26
v
- Eu não vivo a vida, eu observo a vida
- Beijar dá cárie, eu preciso cuidar dos dentes
para facilitar a identificação do meu cadáver
- Eu não gosto de chá, mas ainda dá tempo para sentar
no sofá, já que não dá mais tempo pra sonhar
- Que satisfação abandonar cock rings por onion
rings
- Seria bom se o sarrafo sempre fosse de corda
- Quando o avião em que você voar estiver
caindo, seja educado, dê tchauzinho pela janela
v
- Fumei o último cigarro, tomei os últimos
remédios, estão todos prontos? Aí embaixo também? Bom que as recorrências
acabaram, estive hipnotizado por aquela tela por mais tempo que eu deveria e
sabe o que é pior? Essas telas emitem radiação, sim em níveis muito baixos, mas
em um uso extrapolado, quando estivermos velhinhos, essa radiação baterá na sua
porta e cobrará a conta, assim como seu psiquiatra irresponsável sabe que
passou muito da hora de você desmamar do Rivotril, quando você for velhinho, a
demência baterá na sua porta para cobrar a conta; parece que não foi ruim o
bastante o que aconteceu na quarta-feira no meio daqueles tapumes cheios de
cupins, hoje lá estava eu procurando homens on line de novo; Hugo, não é porque
seus pais vão ao médico, que obstinadamente você tem que colocar um homem
dentro de casa, o melhor que consegui, tem apenas dezenove anos, é bonito como
um esquilo, mas... cheira, e eu é que devo comprar o pó, e ele me manda áudios
com a meiga saudação de "Eae seu noia!", só que faz tempo que não
cheiro, e eu gostaria de permanecer assim, inclusive ele já disse em outra
ocasião que namoraria comigo se houvesse sexo e pó todos os dias, o garoto é de
fato apaixonante, eu o levaria nos braços, mas não seria nos braços que essa
situação iria me levar...
- Está prestando atenção, gata?
-
- Já está roncando
- Além do mais comecei uma dieta na quarta-feira
passada com o intuito de emagrecer três quilos, ao fechar das cortinas decidi
quem virá aqui amanhã quando meus pais irem ao médico: ninguém, eu tenho meus
brinquedos, que funcionam até melhor que um homem
- Lygia não lia ninguém. Agora serei obrigado a
ler Lygia para a fuvest
- Que livro dela colocaram?
- Aquele livro dela mais conhecido, qual é mesmo
o nome?
- "As Bruacas"?
- Esse mesmo!
v
- Qual é a teoria que você acredita sobre o fim
do mundo?
Abaixei a cabeça, esbugalhei os olhos
esputefados
- Você nunca ouviu falar na história das
canetas?
- Que canetas?
- Você só vê idiotices na Internet, seu boca
torta! O mundo vai acabar em canetas!
- Em canetas?? Hahaha
Devolvi um olhar da primeira ministra da Itália,
a partir daquela cara horrível, respondeu
- Isso é sério?
- Sim, sabe quando uma caneta está próxima a
você e quando você vai usá-la não consegue encontrar? Você procura a casa toda
e aceita que a caneta sumiu, essas canetas que somem assim vão para um
esconderijo secreto, um dia todas essas canetas vão surgir de seus esconderijos
secretos e vão dominar o mundo
- E as baratas?
- Las cucarachas, Las cucarachas...
- ...
- Caneta mata barata
- Você nunca acreditou em nada, você realmente
acha que essas canetas vão acabar com o mundo?
- Eu sou um homem de fé!
- Mas você é ateu!!
- Eu não acredito em deus, mas eu acredito nas
canetas
Levantou-se da cadeira e foi para a rua
- Para onde vai?
- Vou ver se aquele asteroide do tamanho do
Maracanã já caiu aqui
- Voltou rápido hein!
- Está frio
- E caiu?
- O quê?
- O asteroide?
- Claro que não! Todos nós saberemos quando ele
cair
- Ainda bem que eu tenho um guarda-chuva bem
grande
v
- E o seu braço como está? - Perguntou Anna
- Continua doendo mais que o direito
- E a lástima?
- A lástima minha de cada dia?
- Ah, como posso dizer isso?
- Eu posso, você que é rica, bonita, loura e
alta, não pode mesmo
- E se eu te dizer que uma festa o faria bem?
- Uma festa?? Eu??
- Sim, você!!
- Ai, eu detesto festas, ter de beber álcool
para terminar logo, aturar aquela música horrível, me tornar invisível no meio
daquela gente esnobe...
- Essa festa que vou te levar é exatamente o
oposto disso
- É alta sociedade?
- Claro, meu bem
- Deus me livre!!
- Eu vou te apresentar um homem, e é para casar,
viu?
- E quem vai querer casar comigo a essa altura
da vida?
- Você vai descobrir
- E a sua roupa? Estou até com medo de abrir seu
guarda roupa
- Bom, está aqui, as roupas são mais bonitas que
o dono
Abriu a porta e boca
- Meu deus! Quanta coisa moderna! Onde você
comprou essas peças?
- No Japão
- Olha, estou surpresa...
- Sim, mas para uma festa onde vou conhecer um
homem, melhor vestir preto
Cara de tacho
Na festa
- Ele está ali vindo na nossa direção
- Quem? Aquele senhor?
- Ele mesmo, vá logo para o salão e se posicione
como se estivesse distraído
- Ok, pelo menos sou bom em fingir
Eles se encontram
- Você quer dançar? – disse um senhor muito
elegante ao aborda-lo
- Dançar? Sim, mas não sou bom dançarino
- Apenas acompanhe, apenas acompanhe... eu lhe
ensino
Começou a tocar uma valsa, o magnata e aquele
estranho e pequeno homem chamou toda a atenção. Saíram a francesa do baile,
foram jantar
- O que lhe desagrada a comer?
- Comida japonesa
- O que lhe agrada a comer?
- Carne de javali
- O que lhe agrada a beber?
- Bem, eu não bebo álcool, mas se você beber,
claro que lhe acompanho
- E o que você beberia hoje?
- Vinho do Porto
Achei melhor ficar calado o máximo possível,
devido a tanta cultura reunida em seus noventa anos
Foram para a casa do magnata, mas não houve
sexo, dormiu logo
Dormi com as mesmas roupas em que fui ao baile,
não sabia o que fazer, em determinado momento virei para o lado e dormi por
poucas horas
Acordei, bom que era dia, olhei para o lado e
tinha um esqueleto dentro de um pijama
Nada de novo
Toquei meu corpo para ver se eu também tinha
acordado esqueleto, não tinha, fui ao banheiro para ver meu rosto, meus cabelos
amanheceram brancos
- Por acaso você se sente um pouco velho?
Disse o esqueleto entrando no banheiro já sem o
pijama
Susto
- Não, eu sou um eterno velho
- Você acha que estou vivo ou morto?
- Um tanto híbrido, não?
- Vivo ou morto quando me convém
- E o que pretende fazer assim?
- Vamos sair
- Sair?
- Sim
- E as pessoas na rua vão te ver?
- Claro, acha que só você pode? Acha que é
especial?
- Eu não disse isso, é a primeira vez que vejo
um esqueleto andando e um esqueleto falante
- Pois venha aqui me ajudar a escolher uma roupa
- Esqueleto veste roupa?
- Você também veste, por que não eu?
- Você tem muitos ternos, não? É por isso que
está parecendo um pouco defunto?
- Ah, mas você é muito espirituoso mesmo, hein?
-...
- Pegue o primeiro da esquerda para direita
- Tome
- Como assim "Tome?", espera que eu me vista?
- Meu deus, eu vou vestir um esqueleto...
Pronto, vestido, só restava cabeça, mãos e pés
- E os sapatos?
- Sapatos?
- Sim, os sapatos
- E como esses ossos vão entrar nos sapatos?
- Pelo começo
- Mas... os ossos não vão quebrar dentro dos sapatos?
- Eles vão quebrar se eu andar na rua descalço
Calçou os sapatos no esqueleto
- Você não vai se aprontar?
- Aprontar para quê?
- Nós vamos sair! Acha que me vesti assim para
quê?
- Para onde?
- Apenas se arrume!
Fui ao banheiro. Comecei a escovar os dentes. Ao
escovar a bochecha, a escova furou, atravessou minha pele. Gritei, corri.
- A pele da minha boca furou!
- Que sorte
- Não posso sair de casa assim!
- Ah, você pode sim!
Virou-se a um espelho
- Tenho um furo na bochecha, como isso pôde
acontecer?
- Porra, e comigo?
- Onde você vai?
O esqueleto voltou uma caixa de curativos
- Será que isso vai segurar?
- Se não segurar faz outro, oras
- Está pronto?
- Adianta dizer que não?
Saíram e tomaram o elevador privativo, ao
acessar a garagem, a estranha dupla fez uma idosa desmaiar
Entraram no carro
- Eu não sei dirigir
- E daí?
- Você vai guiar o carro??
- Mas é claro!
- Eu nunca vi esqueleto guiar carro!
- ...
- Nós precisamos passar em um lugar antes
- Que lugar?
- Bota aí no seu GPS
Muitas pessoas que emparelharam no carro da
dupla expressaram susto, medo, horror
O endereço era um salão de beleza
Quando os dois desceram na calçada foi uma
correria, gente tropeçando, gente gritando, fechando o olho...
Quando entraram no salão não foi diferente, uma
gritaria tomou conta, secador caindo no chão, bicha dando tapa uma na outra,
velha caindo no chão com o cabelo cheio de papel alumínio, gente pulando da
cadeira e quebrando o espelho com a cabeça, um caos!
- Mas isso não é possível! Nunca viram um
esqueleto na vida?
- Ah viram sim! Nem que foi nos contos da Crypta
Avancei um pouco e vi uma senhora gorda
desacordada no chão
- Morreu essa aqui? - ao que o esqueleto
respondeu:
- Parece que sim
- Mas veja só, não tem ninguém aqui atrás, onde
foi todo mundo?
- Eu vou me sentar ali na recepção porque estou
com uma dor nos ossos que está me matando!
Foi-se o esqueleto, avistei uma escadinha por
onde, só poderia ser, subiram todos, e falei em voz alta;
- Ninguém trabalha neste salão? Eu preciso
tingir meus cabelos!!
Uma funcionária mostrou apenas a cabeça pela
escada
- Por que você está rastejando?
- Ele já foi embora?
- Quem?
- O esqueleto! - ela cochichava
- Que esqueleto?
- Então ele não está mais aí?
- Quem?
- O esqueleto!
- A senhora está passando bem? Tomou alguma
droga?
- Oras! E eu lá tenho cara de drogada? Já estou
descendo para lhe atender
- A mulher está descendo para me atender, por
favor, me ajude
- Claro, meu novinho...
- A mulher apareceu e não notou o esqueleto de
imediato e deu saudação ao cliente
- Boa tarde! - com um sorriso muito jovial
Ao que o esqueleto respondeu:
- Boa tarde...
A atende gritou dando pulinhos no próprio eixo
Ao que eu a segurei seus braços e tentei uma
mentira;
- É brincadeira! É brincadeira!
- Que brincadeira? O que é isso? O que é isso?!
- É um robô!
- Ah... um robô? Pois tem um monte de gente
passando mal lá em cima!
- Por favor, eu não posso sair daqui parecendo o
professor Raimundo, é pedir demais a senhora fazer essa coloração??
Com o rosto contrariado ela respondeu
- Sim, posso! - não antes de o esqueleto dirigir
a palavra à cabeleireira
- Não vai me oferecer um café?
A cabeleireira olhou para a minha cara de
paisagem, pôs uma mão na cintura e com a outra pressionou os olhos com dois
dedos para não chorar, assim ficou, olhou para o horizonte, fez menção de secar
umas lágrimas secas, respirou fundo e respondeu;
- Eu vou buscar
Trouxe
O esqueleto pegou o café, tomou por entre os
dentes e logo o café caiu entre a mandíbula manchando a roupa
A cabeleireira desmaiou
- Ai, que ódio! Não é possível! Você está
boicotando a minha coloração!
- O que você pensa que eu sou? Um homem da alta
sociedade, estou acostumado a ser bem tratado, como chego em algum lugar e não
me oferecem nada?
- Agora você é um esqueleto da alta sociedade,
e-s-q-u-e-l-e-t-o!
- Ah, vá tomar no cu! Quem é você para querer me
colocar no meu lugar?
- E você nem cu tem! Ajude essa mulher aqui!
Traga uma tangerina para colocar no nariz dela! Dê licença, viu!
O esqueleto foi até os fundos e trouxe água,
despejou na cara da cabeleireira e foi se sentar
Ela acordou assustada, olhando para os lados
- Você já está boa, não é? Pode começar a
começar a tingir meus cabelos, pelo amor de deus??
- Ai, meu deus...
Ela avistou o esqueleto sentado na recepção
- Pare com essa frescura, por favor? Senão eu é
que vou fazer você desmaiar!!
- Ai, credo!
- Ai, nada! Pode começar!
Ela começou
Aplica, aplica, aplica, espalha, espalha,
espalha
Aplica, aplica, aplica, espalha, espalha,
espalha
O cliente dorme com aquele marasmo, aquele curativo
na bochecha não ia durar muito tempo mesmo, sangue começa a descer pelo
curativo até a pingar pelo pescoço
A cabeleireira é fraca ao ver sangue e desmaia
novamente
O cliente grita e se debate de susto
- Eu não acredito! Eu não acredito!
- Ora! Pare com esse escândalo! Não percebe que
está sangrando feito um porco pela bochecha? - disse o esqueleto
Ele olha para o espelho e percebe o estrago
- Oh..
- Percebe?
- Precisava ela desmaiar? - a rabugice
- Não diga que você não sabe que algumas pessoas
não toleram ver sangue?
- O que eu sei é que vim à este salão para
contratar um serviço simples! Simples! Simples! Que inferno, meu deus! Vou
terminar eu mesmo! Vou esperar meia hora e ver se eu consigo ligar aquela
geringonça de enxaguar cabelo
- Vou até o carro, eu deixei a caixa de
curativos lá - disse o esqueleto
Troquei o curativo, notei que o tamanho do furo
estava maior
Fui até o lavador e não foi tão difícil fazê-lo
funcionar
Enxagua, enxagua, enxagua
Enxagua, enxagua, enxagua e ao colocar os
cabelos em uma toalha, vi um terço do dedo do meio dentro do lavador, olhei
para o dedo e vi que não tinha mesmo cabeça, não sentia dor, sentia-me como uma
criança que precisava esconder uma mentira, precisava manter a normalidade
- Como vou esconder isso?
Logo se usou da primeira ideia que teve
- Você ainda tem curativos aí? - perguntou para
o esqueleto
- Sim, o que aconteceu?
- Eu machuquei meu dedo!
- Está aqui a caixa
- Você pode me trazer?
- E por que você não vem buscar?
- Porque está sangrando e eu estou com ele na
água
- Oras, quando parar de sangrar você vem buscar!
- Mas que diabo! O que lhe custa me trazer a
caixa até aqui?
- Custa o mesmo que você vir buscar ela aqui!
- Ai, meu deus... - coloquei a mão completa nos
olhos, comecei a forjar um choro
- Ah, mas se vai apelar para isso, eu vou aí lhe
levar a caixa
O esqueleto veio
Escondi a mão e o pedaço do dedo que caiu
- O dedo já parou de sangrar? Machucou muito?
- Sim, sim, pode deixar aí no sofazinho, por
favor, obrigado
Levantou e saiu com a caixa para a esquerda
- Vai onde?
- Ao banheiro
Sentado no vaso, eu tentava esconder o que
acabara de acontecer
Separei bastante gase e curativos
Peguei a cabeça do dedo, encaixei no mesmíssimo
lugar e comecei a remendar
Remendou, Remendou, Remendou
Apertou, apertou, apertou
O fez até ter certeza de que não cairia
Falei baixo
- Não sinto nenhuma dor, como pode ser possível?
Acordei com um esqueleto falante... e bípede, esse é o preço da alta sociedade?
Alta ou altíssima? É isso ou nada, não é assim?
Olhou para o espelho, tirou a toalha, secou os
cabelos e eles não estavam exatamente pretos, um certo dégradé, talvez
Saiu do banheiro e encontrou o esqueleto na
recepção lendo um jornal
- O que de há de novo no presente? E no futuro?
- Refinação de metais de terras raras, meu
jovem!
- E alguém vai aprender a fazer isso fora os
chineses nesse século?
- Deixe estar, deixe estar
- Podemos ir embora dessa biboca?
- Já era hora! Onde pagamos?
- Estão todos escondidos, e eu tive que
finalizar minha própria coloração!
- Podemos deixar o dinheiro em cima da mesa
- Pois dê! Dê!
Ao sair do recinto, o esqueleto pediu
- Você pode me dar o braço?
- Posso, oras
Saíram pela calçada e as pessoas gritavam,
corriam e buscavam abrigo como se estivesse passando a vassoura de bruxa
Entraram no carro
- Podemos almoçar, agora?
- Almoçar? E desde quando um esqueleto almoça?
- Mas que diabo! Pare de me limitar!
- Você não pretende almoçar naqueles
restaurantes finíssimos com essa... aparência, vai?
- Claro que não, nós vamos à uma hamburgueria
- Hamburgueria? Por que uma hamburgueria?
- Porque eu nunca fui a uma hamburgueria
Pois foram
Sentados à uma mesa após esvaziar o local,
fizeram o pedido
A garçonete olhava para o esqueleto tentando
compreender o que se passava, menos que se tratava de um esqueleto vivo
Com o pedido servido, o esqueleto começou a
morder o hambúrguer e a comida caía no vão da mandíbula direto em seu terno
Eu comia normalmente, sem notar que pingava
sangue do curativo do rosto no Milk shake
Terminada a refeição
- Ah, como me sinto bem! Por acaso você se sente
um pouco incompleto?
- Por quê?
- Veja o seu copo de Milk Shake
E lá estava a cabeça do meu dedo no fundo do
copo
Primeiro dei um suspiro, depois fiz expressão de
pedir clemência, depois pus o braço na mesa para apoiar a cabeça e chorar
- Ora, o que é um pedaço de dedo? - disse o
esqueleto
- O que vai acontecer comigo? Vou me despedaçar
aos poucos? - agora, de fato o choro
- Acalme-se, deixe estar
O esqueleto fez menção de pedir a conta
- Deixa que eu peço
Quando a garçonete chegou à mesa e viu aquele
pedaço de dedo dentro do copo, implodiu-se como um edifício
Já dentro do carro, eu questionei o rumo;
- Vamos ao banco
- Ao banco? E o que vamos fazer lá?
- Coisas que se faz no banco
Estacionou o carro na calçada
Ao entrar na agência personalité, comentou
- Acho que me enquadro na senha preferencial,
não?
Ao invés do pânico, os funcionários fingiam que
não estavam vendo
Sentarem ao sofá
Bem logo, se levantaram
A gerente, sentada, vendo aquele esqueleto vindo
andando sozinho em direção a ela, tentando entender do que se tratava, deixando
o desespero transcender apenas pelos olhos, procurava manter o máximo de
profissionalismo que pôde
- Qual os dados da sua conta? - perguntou ao
esqueleto
Deu
- Tem certeza que vai transferir toda essa
quantia? - disse a gerente
- Sim, tenho certeza, só não tenho condições de
fornecer digitais, por motivos de força maior
- Posso compreender
- Qual o maior valor que consigo mandar agora
para o meu novinho?
- Este aqui
- Qual a sua chave, novinho?
Dei
- Pode mandar, por favor
Os dois foram embora do banco
- E agora, onde vamos?
- Sei para onde vou, não sei você - disse o
esqueleto
- Como assim?
Os dois pisaram na calçada
Debaixo daquele calor forte, o esqueleto o
desabou, todos os ossos se desencaixaram, outros se quebraram
Ajoelhei e velei aqueles ossos ali mesmo na
calçada, não foi fácil pensar no que fazer, nem levantar, nem seguir em frente,
embrulhei os ossos com cuidado dentro do terno, todos olhavam, mas eu não
ligava, peguei e levei até o carro , eu não sei dirigir, mas sei abrir a porta
tendo a chave
Com gentileza, depositei no banco de trás os
ossos embrulhados
Depois encostei sobre teto do carro, chorei,
chorei até muito por um breve tempo
Havia uma curiosidade, entrar no aplicativo do
banco e ver quanto dinheiro o esqueleto tinha me enviado
- Oh, meu deus! Que bondade! É isso que um
cuidador de esqueleto recebe? Nem posso imaginar o quanto cairá daqui a alguns
dias na conta...
Enquanto isso, eu tinha alguém para visitar
Pedi um carro por aplicativo
O carro veio
Dentro dele, senti o antebraço direito comprimindo,
sem dor, mas comprimindo, outras compressões vieram, cada compressão era mais
forte, e em cada uma delas eu soltava um gemido
O motorista, sem perder tempo, passou uma tabela
com os produtos que o veículo oferecia (preservativo, viagra, pomadas
sedativas, etc)
- Os serviços do motorista saem a partir de
R$100 – disse
- Obrigado
As compressões se intensificaram até que um
importante barulho de osso quebrando se
ouviu e eu dei um grito alto e agudo
- O que foi? - disse o motorista
- Nada, nada... - disse tentando recuperar a
respiração
Depois das animações, eu calmamente deixei o
antebraço cair no chão do banco onde eu estava
Chegamos e deixei o motorista com cara de tacho
- Anna, estou em frente ao seu prédio, poderia
me receber?
- Sequer avisou que vinha
- Dado a urgência, não avisei
- Oh... vou liberar sua entrada
O motorista que o deixou na porta ficou imóvel,
desacordado com o rosto caído no chão do banco traseiro onde passageiro estava
sentado, e os glúteos para cima entre os dois bancos. Quase todos os
transeuntes que passavam, notavam aquela cena no mínima estranha, outros
distraídos passavam sem perceber
Bateu-lhe a porta
Anna abriu vestida para casar, de branco, com
vestido risível, uma clara em neve gigantesca em dos seios, o vestido seguia
justo, e outra clara em neve enorme, porém mais fina, envolvia as canelas, um
sapato alto que poderia ser 12 a deixava monstruosa, já que media mais de um
metro e oitenta. Os cabelos? Cafona! Optou por um penteado “Bolo de noiva”,
muito comum nos anos 1960, o que consiste em deixar uma mulher branca com um
“Capacetão”.
Fiquei olhando para aquela estranha e exagerada
figura como se ela tivesse me atacado uma pedra! E eu tivesse olhando de volta
com uma cara de não entender por que diabos me atirou uma pedra, eu que já
estava em uma situação de vulnerabilidade
Nenhum comentário:
Postar um comentário