava está na eslováquia.
 
ou até mesmo, a tarde está preta no topo de um prédio onde eu enxergo o forte choque de altas antenas em uma morte preta.
 
cada cor
 
uma certa magia.
 
 

21 de abr. de 2013

DESDE

Desde que você foi embora
Eu só acordo sendo levemente insultado por telefone, já que seu escritório não pode ouvir as crueldades que você dizia enquanto dormia
Desde que você foi embora
A cocaína não voltou mais
Desde que você foi embora
Eu consegui finalmente aceitar que eu preciso começar a derramar todas as lágrimas que eu segurei por toda a minha vida, as mesmas que você simplesmente diz que mereço
Desde que você foi embora
Eu voltei a tentar mentir para mim mesmo que posso repetir orgulhoso a frase do tom waits ‘i dont need anybody cause i learned to be alone’
Desde que você foi embora
Eu não consigo economizar ou investir dinheiro, pois gastei tudo com você
Desde que você foi embora
Eu voltei a tentar acreditar que sou um homem bonito ou que apenas não sou tãfeio quanto você me fazia sentir ou tentava me fazer acreditar que eu era
Desde que você foi embora
Eu voltei com bastante hesitação a acreditar que posso cantar, e mais que isso, tenho cantado e cantado bem, já que não preciso mais dos seus parabéns
Desde que você foi embora
Eu não preciso fingir cantar mal só porque qualquer pretensão minha era rapidamente ridicularizada por você
Desde que você foi embora
Eu finalmente tirei a sua mãe dissimulada da minha vida, sua irmã, seus amigos, mesmo com as reais ameaças do seu pai
Desde que você foi embora
Não estou feliz sozinho
Desde que você foi embora
Eu fiquei doente e você nunca pergunta se estou ficando bom porque você acredita quando sua mãe diz que estou morrendo só porque perdi peso e minhas feridas não cicatrizam
Desde que você foi embora
Meus amigos nem assim voltaram
Desde que você foi embora
Eu parei com os psicotrópicos e tenho certeza que jamais voltaria a quebrar um objeto em você caso voltasse
Desde que você foi embora
Eu não bebo
Desde que você foi embora
Eu tento voltar a comer direito e eu não sei quando a escassa comida do meu apartamento vai me alimentar o suficiente para que eu pareça menos feio do que pareço – pareça a vida.

24 de dez. de 2012

OVOS

    De onde vem a palavra ‘ordem’? Da desordem? Uma dona de casa administrando-a como se ela fosse um quebra-cabeça, o pai punindo as peças.
    Ninguém: ‘Meu nome é ninguém’ vem com uma voz ao telefone que facilmente pode ser identificada como a de uma criança. Aqui, uma criança de onze anos que está tão psicologicamente exausta de algo que suporta com dificuldade. Prematuramente; hoje é noite de natal, e ela tem algo grandioso e sagaz para oferecer no show de talentos em que só ela se apresentará.
    Seu nome poderia ser qualquer um, de origem americana como muitos outros. Não importa se é uma garotinha branca ou negra, as mães não checam a origem dos nomes que oferecem aos filhos.
    Na verdade, dias atrás, ninguém falaria seu nome na sala de aula, ou falava bem alto; o máximo que os ouvidos podiam. Porque ela é gorda. Podíamos dizer que ela é feliz, mas ela ainda sim de fato, é feliz, é feliz porque é gorda, mesmo com o show de talentos que irá oferecer na ceia de natal.
    Hoje na aula, ela disse para si mesmo ‘ninguém’ igual a uma garota envergonhada. Uma garota envergonhada é o pequeno planeta tireoide que ela traz em seu esôfago. Um brinquedo pequeno que ela não pode quebrar em uma parede, mas ‘ninguém’ tinha planos, tinha planos. Vamos esperar e ver.
    Eu:
    Eu estou no primeiro andar. Minha casa tem dois deles. De andares. Desde que voltei do hospital de novo, eu não desço as escadas. Eu não posso escalar o teto. Eu só consigo levantar da cama e andar por esse quarto fedido.
    Mamãe sempre vem limpá-lo, para refrescá-lo, para abrir a janela mesmo que ela saiba o quanto eu sou uma pessoa escurecida. O quanto eu gostaria que aquela janela pudesse ser inativada, fechada, cimentada. Mas mamãe continua vindo, mas o quarto nunca consegue ficar totalmente limpo porque eu trago ovos para cá. Eu trago ovos para cima já que eu não consigo trazer tijolos para fechar a janela.
    Desde que voltei, papai tem me dado banho, me barbeado, mamãe me veste e minha irmã faz a maquiagem. Batom, lápis e pequenas maçãs desenhadas logo abaixo dos olhos, a maçã dos olhos, e ela me deu uma peruca longa a caracolada de presente de natal, mas deu antes da ceia, claro – essa não seria a ordem natural das coisas – Mas devemos nos lembrar que minha irmã está sempre tão ocupada cuidando da aparência, mais especificadamente dos seios. Mas devemos nos lembrar que mamãe pensa que acha que um homem sempre deve se vestir bem, sozinho...Papai me lavou e me barbeou. Mas devemos lembrar que eu jamais voltarei de um hospital por estar em pleno surto por me odiar tanto, por querer tanto explodir, por meu pai ter cortado meu cabelo por minha vida toda – Nesse exato momento, a cor dos meus cabelos é amarelo-gema.
    Papai: Ele foi preso de novo. Mas logo foi liberado para a ceia de natal, por sorte. Foi o que ele recebeu por construir sua última favela para algumas famílias perdedoras que sabem exatamente qual ajuda receber ou aceitar, papai usou recursos próprios de novo. Nossos recursos. Agora aqui esta ele: um homem querendo redenção. Ele já foi preso antes por construções péssimas. Ele conhecia as pessoas que estava ajudando? Não sabemos. Tudo o que sei é que vovó não deveria ter atravessado o oceano, de Portugal até este país mendigo, por meu pai ter nascido em um longínquo deserto sofrendo o que devia, tendo cicatrizes que nem posso imaginar o quanto ele está se sentindo bem nessa saga de redenção – pouco, muito cego para saber a importância de ter espancado minha cabeça até que eu enlouquecesse.
    Papai sacou uma caneta em um papel para aceitar a melhor televisão que o mundo fosse capaz de produzir. Assim, ninguém nessa imensa casa podia desenvolver qualquer pensamento, nenhuma filosofia podia ser contestada. Papai falhou.
    Papai não sabe quem é Catherine Ibarguen*, mesmo com sua TV gigante. Ele podia facilmente ver que eu tinha tudo para ser a próxima Catherine Ibarquen, mas isso não podia acontecer por ser algo extra terrestre. Ter um talento como aquele em casa? Jamais! Então, mamãe colocou as cadeiras da cozinha bem no meio do corredor, o fez com as cadeiras da sala de jantar também, papai construiu um arco que separa a sala de estar com a sala de jantar, mamãe também fez o mesmo com as cadeiras atrapalhando o máximo o corredor , onde eu não conseguiria praticar para ser a próxima Catherine Ibarguen. Mas eu treinava mesmo assim. Ele até mesmo me proibiu de usar o corredor do quintal com alegações fálicas. Uma delas era dizer que eu iria afundar o piso. O próximo tópico, o mais doente deles é que ele apenas esperou que eu me tornasse uma pessoa de vinte e sete anos que simplesmente não podia não podia bater Catherine Ibarguen. Ele esperou da forma mais obscura que podia uma coruja. Agora estou aqui nesse quarto, e minhas pernas não são fortes o bastante e somente, o suficiente para descer as escadas para a ceia de natal.
   
    A dona de casa é pior que ‘ninguém’. ‘Ninguém’ seria um nome bom demais para ela. O peru está no forno. O peru não poderia ser mais falso ou pior do que o mais tradicional poderia, contendo um dispositivo de plástico que avisa quando o peru está pronto. Mas o peru e a dona de casa são de plástico e você pode enchê-lo como um balão até morrer, porque deus sequer existe. Essa festa falsa é uma festa católica e você é budista, não é mamãe? Para quem está sendo feito o peru? Para ‘ninguém’ que nem mesmo conhece as abstrações das religiões, e só quer presentes e um peru para comer assistindo aos especiais da TV, como todas as outras crianças neste país onde as pessoas parecem e agem como perus com pernas, andando sem cabeça.
    O que será que ‘ninguém’ vai fazer na ceia de natal? Essa questão está deixando as pessoas um tanto intrigadas. Todas aquelas cabeças que ‘ninguém’ só pode enxergar olhando para cima. Não por ela ter só onze anos, mas porque a porra da tireoide apenas garante que ela vai crescer menos do que as outras. ‘Ei, o que ninguém vai fazer na ceia’?
    Dançar? Ela costumava gostar de balé. Cantar? Seria uma grata surpresa. Nadar? Não, ela escapou das aulas de natação e mamãe, a dona de casa é tão agressiva com ela e diz coisas horríveis quando ela não lava os pratos como ela quer, grita ainda mais alto quando ela deixa lápis esparramados no chão. Ameaça de agressão física quando encontra comida escondido em seu quarto, pois ela deve ter uma rígida dieta. ‘Se não seguir, irá morrer cedo’ e também ‘Você será com toda certeza a mais feia e a mais gorda garota’. Eu sinto revolta por ela, sinto-me mal por ela.
    Então, ‘ninguém’ começou a revanche. Ela começou a ser uma garota furiosa e começou a gritar de volta. Mas mamãe grita mais alto e nada funciona quando minha irmã vem nos visitar com seus seios novos. ‘Ninguém’ tem uma surpresa para hoje á noite, mas ela antecipa a surpresa e começa entrelaçar náilons no lustre.
    A tarde estava começando a cair. Todos os presentes pensaram que eu podia andar perfeitamente, mama achou, papai achou, ‘ninguém’ achou, mas eu tinha certeza e podia ficar com ela só para mim.     A primeira tia que chegou foi Clarice. Ela vinha tão feliz pelo corredor do quintal com seus braços gordos e flácidos ao me ver pela janela e disse ‘Oi, meu amor!’ e eu ‘tah!’ atirei um ovo no meio de seu rosto. Após isso, me retirei da janela.
   
    Antes de pensar na inquisição como punição, a dona de casa foi ajudar a tia Clarice com mil e meias desculpas, a secava. Ninguém só acompanhou a situação olhando para o lustre como um gavião, o quanto eles são três e grandes. Bem... O cheiro se dissiparia facilmente, a não ser que não trocasse de roupa. Foi o que ela fez, decidiu ir para casa trocar-se. Quando ela voltou e apareceu no corredor com cautela, ‘tah!’ eu a surpreendi com outro ovo.
    Tia Gersoni, a mais bêbada de todas, a mais feliz das tias, entrou no campo tão feliz dizendo ‘O que você ainda está fazendo aí encima?’ quando me viu pela janela, ‘tah!’ acertei um ovo em sua boca quando ela tentava terminar a frase. Tio Luís já estava no corredor, não podia voltar e ‘tah!’ arremessei um ovo em sua cara de bancário.
    Não teve jeito. Não havia solução para aquela fedida situação. Tia Clarice voltara para o carro com seu marido, primos. Em um carro atrás, outro cheio da nossa prole, tios, primos, mas tia Clarice guardou segredo do ocorrido e planejava voltar para a ceia.
    Clarice estacionando o carro não poderia nem mesmo imaginar que aquela situação proteinada, aconteceria de novo. Voltou com dois dos meus primos favoritos. Clarice entrou no corredor com um ponto de interrogação na face ao incliná-la ‘amor, não faça isso de novo’, eu a deixei dizer apenas meu nome. Nenhum deles escapara. ‘Tah!, Tah!, Tah!, Tah!’, Acertei todos eles sem vacilar.
    ‘Ninguém’ dessa vez não estava úmida entre as pernas de tanto rir, porque sabia que o melhor da festa estaria por vir. Enquanto mamãe, a dona de casa tentava ajudar o batalhão de porcalhões, ‘ninguém’ secretamente escalou a mesa, já seca com tantos frutos secos e amarrou mais alguns pedaços de náilon entre os lustres.
    Os seios chegaram na frente quando minha irmã chegou. Viu me pela janela e fez cara de desgosto e ‘tah!’ acertei um ovo bem no meio de seus seios esculpidos. Seu namorado novo, atrás dela tentou agachar, mas sem sucesso, ‘tah!’ acertei em sua cabeça quadrada.
    Muito bem, era noite e a festa deveria começar. Um incrível cheiro vomitável de ovo impregnou na família e nos convidados. Um cheiro que era limpo e limpo novamente, mas teimava em não dissipar-se. Todos os porcos convidados cheiravam o mesmo, e permaneceriam daquela forma até a meia noite. Não havia tempo para que tentassem um banho ou troca de roupa. Novos ovos viriam de minhas implacáveis mãos.
    Uma dúvida coletiva: Eu desceria as escadas para a ceia? Ou deveria ficar no quarto trancado com minha loucura cor de gema? Pois bem, vesti uma calça preta, uma blusa que podia ser um cardigã, e ao contrário da minha cabeça pintada de amarelo gema, coloquei uma longa peruca preta para disfarçar, também coloquei óculos de sol. Quando aquela figura desceu degrau por degrau estava um silencio emudecido. Um susto até.
    Mamãe, a dona de casa começou gritar ‘Nós deveríamos era te encher de ovos! Ovos! Ovos!’, mas um dos convidados a impediu, a acalmou, afinal eu era uma pessoa doente, eu era também muito sensível no momento. Mamãe queria me matar, eu sei. Gentilmente, tomei uma cadeira e algumas uvas para ver televisão. Todos me olhavam.
    Na cozinha, mamãe e duas tias, ambas gordas e retentoras de líquidos, estavam discutindo sobre o peru no forno; de que marca é? É grande? É muito pequeno? , mesmo assim todas trouxeram seus pratos de casa com comida complementar que deveria em algum embrulho mostrar o melhor mercado, a melhor padaria etc. Aquela comida toda duraria para sempre e isso não era ruim. Todas aquelas pessoas fedidas comeriam aquela comida para sempre.
    Dei a minha irmã um motivo melhor para ter seus seios notados. Ela tinha a pior expressão facial do universo e o namorado era o único ser vivo que ela conversava, e eles ficavam afastados dos demais em um canto da casa. Ninguém gosta deles. Os implantes de seios estavam lá dentro da pele dela dizendo ‘pffff... Como te odiamos’
    Meu primo gosta de mim ‘Jamais te comeria com essa peruca’ ele pensa; Fora o fato de que eu detesto ser penetrado no ceia de natal, mas ok, é um bom primo. Minha prima também gosta de mim, praticávamos esportes na infância juntos ás vezes e ela foi a única além de ‘ninguém’ que achou o ataque de ovos engraçado. Os homens ficavam bebendo cerveja, pensando em um jeito de me colocarem em uma clínica para sempre.
    Na cozinha, quando a discussão sobre o peru acabou, quando o próprio peru terminou de assar, a maioria das pessoas foi consumida pela mais variada comilança suficiente por pessoa, o equivalente a um quarto do peru, para se evidenciar que o mesmo estava seco.
    ‘Cada um em seu lugar, por favor’ disse a mamãe, a dona de casa. Nós lá, sentados e minha irmã disse com amargura:
    – O número da Caroline, mamãe.
    ‘Oh Caroline’! Disse os tios, ‘Oh Caroline’ disse os primos, ‘Oh Caroline’ eu disse com minhas últimas forças. Caroline, sim, isso é o mesmo que ‘ninguém’ - Ela rapidamente subiu na mesa, ao som do ‘Ei, ei!’ do papai, com o ‘Ei, ei !’ da mamãe, Caroline rapidamente enfiou seu pescoço entre os náilons estrategicamente e saltou com os joelhos flexionados, enforcando-se. Ela o fez depois de mamãe, a dona de casa dizer ‘ Ei’ e antes de o papai dizer ‘A mesa é de vidro...’
*Catherine Ibarguen: Atleta Colombiana, recordista sul Americana do salto triplo.