22 de mar. de 2016

O PROJETO LIXO #1

você não precisa aprender a viver só. não tema a frase. apenas dê uma rápida olhada para trás e veja quanto tempo você já está só.

o projeto lixo #1 terminou ontem. 250 gramas de sobrecoxa de frango grelhado, salada de grão de bico e batatas fatiadas com molho; um pouco de proteína para fazer o lixo ficar forte, um pouco de salada para manter o lixo saudável, um pouco de carboidrato para dar ao lixo alguma energia. três salsichas viena para fazer o lixo ficar ainda mais forte, maionese para antecipar o ataque cardíaco do lixo. leite de madrugada porque o lixo sente um pouco de fome ás madrugadas. leite para piorar a acne do lixo, leite desnatado para não piorar tanto, chocolate em pó para dar ao lixo um pouquinho mais de energia, um pouco de gordura, a gordura do dia, porque o lixo também precisa de uma capa de gordura, para evitar que ele sinta um inexplicável frio.

está satisfeito com quem você é agora?

isso me faz lembrar um dos meus poemas novos:

***

“Elegie August the 31st, 2015”

Why am I here?
I’m here just because you are also here
How does it feel down there, piece of trash?
It feels fine, it's 31 degrees and it’s sunny.

***

então eu fui dormir com a minha aura violeta, pois foi só o que me restou. não funcionou muito bem, pois acordei extremamente melancólico e isso me fez lembrar de outro dos meus poemas novos:

***

“Descer”

Mãe olha para baixo e vê a barriga murcha
O bebê se foi
O príncipe se foi

Fui dormir príncipe
Acordei uma pedra de gelo
E desci pelo ralo.

***

não consigo explicar, mas o que eu sinto pelo meu livro novo de poemas é amor. sim, amor. hummm então você sente amor por algo na sua vida, não é? sim, parece que sim. e eu até sorrio pensando neste livro. então temos aqui um motivo para você se segurar na sua frágil vida. veja bem: não a minha vida em especial, mas a vida por ela mesma. hoje eu consigo ver com muita clareza o quanto a vida é frágil, porque qualquer vida é muito pequena dentro da história da humanidade, da história do planeta e da história do espaço, terrivelmente frágil e. bem, animais sangram com tanta facilidade e. bem, nós não deveríamos ter medo. ter medo de sangrar, digo.
que mais? que mais o quê? que mais te faz sentir amor? atletismo? bem, eu não diria isso, pois eu sempre vou embora do treino insatisfeito e infelizmente é assim que deve ser: o atletismo consiste em nunca estar satisfeito e como há de se amar algo dessa forma? como não chamar de vício ao invés de amor?

XOXO 


6 de mar. de 2016

NADA É TÃO RUIM

nada é tão ruim que não possa piorar. alguns dos meus planos devem ser seriamente reconsiderados desde que eu lembrei que há algo de errado comigo, por dentro e por fora. passar um tempo sem ver pessoa nenhuma me faria bem, acho (1) mas, a vida me leva ao oposto: a infecção respiratória está prestes a morrer, meus dez dias de recuperação da cirurgia de desvio de septo estão para acabar [ medo de assoar o nariz, pois temo que os curativos internos vão sair se eu assoar. então eu aspiro e aspiro e temo que a secreção na minha garganta que eu engulo, ás vezes é sangue e não sempre água ]. terei de ver pessoas no meu emprego, pessoas na academia, pessoas no treino de atletismo, pessoas no curso de letras. tendo de ver pessoas na casa onde moro e no transporte público já é o suficiente para me deixar um pouquinho mais louco. sei que posso resolver os dois últimos tópicos alugando um apartamento bem pequeno e comprando um carro velho.



(1) ficar em casa tentado me tolerar, esperando que o tempo passe, me ajudaria a tentar tolerar os outros mas.

não posso mais tolerar esses óculos. vou comprar lentes logo, pois. esses óculos me deixam mais feio, um tanto mais feio. eu acho. na verdade, os óculos não me deixam um pouco mais feio ou um tanto mais feio, eu é que sou um pouco mais feio ou um tanto mais feio do que eu recentemente acreditava e é por isso que eu só coloco os óculos quando vou ao cinema. quando não quero ver a realidade, eu apenas tiro os óculos, é bom ver o mundo borrado, não ver nada. tenho 2,5 graus de astigmatismo. se eu usar lentes, não terei essa opção. sim, pensei em criar um personagem que tem 2,5 gaus de astigmatismo e não usa os óculos para evitar a realidade e ele fará o melhor para enxergar cada vez menos mas não, você não pode criar esse personagem, porque esse personagem é você, então não é um personagem.

"eu não tenho carreira, eu tenho hábito"(2). bem, é difícil admitir, mas é verdade. já paraste para curiosar o que as pessoas publicam na internet sobre publicar poesia? ótimo, então não interrompa meu café da manhã dizendo que você quer escrever e/ou publicar um livro. sabemos, sabemos que ninguém ou quase ninguém vai ler o seu livro novo mas ok, é nossa obrigação continuar publicando essas coisas que ninguém lê ou quase ninguém lê. é uma obrigação moral. obrigado. talvez não seja pelos leitores que escrevo mas, é pelas pessoas que fazem essas "obrigações", esses que trabalham em editoras, pequenas ou grandes, e julgam os textos nos editais do governo. quer saber? e quanto a nós que escrevemos? nós temos obrigação de "manter a poesia viva" neste país? ficar dando tiro no vento? bem, talvez sim, mas saiba que é mentira, escrever não é algo que não podemos evitar, nós que escrevemos, podíamos canalizar essa energia fazendo qualquer outra coisa, aprendendo a tocar harpa, jardinagem... mas escrevemos porque queremos e é muito mais vaidade do que amor, se é que você já não sabe disso. lá vamos nós de novo, meu livro novo de poemas, agora eu posso voltar a trabalhar em um bom texto para introduzir o livro, agora que terminei de co-escrever um argumento para o roteiro de um longa metragem com gustavo vinagre. agora que não fiz o que prometi, as página que prometi, agora que fodi a coisa toda e gustavo deve estar brabo como o diabo comigo. disse a ele que estive doente muitos dias. doente na mente, doente no corpo e diabos... ele deve estar pelos infernos comigo. não posso culpar o meu gerente no meu emprego, ele não podia me deixar escrever e deixar as tarefas de lado. 

(2) apenas mantenha em mente que "I'm not the shampoo girl, I'm the real thing". é ruim traduzir essa frase, mas é do filme "monster" (sim o da charlize). 

tudo o que eu tenho para dizer sobre cinema, além de que não sou crítico e grande cocô para o que eu penso sobre os filmes que vejo, é que amanhã eu poderia passar o dia trancado no quarto, tentando ficar um pouco positivo para enfrentar a semana, para ter minha vida de volta, e talvez, daqui a muito , muito tempo eu tenha um casamento igual ao da viúva porcina, com rua fechada e um monte de criança preta correndo atrás e jogando arroz, mas quero dizer que amanhã: eu vou encarar cinco horas e meia de um filme do lav diaz no ccsp e eu até mereço uma medalha por isso.



XOXO



15 de fev. de 2016

AS ESTRELAS

dizer "sim". sei que pode parecer cafona citar a Clarice. não é, sabe. as pessoas é que fizeram com que fosse cafona citar a Clarice. no começo de “a hora da estrela” ela disse que o mundo se formou porque uma estrela disse “sim” para outra, daí causou-se uma grande catástrofe que resultou em algo tão fantástico como esse planeta, ou este mundo. dizer "sim".

cafona é você. o começo de “a hora da estrela” é um dos melhores começos de livro que li na vida. aliás, “a hora da estrela” é um dos melhores livros que li na vida. você leu obrigado para o vestibular? achou chato? não se emocionou? então você não tem coração. cafona é você.

bem, o que eu ia dizer sobre dizer “sim” na verdade, é uma conclusão (sempre acho melhor dizer “conclusão” do que dizer “tese” ou “teoria”, pois ainda me confundo ao identificar o que é tese e o que é teoria): sobre a minha relação com o mundo; tudo o que é preciso ser feito para algo extraordinário acontecer na minha vida, é eu dizer “sim” para o mundo e o mundo dizer “sim” para mim. honestamente, eu não sei dizer se o mundo já disse “sim” para mim, mas eu com certeza ainda não disse “sim” para o mundo.

o mundo, eu quero dizer. não a vida. sim, na minha cabeça são duas coisas diferentes. eu tenho quase certeza de que a vida é uma mulher. e eu acho que o mundo é um homem. talvez seja mais fácil, mais fácil o mundo dizer sim para mim. e eu também acho que, talvez, o mundo seja bom. a vida é má, tenho quase certeza. porém, contudo, se haver esse “sim”, esse esperado “sim”, algo extraordinário aconteça. esse “algo” extraordinário pode até ser algo que eu tenho perseguido há trinta anos, e que parece cada dia mais impossível: eu aceitar a vida.

*** 
repita para você mesmo: você não é a kelly key cantando a música da rosana (google it) e você não é a Catherine Deneuve passando roupas com o fio do ferro fora da tomada em “repulsion” (google it either).
***

sei que estamos no zimbabwe ocidental e não na américa, mas é impossível não se lembrar que é valentine’s day. embora eu esteja mais calmo, bem mais calmo por voltar a tomar xanax para tolerar melhor a vida, eu achei melhor vir para casa antes de terminar de ver o filme “brooklin” que está em cartaz no cinema. eu devia ter escolhido “joy” ou “a garota dinamarquesa”. “brooklin” é apenas divertido e a garota protagonista desenvolve uma história de amor tão bonitinha com um bofe tão bonitinho que não me contive de inveja. bem, na verdade não é bem isso. a verdade é que passaram por mim vários flashbacks da minha relação com homens no que diz respeito a relacionamentos amorosos. tive trabalho ao escrever “relacionamentos amorosos” ao invés de “sexo”,  pois eu não sei mais o que é um relacionamento amoroso há muito tempo. e é sempre o meu problema de dizer “sim” a mim mesmo antes de me oferecer a outro homem e dizer “sim” para ele, e esperar e acreditar que ele também diga “sim” para mim. primeiro é o corpo. três meses atrás, com o corpo perfeito, em pleno treino, com a pele perfeita, eu não me achava apto a ter um relacionamento com ninguém por causa da minha cicatriz nas costas, que nem se vê, que nem é o fim do mundo. e agora então que estou fora de forma e com acne? sei que já estou recuperando a forma e a acne já está melhorando, mas nessa exata condição, eu posso já ter a exata vertigem de outra certeza que eu já havia comentado por aqui, no réveillon: o corpo não é seu, você apenas o está usando, e você tem de devolver no fim da vida. nesse exato momento, eu tenho a sensação de que já devolvi o corpo.

conclusão: eu preciso voltar a conhecer o nome do homem antes de conhecer seu pênis. estou com saudades de conhecer primeiro o nome do homem, para depois conhecer seu pênis. ok ok, mas só depois que eu estiver em forma. só depois que a acne sumir totalmente.

XOXO

8 de fev. de 2016

A CRUZ DE ESCADINHA

tudo o que eu pretendia escrever era triste. putz, não dá pra se manter triste quando se coloca o “vanishing point” do primal scream para tocar, não? saco. melhor desligar por enquanto e ouvir apenas vozes. vozes feias na varanda. uma tristeza.



a cruz de escadinha:

você já viu o vídeo de “heart shaped box” do nirvana? pois bem, então entenderá a metáfora, ou o paralelo (a metáfora do vídeo, o meu paralelo, quero dizer): quinta-feira, lá estava eu subindo na cruz de escadinha, isso para alcançar melhor os ombros da cruz, eu já todo velhinho e enrugado. saco... o problema é que ainda estou jovem e ainda não posso dar a desculpa da velhice para subir na cruz de escadinha, o que acaba com a metáfora do vídeo. bem, mas aí vem a minha metáfora e o meu paralelo: subir na cruz de escadinha é a própria imagem ou da covardia ou do cansaço (explicarei), ou do medo da dor que impede muitos de nós de abreviar a vida. quinta-feira foi demais, sabe? difícil, difícil tolerar a própria imagem. “vou embora, não estou bem” ‘você precisa de alguma coisa?’ “uma pele nova”. bem, também seria bom não passar nove horas por dia cercado por pessoas burras que me detestam e é isso que causa mazelas como o sobrepeso e algumas espinhas. é capaz que seja o trabalho, a macumba mas se: não acredito no senhor jesus, que é apenas uma imagem, nem no diabo por tabela, por que eu acreditaria em entidades e trabalhos? além do olho gordo. é melhor você ficar quieto por um bom tempo e perceber que o problema não consiste nas pessoas burras e sim em você, que está demonstrando um comportamento pouco maduro, incompatível para um homem da sua idade e ok ok, vamos para a cruz de escadinha de novo: frase que se considere: ‘ninguém tenta se matar; quem quer se matar, se mata’ justo. justíssimo. porém todas as formas infalíveis de se matar envolvem a dor. mas a vida já não é uma dor do caralho? por que ter medo de uma última dor e que será bem rápida e que sanará todas as dores da vida? primeiro porque estou morta de cansaço. você nem imagina o esforço que eu fiz para me mover do escritório até a minha casa. nem banho eu consegui tomar, quiçá procurar um prédio para me jogar de cima. ainda tive que dormir no chão do banheiro para não ter de aguentar a chata da minha gata em cima de mim. cortar o pulso dói. cortar a garganta dói. além do mais não tem nenhuma faca boa nessa casa. pensei em ir ao hospital psiquiátrico pedir uma ajuda, mas se eu tivesse forças para ir até lá, eu me jogaria do prédio, que é mais perto. então achei melhor ficar deitado no chão do banheiro mesmo. bem, subir na cruz de escadinha significa em súmula, o medo da dor e a futilidade. parece fútil querer tanto morrer e não enfrentar a dor, parece fútil marinar o pulso com xilocaína antes de corta-lo como luís no livro “eis o mundo de fora” da adrienne myrtes. pois bem, esse foi um breve relato de um dia na vida de uma pessoa depressiva, uma utilidade pública aos pouquíssimos leitores desse blog.

o pênis:

bem, se me pedissem para escrever sobre o pênis, a percepção do pênis pela sociedade e a minha percepção sobre o pênis, eu diria que; bem, imaginando uma clássica imagem de estupro coletivo que habita o imaginário de boa parte da população, é possível perceber que não é a violência, não é o pênis, nem os pênis que constrói toda a magia da situação, mas a beleza. só ela e sempre ela. o pênis, ou os pênis; bem, são uma proporção, apenas, a beleza do pênis ou dos pênis, e o tamanho. o que você escolheria? um belo homem com um lamentável pênis ou um homem feio com um belo pênis? claro que o ideal seria um belo homem com um belo pênis, mas como se daria a proporção da importância entre a beleza do homem e a beleza do pênis? eu, por eu mesmo, ainda prefiro a beleza do homem sobre a beleza do pênis, visto que um pênis é apenas um pênis mas. claro, um belo homem que tivesse por acaso um belo pênis seria mais agradável que tolerar um lamentável pênis e aff... quanto pênis, meu deus. e também não, a população não pode explicar ao terapeuta, eu não posso explicar ao terapeuta que o estupro coletivo, veja bem, não é bem o estupro coletivo visto que estupro consiste em penetração, na verdade é apenas uma situação de opressão e violência, uma violência onde não haja a penetração visto que bem, não lido muito bem com a ideia da penetração ultimamente e bem, essa violência toda que tem tomado muito do meu imaginário e me faz perder a hora de acordar, ou me atrasar para dormir, é utópica além de tola, pois somos diferentes, sim, somos muitos diferentes: eu e os opressores. e assim seria melhor, será melhor que essa violência de fato nunca aconteça pois assim, as minhas perninhas vão continuar se recuperando bem, a minha capa de gordura não terá o trabalho de amortecer tanto impacto. obrigado.

o rabo do olho:

é por ele que você percebe a verdade. uma pessoa que tem nojo de você e outra que te acha o maior imbecil. ambos lhe tratavam muito bem, até; com sorrisões. tratavam, pois depois que percebi a realidade pelo rabo do olho, quero que vocês dois se fodam. e eu? será que eu também faço isso com os outros? será essa uma tendência do ser humano? dar sorrisões quando se pretende manter em segredo que você tem nojo ou acha alguém o maior imbecil? deixe-me pensar... não, eu sou bem transparente, não dou sorrisões nem pra quem eu gosto e isso é outro problema.

o poema:

o poema não foi feito para ser lido, foi feito só para existir. quando você estiver bebendo, não utilize a internet; seja em aplicativos ou no facebook ou whatever. aliás, não beba. se mesmo assim você quiser ler o meu poema, o que eu duvido muito, ele está neste link:


XOXO

26 de jan. de 2016

O TERAPEUTA BRANCO

estou revisitando muito da minha infância e da minha adolescência no meu próximo romance, que está em processo de criação. sempre me dá vontade de chorar. claro que nunca choro, acho que já comentei por aqui que não consigo chorar. muito do pior da minha infância e da minha adolescência. talvez seja mais vergonha que tristeza, eu não sei mas. do livro eu não tenho vergonha, não tenho medo de dizer nada para ele. do terapeuta sim. eu sempre começo a mentir na segunda sessão. e já que mentir não faz sentido para o propósito, então talvez seja melhor falar só com o livro. desisti de todos os psiquiatras do meu plano de saúde. são todos bem ruins. o último, quis ouvir minha respiração, me mandou tirar a camisa, e ainda ficou falando comigo como se eu fosse uma criança, demonstrando pena tanto na expressão quanto na voz. uma bicha gorda. fiz uma reclamação ao plano de saúde e não volto lá nunca mais. 

chorar. faz tempo que não vou ao sebo. é algo que me deixa feliz. porém, o sebo fica no mundo, no mundo cheio de pessoas e o mundo me deixa triste, as pessoas me deixam triste. o idealismo de um fim de semana perfeito tem sido a porta do meu quarto, trancada. e contar com a sorte de não encontrar com ninguém quando desço até a cozinha, ou até a área de serviço. mas ir ao sebo era uma ideia de algo nostálgico que faria muito bem, pensei. pude ir porque finalmente o sindicato a que pertenço decidiu a porcentagem de reajuste e pude receber os atrasados referente ao aumento. (...) eu acho que estou desenvolvendo a misantropia. eu lembro que a karol, uma estagiária do jurídico que trabalhava comigo em uma indústria química em 2011 me perguntou se eu era misantropo. eu pareço misantropo? pois bem, ela veio fazer amizades comigo e o tempo em que permaneci trabalhando por lá, almoçávamos juntos quase todos os dias. raridade, pois fora ela, eu não tinha relações pessoais com mais ninguém naquela empresa. normalmente, prefiro ficar quieto, me cansa falar com as pessoas até, quiçá fazer amizades. e é pior ainda com homens, pois eu nunca consigo diferenciar quando um homem está apenas sendo gentil ou se está flertando comigo. sempre acabo me desapontando e é por isso que tenho me tornado cada vez mais amargo, mas talvez eu esteja mesmo desenvolvendo a misantropia [ eu não sei explicar, mas passei o domingo inteiro na cama, não consegui levantar para fazer a musculação. era só o mundo desmoronando outra vez, as nevascas, os velhinhos morrendo de frio em taiwan porque não perceberam que o frio chegou e não se agasalharam. minha gata, que não tem tido muita paciência em me fazer companhia, até abriu uma exceção, passou o domingo inteirinho na cama do meu lado tentando me confortar. ela sabe, ela sempre sabe. parece que ainda permanece aquela ilusão de que vou ter alguém para abraçar depois de levar mais de trinta socos, como uma lutadora de mma após perder a luta ]. gente, todo tipo de gente me incomoda. ou talvez eu seja exigente demais. eu tenho me estressado muito com os serviços, as pessoas que ficam atrás do balcão, especialmente. é por isso que eu quero tanto ir embora de são paulo. eu sei que não sou assim, tão amargo, mas. são paulo e suas pessoas amargas, mal educadas, mal humoradas e maus profissionais, me enlouquece mais um pouquinho a cada dia. me recusei a dar dinheiro ao primeiro sebo, de imigrantes andinos, mal educados. será que eles pagam impostos? também não quis deixar dinheiro no segundo, tocava música gospel e o dono, tentava empurrar um dicionário vagabundo para uma estrangeira negra por um absurdo de dinheiro. crente pilantra. sem contar o cinema. cobram 30 pilas por uma sessão dentro da prezada crise e a funcionária estúpida da bilheteria do espaço itaú do shopping frei caneca diz que estou na fila errada, que é para eu ler a placa para saber a fila correta. posso não saber ler, mas por bem, não sou eu que estou do outro lado do balcão. não, não disse isso por mais que eu ache que ela mereça. sem contar a funcionária negra da ofner, que só diz boa noite para os clientes que estão bem vestidos. coloque todos em um roteiro e faça um filme fiel sobre são paulo. subi a augusta e entrei naquele sebo perto da loja colaborativa endossa, perto da paulista. saí de lá com seis cd’s, todos importados, baratos e em bom estado. a mulher loura e simpática do caixa, parece ser a dona. chorar. o “poses” do rufus wainwright, a canção “poses” já é suficientemente emocionante quando só o rufus está cantando, daí ainda por cima entra a irmã dele cantando. é para chorar mesmo. bem na hora que chega a minha pizza. tive que descer para buscar com os olhos cheios de lágrimas. sim, outra pizza.

XOXO


21 de jan. de 2016

UM BANDO DE IMAGENS








ódio da pobreza. ódio do sono. ódio do mundo. pensei em tokyo. pensei na austrália inteira. pensei ao voltar do almoço nessa cidade cheia de gente feia, vulgar e burra, e a máfia de mendigos, ladrões. quantas universidades melhores do que a usp existem em tokyo ou na austrália inteira? quantas pistas de atletismo existem na grande tokyo? muitas, eu acho. muitas, de certo. muitas, eu sei mas. mal consigo sobreviver aqui, como deixarei esse lugar? é tanto ódio junto que alguns copos de chocolate quente da máquina de café não dão conta de dissolver.


não é o mundo, não é o país. a verdade é que eu vivo em crise há muito tempo, e é minha culpa, minhas decisões, minha presidência, meu próprio governo, e eu devia encontrar logo um jeito de ir embora deste emprego ruim, dessa casa ruim, nessa considerável idade, da minha própria dúvida da minha capacidade.

mesmo imagens de peixe grelhado. mais um filme novo do lav diaz entrando em circuito comercial nessa cidade. o livro "intermitências da morte" de josé saramago, que comecei a ler semana passada. estou lendo três livros ao mesmo tempo. além de, o "elefante" do francisco alvim e o "fluxo floema" da hilda hist que leio com muita, muita parcimônia. minutos de sabedoria para os dias, quando não estou triste demais e consigo ler algo. a capa do disco "low" do david bowie, o único disco dele que comprei e que gosto tanto. e uma imagem do meu próximo livro: "poesia / poetry [ 2008-2015 ]". sobre esse livro, eu pensei repentinamente que eu deveria publicar outro volume de poesia. eu havia publicado espaçadamente alguns poemas neste blog nos últimos anos e eu sabia que eu tinha outros poemas inéditos nos meus arquivos e lembrei que alguns são realmente muito bons e que é um desperdício deixa-los se perder para sempre. eles merecem ser publicados. nem que sejam publicados só para mim. após uma rápida pesquisa, eu selecionei setenta poemas. gosto muito da seleção que fiz, tanto que interrompi provisoriamente a produção que seria meu quarto livro, um romance, e que já está na metade para fazer do livro de poemas minha próxima publicação. ele tem um título bilíngue não por ser uma publicação bilíngue, mas por conter poemas originais na língua em que foram originalmente criados, em português ou em inglês. alguns dos meus poemas escritos em inglês não fazem sentido quando traduzidos para o  português. se eu os traduzir, terei de recria-los e essa não é a intenção. quero também finalmente realizar meu sonho de edição para esse livro: cem cópias numeradas em capa dura. terei paciência para publica-lo durante o ano de 2016. vou contatar editoras, mas também vou inscrever em editais. porém, uma auto edição e até mesmo fundar um selo literário especialmente e exclusivamente para esse livro é uma possibilidade. a coisa mais importante é que ainda me sinto orgulhoso ao terminar um livro, o que apesar de todos os pesares ainda me faz querer continuar a escrever.

tantas imagens de tantas coisas por uma só razão: eu não posso tirar fotos de mim mesmo no momento. estou gordo porque não posso treinar, devido a recuperação da minha atroscopia. pensei que eu estava com foliculite, mas não estou. a dermatologista disse que é apenas acne moderada, provavelmente por causa do stress. talvez esteja melhorando, mas não está piorando. estou usando os cremes que ela passou. estou tentando comer menos também, mas é difícil. vi os resultados dos meus exames de sangue preparatórios para minha próxima cirurgia, a de desvio de septo nasal, e vi que meus níveis de colesterol e de glicose estão preocupantemente altos. eu estava lendo o resultado do exame enquanto comia pizza de quatro queijos e bebia coca-cola. o que mais me incomoda, fora as coxas atrofiadas, são as minhas bochechas, o quanto estão redondas. até uma imagem de um peixe grelhado, mas tudo o que eu fiz foi girar botões da fritadeira (...)

***

calma, calma, também tudo não é assim escuridão e morte. ontem eu voltei a treinar, consegui até correr parado por cinco minutos (você sabe o que é correr parado, né? você faz o movimento da corrida, tirando os pés do solo inclusive, mas não sai do lugar). também consegui fazer isometria agachado em 90 graus, duas séries de 40 segundos :) do joelho neste momento, posso tirar foto:



 XOXO


4 de jan. de 2016

A CORRIDA VACILANTE

não, o ponto principal não é como se vive, nem o que se espera da vida, ou o que se faz para conseguir o que se espera dela. é não esperar, na verdade. visto que a vida não é sua. a vida está sendo apenas emprestada e você terá de devolver. assim como o corpo, também há de se devolver. do corpo, apenas ainda acredito na vaidade, como acredito na organização, ou no zelo. é bom cuidar do corpo enquanto ainda estamos usando. pentear-se. cuidar dos dentes. cuidar até mesmo das roupas. também não adianta o caráter, a cultura, o que você construir na vida, sendo de material ou seja de conhecimento. nem isso é nosso, também tem que devolver junto com a vida. todo esse drama, todo esse trauma de existir, todas essas certezas, me fazem um tanto desapontado a ponto de perceber que tudo o que devemos fazer é pentear-se e cuidar dos dentes, para que enquanto dure a vida, ela seja menos dolorida, seja menos desagradável. sendo a vida o que é, não: não precisamos nem começar a discutir o que é a felicidade e o que fazemos para encontrá-la. não quero falar sobre isso nessa mesa de reveillón.

***

eu tenho ficado um pouco avesso a imagens. acho curioso meu tolo pai ter uma conta no instagran. passei a me incomodar com ele querer tirar tantas fotos minhas no natal e no ano novo. não aceito mais nenhuma das tags que ele me coloca no facebook. não quis publicar uma só imagem nessas festas, segurando taças. o sorriso que eu fazia em todas as fotos e funcionou por um tempo, não funciona mais. preciso inventar outra expressão para foto. na falta dela, acho melhor não tirar foto nenhuma. fora ter de ficar ouvindo da minha mãe em todas as vezes "solta esse sorriso, menino! mostre esses dentes" será que ela nunca vai me conhecer o suficiente para saber que não gosto de mostrar dentes em fotos? fora meu pai ficar pedindo para eu tirar os óculos em todas as vezes que quer tirar fotos de mim, e eu pacientemente, educadamente tenho que responder todas as vezes "eu não quero tirar os óculos, pai". 

***

na verdade, tenho uma explicação clara para não querer tirar fotos ultimamente: a libido e a beleza. como sabem, fiz uma atroscopia bilateral nos joelhos há um mês. só agora estou andando normalmente, mas tenho ainda as marcas dos pontos nos dois joelhos, eles ainda estão roxos devido a incisão das brocas, há um inchaço nos meus dois músculos do quadríceps bem perto dos ossos da patelas e é claro, minhas coxas atrofiaram bastante por causa da ausência da musculação. além de as minhas pernas estarem bem feias, eu naturalmente engordei bastante durante este mês sem atividade física e farta comida. estou com uma carinha de bolacha também. sei que em fevereiro estarei liberado para voltar a treinar e tudo será como antes, mas neste momento, essa é a minha situação. e acabei descobrindo com isso, que a libido, pelo menos a minha, depende da beleza do meu corpo e não da do outro (!). passa que não estou com quase interesse algum por sexo e sequer por masturbação, apenas porque o meu corpo não está me agradando. não que eu esteja reclamando. homem só serve pra trazer problema e prejuízo. espero que a libido nunca volte.

***

sim, sei que é o primeiro post de 2016, mas bem, é apenas um número, é apenas o calendário romano. eu nem estava torcendo muito para 2015 acabar, eu nem estava com medo de morrer, mesmo porque se eu morresse, ninguém sentiria minha falta, ninguém notaria. sendo assim, não importa ano ruim, não importa ano bom, o que há é a vida, e ela é o que é, seja lá que calendário for. mas o que eu quero mesmo, é retomar a educação básica de movimentos de exercícios quando eu retomar os treinos de atletismo. todo esse tempo de ociosidade, acentuado também pelas férias da faculdade, me fizeram a assistir muitas aulas de treinos no youtube, sobretudo de atletas americanos, professores americanos, e é tão amargo perceber que o que fiz em dois anos de treino na USP, em grande parte, foi uma montanha de cocô. descobri que eu não sei nem fazer educativos básicos com os movimentos corretos. provavelmente por isso, minha tendinite patelar piorou a ponto de eu ter de fazer uma cirurgia. não vou entrar no mérito da responsabilidade dos técnicos em relação a isso porque não se treina para o alto nível naquela universidade, pelo menos não na FFLCH, e os técnicos não tem ânimo ou não são pagos o suficiente para corrigir erros básicos, o que é justo, inclusive. deve-se pagar por um serviço bom para ter um serviço bom. bom serviço mesmo tem os meninos da FEA, da POLI e da Medicina. é possível no treino de atletismo até, perceber o desiquilíbrio da educação em nossa sociedade, ou pelo menos fazer um paradoxo. parece o vestibular. é difícil competir contra um atleta da POLI, que tem um treino de muito melhor qualidade que o meu. e eu acho que ás vezes eles riem de mim porque tenho a corrida vacilante.

***

falando em imagens, limpando o pouco espaço do meu celular, eu encontrei algumas imagens de 2015 que não publiquei em redes sociais e vou postá-las aqui, aproveitando que não posso postar nenhuma foto agora porque estou com foliculite e demora sete dias para sarar.









este foi o dia em que cortei meus cabelos cultivados em dois anos para parecer mais masculino, mais padronizado e assim conseguir sexo mais facilmente. sim, deu certo. agora eu quero meus cabelos de volta. e vou ter de esperar mais dois anos.




"Lázaro, meu filhinho, o Jesus de quem falas está morto há muito tempo, e para os homens de agora nunca ressuscitou, nem está em lugar algum, nem... não te aborreças, mas... sabemos que Ele... que Ele nunca existiu, Ele foi apenas uma ideia, muito louvável até, mas... Ele foi apenas uma tentativa de... bem, se tudo corresse bem, essa ideia que inventaram, essa imagem, poderia crescer de tal forma que aplacaria definitivamente a fera dentro do homem. Mas não deu certo".

Hilda Hist, do livro "Fluxo-Floema", 1970, ed. Globo.



XOXO