Fui contratado para trabalhar em uma
trading e por curiosidade resolvi apontar o número de erros de português e
inglês dos e-mails que eu recebia nos dois primeiros dias que trabalhei. O
resultado está aí embaixo...
16/05
DR 22
FL 50
LR 3
BS 2
EO 2
FR 2
LS 1
LS 1
LS 2
85
17/05
AA 5
GO 10
BS 5
FR 6
FL 27
DR 13
SG 9
JP 3
IG 2
JC 5
KC 3
88
Fiz tudo certo, sei que
fiz, e também tudo o que eu podia. Eles me demitiram dez dias depois da
contratação, mesmo eu sabendo escrever. Inventaram um motivo qualquer para
explicar, mas nada vai justificar. O estagiário francês que abria um sorriso
enorme quando me via, não quis me dar o telefone dele. Ele só estava sendo
simpático, acha que ele iria se relacionar com alguém do "selvagem terceiro
mundo" como eu? Eu sou a África, só agora pude perceber, os Europeus são puros,
eles admiram a nossa cultura, a nossa (falta de) personalidade, nos admiram em
filmes pornográficos porque temos rabos grandes e paus bonitos, mas vir
trabalhar aqui e ficar com alguém aleatório? Jamais! O que pensariam? Sair com
um brasileiro? País tropical é cheio de doenças, não é? E se ele me roubasse?
Me sequestrasse? Me espancasse? Gravasse tudo e começasse a me chantagear
pedindo dinheiro? Será que eles cuidam dos dentes? Será que vende escova de
dentes no Brasil? Por precaução eu trouxe dez da França, fora o fato de que são
todos ladrões, desde os que vivem na favela até os políticos. Muitos deles
passaram fome antes de chegar até a faculdade, por isso comem tudo o que veem
pela frente, as frutas e os biscoitos que a empresa fornece todos os dias acaba
pouco depois do almoço. Só pensam em dinheiro, se prostituem por qualquer
coisa, roubam em qualquer contexto, eu lembro daquele turista que caiu daquele
bonde enquanto passava sobre aquela alta ponte branca vazada. Mesmo aquele
homem agonizando, ninguém quis ajudar, pelo contrário, algumas crianças
marginais se aproximaram para pegar seus pertences, foram enfiar as mãos nos bolsos dele. Além de porcos, são hipócritas, tiram a roupa no carnaval, transam
na rua no carnaval, mas são conservadores, são reacionários, não se pode nem
falar em aborto por aqui, nem em casamento gay. Aliás aqui é onde mais se mata
população lgbt no mundo, por isso tento ser tão discreto. Aqui também é o lugar
onde mais acontece feminicídio no mundo. Pois é, acredita que se em uma relação
heterogênea, a mulher termina o namoro ou o casamento, o homem se sente no direito
de matá-la? Além do mais, não é à toa que o centro empresarial e urbano em geral
ficam todos tão perto um do outro, pois não quero nem imaginar onde essa gente
mora. Aqui não é o Rio de Janeiro, mas aqui em todo lugar tem favela e
todas elas são controladas pelo tráfico de drogas, e você não pode se atrever a
aparecer lá sem ser convidado ou apresentado, pois com certeza será assassinado
ou sequestrado. Assassinado como? Pergunte à eles. Existem duas leis no Brasil,
a lei da constituição e o tribunal do crime. Se já não fosse o bastante, eu já
vi várias fotos e vídeos de favelas de São Paulo, são horríveis, nunca vi nada
parecido na França. Eu deveria ter pensado melhor, conheci brasileiros com
personalidades tão incríveis na França, só ouvi coisas boas do Brasil, sempre, e
eu já estava cansado da frieza, do cinismo dos franceses, mas há algo pior que
encontrei aqui que me testa a paciência: como tem gente burra nesse lugar, meu
deus do céu! Je suis chatte!
Estava dentro das
metas? Estava, estava dentro das metas o empreguinho de merda, mas eu me
senti tão ultrajado como nunca, mas tanto que tomei uma decisão drástica: mudar
de carreira (uma que dê dinheiro). Sim, eu me inscrevi no Jabuti e eu já
comprei dois potes de creme anti sinais com ácido hialurônico dos bons.
Trecho do romance “POCO” a ser
lançado em julho de 2024
Já parou para pensar
que nesse país conservador de merda, uma garota de treze anos não tem o direito
de abortar? As pobres é claro... elas se trancam no último box do banheiro da
escola, tiram as roupas de baixo e arrancam o feto por sucção.
Já tentou imaginar uma
garotinha negra derramando lágrima por ter expelido a criança? Ao ter ouvido
algo se chocando com a água do vaso sanitário? Porque o pai do feto não o quis
e os pais da garota o queriam menos ainda? Imaginam o quão difícil é levantar
do vaso e ver o filho nem que seja uma vez só, ela levanta e há muito sangue no
vaso inteiro e a garota tendo uma hemorragia na vagina e nos olhos, o bebê não
desceria pelo vaso, era um bebê de três meses dentro da barriga, pode ser lindinho,
mas em um vaso sanitário é nojento, a garota deixava o sangue cair bem sobre o
feto como se aquilo fosse uma benção, começou a sentir tonturas e achou melhor
esperar a hemorragia passar, sentada no vaso do lado contrário, sentada em frente
à parede para apoiar os braços em cima do dispositivo da descarga e colocar a cabeça
dentro dos braços e tolerar melhor as cólicas, as cólicas. Assim, esperou tanto
pela hemorragia e a tontura passar que dormiu, mas esse sono já era a morte,
afinal ficou tudo certo, assim é que é, assim é que foi, era o justo, se ele se
foi, que direito tenho eu de ficar? Mãe e feto, mãe morta naquela posição que
ficou pornográfica depois que, morta, o corpo não se sustentou mais sentado no
vaso, desabou para a esquerda e caiu em cima da lixeira. Uma das pernas ainda
pendeu para cima do vaso. Já era uma senhora de idade a funcionária da limpeza
encarregada de fazer certas tarefas, inclusive como ver se o banheiros estavam vazios
quando a escola fechava.
A senhora, como de
praxe, se agachou para ver se tinha alguém nos banheiros, viu que tinha alguém
no último box, achou estranho porque dava para ver só um dos pés de uma garota,
mas viu que tinha algo a mais depois do vaso, mas não sabia o que. Prevendo o
pior, tentou chamar, bateu na porta três vezes.
– Menina? Está tudo bem
com você? Nós já fechamos a escola
Não houve resposta.
Como a funcionária era cardíaca, achou melhor sair daquele banheiro, porque
sabia que havia uma cena macabra dentro daquela porta, ela comunicou os
superiores de modo que adentrou a diretora e um guarda para checar a situação
antes de tomar qualquer atitude. O guarda entrou no box ao lado do da garota,
pisou no vaso e olhou por cima da divisória,
– Meu deus.... Dona
Damares, nem queira olhar o que tem aí do lado, vamos chamar a polícia.
Era a constituição e
deus desabando em cima de mais uma mulher.
***
E se ela entrar em contato a fim de “resolver” essa situação entre eu e o filho dela? A fim de eu desaparecer para sempre "numa boa"? De modo que eu pare de escrever poemas para o filho dela e postar na time dele? Ainda mais o tipo de poema de eu escrevo. É só mau gosto ou dá para entender outra coisa também? Ameaça? Ou você quer que o meu filho tenha pena de você? Que faça “coisas” com você? Que tenha um relacionamento com você? Que ame você? Com essa sua loucura (real ou inventada)? É difícil amar a si mesmo e se você não ama a si mesmo, quem vai te amar? O meu filho, com certeza, não. Eu não estou criando um atleta olímpico, eu não criei um engenheiro para entrega-lo para um escritor que só escreve coisa da pesada e que tem histórico suicida! Não dá! Simplesmente não dá!
Relação para acertarmos em relação a conduta do seu filho em relação a mim? Que conduta?
Até o meu nome você roubou, dona Alberta. Esse é o nome da protagonista do filme filipino “Melancholia”, dirigido pelo grande Lav Diaz, que já foi homenageado na mostra aqui de São Paulo. É um filme de sete horas e meia, se eu vi tudinho e amei tudinho é porque virei fã tanto do filme, quanto do diretor, quanto da Alberta. Eu acho que você perde seu tempo, aquelas sensações de inexistência que o seu filho me fez provar, eu não quero mais. Não foram só esses as sensações ruins, mas eu não acredito em revanche, fique tranquila, vá cuidar da prataria.
Ah quer saber? Eu nunca
fui polido e nunca poupei palavras mesmo. Você e seu filho meio escurinho
deveriam saber que para chegar nas olimpíadas, precisa ser fora da curva, só
trabalho não adianta, e o seu filho não é fora da curva. Faze-lo saltar quinze
metros em oito anos é o cúmulo de tirar sangue de pedra, mas não esperem muito
além disso...
De volta à 2017 quando
tudo começou ele pode alegar que era calouro e que eu era veterano, por isso eu
ganhava dele. Negativo. Eu comecei a treinar salto triplo no começo de 2017, ao
mesmo tempo que ele, porque meus resultados no salto em distância não eram bons
e eu já tinha o dardo para treinar. A temporada acabou em agosto de 2017, eu
terminei com um SB melhor que o dele (saltando de uma tábua de nove metros) e
venci as duas vezes que competi contra ele.
Dava vontade de chorar
ao vê-lo saltar, ele simplesmente não finalizava o salto, ele fincava os dois
pés na areia e depois saía quicando para frente como se alguém o tivesse
empurrado.
Mesmo ele saltando com
uma técnica sofrível, eu o superei na quarta etapa do TUNA em 2017 por meros
quinze centímetros. Tinha de ser próximo mesmo, ele tem 1,90m e eu tenho 1,73m.
Eu precisava compensar com técnica. Porém, ele tinha os melhores técnicos à
disposição, eu treinei sozinho em 2017 por causa de uma suspensão cruel e
injusta da FFLCH. Bem, eu ganhei uma medalha na quarta etapa do TUNA no salto
triplo em 2017. Nenhum atleta da POLI nem da MED tem uma. Seu filho gosta tanto
de exibir aquele monte de medalhas como se fosse o homem de ferro, não? Está
faltando uma medalha naquela coleção, a do salto triplo da quarta etapa do TUNA
de 2017. Eu tenho uma, está no meu quadro de medalhas. O seu filho não tem uma
e nunca vai ter. Se eu não poderia ter sido atleta profissional? Se eu não
tivesse largado o atletismo no centro olímpico aos vinte e dois para cursar uma
faculdade que eu detestava, eu acho que eu seria sim, mas eu não precisava. Ser
um grande saltador não é meu único talento e ser saltador demanda tempo demais.
O mundo acabou do jeito que eu
conhecia.
Eu sou feito de medo do futuro.
XOXO