Estou lendo “a metamorfose” do Kafka.
Comprei enquanto esperava um amigo que se atrasou, na livraria do conjunto
nacional. Uma banda de sopros se apresentava por lá. Estou curioso para saber o
que vai acontecer com o corpo de Gregor, com as perninhas de Gregor. Pelo menos
a leitura deixa a viagem de metrô mais rápida. Durante o “Rehab” (três meses e
meio de desemprego na casa dos meus pais), também acabei de ler o “neve negra”
do Santiago nazarian. Gostei muito da forma como ele concatena a história da
família com a história de terror, que é muito boa, e o final é muito bom. Santiago
está vivo, não é alternativo nem independente, mas é uma das coisas que posso
recomendar. Não consegui ir ao lançamento de “mauricéa”, novo livro da incrível
adrienne myrtes, mas pretendo convida-la para um café em breve e pedir para ela
me levar uma cópia para vender. Ela é uma das autoras vivas brasileiras
contemporâneas e independentes que mais admiro. É outro nível de genialidade,
bem acima do meu, com a minha literatura macha, agressiva, confessional,
desvairada e não planejada. Alexandre rebelo também lança livro novo nessa
terça, bem no dia da minha aula de Latim que não posso mais faltar, mas vou
tentar ir. Alexandre foi a primeira pessoa que deu feedback para meu livro novo
(não o quarto, mas o quinto). Trata-se de um livro de poemas de 45 páginas que
escrevi em aproximadamente 40 dias. Ele se chama “eu vou contar para a sua mãe”.
Trata-se de sexo e drogas, tabagismo, a volta para casa dos pais depois dos 30,
a aceitação da sexualidade, as relações familiares, transtornos psiquiátricos,
prostituição e desemprego. O título significa uma ameaça ao ex-namorado viciado
em cocaína e prostituto, mas claro que não pretendo dizer nada a ninguém.
Embora seja poesia confessional, há seus exageros estéticos. Tudo isso em verso livre, bem influenciado por
Sylvia plath. Alexandre disse que o livro é excelente e, como no livro
anterior, pedi cobaias via facebook para ler o livro para ter uma primeira
resposta. Até agora, só tenho tido críticas positivas. Mandei para algumas
editoras, mas as que recebi retorno todas tinha-se de dividir as custas e não
posso fazer investimentos no momento. Fiquei muito feliz com o retorno da
editora kotter, que disse que meu livro é ácido e impactante e me disse
parabéns, infelizmente achei meio caro publicar com eles. A alternativa mais
barata que encontrei foi a editora penalux, que cobra do autor 40 a 60 livros
do lançamento. Fica mais viável. Mas... sem emprego, um pobre poeta não pode
publicar. Preciso esperar alguma empresa finalmente ir com a minha cara e dizer
sim. Agora que recuperei o peso na casa da minha mãe e estou com uma aparência
mais saudável, é mais possível que eu consiga um emprego. Não será fácil, tive
de omitir a empresa dos chineses do currículo para não ter que explicar por que
fiquei apenas 4 meses e meio lá, então segundo meu currículo estou fora do
mercado desde fevereiro desse ano. Não será fácil. Pelo menos estou recebendo
uma ajuda do governo enquanto isso, mas ficar na casa dos meus pais sem fazer
nada é quase insuportável. Tento controlar com o cigarro e com rivotril, mas
ainda assim é difícil. Parece que sofri uma metamorfose como Gregor, mas não
por fora, por dentro. Como se eu não conseguisse ser mais ser o mesmo que
consegue trabalhar, estudar e treinar atletismo, além de escrever. Que vivo
para dormir. Uma boa notícia é que estarei em uma mesa na programação de
literatura no festival mixbrasil desse ano. Minha mesa será no dia 26 de
novembro e assim que sair a programação completa, eu posto por aqui. Estou um
tanto preocupado. Nem lembro qual foi a última mesa que participei. Não sei o
que dizer e não sei como me comportar. Tentarei ficar na defensiva e fazer
contatos com editores que estarão lá. Vou levar umas cópias impressas do “Igor na
chuva” e do “eu vou contar para a sua mãe”. Ao escolher o que ler, devo
escolher um trecho do Igor e um poema do eu vou contar..., não quero ler nada
do que eu já publiquei, já faz tanto tempo (meu último livro saiu há três
anos)... já sou outro escritor agora. Quero ler coisa fresca. Bem, espero que a
metamorfose acabe, que eu possa ter um gerente nem que seja como o do Gregor,
que eu possa alugar um quarto novo na vila mariana e aparecer no mixbrasil
lindo de gravata borboleta.
Abaixo, leia mais um poema de “eu
vou contar para a sua mãe”
“Da Cabeça
Aos Pés”
Com a boca
cheia de sangue
Eu vou fumar
até eu morrer
Com um grito
de umbanda
Eu vou ser
louco até eu morrer
Como uma
viúva negra
Com a pata
presa na teia
Vou atrás de
homens até eu morrer
Julgado e
condenado
Eu vou
espalhar culpa até eu morrer
Se o destino
é vilão
Como cupins
de demolição
Eu vou ficar
nessa casa até eu morrer.
XOXO