5 de nov. de 2021

RELÓGIOS QUE ESCREVEM; [ escritor hugo guimarães; poeta, contista, romancista]; [ #BALADALITERÁRIA2021 ]; [ literatura marginal paulistana; cachê de escritores]



É novembro
Não se atreva a me escrever
Para participar de uma mesa literária
Que não paga cachê
Que quase sempre tem a curadoria “dele”
Cada vez mais vejo
Eventos com curadoria “dele”
Na minha timeline
A maioria com autores
Que não são mainstream
“As bestas”
Os autores da Companhia, da Record
Sempre ganham cachê, não?
E não chamam “ele” para fazer a curadoria
What about it?
“Ele” encontrou seu ofício na vida:
(Já que seus livros são uma merda)
Ser curador de mesas literárias
De autores independentes
Ele ganha seu belo cachê de curador
E os idiotas dos escritores não ganham nada
Repito: nada = nem um centavo
Eu sou o primeiro a iniciar um movimento
Contra isso
Me convidaram para uma live
Pelo Mix Literário no ano passado
Que não pagava cachê
E adivinha quem era o curador?
Aceitei
Chegou o dia
Faltei
Qual o problema com quem faz literatura independente?
É ok nos tratar como idiotas?
Primeiro, quero dizer que não é a quantia
Não importa qual é o valor
E sim o valor
Parece pouco razoável
Me vestir
Pagar pelo metrô
Dividir minha história, minha voz
Meu estilo, meu texto
Que demorei tanto para amadurecer
Que não saiu do meu cu
Responder perguntas
Levar alguns livros para presentear
Os leitores que são sempre tão doces
Não é o valor, é o valor
Uma prostituta feia, semi analfabeta
Mal limpa a vagina
Se deita imóvel na cama
E vai embora com 200 reais na bolsa
É o que ganha por dia
Um garoto pedindo moedas no semáforo
E eu sou o quê?
Eu sou um lixo?
Não é o valor
É o valor
Se “Ele” me convidasse para algo e dissesse
Hugo, tenho esse evento, o cachê é de R$1,00
Eu iria
Com o maior prazer
Mas não
“Ele” prefere infestar o Mix
Com milhares de escritores
Que óbvio, não são pagos pela participação
Para fazer o Mix parecer tão foda
Tão completo, tão plural, tão incrível
Mas vocês não tem dinheiro
Para fazer isso
E isso é desrespeito
Isso é dizer na nossa cara
Que nossa literatura não tem valor
“Ele” deveria aprender com o Marcelino Freire
Nas mesas da Balada Literária
Todos os escritores recebem cachê
Não importa quanto
E a quantia é o que menos importa
Lá, estão nos “dando valor”
Agora querem fazer do Mix
“O” festival de literatura LGBTQIA+
Então paguem por isso
Escritor não é relógio

time
time
don't
cost
a dime
in the caverns of your feelings
where the sun will never shine



Quando tomei conhecimento do que era a Balada Literária, há pouco mais de uma década atrás, eu a imaginava tão grande e tão importante, tão avessa ao meu texto que jamais eu imaginava que um dia eu seria convidado. Pois eu fui. Em uma manhã chuvosa de 2009, o próprio Marcelino Freire me ligou e fez o convite. Aceitei na hora, sem nem saber as condições. E sim, tinha cachê. Quem pagaria para um garoto que mal tinha saído dos 20 anos, mal tinha deixado os coturnos, os cabelos multicoloridos e um primeiro livro nada comercial, violento, explícito e politicamente incorreto até a medula? A Balada Literária é esse tipo de evento.
E sorry... Fiz o que a minha imaturidade mandou eu fazer: cuspir na cara da sociedade. A plateia estava LOTADA e causei muito repúdio a fazer coisas como falar mal do Drummond.
A maioria odiou, mas Santiago disse que adorou
Bem, eu sempre fui assim: para poucos e bons
Tem muita gente aí precisando aprender.


Certa vez fui convidado para participar de uma mesa na Livraria Cultura, o que por si só seria o máximo, sou cliente Cultura + e tal. Fui convidado da pior forma possível, pelo Brunno Maia, amicíssimo do meu ex-namorado viciado em crack. Aceitei, né. Nem falei de cachê porque achei que era falta de educação, que ao final do evento, naturalmente eu seria pago. Mas não fui. Bem, parece que alguém ficou com o cachê dos escritores, não? Senão a conta não fecha...
Programação organizada pela Editora lésbica Malagueta, público majoritariamente de garotas lésbicas.
Mesa morna. É o máximo que posso falar.


Aqui formou-se acidentalmente uma pequena mesa. Eu, Marcelino Freire e o Grande Pedro Lemebel. Foi a primeira vez que eu tomei em minhas mãos o meu segundo livro, o excelente "O Estranho Mundo" (ed. Edith, 2013) o qual sua excelência, nem a Juliette, nem curador, nem editor nenhum NUNCA vão poder me tirar.
Autografar para o Lemebel não é para qualquer um (talvez você possa achar que até é), mas o detalhe é que não fui EU que pedi para assinar para ele, foi ELE que pediu para eu assinar para ele. Isso fica de presente para os invejosos e rancorosos



"IGOR NA CHUVA", meu melhor livro, vive.
Pode fazer seu distrato numa boa, querida.
Agora ter essa mulher FODA como essa como fã, não é com distrato que você vai conseguir
nem você, né Alê?



XOXO


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