29 de mar. de 2017

A SEMANA PRETA

O corredor da morte no Brasil é a porta da rua. Decidi que eu vou fazer só o que eu quero nos meus últimos dias. Aproveitar que paguei pela “Diamond league” dos velhos? Não quero mais ir ao curso de letras. Procurei um lugar escuro do prédio onde ninguém pudesse me ver e fiquei lá bebendo cerveja. Decidi ir à sauna e não beber, usar drogas, a noite toda, para ter atenção. Decidi ir para casa tomar umas drogas que tenho guardadas para antecipar a morte. Decidi comprar hambúrgueres, e deitar com a minha gata. Eu gosto de deitar com ela, acordar e ir atrás do antidepressivo que acabou sexta-feira e me deixa com tanto ódio que não consigo explicar. Quando se faz trinta anos, você já tem a sensação de estar morto. Aos trinta e cinco, você morre de verdade. Isso significa que eu ainda tenho três anos de vida. Imagina o que eu posso fazer em três anos? Eu posso mudar minha vida.

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Igor encontra um cara agindo de forma estranha, agindo como Elisa Lam antes de ir parar morta dentro da caixa d’água. Igor pensou “Esse deve ter drogas...”. Sim, Igor. Balançou o pau e o cara elogiou, foram para o quarto dele. Um ato sexual meio estranho, que não evoluía. Ao perceber que a droga não era mencionada, Igor vestiu a toalha para se retirar e o cara “Quer pó?”. Quero, tirou a toalha e comeu o cara até ele gozar por dois bons tiros. Sim, Igor.


Igor deixa um cara tocar nele o bastante para ele assumir se tem pó ou não para continuar a tocar nele, sim, Igor. Igor cheira uns três tiros enquanto chupa o cara, que tem um pênis mais grosso e por o seu, não responder tão bem já que o único atrativo do cara em questão era o pó. Nem o pó era bom. Era azedo. Igor prometeu pissing, mas só dar o mijo, não receber. Igor fechou a porta do banheiro dizendo que precisava usa-lo por um minuto. Passou meia hora lá até o cara desistir. Sim, Igor.


Olga adora portas abertas. Sim, Olga. Entrou lá para ser chupada por um educado rapaz. Ele é que falou do pó. Ela só pediu porque ele mencionou sobre o pó. Aquela porta abria-se a fechava-se. E Olga sempre dava uma passava lá para ver se a porta estava aberta, por causa do pó mais do que por ser chupada, porém Olga é mais expansiva, conversava bastante. Sim, Olga.


Olga passa por um belo rapaz e espera até que ele o siga. Sim, Olga. Ela prefere ser abordada ao invés de abordar por incrível que pareça. Já mais desperta pelo pó do homem da porta aberta, Olga perguntou se o rapaz tinha pó depois que ele já estava com a mão dentro do sexo dela. Foram ao quarto do rapaz. Cheirar mais e conversar mais, muito. Além de gozar, o rapaz fotografou Olga, filmou-a. E ela gostava, estrelava. Olga podia ficar mais, esperar o rapaz sair para comprar mais pó e voltar, mas Olga estava cansada. Estava há doze horas naquele lamentável lugar. E estava com dores nas costas ainda por cima. Olga decidiu ir pra casa morrer. O pós do pó, horrível. Um dia inteiro na cama para decidir seguir em frente ou não. Sim, Olga.


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Então você consegue uma vitória, olha para o teto de concreto erguendo as mãos. Mas o que você está olhando mesmo é para meros conjuntos visíveis de partículas diminutas de gelo ou água em seu estado líquido ou ainda de ambos ao mesmo tempo (mistas), que se encontram em suspensão na atmosfera, após terem se condensado ou liquefeito em virtude de fenômenos atmosféricos: as nuvens.
É isso que você chama de deus? Tem a cara de pau de dizer isso? Ou melhor, diga que esculturas ou pedras brutas que foram achadas após muita escavação também são imagens de deus. Após terem deixado as pedras bonitinhas, passaram batom nas pedras, pegam as pedras e produzem gravuras fazendo essas pedras brutas parecerem o mais próximas de uma feição humana para que pessoas como você possam se identificar. Daí, inventam mentiras baseadas em violência extrema com pessoas utilizando tortura com pregos ou fogueiras. Tudo isso, tudo isso que inventaram está por cima das nuvens? É isso que você acha? É o que te protege? É o que protege seu quintal dos ratos? É o que te faz alguém mais justo, mais limpo, melhor? Eu, eu mesmo, levantei as mãos olhando para essas “nuvens” umas duas vezes esse ano. Mas fui enganado. O que eu agradecia, foi logo, bem logo tirado de mim.

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Você, você que me olha rindo, por ter feito high school no colorado, por ter entrado em engenharia aos 22, você ainda não pode andar com os pés sobre mim. Sabe por quê? Porque eu tenho acesso à água potável, à moradia, à comida, à educação apesar de muita gente no mundo não ter. A insistência me levou a minha primeira competição de atletismo de 2017, a primeira etapa do “Torneio Estímulo”, organizada pela AAVSP. É melhor estrear na temporada em um ambiente saudável como o master. É chato ter de aguentar o pessoal da FEA e da POLI me olhando como a Angela Merkel olha para o Trump, é incômodo lidar com isso. Disputei a prova do salto em distância e venci a categoria M30 com um salto de 5,58m (O corredor de saltos estava lamentavelmente duro, não havia uma tábua de impulsão que impulsionasse ninguém, colocaram fitas adesivas brancas em cima dela para parecer uma tábua de verdade. Além disso, eu não fiz um bom aquecimento; por não ter feito um bom aquecimento, tive problemas na corrida durante a competição e errei a finalização do meu segundo salto, que me daria um resultado melhor). Eu poderia ter saltado mais, sou muito exigente comigo mesmo, mas saltei o suficiente pra vencer. Essas etapas servem como preparação para o campeonato estadual máster que acontecerá em agosto. No ano passado, o vencedor da minha categoria fez 5,72m para vencer. E eu posso fazer bem mais que isso, e vou trabalhar para fazer. Quero ser campeão estadual máster e ganhar o troféu do torneio estímulo no final do ano (Eles somam as cinco etapas e dão troféus para cada um dos atletas que pontuaram mais em cada prova).
Além disso, foi bom voltar à pista do Ibirapuera. Foi lá que comecei a treinar em 2006 com o Neilton Moura (Que hoje é técnico da seleção brasileira). Embora lá no atletismo da USP ninguém me incentiva para nada, tomo mundo acha que sou um bosta, o Neilton gostava de mim, ele sempre me elogiava nos treinos, acreditava no meu talento. Me arrependo até hoje de ter abandonado o treino para ir fazer faculdade de logística. Sim, a escolha mais estúpida de toda a minha vida.


26/03/2017, pista de atletismo do Ibirapuera.

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Eu pensei em matar alguém. Ou em matar muitas pessoas antes de me matar. Para fazer a morte valer a pena. Porém, eu não sinto ódio por ninguém a não ser por mim mesmo. Eu não quero matar ninguém. Perceba que, curiosamente, quando você deveria ter acordado morto, por ter provocado a própria morte, você recebe uma notícia boa de alguma forma. As drogas para a antecipação da morte estão/ficaram guardadas no meu armário.

A editora portuguesa Chiado incluiu um poema meu na II antologia de poesia contemporânea brasileira “Além da terra, além do céu”. Bem, antes da escolha eu já sabia que meu poema era bom. 70 poetas estão nessa antologia. Sabe para que serve uma antologia como essa? Para vender 70 livros, no mínimo. Não, os poetas não receberão exemplares da antologia, terão de comprar. Mesmo assim, é um prazer. É algo acontecendo. A internet não imortaliza, não imortalizará ninguém. Papel imortaliza, livros imortalizam. Vejam meu poema selecionado:

“Seis horas da manhã”

Eu quero ser uma senhorita
Do campo
Esfaqueada
Sangrando e repousando pela manhã

Eu sou uma mulher ruiva
Quando acordo
Arrancando bacon do porco
Amamentando uma espingarda de dois canos

(Hugo Guimarães)

A parte boa é que é uma editora portuguesa fazendo esse tipo de antologia. Eles tem filial no Brasil também. Aqui ninguém lê poesia. Aqui só dá J.K. Aqui só dá Stephenie. É a educação que o povo tem, o que há de se fazer? (A educação que tem na escola e em casa). É o QI do brasileiro... Não há nada a fazer além de lamentar. Mas e em Portugal? Será que se lê poesia em Portugal? Lá deve ser mais provável que alguém tenha acesso ao meu texto.

Ainda sobre literatura. Acho que saraus em cursos de letras em universidades são importantíssimos. Decidiram então, no próximo dia 30/03, fazer o primeiro sarau de literatura lgbt do curso de letras da USP. Bem, normalmente há “convidados” nesse tipo de evento. Esses convidados expõem sua obra, leem trechos, respondem perguntas e depois há o microfone aberto para quem quiser declamar o que quiser. Por ter 3 livros publicados (um deles ganhador do proAC), ter livros resenhados por gente como Santiago Nazarian e Micheliny Verunschk, ter um livro editado por alguém como Marcelino Freire e por ser aluno matriculado na USP (O que deveria ser uma prioridade ao me escolherem como autor convidado), por todos os “autores” que comentaram os posts no mural do evento se oferecendo para participar (Nunca ouvi falar em nenhum deles). Pois bem, fiquei já meio incomodado por terem demorado horrores para confirmar minha presença. Seria legal, expor meus livros, me expor, declamar.
O principal do evento seria questionar essa “tarja” de literatura lgbt (Eu não sou um autor lgbt, nem faço literatura lgbt) Eu sou um homem gay que faz literatura e abordo diversos temas nos meus livros que vão ao encontro de qualquer ser humano independente do sexo ou da sexualidade. Seria legal debater com o público sobre isso. Porém, nos últimos dias as coisas começaram a ficar ainda mais estranhas. Sabe o que vai ter no sarau? A presença da unidade móvel do Centro de Cidadania LGBT Arouche durante o evento, realizando o teste de HIV e prestando atendimento aos interessados (wtf??). Isso é um erro imperdoável da organização, associar gays com o HIV de uma forma tão explícita (de novo), totalmente desnecessário. Existem N locais gratuitos em São Paulo onde uma pessoa pode se testar, para que fazer isso em um sarau de literatura só porque é um sarau de literatura “lgbt”? Um dia antes do evento, decidi cancelar minha participação. Eu não preciso vender livros, eu não preciso me expor, e não preciso compactuar com isso. Achei que seria uma experiência interessante caso a organização não tivesse sido um tanto infeliz na questão dos testes de HIV no evento. Eu não me importo em não ter um vídeo meu declamando no youtube para divulgar meu trabalho. Não filmaram nenhum dos shows da Gal Costa da turnê “Vapor barato” de 1971, que é uma das coisas mais importantes da história da música brasileira. Por que haveria de existir algum registro meu recitando em um sarau? No horário do sarau estarei na pista de atletismo treinando lançamento do dardo. Preciso lançar 40 metros até a copa USP, não há tanto tempo.


XOXO 

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