4 de dez. de 2021

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 Não tem pele

Nunca tem

E nem me importo que tenha

É tudo carne viva


Não tem rodeios

Não tem polimento


X X X

19 de nov. de 2021

EMIRADOS MANÍACOS UNIDOS


Nos dois primeiros

Me deixaram usar as aspas no título

Nos dois seguintes me tiraram isso

Por que gosto de aspas nos títulos?

Porque elas dão propriedade aos textos

Eles é que se apropriam dos autores

O texto é bem maior que o autor

O texto só usa o autor

E o joga fora

Com oito anos de atraso

Porém, oito anos nem podem ser

Tanto tempo assim

Um homicida confesso

Pode ir para o semi-aberto

Se comportar-se direitinho

Se virar evanjeca

Deus nos livre

Ai, meu deus

Só por deus mesmo

Que deus permaneça contigo

Vá com deus

Deus te crie

Deus de carregue.

 

***

 

A empregada pergunta:

- Essas janelas estão puro pó, as vidraças também, o chão se pisar deixa pegadas; o senhor quer que eu chame uma ou duas diaristas para virem aqui fazer um belo serviço? Elas são da minha confiança, boto a mão no fogo por elas!

- Eu gosto assim, eu gosto sujo mesmo; tenho nojo de produto de limpeza, o cheiro me dá vontade de vomitar; meus pais tinham mania de limpeza, tinham um sofá cafonérrimo que eles tratavam como uma vaca na Índia, eles me faziam esfregar aquele sofá toda semana, com um produto horrendo e se achassem uma mancha de 1cm de diâmetro, era o suficiente para um carnaval!

 

***

 

Domingo

Acontecerá o Enem aí

O que faz eu lembrar minha sombria

Educação de base

Os sombrios anos 1990

Onde era trivial

Desrespeitar os negros, os gays, as mulheres

Até os próprios professores faziam isso

O presidente fantasma

Assim como Trump nem lembra dele

Vai aos Emirados Maníacos Unidos

Veja como são ricos

Deus dá asa à cobra sim!

Aquele areião

Que não gosta de cristão

O que faz de você um bobão

Esses maníacos do deserto

Deverão passar uma semana rindo dele

E de lá, ele fala do “nível” do Enem

Mas nega ter visto a prova

Como ele consegue ser tão burro?

Já que ele sequer tem inteligência

Para ler e entender os enunciados

Alguém “traduziu” a prova para ele

Não pode questão de gênero

Nada de gays, nada de assédio

Nada de empoderamento feminino

Tampouco anti-racismo

E deve haver apologia à extrema direita

Suavemente

Se esse não fosse um povo de gente bunda mole

Haveria protesto, comoção

Não haveria prova

E se houver

O fantasma deveria fazer a prova

Se o nível é tão ruim

Seria bom saber o desempenho dele

Iria zerar a redação

O Michel Temer não poderia fazê-la para ele

Bem, os alunos da escola pública

Se sairiam melhor que o presidente

Mas ainda assim longe dos alunos das escolas particulares

E sabe por quê?

Criança pobre

Não vai para a escola para estudar

Vai para fazer bagunça

Se agredirem, explodir bombas

Passei a vida inteira na escola pública

O conteúdo é dado

E não é ruim

Estuda quem quer

Mas há uma passividade dos professores

Por medo de serem agredidos

Eu escolhi estudar

Passei em duas universidades públicas

Enquanto os “Gângsters”

Se vitimizam

“Ai, eu não tenho oportunidade

Porque eu sou preto, porque eu sou pobre

Coitadinho de mim"

É o tipo de gente que me agrediu

Minha infância e minha adolescência inteira

Por eu ser gay

Era o tipo de gente

Que me encurralava em um gramado no recreio

Juntavam cinco meninos

E começavam a me bater

Não ser por quê, mas sempre batiam mais na minha cabeça

Era a festinha

 

Era o tipo de gente

Que derrubava lata de lixo na minha cabeça.


XOXO

14 de nov. de 2021

NO EVIL

 



“Moscas”

 

Moscas de bosta mordem minha orelha

Moscas de banana sobrevoam meu cu

Bárbara tem um lavador de cu

Eu vou por iscas de barata

No lavador de cu dela

Iscas de barata.

 

***

 

“No Evil”

 

When I take off my glasses

I don’t see much

But I see no evil


XOXO

XOXO

12 de nov. de 2021

ARRANCANDO BACON [ TORI AMOS; CATHOLIC FATHER AND CHEROKEE MOTHER; RAPED; SINGS "SMELLS LIKE TEEN SPIRIT" ON THE PIANO





“Seis horas da manhã”

 

Eu quero ser uma senhorita

Do campo

Esfaqueada

Sangrando e repousando pela manhã

 

Eu sou uma mulher ruiva

Quando acordo

Arrancando bacon do porco

Amamentando uma espingarda de dois canos

 

***

 

“Seus filhos”

 

Veados

Vão virar purpurina

Negros

Vão virar pólvora

Veados negros

Vão virar seus filhos


XOXO



5 de nov. de 2021

RELÓGIOS QUE ESCREVEM; [ escritor hugo guimarães; poeta, contista, romancista]; [ #BALADALITERÁRIA2021 ]; [ literatura marginal paulistana; cachê de escritores]



É novembro
Não se atreva a me escrever
Para participar de uma mesa literária
Que não paga cachê
Que quase sempre tem a curadoria “dele”
Cada vez mais vejo
Eventos com curadoria “dele”
Na minha timeline
A maioria com autores
Que não são mainstream
“As bestas”
Os autores da Companhia, da Record
Sempre ganham cachê, não?
E não chamam “ele” para fazer a curadoria
What about it?
“Ele” encontrou seu ofício na vida:
(Já que seus livros são uma merda)
Ser curador de mesas literárias
De autores independentes
Ele ganha seu belo cachê de curador
E os idiotas dos escritores não ganham nada
Repito: nada = nem um centavo
Eu sou o primeiro a iniciar um movimento
Contra isso
Me convidaram para uma live
Pelo Mix Literário no ano passado
Que não pagava cachê
E adivinha quem era o curador?
Aceitei
Chegou o dia
Faltei
Qual o problema com quem faz literatura independente?
É ok nos tratar como idiotas?
Primeiro, quero dizer que não é a quantia
Não importa qual é o valor
E sim o valor
Parece pouco razoável
Me vestir
Pagar pelo metrô
Dividir minha história, minha voz
Meu estilo, meu texto
Que demorei tanto para amadurecer
Que não saiu do meu cu
Responder perguntas
Levar alguns livros para presentear
Os leitores que são sempre tão doces
Não é o valor, é o valor
Uma prostituta feia, semi analfabeta
Mal limpa a vagina
Se deita imóvel na cama
E vai embora com 200 reais na bolsa
É o que ganha por dia
Um garoto pedindo moedas no semáforo
E eu sou o quê?
Eu sou um lixo?
Não é o valor
É o valor
Se “Ele” me convidasse para algo e dissesse
Hugo, tenho esse evento, o cachê é de R$1,00
Eu iria
Com o maior prazer
Mas não
“Ele” prefere infestar o Mix
Com milhares de escritores
Que óbvio, não são pagos pela participação
Para fazer o Mix parecer tão foda
Tão completo, tão plural, tão incrível
Mas vocês não tem dinheiro
Para fazer isso
E isso é desrespeito
Isso é dizer na nossa cara
Que nossa literatura não tem valor
“Ele” deveria aprender com o Marcelino Freire
Nas mesas da Balada Literária
Todos os escritores recebem cachê
Não importa quanto
E a quantia é o que menos importa
Lá, estão nos “dando valor”
Agora querem fazer do Mix
“O” festival de literatura LGBTQIA+
Então paguem por isso
Escritor não é relógio

time
time
don't
cost
a dime
in the caverns of your feelings
where the sun will never shine



Quando tomei conhecimento do que era a Balada Literária, há pouco mais de uma década atrás, eu a imaginava tão grande e tão importante, tão avessa ao meu texto que jamais eu imaginava que um dia eu seria convidado. Pois eu fui. Em uma manhã chuvosa de 2009, o próprio Marcelino Freire me ligou e fez o convite. Aceitei na hora, sem nem saber as condições. E sim, tinha cachê. Quem pagaria para um garoto que mal tinha saído dos 20 anos, mal tinha deixado os coturnos, os cabelos multicoloridos e um primeiro livro nada comercial, violento, explícito e politicamente incorreto até a medula? A Balada Literária é esse tipo de evento.
E sorry... Fiz o que a minha imaturidade mandou eu fazer: cuspir na cara da sociedade. A plateia estava LOTADA e causei muito repúdio a fazer coisas como falar mal do Drummond.
A maioria odiou, mas Santiago disse que adorou
Bem, eu sempre fui assim: para poucos e bons
Tem muita gente aí precisando aprender.


Certa vez fui convidado para participar de uma mesa na Livraria Cultura, o que por si só seria o máximo, sou cliente Cultura + e tal. Fui convidado da pior forma possível, pelo Brunno Maia, amicíssimo do meu ex-namorado viciado em crack. Aceitei, né. Nem falei de cachê porque achei que era falta de educação, que ao final do evento, naturalmente eu seria pago. Mas não fui. Bem, parece que alguém ficou com o cachê dos escritores, não? Senão a conta não fecha...
Programação organizada pela Editora lésbica Malagueta, público majoritariamente de garotas lésbicas.
Mesa morna. É o máximo que posso falar.


Aqui formou-se acidentalmente uma pequena mesa. Eu, Marcelino Freire e o Grande Pedro Lemebel. Foi a primeira vez que eu tomei em minhas mãos o meu segundo livro, o excelente "O Estranho Mundo" (ed. Edith, 2013) o qual sua excelência, nem a Juliette, nem curador, nem editor nenhum NUNCA vão poder me tirar.
Autografar para o Lemebel não é para qualquer um (talvez você possa achar que até é), mas o detalhe é que não fui EU que pedi para assinar para ele, foi ELE que pediu para eu assinar para ele. Isso fica de presente para os invejosos e rancorosos



"IGOR NA CHUVA", meu melhor livro, vive.
Pode fazer seu distrato numa boa, querida.
Agora ter essa mulher FODA como essa como fã, não é com distrato que você vai conseguir
nem você, né Alê?



XOXO