Já posso abaixar o volume da televisão.
Não vou receber nenhum homem aqui. Não tenho casa.
Aliás, aqueles cachorros passaram hoje a
dormir com a porta aberta para ter mais uma forma de me vigiar.
Sabe quando Stanley Kubrick fez Jack
Nicholson subir aquelas escadas tentando tirar o taco de baseball das mãos da Shelley
Duvall? E depois ele a encurrala no banheiro e quebra a porta dele com um machado
enquanto ela tenta se defender com uma faca? É a técnica que se usa em filmes
de terror de diminuir os espaços progressivamente. É o que esses cachorros
fazem comigo.
Já podem falar que tenho quarenta anos,
não precisa esperar até abril. Minha vida sexual acabou? Eu acho que ela sequer
começou. Quando tento falar com homens muito belos que sequer me respondem, eu
olho para o passado e lembro que já estive com homens tão belos quanto, mas
também puxo da memória que eles não “estiveram” comigo, eles apenas me "usaram" por alguns minutos. Eu possuo beleza, sim, mas quando eu percebo "quanta" beleza, quando os que tem "qual" beleza me
reconhecem e parece que eu é que estou na posição de sugar, eles é que
estão fazendo o favor, que a beleza mediana que eu tinha quinze anos atrás
foi-se e a lástima não me permite fazer uma cirurgia plástica que me deixaria “aceitável”
de novo.
O fundo do poço tem uma pá? Não, ele tem uma
mina da Braskem.
Eu estava aceitando um velhinho de mais
de cinquenta anos que ia fazer sexo oral em mim em troca de três packs de pó, o
que vale trinta reais. Isso é loucura, eu estava me prostituindo por trinta
reais. Ainda por cima, ele disse que estava saindo de um barzinho há vinte e dois quilômetros daqui, que estava quase indo embora e vinha me encontrar; fez uma escala, foi para
a casa e sequer me deu satisfação. Eu fiquei quase cinco horas esperando.
Eu estava aceitando ir para o motel com
um obeso casado com uma mulher por causa de pó, por uma quantidade de pó que era “surpresa”,
eu teria que atura-lo por quatro horas; além de obeso e feio, ele tinha as
manchas no rosto do Tim Maia.
Eu aceitei que um garoto de comunidade,
não assumido que sequer me mostrou o rosto, estava vindo fazer sexo oral em mim
na minha garagem por um mísero pack de pó. Ou seja, eu ia deixar um estranho
entrar na minha garagem de madrugada para fazer sexo oral em mim em troca de um
pack de pó que vale dez reais, sim, dez reais! Ou seja, eu valho menos que a
Vanessa Tamancada!
A única coisa que eu considero aceitar é
ser decentemente pago por uma trans gorda cearense que ignora a máxima que não
se deve beijar um prostituto e me afoga com aquela língua com gosto de cachaça,
além de me obrigar a lamber aquela teta de hormônio, vizinha daquela axila
fedorenta. Credo.
Pois bem, depois de assistir ao BBB, sim
assisto ao BBB e isso não me faz nem um pouco fútil, adjetivo esse é o que faz você dar
ibope para uma influenciadora vagabunda que não tem nem profissão nem ofício, só tem malícia, e
fica rica com a atenção que você dá para ela e não creio que estamos sendo enganados na mesma proporção.
Deletei todos esses homens
desclassificados e troquei gostoso uma noite de pó por uma noite com meus ONZE
remédios para dormir, lembrei de colocar minhas lentes para descansar e não
arrumei confusão por aqui, pois amanhã preciso fazer com que meus pais paguem a
dívida que tenho com aquela cachorra da traficante. Se eu tivesse o último
pedido da vida, você acha que seria enforcar aquela vagabunda até eu ver a vida
sumir dos olhos dela? Até parece que eu ia sujar minhas mãos com aquela VACA!! Sim, nesse caso cabe a palavra vaca, aquela escrota nem merece ser chamada de mulher. Ao invés, eu iria preferir passar uma noite com o Calleri, lógico.
Vão fazer nove meses fazendo entrevistas
de emprego e sendo recusado em todas elas. Há nove meses fui aprovado por uma
multinacional Japonesa muito importante. Mas uma demonia chamada Harumi, do RH,
descobriu minhas mentiras e revogou a minha contratação. Fiquei com tanto ódio
que até parei de ouvir Pizzicato Five.
Será que eu vou ter aquela casa grande? Será
que esse ofício vai me dar dinheiro a ponto de eu olhar para todas as paredes
da minha casa e me sentir livre? (Na casa dos meus pais, em todas as paredes
que eu vejo, eu enxergo masmorra). Os budistas dizem, que se você imaginar,
imaginar de verdade, o lugar que você quer estar, você estará lá, e todos os
dias eu imagino, e já faz tanto tempo. Pôxa, são quarenta anos de sofrimento, quarenta anos de loucura,
eu amo meus livros, eu não posso dizer que eu não tenho nada, mas será que é justo uma vida inteira de solidão e sofrimento?
Até que não, não é necessário. Ao
escolher três prioridades, escolhi café, dormir e magreza.
Eu, um tiozão de quarenta, não se
oferece, é vulgar. Só não desativo meu app porque sempre me arrependo depois. Hipocrisia
à parte, é possível sim viver sem sexo. A questão é que, no estado de
vulnerabilidade em que eu me encontro, é para outra coisa que o sexo me leva.
Hoje a vida está tão hostil comigo como nunca esteve, tenho que carregar muitas
coisas na vida, a bancarrota, ter que voltar para o buraco onde meus pais
insistem em morar, a falta de liberdade, a falta de lazer, a falta de
privacidade, a falta de dignidade, a privação do direito de ir e vir, a
privação de recursos, o peso dos quarenta anos bem agora, segurar a barra de
uma dieta interina, o que eu quero é para onde o sexo me leva. Eu não preciso de um
homem, precisar, não preciso, mas ter um na minha vida hoje, sentir o toque, o
carinho, ouvir ele dizer que as coisas vão ficar bem, ele não precisa ter nada
e eu não posso exigir a beleza que eu não mereço, mas afeto eu posso exigir. Eu acho que mudaria
muito minha vida. Eu sou animal, você é animal, ele é animal. E qual é a missão
dos animais? Não é encontrar um par? Não é acasalar? Quando eu tinha quatorze
anos, lembro bem, eu não queria ser artista, eu só queria acasalar. Mas nasci
nesse buraco, de um pai semi-analfabeto que adorava me bater, de uma mãe
semi-analfabeta submissa que observava meu pai me bater e não fazia nada e uma irmã que
era um demônio, e continua um demônio.
#Elsewhere
Minha primeira música produzida pelo produtor Thales Kroth, um power pop chamado "Monster" em que sou compositor e co-letrista e gravei o vocal, a guitarra foi gravada pelo "Kurt" estará amanhã no youtube. Busque por "Monster" de Hugo Guimarães. Sim, serei um artista solo. Ou seja, o vídeo estará no youtube em 06/02/2024. Talvez seja a música que tire meus pés da merda.
Nós já estamos trabalhando na segunda música. Outra composição minha, letra e música minha, vocal meu, provavelmente guitarra do "Kurt", um punk rock chamado "Fire Walk With Me", logo mais estará pronto. Avisarei por aqui.
***
Eu sonho ser tão rico ao ponto de me
casar. Hesitei muito em adotar, por que não outro gato? Por que não uma
cachorra? Por que não um filhote de onça parda? Por que não uma peste? Mas aí
eu sonhei em ser tão rico ao ponto de adotar uma criança. Uma menina, porque eu
inventei um nome de menina.
O nome dela vai ser Tonna.
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