P

 ponto de desaparecimento.

31 GRAUS SEM NUVENS

“Elegia 31 de agosto de 2015”

 

Por que estou aqui?

Estou aqui já que você também está aqui e deus:

Como está aí embaixo, pedaço de lixo? E eu:

Bem, até; 31 graus sem nuvens.

 

***

 

Eu passo duas camisas
Uma vermelha e uma azul
Uso terças e quintas a azul
E segundas e quartas a vermelha
Sempre a calça preta
Sexta-feira, eu visto só preto
Sábado eu queimo as roupas
A camisa azul e a vermelha
E a calça preta.

II

Por mais que tomasse banho
Todos os dias
Eu estava ainda sujo
Por isso passei a deixar de tomar banho
Um dia ou dois.

XOXO

PREGO

 

“Da Cabeça Aos Pés”

 

Com a boca cheia de sangue

Eu vou fumar até eu morrer

 

Com um grito de umbanda

Eu vou ser louco até eu morrer

 

Como uma viúva negra

Com a pata presa na teia

Vou atrás de homens até eu morrer

 

Julgado e condenado

Eu vou espalhar culpa até eu morrer

 

Se o destino é vilão

Como cupins de demolição

Eu vou ficar nessa casa até eu morrer

 

***

“Prego”

 

Como gente pobre

Eu me colocaria na cruz

Velas para todo lado

Mais um prego,

Por favor

 

Como gente pobre

A próxima vida

Quem sabe? 

XOXO

RAÇA

“Raça”

 

Não se espalha flores

Se você nas as recebe

Mãe, você só disse eu te amo

Agora aos 34, por celular

Nunca antes

E foi em uma resposta

Espalhei ódio

E a pessoa amarga que eu sou

E a pessoa amarga que eu sou

 

Você fica quieto porque você sabe

É melhor mesmo ficar calado

Nada do que disser vai consertar

Mas você é tão duro

Que você não quer consertar

Você me espancou, pai

E você nunca vai dizer que se arrependeu

Se é que se arrependeu

 

Eu vi o mau nos seus olhos

E o mau ainda está aí dentro de você

Depois de todos esses anos.

Eu tive a sorte de me desconectar

Por todos esses anos, irmã

Desconectado de você

Como se fossemos estranhos

Que acabaram de se conhecer

Em um bar ou no inferno.

 

***

 

“Ponte”

 

Estarei lá

Na inauguração da sua primeira ponte

Amargo cortando a faixa

Com uma tesoura de fogo

Queimando minha mão

Em terceiro grau

 

E eu me queimei ontem

De propósito

Com o cigarro

XOXO

VOLÚPIA

 

“Volúpia”

 

Seu excesso de testosterona

Sua testosterona top

Não me puxaria pelos cabelos

 

Molharia meus cigarros

Me queimaria vivo

 

***

 

“Buraco”

 

Eu sei como é ter um buraco

Á sua disposição

E dar a mínima

Eu tenho vários, eu mesmo

E nem a mínima

 

Queria tapar esse buraco

Com cimento e pedra

Para operário mexer

Quando você ver

XOXO

AS MORTES

 

Um dia você pensou em mim

Pensou que eu poderia

Passar o resto da vida

Trancado em um hospício

 

Ou ser morto na rua

Com pauladas na cabeça

 

Pensou que as duas mortes

Eram plausíveis

 

***

“Sucrilhos”

 

Enquanto eu te enalteço

Eu me diminuo

Qual a grande novidade,

Doutor?

 

Eu fico perdido

Aqui nessa confusão de formigas

Eu tento achar meu lugar

Na fila que carrega o pedaço de pão

 

Invernos e verões

Furacões e estiagens

Que matam

Eu quero cair

No seu pote de Sucrilhos. 

XOXO

AMORÉ

“Urina”

 

Eu travesti,

Recém-chegada da Itália

Com um pênis bem robusto

E você aparece no seu carro

Para se divertir um pouco

Eu pergunto

E aí garotão?

Quer dar um passeio

No lado selvagem?

E você joga

Uma caneca de urina

No meu rosto

E as garotas de cor cantam

Do-do-do, do-do, do-do-do

Do-do-do, do-do, do-do-do

Do-do-do, do-do, do-do-do

Do-do-do, do-do, do-do-do

Do-do-do, do-do, do-do-do

Do-do-do, do-do, do-do-do

Do-do-do, do-do, do-do-do, do do

 

***

“Amoré”

 

19 cm di amoré

Imagino seu pau tão gostoso

Quanto esse doce

De leite que mastigo

 

Grande amoré

XOXO