11 de dez. de 2023

hop.morte.bound.morte.jump.morte

     Qualquer atividade que libere serotonina do cérebro são coadjuvantes no tratamento da depressão. Para a minha depressão bastante grave, sempre escolhi o esporte, o último deles foi o atletismo, quando passei pela USP. Eu poderia ter escolhido aulas de canto como a Sinéad O'Connor fez, mas como eu sou a pessoa mais imbecil que eu conheço, escolhi o atletismo, por gostar de atletismo e por ter certeza que eu era bom, pois eu sou bom em qualquer esporte que eu me envolvo. 

     Quando eu fiz aqueles 12.50m eu já queria parar há bastante tempo. Muita gente na pista fazendo bullying comigo enquanto eu treinava e faziam isso gratuitamente e quem começou com isso, por incrível que pareça, foi o técnico da POLI. Ainda tive que aguentar duas feminazis fazer minha própria equipe virar as costas para mim por pura maldade. Quando fiz esses 12.50m, durante minha suspensão, ninguém da equipe me deu parabéns sequer por inbox. Até então, nenhum deles tinha uma medalha do TUNA. Ódio e inveja, se potencializam juntos. Quem me ajudou ter uma medalha do TUNA? Eu mesmo, pois durante a suspensão, eles me proibiram de treinar com o técnico e com a equipe. Treinei alguns meses sozinho, triste e com raiva. Tristeza e raiva, também se potencializam. Em qualquer competição que eu participava, ninguém queria ganhar mais do que eu.

     Quando sua depressão é grave, ela costuma vencer, antes dos 12.50m não teve uma competição em que, no final eu não dissesse para mim "Chega, não aguento mais" e eu aguentei até me darem minha medalha do TUNA. Eu não tive nenhum amigo para me dizer "Continua, você é foda!", nenhum colega de equipe para me dizer "Continua, você é foda!", não tinha mãe para me dizer "Continua, você é foda!", não tinha pai para me dizer "Continua, você é foda!". Em quatro anos de treino, meus pais nunca foram me ver competindo (e não foi falta de convite). Eu fui campeão paulista máster! Eu subi no lugar mais alto daquele pódio sagrado do Ibirapuera! E meus pais não estavam lá!

     Hoje eu estou podre em um sofá. Ele está onde está porque ele tem família, tem amigos, mas nunca foi melhor que eu. Se eu tivesse continuado, se eu tivesse o mínimo de apoio para continuar eu estaria saltando mais que ele, porque eu não ia aceitar perder para ele nunca. Sabe o que eu fiz ao invés disso? Fiz a coisa mais imbecil a se fazer, me apaixonei por ele.

     Hoje acabo de publicar meu quinto livro. Meus livros são bons? São, são muito bons. A panelinha que controla os prêmios literários gostam de mim? Me detestam, morrem de invejam de mim, nunca vão escrever como eu. É uma pena, mas eu só vou ser alguém na vida daqui a uns cem anos, como todo escritor fora da curva.

XXXX

  


     


Nenhum comentário: