PING PONG nº5

 

Matem ele

 

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- Eu tentei raspar e alterar a data de vencimento cravada na minha pele, mas não adiantou, ninguém quis comprar
- Pedra emite terra, por isso eu tive que passar aspirador onde eu durmo
- Certa vez ele me perguntou o que significa aquela camisetinha azul escrito "POLI" que os jovenzinhos ostentam por aí
- Politécnica?
- Politraumatismo
- Já viu aquele filme canadense que se chama "Polytechinique"?
- Não
- Precisa frequentar a mostra, hein, cabeça de ovo
- Hum, e daí?
- O filme conta a história de um matador, um homem hétero, que invadiu a escola politécnica de Montreal armado até os dentes e matou dezenas de pessoas, todas mulheres
- Um ensaio sobre o ódio?
- Talvez sobre comportamento, mas não creio que seja sobre rejeição
- E por que está me dizendo sobre esse filme?
- Porque eu já pensei em fazer a mesma coisa na escola politécnica daqui
- E por que diabos?
- Para ele entender a culpa
- Ele quem?
- Ele
- E você mataria só homens?
- Mataria quem eu pudesse
- E passaria o resto da vida preso? Ou morto pela polícia?
- Preso? Ninguém mandaria em mim na cadeia, o estado seria obrigado a me dar três refeições por dia, cama, banho, jogo de futebol com a cabeça de alguém e não jogaria na minha cara essas concessões como outrém
- Você poderia ser assassinado na cadeia
- Não creio, e sabe qual a cereja do bolo?
- Hum
- Meus livros começariam a vender

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- Cachimbo de plástico e fumo pretão aos oitenta: gostinho de infância
Esqueci o isqueiro e fui pedir fogo à um grupo de skatistas
- Tem um isqueiro para emprestar?
Dois isqueiros surgiram, eles são muito fraternos, eles tentavam sem sucesso saltar com o skate sobre um caixote alto e aterrissar de pé, bobos, tenho certeza que com um pouco de treino eu completaria aquela manobra, e se eu conseguisse? Algum deles tocaria em mim? Quem me deu fogo foi uma bicha que estava no meio deles
Cheguei à minha porta e o americano louro de dois metros que se dava muito bem comigo estava arrumando as coisas para ir embora da casa já que acabara de terminar o namoro com a garota de QI baixo, insuportável, que me detestava só porque eu era a única pessoa da casa que conversava com ele, dava-lhe um pouco de atenção
- Oh how are you?
- Oh I know it's difficult times like this
- You never told me your name
- Well, if you need some help to pack your stuff count on me, ok?
- If you're sad, what about we have a beer?
- E então teríamos umas cervejas, e então voltaríamos para casa, e então ele diria boa noite, entraria em seu quarto e trancaria a porta
- Eu só tinha quinze anos, o garoto era lindo demais, olhei nos olhos dele e ele me olhou como se eu fosse um rato, eu nunca esqueci da cara dele
- Fui fazer uma postagem no correio, a atendente era uma mulher muito bonita e foi simpática e carinhosa além do normal
- Na volta, flertei com um homem interessante, funcionário da empresa de ônibus, não era exatamente bonito, mas era charmoso, másculo e tinha jeito de psicopata, olhei no olho dele, e ele gostou, olhou para trás quando passei
- Não vai perguntar qual a moral da história?
- Claro, você precisa aprender a atirar melhor
- Atirar?
- Sim, se você não quebrar o prato de cerâmica, o tiro não vale

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- De um match que vira um ghost, eu faria um snuff

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- Que isso fique quieto por um bom tempo, isso é só falta de fazer o que tem de ser feito
- E um bom motivo
- Qual?
- É isso que eles querem
- E dormir de lentes, dormir com a estupidez do Quincas Borba, acordar com o Quincas Borba brigando comigo porque ainda acha que se trabalha sete dias por semana, assim como quando foi escravo infantil, e acha que se resolve problemas bebendo cerveja ao invés de conversar
- Acordar, tomar os anti-loucuras e ligar a tv para ver os replays dos replays dos replays
- Vi na internet que câimbras constantes na panturrilha são sinais iniciais de câncer e estou receoso em dizer isso para ela, se estarei ajudando ou se serei muito desagradável ou apenas me comportando como o louco de sempre
- Acho que vou voltar a tentar gerar leads de macho
- E você vai perder?
- Perder o quê?
- A reprise da final do hockey sobre a grama para mulheres transexuais
- Jura que vai passar?

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Uh lá lá

 

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- Hillary arrasou no laquê
- Como sempre, se ela levar uma bala na cabeça, a bala bate e volta
- Biden vai falar agora, vai ver?
- Tá na hora do creminho
- E vê resultado?
- Prometem só depois de oito semanas, se bem que não tenho sido muito inteligente
- Por quê?
- Passo o creme e fumo um cigarro em seguida
- É, parece não fazer sentido
- Posso não melhorar, mas pelo menos não pioro...
- Você tinha diminuído os cigarros no começo, mas voltou a fumar muito, agora veja só...
- Se bem que agora tem essa modinha de paciente modelo, não?
- Sim, mas cobram o material
- Entrei em contato com uma clínica
- E daí?
- Eles cobram três vezes menos o valor para sumir com meu bigodinho
- Sério?
- Sim
- E você vai fazer, né?
- Claro, logo após eu tatuar a minha bundinha
- Eu estava aflito e pedi pra papai do céu "Me dê um refrão, só preciso de um refrão"
- E ele te deu?
- Deu
- Peeling de fenol/Você não aguenta?/Vai passar creminho que o seu coração aguenta
- E como foi com a doutora?
- Me deu um chá de cadeira de meia hora e a consulta foi muito longa
- Você disse que recusaria a internação porque se inscreveu em um curso de ciências mortuárias?
- Não precisei, ela não conseguiu a vaga para a internação
- Menos mal
- Mais ou menos mal
- Por quê?
- Ela me encaminhou para fazer um tratamento de estimulação intracraniana
- E o que é isso?
- É um nome bonitinho que inventaram para o tratamento de choque
- E você vai?
- Vou, é uma chance de viver sem uma dependência de vinte e um comprimidos de psicotrópicos por dia
- Como diria o motorista de ônibus, "A que ponto chegamos"...

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- Por que fizeram a rave do lado da fronteira?
- Por que não fizeram em um lugar mais seguro, longe da fronteira?
- É subestimar demais os caras
- Vê provocação?
- E o que mais?

XOXO