22 de fev. de 2017

NUDES PARA O LUCAS




passei o dia todo pensando em você como um adolescente. se eu me dividir em dois, eu sou dois adolescentes grudados em um rudemente.

até semana passada, eu me disse o quão raro eram os pálidos olhos azuis de outro jovem garoto. tão raro quanto o azul de um galão barato de água mineral e não. eu não teria a chance de chegar perto daqueles olhos.

uma ou duas vezes olhando bem dentro daqueles olhos, tentando hipnotizar, agora eu finjo que morri. ontem vim trabalhar vestido de flores devido a campanha da semana do carnaval da empresa. hoje vim de luto.

passei o fim da noite de ontem comendo vários sanduíches de peito de peru com cream cheese por causa da irritabilidade, mas eu estava na verdade me comportando como um mendigo.

o professor da academia mudou meu treino justo ontem á noite. o treino além de novo, era pesado, a academia cheia e apenas dois professores disponíveis, mas não foi por isso que abandonei o treino pela metade para ir para casa mais cedo.

o android comeu todas as minhas nudes bonitas por causa de espaço. meu iphone novo está vazio. meu vizinho, sempre tão dócil, disse que tiraria novas para mim, mas todo mundo toma remédio para dormir, e ele dormiu.

os pálidos olhos azuis foram-se ao que dei uma boa olhada no espelho, e desisti. o sorriso do lucas era só um sorriso e um pau grosso, nunca o vi ao vivo. as nudes que eu mesmo fiz para ele não ajudaram muito, é difícil se auto fotografar.

daí passei mensagem ao jovem engenheiro wannabe, que também treina salto triplo na usp "triplistas estão em extinção, não?" "competição de salto triplo parece convenção de bruxos ou de harpistas, não?", esse  mesmo jovem que flertei muitos meses atrás. ele respondeu. esses adolescentes siameses que me compõe, eles nunca crescem. nunca. o jovem engenheiro tem muita paciência, ele apenas responde perguntas, nunca me faz nenhuma.



o corpo não é nada mais do que uma extensão da mente e você deveria protege-lo mais do que você o faz.

cheguei em casa ontem á noite tão apressado que destratei minha gata. tomei um banho apressado, tentei arrumar os cabelos apressado. reclamei tanto da sujeira da gata, o vômito e a merda; gritei com ela quando começou a miar. ela ficou magoada e desapareceu antes de dar um miado que parecia um choro. fui até a varanda e lá ela estava no telhado do vizinho. comecei a chamar por ela, mas ela não voltava. voltei para o quarto porque ainda estava preocupado em fazer as nudes, as nudes, a gata logo volta mas. quando voltei para a varanda a gata não estava mais no telhado do vizinho nem em lugar nenhum. coloquei os óculos. olhei para todos os telhados com atenção. chamei muitas vezes. fiquei desesperado. saí para a rua seminu e bati na porta dos vizinhos para perguntar se a gata caíra no quintal de algum deles, mas não. voltei para casa, fiquei só na varanda. "pôxa, gata. só vivo nessa casa por sua causa, só pago esse aluguel caro por sua causa e você simplesmente foge?". voltei para o quarto e fiquei bem triste "oh meu deus, eu perdi minha única amiga...". meia hora depois, a gata surge, estava debaixo da cama.

***

o que sobrou para a noite passada foi enviar, enviar. cópias do meu romance novo para todo mundo que pudesse ajudar de alguma forma. o bebê nasceu ontem. bem, a exata data foi ontem, já que foi a data em que tudo foi revisado, notas de rodapé e etc, no mesmo dia em que minha avó completaria 97 anos se viva. pensei em dedicar o livro a ela. mas não quero fazer isso. 

o livro é homem. "o" livro, ele tem um gênero masculino na língua portuguesa. isso significa que ele é uma criatura frágil como todos os homens. li o terrífico último livro da micheliny verunschk e agora quero ler a maria valéria rezende. mulheres, mulheres, mulheres. meu livro tão frágil, um livro de um homem.

desde que nasceu, o livro não tem mais nada de mim. sua publicação não tem a ver com hugo guimarães, o livro é apenas assunto do "drag por drag", ele é um ser independente agora. eu apenas o pari. agora, devo lutar por ele em um mundo onde eu nunca soube como plantar leitores, se é que é possível mas. "drag por drag" é tão independente que talvez ele não precise de leitores, só de um isbn, assim como uma pessoa precisa de um rg, precisa só existir, mais nada. sabe por que? porque eu acho uma pena um livro tão bom morrer em uma gaveta. é por isso que vou lutar pelo meu filho, meu mais novo amigo. eu também vou acabar em uma gaveta de madeira, mas eu tive uma chance. 

breve protesto:




XOXO

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PICS FOR LUCAS

I spent the whole day thinking of you like a teenage. If I split myself in two I am two teenagers, glue in one rudely.

Until last week I wondered how rare was the pale blue eyes of another young guy. Pretty rare like a cheap gallon of gross water and no. I wouldn’t have the chance of get close of those eyes.

Once or twice looking deep in his blue eyes trying to hypnotize, now I pretend I’m dead. Yesterday I came work dressed with flowers due company’s carnival week, today I came in black.

I spent the end of last night eating lots of turkey on cream cheese sandwiches due irritability, but I was behaving like a beggar that same night.

Gymn professor changed my training just last night. Training was new, hard, the gymn was so full, there were just two teachers available but it wasn’t because of that I left the training by its half to go home earlier.

Android ate all my pretty pictures where I’m naked, for space. My new Iphone is empty of images. My neighbor always so nice, offer himself to take new pictures of me naked, but he takes pills to sleep just like everyone and didn’t show up.

The pale blue eyes are gone like I looked deeply to mirror and just gave it up. Lucas smile was just a smile and a thick dick in picture, I never met him. The pictures I made myself didn’t help a lot, it’s hard to self picture.

Then I still messaged the young engineer wannabe, which I flerted many months ago. He answered. These Siamese teenagers that compose me, they never grow up. Never. The engineer has a lot of patience, he just answers questions, he never ask me a question.



Body is nothing but it’s an extension of your mind, you should protect it more than you do.

I arrived home last night so hasty that I mistreated my cat. Having a bath so hasty, trying to comb the hair so hasty, that I claimed so much about my cat’s dirt, puke and shit; I yelled at her when she started to mew. She got hurt and disappeared after mew almost crying for last. I went to the porch and there she was in a neighbor roof. I started to call her on and on but she won’t come back. I returned to the room because I was still hushed by the nudes, the nudes, the cat will soon come back but. When I went to the porch again, the cat wasn’t there anymore. I looked for all the neighbor roofs, called for her on and on. I got desperate. I went to the street half naked and knocked the neighbor doors to know if the cat had fallen in their backyards or something but no. I came back home, stayed alone at the porch. “Oh cat, I just live on this house, I pay for this high rent because of you and now you just run away?”, I came back to my room and though real sad “Oh my god, I lost my only friend”. Half an hour later, the cat showed from under the bed.

***

Last night what is left was send, send. Copies of my new novel to everyone who could help it to be published somehow. Baby was born yesterday. Well the exact date was yesterday since the review was finished as all bottom lines and everything, the same day that my grandmother would turn 97 if alive. I thought of dedicate the book to her, but I don’t want to do that.

The book is man. “The” book, it’s got a male gender in the Portuguese language. It means that it’s a fragile creature like all men. I read micheliny verunschk's terrific last book and now I want to read maria valeria rezende awarded book. Women, women, women. That makes my poor book so fragile, a book of a man.

Since it’s born the book is not about me anymore. Its publication is not about hg, but the book is about dod. Dod is a being, it’s nothing to do with me anymore, I just delivered it. And I must fight for it in a world where I never knew how to plant readers if that is possible but. Dod is so independent that it don’t need readers perhaps, just a isbn, like a person needs an ID, it must exist. Do you know why? Because I think it’s a real shame a book so good die inside a drawer. That’s for I’ll fight for dod, my new friend. I know I'll end up in a wooden drawer too, but I had a chance.

brief protest:



XOXO

29 de jan. de 2017

A SUPERPOPULAÇÃO

E eu ainda não posso me esquecer da barba. Da barba.
Meu ex-namorado é uma assombração que me assombrou terrivelmente durante cinco meses. Hoje, ele têm me assombrado cada vez menos.
Mudei-me há cinquenta dias, frígido.
Até hoje já recebi três homens no meu quarto novo.

Elsewhere 1#
Poderia ter recebido mais, não fosse o caos do treino e os problemas que venho enfrentando com o treino, a extrema preocupação com a evolução da técnica, das marcas. Eu não entendo, eu não entendo a planilha que meu treinador me envia todas as semanas.
Não posso mais treinar junto com os outros. Consegui um trabalho em Alphaville. Você sabe onde fica Alphaville? Fica um pouco pra lá da China. Consigo chegar á pista bem no finalzinho do treino, quando todos os outros já estão terminando o treino.
Pergunto ao treinador o que devo fazer, e fico lá fazendo, sozinho, no escuro, pois um raio caiu no refletor há dois meses e deus sabe quando vão consertar.
Eu odeio repelente. Tenho um nojo indizível de repelentes. Mas voltei a passar ontem porque tem mais mosquito na USP do que na Amazônia e estou com o corpo todo com marcas de picada de inseto.
Não é fácil trabalhar dez horas por dia, ir para a academia quatro vezes por semana, treinar salto triplo, salto em distância e lançamento do dardo o suficiente para competir de uma forma “decente”. É difícil encaixar tudo isso em uma rotina. Também é difícil ter paciência com as dores. Mas decidi que é uma das minhas “missões” em 2017. Fazer tudo isso bem durante o ano e conseguir boas marcas, apenas porque é difícil. Há um ditado japonês que não vou saber transcrever por não lembrar com exatidão. Algo como “É difícil? Então é isso que quero fazer”.



A mulher, além de trabalhar, estudar e cuidar da casa, a sociedade ainda a impõe a “obrigação” de ter um homem. Eu lembro de um comentário assim em uma conversa com a amiga escritora Adrienne Myrtes. Com o homem é diferente: além de trabalhar, estudar e treinar, a sociedade ainda o “obriga” a cuidar da barba!

Elsewhere 2#
Vamos falar da morte, que é o que interessa.
Ocorre que sexta-feira, terminei meu mais recente romance (também tenho um inédito de poesia). Eu deveria comemorar bebendo sozinho na minha varanda uma garrafa de um belo vinho do porto. Mas não tinha dinheiro para isso, pois como comecei a trabalhar em doze de dezembro só terei um mês de salário na próxima terça-feira.
Primeira dica sobre dinheiro: se você quiser começar a sair com um homem jovem, pós- adolescente, saia com um que possa dividir a conta. Aliás, você não é o pai nem a mãe dele.
Bem, a começar a empilhar livros começo a pensar na superpopulação e nos seus males. Grandes escritores, parte deles escreveram muitos livros e partes, poucos, ok, mas começo a achar que estou escrevendo demais. Além disso, meus livros são meus “filhos” e eu já tenho três filhos. Estou grávido de mais dois. E honestamente, desejo abortar um deles, o de poesia, simplesmente porque acho que não gosto mais dele e que o romance é extremamente superior em tudo: qualidade literária, originalidade, potencial comercial, etc.

O infante terrível:
O meu romance novo tem 100 páginas.
Ele se chama “DRAG POR DRAG”. Claro, uma óbvia alusão ao álbum “BLONDE ON BLONDE” do Bob Dylan de 1966.
Sinopse: Chove no mundo inteiro há sete dias. Muitos acham que o mundo se acabará em água. Mesmo assim, Igor, com seu casaco e capuz preto, arrastando seu martelo de arremesso, sai de casa no bairro da Vila Mariana com o objetivo de chegar até a Universidade de São Paulo. Igor tem um motivo terrível para enfrentar o caos da cidade e chegar até a universidade; e as adversidades que encontrará no caminho compõe a trama desse romance.
Gosto de Dostoiévski e gosto de Eça de Queiroz. É possível perceber influência dos dois na estrutura narrativa.
Quanto ao estilo, creio que pela primeira vez consegui articular como nunca todos os meus talentos. Ele não é tão explícito e violento como “O Estranho Mundo”, mas não é tão contido ou polido e difícil quanto “O Tiro de um milhão de anos”. Porém, ele é mais “possível” do que qualquer outro livro meu, é meu livro mais “acessível”, mais “fácil”, tanto que é possível até “filmá-lo”, algo inimaginável para meus livros anteriores. Porém, meu estilo está lá, não deixei de ser eu mesmo, apenas evoluí. E o livro, como terminou, acabou me surpreendendo. A ideia original era fazer um livro de sessenta páginas. Trinta páginas com texto, e trinta páginas com imagens. Acabou que não consegui dizer o que eu queria em trinta páginas de texto e o livro acabou evoluindo para um romance “comercial” de 100 páginas e nenhuma imagem.
Em 2017 começa a corrida para a publicação. Esse, eu faço muita questão. De publicar, de divulgar. Simplesmente porque acho que o mundo precisa mais de livros como esse. Embora seja difícil, vou apresenta-lo para algumas editoras durante o ano e ficarei ligado aos editais. Se “O tiro de um milhão de anos” ganhou o proac em 2014, acho bem possível que esse “Drag por drag” ganhe algum edital por ser infinitamente melhor.
E ainda tenho que cuidar da barba.



XOXO

20 de jan. de 2017

THE KRISTEN PFAFF MEMORIAL


“The Kristen Pfaff Memorial”

I left home with a trash face
Didn’t want to leave
No teeth brush
No bath

Got hidden trash face
Got hidden trash hair
With a cap

A boxer sweater
It was not that cold

47 days and I still don’t know
If I closed a coffin
Or if I’ve opened a coffin

Worse than a taste of bleeding
Is a taste of morning

Didn’t want to leave
Life is worst when you’re awake
Eighteen hours a day

I said I’m ok
Said proud that I’m ok to him
But I’m not

It is the devil
Every day
Eating olives at my porch
At my wet porch
It has been raining every day

I pay for my room
Cat ate pig meat yesterday
I have fly bites all over my body
I have a pain in a bone in my leg
That shall never pass
I have no money for the metro next week
I need dad to lend me some money
But my triple jump is improving
Four centimeters a week
And my writing is terrific

There is no idealism for sure
47 days he’s gone

(Hugo Guimarães)

“O Memorial de Kristen Pfaff”

Saí de casa com uma cara de lixo
Não queria ter saído
Sem escovar dentes
Sem banho

Escondi a cara de lixo
Escondi o cabelo de lixo
Com um boné

Um moletom pesado
Não estava tão frio

47 dias e eu ainda não sei
Se fechei um caixão
Ou se abri um caixão

Pior que gosto de sangue
É o gosto da manhã

Não queria ter saído
A vida é pior quando se fica acordado
Dezoito horas por dia

Disse que estou ok
Disse orgulhoso pra ele
Mas não

É o diabo
Todos os dias
Comendo azeitonas na minha varanda
Na minha varanda ensopada
Tem chovido todos os dias

Eu pago pelo quarto
A gata comeu carne de porco ontem
Tenho picadas de inseto por todo o corpo
Tenho uma dor em um osso da minha perna
Que parece nunca passar
Não tenho dinheiro para o metrô semana que vem
Preciso que meu pai me empreste dinheiro
Mas meu salto triplo está evoluindo
Quatro centímetros por semana
E minha escrita está terrífica

Não há idealismo decerto
47 dias que ele se foi


(Hugo Guimarães)

6 de jan. de 2017

GO GO s

“GO GO s”

Not so young man goes to Europe
He’ll carry a girl in the bag
Old man tells him bullet points
About peeled stones places

He’s four years younger than me
Guess I have four yarns of hair more than him
In the post-Christmas of this city of fake stones
In the fake summer

Let it go
Don’t let it go
Go on to make business that’s where
You should go
If old man sees you
He’ll make you go

I must be a girl
To get inside of a bag

The satanic lover boy is gone
Stole my shirt before go
He collects the clothes of his go go s
Satanism is a very beautiful philosophy
Don’t you
Beautiful is what you don’t do
What I heard is that he wasn’t that loved
In a group
Boy, you are vulgar, you are rude
Maybe for your mother Satan is you

But you can’t come here steal my weak heart again
Between the tasks I have to do.


(hugo guimarães)


30 de dez. de 2016

UM HOMEM GELADO

Parte um:



Um de nós deve morrer para que o resto de nós tenha uma vida mais significativa. E quem deve morrer é a gata – gata, ao invés de devolver meu sorriso, tirou meu sono.

Um dos funcionários da equipe deve ser o mais tolo. E o mais tolo deve ser o homossexual. Homens, homens, homens. Fiquei receoso no meu novo trabalho com tantos homens. Mas eu gosto deles. Os homens protegem. Os homens são amigos.

Sabe quando uma conversa antiga no whatsapp vai descendo e descendo até você não ver mais? E eu, fico tentando puxar ela para cima o tempo todo. Sabe quando você tenta salvar alguém de morrer afogado em um rio? Você puxa uma vez, puxa e continua tentando, mas há uma hora em que há de se saber parar, senão você se afoga junto. A mensagem é muito simples e só agora eu estou começando a entender: ele foi embora e ele não vai voltar nunca mais.

Ando fascinado por “Ariel” grande livro da grande Sylvia Plath. Em 1963, Sylvia Plath isolou as crianças em um quarto, vedou as portas e as paredes com toalhas molhadas e deixou as janelas abertas. Deixou pão e leite para as crianças. Daí, ela tomou uma grande quantidade de narcóticos, enfiou a cabeça no forno com o gás ligado e morreu em poucos minutos. Mas Sylvia tinha Ted, do jeito que tinha, mas tinha. E tinha as crianças. Eu não tenho nada.


Parte dois:



A fase apática que estou passando não afetou o treino de atletismo. Tenho ido quatro vezes por semana para a academia nas férias. Quando começo a sentir desespero, que me levou a abandonar muitos treinos, tomo um clonazepan, respiro, e continuo, e termino o treino. Hoje não fiz a ultima série de saltos sobre o caixote, meu joelho esquerdo estava doendo. Uma vez, uma técnica preta de atletismo disse “Se está doendo, pare” nunca esqueci dessa frase, e essa frase pode ser usada para muita coisa na vida...

A apatia me fez parar de ver filmes. Desde que ele foi embora, não consigo ir ao cinema, pois sempre íamos ao cinema juntos quando ele estava comigo. A apatia me fez para de ouvir música, pois ouvíamos muita música juntos. Essa, está voltando bem devagar: tenho ouvido três músicas da Liz Phair: “Chopsticks”, “Perfect World” e “Girls Room”, só essas três. A apatia não afetou a literatura, pois sempre escrevi sozinho, e não afetou o treino, pois sempre treinei sozinho.

Não estou preparado para uma nova pessoa na minha vida. Acho que ele, ele sim, deve estar fazendo uma orgia atrás da outra, pois ele não me amava anyway, mas isso não é da minha conta. Eu, eu mesmo, não tenho conseguido dividir meu corpo com ninguém.

Daí baixei o horn net: hornet no meu celular (Um aplicativo para encontros gays). Até pensei em encontrar alguém, mas a verdade é que não estou “horny” baixei o aplicativo para ouvir muitas vezes que sou lindo, que sou gostoso. Porém, acho que conheci por lá um dos homens mais bonitos do hornet. Moreno claro, 1,93m, joga voleibol, parece um modelo de catálogo, e se parece bastante com o Henrique Farinelli, o garoto mais bonito da USP. Trocamos whatsapp. Ele me disse “boa noite” no whatsapp ontem, que saudade de receber um “boa noite" pelo whatsapp. Quando ele voltar da virada no Rio de Janeiro, planejamos um encontro para nos conhecermos. Não custa conhecê-lo, por mais que eu ache que eu não esteja preparado.

Semana que vem volta: segunda quarta e sexta, treino de salto triplo (Sendo que quarta também tem salto em distância), quinta-feira, treino de dardo. Junto com as quatro sessões de musculação, é claro. Na semana seguinte, voltamos para a base ás terças e quintas. Quero estar em forma para competir em março. Isso me manterá vivo.


Parte três


Pensei bem na orgia no réveillon. Nem cheguei a pensar no réveillon na casa dos meus pais. Não vou nem para um lugar nem para o outro. Vou passar na varanda tomando sorvete.
Da orgia, acho que preciso preservar mais meu corpo, o meu corpo, ter mais cuidado com quem eu o divido. E foi em uma orgia que eu conheci o garoto que partiu meu coração. 
Espero que a minha irmã esteja menos depressiva que eu, que ela possa ir á casa da minha mãe socializar. O meu problema quanto a ir até lá é muito simples. Sabe o que eu tenho para dizer? Nada. Vou para ficar ocupando a boca com comida e com álcool? Com pessoas que só sabem falar e não sabem ouvir? E o álcool, eu parei com o álcool.
Tenho trabalho a fazer. Terminei meu quinto (ou quarto, depende) livro. Um romance novo, que modéstia á parte, é a coisa mais sensacional que já fiz. Preciso começar a recriar em português as 88 páginas que escrevi em inglês. Isso me manterá vivo.

Feliz ano novo
XOXO 

4 de dez. de 2016

O OCTATLO

Não fixe na mente o óbito prematuro, garoto. Apenas tome um calmante. Logo ele faz efeito, repousa e logo tudo fica bem, viu como funciona? Ah, o clonazepam... Como ele tem me ajudado. E o que dizer da minha garota, da minha gata siamesa? Sempre tão presente, tão carinhosa. Durante o repouso você acorda de repente e percebe a cabeça dela gorda e fofa repousando na sua canela.



Há vida na semana que vem. A vida está sempre acabando e começando o tempo todo. Talvez seja o que o esporte sempre quis me ensinar e eu nunca quis ou consegui aprender: Temos de movimentar o corpo o tempo inteiro, para seguir em frente.

Além da vida, sim, há muita gente dizendo não o tempo todo, em grande maioria, mas sempre há alguém dizendo sim. E teve mais uma vez. Uma multinacional americana me disse sim, me ofereceu emprego. Vou ter um peru no natal, vou ter dinheiro para comprar um panetone no natal, e para comprar chocolates de trinta centímetros com frequência, como gosto. O natal é católico e eu sou ateu. O natal é feliz e eu desculpe: eu não vou conseguir sorrir nesse natal, nem no ano novo. Não quero mostrar meus olhos tristes para a minha mãe nem para o meu pai no réveillon, eu não quero que eles saibam que estou triste. Vou dizer que me chamaram para uma festa, como já fiz em réveillons passados, mas eu vou passar sozinho e quieto em um abrigo subterrâneo anti bomba.

Tanto tempo esperando e durou um período de tempo tão curto para eu finalmente perceber que não sirvo para as dores do amor romântico. E isso não é sobre aceitar ficar “sozinho” para sempre, pois eu nunca estarei sozinho. Meu pai e minha mãe estão vivos e com saúde, e eu sempre vou poder contar com eles. E o que dizer da minha garota? Da minha gata siamesa, sempre presente, sempre tão carinhosa e tão gorda. Quer saber? Ela vai sofrer fazendo dieta. E ela não vai. Não me importa se é importante para a saúde dela. Ela vai morrer gorda e feliz. Quero que ela seja feliz até o último momento.




O garoto louro não quis meu amor, ele prefere meu silêncio. É mais adequado, se eu pensar friamente. É melhor assim. Já há muita maldade humana e abandono no mundo lá fora, eu não preciso dividir a cama com tais coisas. Isso me faz lembrar do trecho em que minha personagem Cracolene (feia) é rejeitada e morta por Jon (O belo garoto louro) no meu livro "O tiro de um milhão de anos" (Ed. Pasavento, 2015):

Nenhuma breve historinha relembrada, nenhuma montagem com os
‘Melhores momentos’ do que se espera da vida, ou: Nenhuma imagem de   
Cracolene
na montanha-russa, nenhuma imagem de
Cracolene
recebendo um diploma dentro de um tubo. Um fôlego fundo para as outras garotas, mesmo para Corvo que sabia que algo estava para acontecer, para começar a acontecer e não era já apenas um sentimento ou uma desconfiança.
         Cracolene
         Dessa vez foi rejeitada pelo garoto perfeito, a melhor rejeição que já teve. Ela jamais seria esfaqueada novamente. Ela finalmente se livraria da mancha no rosto. Finalmente. Cessaria a preocupação sobre o prédio em que morava, ou se iria desabar; ela é que desabaria por bem! E seria rápido, de golpe certo. Para
         Cracolene
         A vida está apenas começando, apenas começou.
         Todos temem a morte. Geralmente. As pessoas, a maior parte, deve visualizar que as pessoas mais sábias e/ou mais cultas aceitam pior a morte do que outrem. Pessoas tolas e pobres só pensam na quota do sofrimento. Para uma do tipo tola e pobre como
         Cracolene
         Morrer é descansar. Jon teme a morte exatamente por nunca sofrer, por perder a ‘Lourice’, a riqueza, o fato de nunca ter sido diretamente afetado pelo terceiro mundo que o rodeia e suas pessoas asquerosas. A asquerosa vida de
         Cracolene
         Estava acabando e isso até merecia um show, e ao vivo. Então ela relaxou apenas. Ser aceita por Jon e ter de aceitar a si própria após (O que seria bem mais difícil) seria bastante estressante, era então melhor passar adiante, morrer naquele momento.
         Cracolene
         Não tinha, nunca teve esse objetivo, o do triunfo, refletido exatamente como mostrado nessa ocasião, nesse show, mas o reflexo sim estava com ela, e era o que importava.
         Bob um e Bob dois a ergueram como se ergue um caixão, mas com uma frescura, com uma inocência, com uma banalidade como se levassem uma garota de biquíni para arremessar em uma piscina e assim arremessaram
         Cracolene
         Do topo do prédio. Nesse exato momento, a plateia acotovelava-se por um lugar no parapeito para ver ao vivo o corpo explodindo lá embaixo. Claro que havia um telão no palco para. Mostrando uma competente cobertura que contava com dezessete câmeras de resolução absurdamente alta. No site do show, a audiência podia acessar o vídeo de todos os garotos e garotas que já foram assassinados desde a estreia, e também podiam acessar um gráfico que listava todas as mortes e ranqueava o volume de sangue espirrado no momento em que o corpo explodia no solo, um colosso de entretenimento!  
         Raios...
         Cracolene
         Foi colocada direto na posição dezessete no histórico das mais fantásticas explosões de corpos deste Reality show.
         Cracolene
         Não perdeu a chance de desapontar pela última vez.
         Cracolene.


Pensei brevemente em um novo amor. Um jovem cordeiro ou um sugar daddy, mas. Quando se tem 31 anos de idade, não há tempo para mais nada. Pode ser uma mentira, mas é uma sensação muito forte. É a crise da idade.


Antes da minha integração no meu novo emprego, eu me esforcei, me esforcei muito no tradicional octatlo de fim de ano no atletismo da USP. Porém, eu optei por abandonar a competição na quarta prova por não concordar como a organização estava conduzindo o evento. 

Há males que vem para bem, como diria Maurren Maggi. Se ela não tivesse sido pega no doping em 2003, jamais teria engravidado, jamais teria sua adorável filha.

Há males que vem para bem. Ser abandonado pelo namorado me faz ter uma raiva para treinar tão forte, mas tão forte, que nem consigo imaginar o quanto vou saltar em 2017. Em 2016, durante o meu namoro, perdi muitos treinos, muitas competições, era gostoso, tão gostoso ficar deitado com ele, fazendo carinho na cabeça dele, passando tardes com ele. Foi ontem. ontem nos encontramos. ele enrolou, enrolou, e não disse claramente o motivo. A verdade é que só enjoou, só me usou e jogou fora. Espero que ele não me ligue ás 5 da manhã em crise, pois eu não vou atender o telefone. Não vou ser amigo dele. Ele nunca foi meu amigo.

Vou voltar feio para pista segunda-feira, por que não? feio e com raiva, feio e disposto a fazer muita força. A Sofia da poli também não é feia pra caralho? E não foi uma excelente atleta? Então eu também posso.



XOXO

19 de nov. de 2016

VACAS NA RUA

Três tarjas pretas azuis não é nem uma mini intenção de suicídio mais. Tomei já tanta droga assim que, a resistência me fez acordar em duas horas para continuar a ouvir música triste.
Uma técnica: tentar a acabar com o presente dia é mais inteligente do que tentar acabar com a própria vida.
Ainda assim, o vício de voltar a olhar o telefone o tempo todo não cessa. Ele não toca, não vibra, e duvido que vibrará nos próximos vinte minutos quando eu olhar de novo.

Ao contrário dos ansiolíticos que não confortam, a besta me conforta. Sim, uma besta, uma besta muda – minha gata siamesa que se chama tatyana rumanova lebedeva, assim como a grande saltadora russa que ainda hoje é recordista mundial do salto triplo em pista coberta. Minha gata é minha melhor amiga, ela nunca disse nada, é meu relacionamento mais duradouro, temos uma amizade de oito anos, a que todos os dias em que estou miseravelmente melancólico, a gata se torna mais presente, fica mais carinhosa, tenta fazer com que eu siga em frente, por mim e por ela. Isso diz um pouco sobre a minha relação com os seres humanos.

Isso é muito bom, pois são quase 3 da manhã e não conheço ninguém que está disposto a me ouvir para eu dizer que desejo morrer. Por outro lado é bom. O esporte me ensinou muitas coisas, é melhor retirar-se no auge, não na decadência, o que dizer de Fabiana de Almeida Murer, que aposentou-se no mesmo ano em que bateu o recorde sul-americano, marca essa que é uma das dez melhores da história?

Espere até fevereiro, fevereiro é um bom mês, o pálido fevereiro, assim não se estraga o natal de ninguém, o réveillon de ninguém, sim, até lá você terá emprego, o tratamento com o lítio terá respondido bem melhor, terei meu estimado garoto louro que tanto gosto de volta com um pouco de sorte, estarei em forma para competir em março, tudo estará bem, estarei em um mini auge, não há necessidade de fazer alarde, então. Outro livro, sim, outro livro. Da última vez que dei um livro de presente de aniversário para a minha mãe ela disse “outro livro, Hugo?”. As pessoas não gostam de livros. O que me faz detestar o transporte público, pessoas lendo jojo ou “a culpa é das estrelas” e essas pessoas lamentavelmente estão se achando cultas apenas por ler, ler qualquer coisa. Sim, terminei de escrever outro livro. Outro de livro de poesia. Se estou orgulhoso dele? Sim, muito. Mandei o arquivo para uma dezena de pessoas. Sim, eu escrevo para uma dezena de pessoas e. você está feliz por terminar mais um livro, Hugo? e por que eu deveria estar feliz? Ana Cristina Cesar se jogou do oitavo andar pouco depois de publicar o clássico “A teus pés”, por que eu deveria estar feliz?

Talvez tudo estivesse bem se eu estivesse na índia. Vacas, elefantes na rua, mas soltaram as vacas aqui, bem debaixo dos meus bigodes.

Das vacas vem o bife. Sim, eu consegui. Consegui competir no último 06 de novembro. Mesmo melancólico, eu consegui. Consegui lançar um dardo de metal que mede 2,43m e pesa 800g a uma distância de 34,37m. Não é difícil. Treine por nove meses e você também consegue. Ganhei uma medalha de bronze. No salto em distância, fiz um salto de 5,80m. Também não é difícil. Outra medalha de bronze. No fim das contas, não ganhei um centavo, tenho de aturar a antipatia de um monte de gente durante os treinos e as competições, mas afastei alguns fantasmas da minha cabeça. Sim, pois quando treino, penso menos na morte e na condição humana.

Quando você vai publicar seu livro novo, Hugo? não faço ideia. Continuo tendo prazer em escrever, mas não tenho mais o menor tesão em publicar. Primeiro, porque não tenho público (O meu texto tem público, mas o Hugo Guimarães é que não tem). O meu texto é impopular e eu sou uma pessoa impopular. Não é pose, eu sou uma pessoa originalmente impopular. É difícil entrar em outra jornada para publicação, conseguir, ter um trabalhão para divulgar um lançamento, e no dia não aparecer quase ninguém. Não quero mais esse constrangimento para mim, nem para o editor. “Moon drungo”, meu livro novo de poemas é bom, gosto muito dele. Vou inscrevê-lo em editais no ano que vem. Talvez eu publique eu mesmo, em papel reciclado, ou em papel de embalar pão francês, em 100 cópias.

Gente recolhendo bosta de vaca, de elefante por toda parte na vizinhança. Estou na casa da minha mãe aos 30, esperando um novo emprego. Não ganhei um centavo pelas medalhas do bife. Apenas ganhei e mantenho um belo corpo musculoso, mas parece que meu belo corpo, meu pau grosso, não é suficiente para compensar os problemas na minha cabeça, meu namorado me pediu um tempo, não sei se ele vai voltar. Estou com medo de sair na rua para ir comprar pastel, medo de ser atingido por uma vaca, de pisar em bosta de vaca.

No ponto de ônibus, no trajeto de duas horas da casa da mamãe até a pista de atletismo, a humilhação dos 30 anos de idade martela minha cabeça. Nada deu certo na minha vida desde então e não adianta começar nada de novo agora. Não se começa nada aos trinta. Se começa aos vinte, daí se fica bom aos trinta. A única coisa que comecei bem antes dos vinte, foi escrever. Eu deveria ter começado a tocar piano aos treze, ou começado a jogar tênis. Devo me lamuriar por minha literatura nunca ter me rendido absolutamente nada? Não, devo apenas aceitar que minha literatura apenas não é boa o bastante, e que joguei fora quase duas décadas da minha vida para conquistar duas dezenas de leitores, no máximo.

Na Bolívia ainda tem uma reserva bem grande de lítio, ainda bem. Depois da última crise que tive dez dias atrás, não tenho parado mais de tomar meu lítio. Hoje me sinto apenas um pouco triste por causa do cotidiano em si, mas há sim uma base de equilíbrio que me protege da inconsequência, que me garante que acordarei vivo pelo menos amanhã. Usam lítio para baterias, mas logo inventarão baterias mais modernas. Assim vai sobrar bastante lítio pra tratar gente louca, sempre vai haver muita gente louca, e vai haver muito lítio.


XOXO