25
v
- Adeus, 25, você foi um bom ano para as garotas
- Com onze anos de atraso, eu me tornei uma
pessoa razoável
- Se eu puder escolher entre o silêncio e marcar
território com uma personalidade forte, temos um conflito, pois quanto mais
personalidade, mais o sangue desce do couro molhando minha testa, então melhor
engolir a personalidade
- Tá flio, né?
- Melhor ir pla casa
- Orientais abrem as portas, se você consegue
com o que eles ganhem a sua confiança, sempre confiarão em você, sempre
gostarão de você, a não ser que você caia no fosso dos 3.000 metros com
obstáculos e afunde
v
- Um defeito de voz; não dá pra trocar de pele,
mas também não dá pra trocar de voz, pode-se tentar manter a boca fechada o
máximo que for possível, mas na fração, todos vão saber, e é preciso usar o
cérebro, nas grandes multinacionais existe código de conduta, podem te odiar no
estômago, mas não no compliance, daí desce o suco da boa vizinhança, as formas
de comunicação são padronizadas, talvez minha voz falando inglês é mais
grave, então talvez, apenas talvez, seja menos difícil viver uma vida de
espião, uma vida de infiltrado
- Às vezes a voz quebra, às vezes ela treme, por
mais que as pessoas tentem esconder a risada, eu sempre percebo, e quer saber
se fico triste? Eu piso em um chão onde estou seguro, assisto ao mundial de
atletismo e vejo os atletas da Nigéria sorrindo tão abertamente, é uma pena que
para muitos nigerianos que apresentam certo comportamento, a vida não tem graça
nenhuma, pois as leis nigerianas preveem pena de morte por apedrejamento para
homossexuais, e é assim em quase toda a África; certa vez, quando eu trabalhava
em uma multinacional japonesa, meu gerente me indicou para ir trabalhar na
fábrica da Indonésia onde não se fazia nada direito, fiquei tão feliz, mas a
transferência foi cancelada, fiquei triste, por ignorância, eu não sabia onde
eu ia me meter, foi muito bom o cancelamento, a pena que uma pessoa pega apenas
por ser homossexual na Indonésia é de oito anos de cadeia e cem chibatadas, você
deve se achar muito moderninho, muito descolado levantando a bandeira da
Palestina por tudo o que está acontecendo em Gaza, mas as leis de lá (eles não
tem estado, mas tem leis), preveem dez anos de cadeia apenas por ser
homossexual; lembro que quando eu trainava atletismo, e o treinador pedia uma
foto da equipe, a maioria dos atletas posava imitando o Usain Bolt, eu já não
gostava do Bob Marley e nem de nenhum Jamaicano sabendo o que acontece por lá,
a pena para homossexuais na Jamaica e das mais nefastas, são oito anos de
prisão com trabalho pesado “hard labour” diz a pena, e isso dá margem para
qualquer tipo de coisa; onze países no mundo ainda aplicam pena de morte para
homossexuais, a maioria por apedrejamento, quem nunca foi gay que atire a
primeira pedra
- Estou mesmo sentado ao sofá, vestido e limpo para ir à casa de um homem ainda mais velho que eu, e ainda mais feio que eu? Eu nem gosto de tomar banho, mas só vou porque ele vai fazer sexo oral em mim, porque há um tipo de cio no meu pênis de porco que é para fora, mesmo porque minha natureza não foi capaz de observar as duas dezenas de homens que ignoraram minhas fotos depravadas, e por mais que acordei exausto, com uma panqueca de libido, prometi que não procuraria mais ninguém, se me procurassem, eu talvez responderia, ou talvez eu pegaria carona desse estado de aversão às drogas e tornasse a aversão aos homens também, porque seres humanos são temporários, vêm, mas ficam junto com o medo constante do desaparecimento, se há amor eterno, há a morte, eles, por dentro, são todos iguais, são vermelhos, eu frequentei metade de um curso de auxiliar de necropsia, urinando, nessa idade, lamentei a vacilação, disse para mim mesmo que eu já deveria estar casado, como se fosse fácil estar casado, o sexo com o homem velho foi dispensável, em certo momento perguntei:
- Tem algo para me manter acordado?
- Não
- Não que eu queria algo, é que o sexo estava tão monótono que me deu sono, não deu nojo de mim mesmo ao terminar aquele sexo, deu pena, a imagem do corpo dele se estendeu a residência, um terreno longo, sem iluminação, onde no final dele, haviam três pequenas casas construídas, todo o combo era ruim, eu mereço coisa melhor, esse lugar da cidade é todo assim, cheia de homens que são ratos que enxergam um leão no espelho, não adianta provoca-los, eles gostam de ignorar, isso quando não tentam te humilhar com aquelas frases repletas de erros de Português, eu tenho planos para não usar mais o aplicativo nesse pântano, antes que eu acabe caindo na lama também; o que me toma é um desespero, como se fosse necessário praticar, como se fosse necessário o fazer para quando eu estiver pronto quando o homem certo finalmente aparecer, mas eu já sei a resposta, isso não se esquece, quando ele aparecer, eu saberei direitinho como fazer, o vício em passar tempo nesses aplicativos, virou um videogame, aquele joguinho em que você sempre perde, e na minha história sempre foi assim, se eu avanço, eu os empurro, mas se eu apenas aguardar, eu os atraio, é do céu que eles vêm, não desse inferno que estou pisando, e é por isso que eu estou indo embora
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- O garoto oriental me deixou sozinho após deixar a porta destrancada pra mim, mas deixou uma ratoeira atrás dela, se fosse para ser um homem, faria sentido eu me candidatar para entrar na vida dele, mas para eu ser uma mochila, não teria cabimento; nós, somos filhos do planeta Terra, e a Terra está sozinha no espaço, eu preciso entender que eu também sou sozinho, eu ainda tento me livrar do instinto caçador canino, que veio canino, mas é difícil aceitar que não se morre dessa fome, talvez se morra de tristeza, as pessoas se casam o tempo inteiro, o que me chega aos olhos como uma montanha difícil de escalar, mas elas se casam por desespero, porque elas descasam o tempo inteiro, a lembrança dos meus relacionamentos deveria ser mais presentes do que são, todos eles com pessoas horríveis, que me colocaram em vícios que carrego até hoje, foram os que caíram do céu, as três malditas chuvas ácidas; não se sonha com a realidade, se sonha com o céu, o céu é o vestiário da seleção da Bulgária de voleibol masculino, o céu é a cama do Carlos Alcaraz, ninguém abusa de um homem de quarenta e um anos, quando a fantasia me vem à cabeça, ela é tão absurda que deveria ter acontecido há onze anos atrás, mas não aconteceu porque aqueles meninos naquela pista, sempre fizeram silêncio, alguns sentiam pena, outros sentiam nojo, além de feio e esquisito, havia a clara diferença de classe social, eu esperava um, apenas um naqueles quatro anos, mas além da questão da classe, havia a diferença política, como um futuro engenheiro poderia iniciar a conversa com um futuro professor com toda a carga negativa que esse adjetivo carrega? Eu pensava ser insuportável, mas percebo que eu sequer era um fator, a minha medalha mais importante, hoje está pendurada e ela é indiferente, que agora entendo a Purificación Santamarta (Google it), o que sobrou e sobra, é uma vontade de atear fogo em mim mesmo à cada aniversário, faz três dias que eu não durmo pelo fato de que minha quietiepina acabou, e além de me fazer dormir ela controla/diminui minha libido, assim eu não preciso sonhar/venerar aqueles homens de plástico que não tem princípios, tampouco fins, matam e fogem, nem posso te converter em um verso humano, amanhã não toco o telefone com as mãos, mas só com os calcanhares com força marginal, até que esteja completamente destruído, até que eu esteja nem tanto destruído
- O que é pior? O metrô cheio no horário de pico
ou passar duas horas em um inferninho até que os trens fiquem mais vazios? Hoje
eu percebi que o inferninho não é um desleixo da depravação erguido dentre um
monte de tapumes velhos, é um incêndio, onde finalmente eu morri queimado
- As três fontes onde eu buscava homens nos
últimos três dias incansavelmente, bobamente, hipnotizado, se antes tinham
cores, elas automaticamente ficaram opacas, posso agregar a culpa por ter
ficado três dias sem quietiapina? Sim, ela controla e diminui minha libido, mas
eu é que controlo a minha estupidez
- Dizem que homens não prestam, mas homens gays
prestam muito, muito menos, um começou a beijar outro enquanto eu ainda estava
ajoelhado na frente dele, o outro me deixou ajoelhado falando sozinho, há de se
estudar a dosemetria da humilhação; quem eu sou? Meu marido morreu e eu tenho
crianças, na geladeira também tem leite, de caixinha, se colocar açúcar também
fica doce
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- Dizem que homens que possuem um carro da
Mercedes Benz, os tem para compensar o tamanho pequeno de seus pênis, e os que
posam para foto ao lado de carros que não pertencem? São aqueles que não
existem?
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- Eu toco meu quadríceps e eu ainda sinto ele
mole, embora para mim seja apenas uma sensação, quando estou andando não
acredito ter as partes moles, sinto a certeza de estar carregando apenas ossos,
essa manhã os ossos do meu vizinho da frente estavam prontos para serem
recolhidos, a ossada do meu vizinho da frente à esquerda foi recolhida hoje
cedo, eu não sou do tipo curioso, mas fui até o portão observar a coleta, me
parece que em duas casas bem à esquerda, logo haverá mais dois homens
desossados; ninguém gosta de viver com gente morta, e as mulheres e as crianças
irão embora, até só sobre eu na rua, que todas as casas sejam vendidas,
derrubadas, e durante esse período haverá tanto barulho de tratores derrubando
essas casas, que acho que posso de fato ficar louco, como nunca antes, e eu
tenha que tolerar um só vizinho que me ameaçará a vida: um enorme trator
- Quando eu era criança, criancinha, a
professora sugeriu uma atividade, deu uma folha de sulfite para cada criança e
disse para fazer um desenho explicando o que queriam ser quando crescerem;
bisbilhotei o desenho do garoto atrás de mim e ele desenhou um caminhão, um
caminhão?? Como um menino pode querer ser caminhoneiro? Por mais que fossem
pobres os pais não o ensinaram a sonhar? Se pobre não gosta de sonhar, pelo
menos ensinem a criança a querer "algo melhor", era o que as
professoras deveriam fazer, mas se limitavam em passar conteúdo, atrás daquela
mesa singela, quietas como uns elefantes; o meu desenho? Nada me ocorria, até
que escrevi a palavra "NADA" naquele papel, a professora recolheu e
achou risível, era incapaz de perceber que se tratava de uma criança
perturbada, há trinta anos atrás professoras não sabiam ser professoras, e hoje
as pessoas sabem direitinho como matar e praticar crimes ainda piores
xoxo
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