2 de mai. de 2011

HOMOGENIA LETRADA

kathleen hanna escreve sobre homens 'como um homem'. kathleen hanna escreve 'debaixo do chão'. de lá.

cockring de letras. circlejerk com letrados. literatura homossexual; literatura homossexual underground.

não sei bem como chamar, entitular. mas é sobre letras, e sobre homogenia.

fui convidado para mediar as 'rodas de leitura' do sesc campinas. essas 'rodas' são círculos de leitura e discussão de obras ou textos trazidos tanto pelo mediador quanto pelo público. elas aconteciam com alguma frequencia tempos atrás, e que agora pretendem voltar a acontecer com mais regularidade. neste mês de maio o tema será literatura homossexual ( por isso fui convidado ).

participo de pouquíssimos eventos. não aceito todos os convites que me fazem, mesmo porque sou extremamente impopular e eventos não vão me fazer mais significativamente conhecido, nem vender meus livros. portanto, participo de eventos que eu realmente acho que são relevantes. esse é o caso.

primeiro, por eu não ser um 'produto' que o sesc está levando para oferecer para as pessoas em uma vitrine. segundo por não ser uma 'palestra' pois não sou palestrante. terceiro por não ser uma 'aula' pois também não sou professor, tampouco - é uma discussão. um debate aberto que, mesmo com os temas que propûs dividir com as pessoas, nem imagino o que as pessoas vão levar, o que as pessoas vão dizer.

também aceitei participar porque é raríssimo um evento que reúne essas duas palavrinhas: literatura e homossexualidade. acho uma catástrofe, um alienígena, um grupo de pessoas poder se reunir para falar sobre isso ao invés de estarem na academia, ou vendo a novela das sete. e eu estou no tsunami, e eu sou um ser verde e esquisito.

escolhi três temas para dividir com as pessoas ( que foram devidamente publicadas no site do sesc )

o livro 'balé ralé' de marcelino freire. ( este livro me levou a querer ser um contista )


o movimento riot girrrls. ( preferi priorizar kathleen hanna e donita sparks, além de algumas coisas do homo core. claro que rimbaud e miss patti smith serão devidamente citados como raízes disso tudo. )


e o catálogo da dix ( onde publiquei, e publicam glauco mattoso e o professor pietroforte )


começa daqui a dois dias. toda semana postarei sobre o evento. espero ter coisas boas para escrever.

programação:

dias 3, 10, 17 e 24 de maio de 2011
horário: das 19h30 ás 21h30
local: sesc campinas

para + :
http://www.sescsp.org.br/sesc/programa_new/mostra_detalhe.cfm?programacao_id=193427

18 de abr. de 2011

JACK NÃO É SON DE NINGUÉM


acabo de apagar 4 parágrafos descrevendo o motivo pelo qual desisti de uma pessoa devido a diferenças irreconciliáveis. desistir de descrever, é ignorar, é o melhor a se fazer. apagar também o pensamento de tatuar uma casa e uma frase saindo da chaminé, dançando: 'você nunca mais vai me ver ( you´ll never see me again)'

é melhor comentar sobre a cópia da américa em que vivemos, onde pais se mudam para cidades imensas e nunca conseguem digerir esse churrasco grego, a forma com que as pessoas vivem aqui; e hoje estamos lamentando a incapacidade de abrir os braços para o mundo depois de passarmos uma infância de marcas, uma adolescência de tapas.

os pais ainda tentam insistentemente fingir a educação e a gentileza aos estranhos. a mesma que jamais tentaram fingir aos filhos. eles não aceitam que nós não consigamos fingir também.

fingir. ser o michael, a marilyn, a madonna, o chaplin, o papa, o chuck berry. armamos um palco só nosso na rua para fingirmos para sempre. pois só sendo outra pessoa é possível escapar das origens.

michael branco, mascarado, afeminado, desfigurado, customizado, jamais conseguiu ser tão monstruoso quanto seu pai foi.

domingo passado, vi 'mister lonely' de harmony korine.

13 de abr. de 2011

O ESTRANHO QUE NÓS MATAMOS

tantos dias de silêncio me remetem á uma das minhas últimas humilhações, no meu ofício comercial. a misantropia se manifestava, e eu odiava mais á mim mesmo do que o homem que eu deixava rico com meu trabalho. eu passava dias terríveis para deixar o felipe mais rico. hoje, não mais.

a minha rotisserie no inferno me seduzia. costumo dizer que quando eu morrer, haverá uma rotisserie no inferno para mim. lá poderei comer todo o carboidrato que estou deixando de comer para manter o peso. e lá, o felipe irá massagear os meus pés, ele irá trazer croissant na bandeja para mim.

santiago nazarian está cada vez mais crocante, mais leve. foi muito bom reencontrá-lo para falar sobre filmes de horror, literatura, répteis, homens e chocolate com canela. ele publicou em seu blog um comentário sobre o meu livro de contos á ser lançado esse ano http://www.santiagonazarian.blogspot.com/ honestamente não acreditava que ele fosse gostar, nem ele, nem ninguém. me odeio, me detesto, me acho um bosta e estou quase chegando na idade dos suicidas do rock'n roll ou na idade dos escritores jovens e suicidas do romantismo.



na nossa conversa ele disse que o 'beguiled' com o clint eastwood não o apetecia. beguiled é uma palavra que significa 'seduzido' que eu não conhecia desde então. acabaram de lançar em dvd com o título 'o estranho que nós amamos' pois é um conto gótico sobre mulheres que o seduzem, o degustam, cortam sua perna com um serrote e o envenenam com cogumelos. eu desejo isso para todos os homens heterossexuais.

completei 26 anos. meus amigos de infância vieram á minha casa para me dizer o quanto eu devo ser feliz. mas eles já foram embora.

já não estou tão radiante pelo elogio do santiago, estou radioativo.

nunca estive tão triste e tão pessimista em toda a minha vida, e tenho um sorriso no rosto. tenho o trabalho do nicolas para colaborar e em maio talvez, eu tenha novidades literárias.

a foto com a tesoura é de hoje. finalmente consegui terminar de cortar meu cabelo. tinha começado em 08 de abril.

19 de mar. de 2011

LÚCIFER, EU PRECISO TANTO DE VOCÊ

essa é a minha cara de anjinho. aqui na terra, saí de casa hoje, finalmente, para ver 'I spit in your grave', o tal remake de 'day of the woman' de 1977. cheguei ao espaço unibanco do shopping frei caneca ás 14h30 e descobri que a sessão começou ás 14h00. qual foi o cara de cavalo que pôs o horário errado no site?

fui para o shopping santa cruz, e passar 27 MINUTOS na fila da bilheteria doeu mais do que o estupro sofrido pela protagonista. quem estudou o número de funcionários por demanda daquele cinema?

pois aí está... vivemos para procurar responsáveis, e acredito friamente que esse é o motivo da criação das religiões; a busca por responsáveis. quem é responsável por esse estupro ? para quem agradecer o sucesso da dieta ? invetaram dois grandes responsáveis: deus e o diabo.

'day of the woman' é beeeem melhor. esse remake é apenas bastante violento, mas isso é tão fácil nesse século... senti falta do machado da jennifer, da roupa de luto após o estupro, pela cena onde ela vai á igreja pedir perdão antes de cometer quatro assassinatos. nesse filme novo, achei que pelo menos jennifer assassinaria uma criança, mas o cúmulo de envolver crianças não foi cometido. era a única oportunidade de transgressão para o filme, acho.

sinto saudades da minha adolescência quando comprei o vhs do 'day of the woman'. lembro que vendi o mesmo vhs pela internet, com bolor, á um colecionador do rio de janeiro. ele ficou brabo comigo.

de manhã, voltei a visitar meu tatuador douglas. o desenho de hoje foi pequeno, quando abri os olhos olhei para o rosto suado dele e disse 'hoje foi rápido...'. não posso dar qualquer conotação sexual á esse momento, pois o respeito muito. aproveitei para pegar de volta o dvd do 'cannibal holocaust' que emprestei para ele, e antes de a sessão começar, corriqueiramente falamos sobre filmes violentos, muito violentos, atrocidade geral na tela; porém, douglas fez amor e uma filha, e a atrocidade ficou só para mim.

lamento pela opção do meu amigo guilherme, que parece ter optado de vez pelo fanatismo religioso. ele publica salmos no facebook. não posso parecer injusto ao dizer a ele que posso indicar minha psiquiatra, ou que 'vai passar'. acho que ele também está procurando um responsável pela onda dele, ele não procura friamente combater o que está o deixando COMPLETAMENTE LOUCO.

ontem eu estava vendo o vídeo invertido da xuxa, o do cãozinho xuxo. só ao contrário é que a gravação diz coisas como 'lucifer, preciso de você', 'exu', 'queimar'... será que lúcifer pode me salvar? essa pergunta é respondida pelo rápido pensamento de que não ando para trás, o mundo não anda para trás como na gravação. eu ando para frente e o mundo anda pra frente, e então não há lúcifer, não há exu, não há fogo, só há um cãozinho bobo de pelúcia.

cães de pelúcia são o que existe. é o que temos.

7 de mar. de 2011

MAIS ESTRANHO QUE O PARAÍSO


vício de má tradução. é o que santiago nazarian disse sobre a palabra 'estúpido' que costumamos relacionar á tolice, e não á grosseria no nosso estimado país. acabo de assistir 'stranger than paradise' do jim jarmusch em dvd. traduziram o título como 'estranhos no paraíso', e não 'mais estranho que o paraíso' como deveria ser. sabe quem fez isso, santiago?

este dvd estava há algumas semanas encima do meu rack. ele não cabe entre os livros e não posso colocá-lo junto com a coleção de filmes de terror. não pude pensar em outro lugar para colocá-lo pois tive dias bastante cansativos. é como o chefe diz: 'gozar os dias de folga'. faz sentido usar essa palavra, pois nos dias de trabalho não se goza, só se trabalha.

carnaval. onde está a carne? pegue a carne, segure, agarre, mas pegue a carne, agora ! esse é meu 'dick vigarista' na internet, saca? mas detesto conhecer gente nova.
não sobrou mais nada para fazer depois que as filmagens do meu curta metragem 'amy' foram canceladas por tempo indeterminado. isso porque a ajuda alheia é algo que sempre não posso contar. decidi que vou filmá-lo sozinho no inverno. não posso segurar a câmera, mas algum objeto pode sustentá-la.

plano b: pegar, segurar, agarrar a carne. ou simplesmente passar o feriado inteirinho comendo pringles de creme de cebola e bebendo coca cola, o que parece um paraíso. mais ainda com a ausência dos meus pais que tomaram um vôo para o 'paraíso' do carnaval paraibano. ontem mamãe me ligou para saber como eu fiquei. ela disse que está fazendo 35 graus. aqui em são paulo está frio, e o chuveiro não está esquentando.

lá estão os húngaros bela e eva atravessando os estados unidos tentando viver o 'sonho americano', mas as paisagens são decadentes e tudo dá errado. aqui também, fellas: sujei a casa toda e minha gata siamesa ainda tenta capturar o logo da samsung que fica flutuando na tela na tv quando o filme acaba. ela ainda tenta pular sobre o teclado do computador para apagar o que eu estou escrevendo. eu disse 'vá dormir, lebedeva. você já apagou um texto meu antes, e não vou tolerar que faça isso de novo'.
talvez ela esteja certa, escrever não é bom.

mas... eu ainda posso escrever. ela não.

19 de fev. de 2011

TIGERLILY

eu disse 'não o pegue pelo nariz assim' quando a caixa do super mercado tentava encontrar o código de barras do meu tigre de pelúcia de 1 metro que comprei ontem. 'vai machucá-lo assim' e segui por todo o caminho levando-o nas costas com os munícipes me observando. tempos atrás, eu levava um cachorro morto nas costas para passear, o que gerou meu poema "o sono".

em casa, na cama, não é possível abraçá-lo de uma forma que não pareça estar sufocando-o. a cabeça aumenta quando aperta a barriga, e as pernas somem quando você as coloca entre as suas. é inconfortável. pareço estar matando meu novo amiguinho o tempo inteiro.

essa manhã, os homens de fato diminuíram. visto que, o homem que tens nos braços ao momento, sintetiza todos os homens do mundo. voltei para casa ontem recusando rotineiros convites para sexo. hoje de manhã então, meu homem diminuiu de tamanho para 1 metro, e mudou de carne e pele para pelúcia. o rabo dele mede 20 centímetros, mas também é de pelúcia.

mas,
o tigre de pelúcia não pula a janela, não vai embora. fica deitado na minha cama, imenso, e quando minha mãe o vê, ela tem mais um motivo para me achar estúpido, ridículo, irresponsável e feio. eu conheço a única mãe do mundo que acha o filho feio e não tem a menor intenção em poupar o filho dessa informação : a minha.

toda a vez que corto os cabelos, minha mãe me chama de ridículo. quase toda a vez que me visto, minha mãe me chama de ridículo. fiquei internado quatro dias pouco antes do natal passado, e ela não foi me visitar, provavelmente por achar que eu estava com AIDS. aliás, minha mãe acha que TODOS os homossexuais do mundo tem AIDS, ela é esse tipo de gente...

tentei possuir o corpo, a mente dela ontem. lá dentro dela, existe uma mulher que não pode tolerar a fraqueza, a quase inexistência da própria feminilidade. há uma mulher áspera do interior, que não pode tolerar o fato de o filho ser mais feminino do que ela mesma. não sou feminino, tampouco afeminado, mesmo assim ela enxerga uma aura cor de rosa sobre a minha cabeça, ela pensa que a qualquer instante posso me tornar uma mulher melhor do que ela é, sempre foi, e que jamais conseguirá ser. ela enxerga isso tudo escorrendo pela minha pele, por isso ela nunca me dá um abraço.

hoje de manhã, com meu tigre, fiquei mais uma vez experimentando a minha relação tensa com a música. fiquei me dividindo entre o quanto poderia ser van morrison e o quanto não sou van morrison. bob dylan, menos ainda. natalie merchant, tampouco.

agora estou sentado. uma frase dita ontem pela minha colega de trabalho rafaela martins, traduz esse exato momento 'estou com sono. quero beber café, mas estou morta de preguiça de levantar da cadeira para ir pegar'.



3 de fev. de 2011

A ÚLTIMA VIOLÊNCIA

imagine nunca poder tocar um garoto incrível, ímpar, que acabas de conhecer. imagine não tocá-lo uma duas três vezes. certa noite você decide seguí-lo, ele então caminha em direção ao cemitério e desaparece exatamente nos portões.
era alguém que não acreditava em nada além da vida, ainda preso nela.

deus não existe. estou cada vez mais certo e mais seguro disso. já posso cometer assassinatos e estupros. roubos.
finalmente, após tantas marcas pretas e roxas de cintos; tantas marcas que criaram feridas com casca de fivelas; tanta espanação, esfoliação facial depois, lá estarei eu no meu velório.

não haverá concessão.
a cerimônia será feita exatamente, violentamente como meus pais quiserem, o contrário do que eu desejo para ela.
as tatuagens estúpidas, não serão removidas para servirem de porta - pires. os legistas vão rir, e meus pais: consentir.
depois de vestir roupas de defunto por tantos dias durante minha longa e amarga vida, não terei uma trégua no dia do meu ingresso á morte: serei velado e enterrado de terno.

na frança, no norte da frança exatamente, cheguei a pesquisar e ver alguns velórios no qual colocam o morto sentado ao invés de deitado, abrem lhe os olhos e dão um jeito para parecer que estão olhando para o céu.
mas o que minhas tias iriam pensar?
o que a comunidade budista local iria pensar?

mortos não comem. haveria muita comida. o contrário do que acho justo e respeitoso para a ocasião.
eu jamais comeria em um velório.

um homem branco com pêlos castanhos claros dentro de um terno preto, uma camisa branca: parece um bolo decorado do pentágono.
será que vão demorar muito para cortar o primeiro pedaço?

deus não existe mesmo.