19 de out. de 2023

seis cordas e dois dedos podres

 





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         Eu não menti, eu apenas inflei as informações que passei. Era a terceira entrevista com o gestor da área, não sei se eu o agradei, mas a analista da agência foi muito fria comigo, demorou para responder a minha primeira pergunta após a entrevista e ignorou a segunda. E na única resposta que deu disse que “estava aguardando o retorno. E todos sabemos o que significa a palavra “retorno” no meio corporativo, significa que você está desclassificado do processo e existe pessoa tão desclassificada quanto você?

           Estou exausto de participar de tantos processos, ir longe e sempre cair no final, e ter que aguentar esse processo de zoomorfização imposto pelos meus pais, que já não fazem a menor questão de esconder que sou estou estorvo, um peso morto, vi o Globo Repórter ontem, eu seria mais feliz em um abrigo para idosos.

     

          Eu tinha dezesseis anos quando comprei minha guitarra. Juntei dinheiro com a esmola que aquela seguradora me pagava. Já que meu pai colocou tanto peso nas minhas coisas me obrigando a fazer coisas que eu não gostava, como lutar capoeira e jogar futebol, que nunca me levaram a lugar nenhum, minha mãe deveria consertar o erro, devia ter procurado uma escola de música razoável para eu tocar guitarra e ter feito a matrícula sem eu saber, eu podia pagar as mensalidades com o meu salário, isso era o de menos, mas a atitude era o que contava, mas não, minha mãe nunca se importou com a felicidade dos outros.

         A guitarra ficou lá encostada até que em um momento de crise eu fui a uma estação de metrô troca-la por dinheiro.

     



     

           Sim, desistir é uma opção, mas existem outras. Esse é um vídeo onde toco “Come as you are” do Nirvana em um dos aniversários do “Nevermind”. Comprei uma revista de cifras e tentei tirar outras músicas, o que não foi muito bem sucedido. Um violão que já nasceu maldito, dado por um baianinho de São Mateus que eu aceitei como namorado metade por pena metade pelo desespero de fugir dos meus pais quando ele alugou um apartamento, um psicopata que nunca teve coragem de mostrar sequer uma foto dos pais, inventou dois irmãos, inventou um irmão gêmeo, um cara que apenas “lembrava” ele, que ele sim era um homem bonito, formou-se na Uninove, mas tinha uma carteirinha falsa da FAAP para pagar meia entrada, inventou que morava em dois bairros diferentes até finalmente confessar que morava em São Mateus, certa vez recusou um homem para um ménage, por ele era de São Mateus, disse “Não, São Mateus é um lugar que só tem favela!”, psicopata porque em um belo dia ele levantou-se e prendeu a minha gata dentro da geladeira, só porque eu dava mais atenção para a gata do que para ele, a gata era amável e ele era desprezível, o que eu poderia fazer? Por sorte eu cheguei em casa a tempo de chamar minha amiguinha, ela tinha poucos meses, em dezembro ela faz quinze anos. Com ela eu consegui dividir uma vida, com macho eu nunca vou conseguir isso, a não ser que eu consiga um macho que nem minha gata, que não diga uma só palavra. O que dizer de alguém que mata animais? Saiba dizer não, saiba dizer não, lembra daquele episódio anti drogas da Punky? Pois é, eu ainda estou aprendendo a dizer não, mas uma hora é impossível continuar.

         Com o passar no tempo, eu fui percebendo que o meu melhor instrumento estava dentro de mim, minha voz e eu evolui muito como compositor. Consegui formar uma boa banda em 2022, o “Grasss”, mas em um ano conseguimos fazer três ensaios, o que mostra o comprometimento dos garotos. Compus vinte e sete músicas para o Grasss e agora não sei o que fazer com elas, enfiar no cu? Foi isso que pensou? Nem pra isso elas servem e também porque estou compondo coisas totalmente diferentes.

     

    Algo de “He War” da Chan Marshall

     


    Sejam bem-vindos!

     

    Breve em “Lixeira de Celofane”

     

    “Iguaria”        

     

    Papai pergunta:

    Não gosta desse pedaço?

    Você faz cara de nojo

    E tira a minha orelha

    Da feijoada.

     

    (Hugo Guimarães)

     

    *Se minha gata fumasse seríamos iguais.

    *E o tempo passando. E minhas costelas aparecendo.

    *Se as casas tivessem bunkers aqui, eu passaria o dia inteiro lá.

     

    Everybody run, run, run

    Everybody run, run, run

     

    Everybody scatter, scatter

    Some people lost some blood

    Someone nearly die

    Colonial mentality

    Eu não sou daqui

     

    Eu não tenho nada

    Tristeza não tem fim

    A felicidade sim

    Meu coração é a liberdade

    They leave sorrow

    Tears and blood.

     

    (Marisa Monte)

     

    XOXO



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