E eu ainda não
posso me esquecer da barba. Da barba.
Meu ex-namorado
é uma assombração que me assombrou terrivelmente durante cinco meses. Hoje, ele
têm me assombrado cada vez menos.
Mudei-me há cinquenta
dias, frígido.
Até hoje já
recebi três homens no meu quarto novo.
Elsewhere 1#
Poderia ter
recebido mais, não fosse o caos do treino e os problemas que venho enfrentando
com o treino, a extrema preocupação com a evolução da técnica, das marcas. Eu não
entendo, eu não entendo a planilha que meu treinador me envia todas as semanas.
Não posso
mais treinar junto com os outros. Consegui um trabalho em Alphaville. Você sabe
onde fica Alphaville? Fica um pouco pra lá da China. Consigo chegar á pista bem
no finalzinho do treino, quando todos os outros já estão terminando o treino.
Pergunto ao
treinador o que devo fazer, e fico lá fazendo, sozinho, no escuro, pois um raio caiu no
refletor há dois meses e deus sabe quando vão consertar.
Eu odeio
repelente. Tenho um nojo indizível de repelentes. Mas voltei a passar ontem
porque tem mais mosquito na USP do que na Amazônia e estou com o corpo todo com marcas de
picada de inseto.
Não é fácil
trabalhar dez horas por dia, ir para a academia quatro vezes por semana,
treinar salto triplo, salto em distância e lançamento do dardo o suficiente
para competir de uma forma “decente”. É difícil encaixar tudo isso em uma
rotina. Também é difícil ter paciência com as dores. Mas decidi que é uma das minhas
“missões” em 2017. Fazer tudo isso bem durante o ano e conseguir boas marcas,
apenas porque é difícil. Há um ditado japonês que não vou saber transcrever por
não lembrar com exatidão. Algo como “É difícil? Então é isso que quero fazer”.
A mulher,
além de trabalhar, estudar e cuidar da casa, a sociedade ainda a impõe a “obrigação”
de ter um homem. Eu lembro de um comentário assim em uma conversa com a amiga
escritora Adrienne Myrtes. Com o homem é diferente: além de trabalhar, estudar e treinar, a sociedade ainda o “obriga” a cuidar da barba!
Elsewhere 2#
Vamos falar
da morte, que é o que interessa.
Ocorre que
sexta-feira, terminei meu mais recente romance (também tenho um inédito de
poesia). Eu deveria comemorar bebendo sozinho na minha varanda uma garrafa de
um belo vinho do porto. Mas não tinha dinheiro para isso, pois como comecei a
trabalhar em doze de dezembro só terei um mês de salário na próxima
terça-feira.
Primeira dica
sobre dinheiro: se você quiser começar a sair com um homem jovem, pós-
adolescente, saia com um que possa dividir a conta. Aliás, você não é o pai nem
a mãe dele.
Bem, a
começar a empilhar livros começo a pensar na superpopulação e nos seus males. Grandes
escritores, parte deles escreveram muitos livros e partes, poucos, ok, mas
começo a achar que estou escrevendo demais. Além disso, meus livros são meus “filhos”
e eu já tenho três filhos. Estou grávido de mais dois. E honestamente, desejo
abortar um deles, o de poesia, simplesmente porque acho que não gosto mais dele
e que o romance é extremamente superior em tudo: qualidade literária, originalidade, potencial comercial, etc.
O infante
terrível:
O meu
romance novo tem 100 páginas.
Ele se chama
“DRAG POR DRAG”. Claro, uma óbvia alusão ao álbum “BLONDE ON BLONDE” do Bob
Dylan de 1966.
Sinopse:
Chove no mundo inteiro há sete dias. Muitos acham que o mundo se acabará em
água. Mesmo assim, Igor, com seu casaco e capuz preto, arrastando seu martelo
de arremesso, sai de casa no bairro da Vila Mariana com o objetivo de chegar
até a Universidade de São Paulo. Igor tem um motivo terrível para enfrentar o
caos da cidade e chegar até a universidade; e as adversidades que encontrará no
caminho compõe a trama desse romance.
Gosto de
Dostoiévski e gosto de Eça de Queiroz. É possível perceber influência dos dois
na estrutura narrativa.
Quanto ao
estilo, creio que pela primeira vez consegui articular como nunca todos os meus
talentos. Ele não é tão explícito e violento como “O Estranho Mundo”, mas não é
tão contido ou polido e difícil quanto “O Tiro de um milhão de anos”. Porém, ele é mais “possível”
do que qualquer outro livro meu, é meu livro mais “acessível”, mais “fácil”,
tanto que é possível até “filmá-lo”, algo inimaginável para meus livros
anteriores. Porém, meu estilo está lá, não deixei de ser eu mesmo, apenas
evoluí. E o livro, como terminou, acabou me surpreendendo. A ideia original era
fazer um livro de sessenta páginas. Trinta páginas com texto, e trinta páginas
com imagens. Acabou que não consegui dizer o que eu queria em trinta páginas de
texto e o livro acabou evoluindo para um romance “comercial” de 100 páginas e
nenhuma imagem.
Em 2017
começa a corrida para a publicação. Esse, eu faço muita questão. De publicar,
de divulgar. Simplesmente porque acho que o mundo precisa mais de livros como
esse. Embora seja difícil, vou apresenta-lo para algumas editoras durante o ano
e ficarei ligado aos editais. Se “O tiro de um milhão de anos” ganhou o proac
em 2014, acho bem possível que esse “Drag por drag” ganhe algum edital por ser infinitamente
melhor.
E ainda
tenho que cuidar da barba.
XOXO