21 de nov. de 2010

DANÇAR COM UM LIVRO

hoje é o dia da consciência negra. coincidentemente, também é o aniversário da minha mãe, e sua consciência negra. o triste é que só eu posso vê-la nessa cor, ela não sente culpa. aliás, questiono o significado da palavra consciência, questiono a existência da consciência, afinal as pessoas vivem se perdoando, não é mesmo?

estamos em época de mais uma balada literária. esse é um evento exemplar idealizado e organizado pelo grande marcelino freire. no ano passado fui acordado por ele em uma certa manhã, ele subitamente disse que haveria uma mesa com jovens poetas e me convidou para participar. aceitei imediatamente, sem pensar, porque não podia recusar um convite do marcelino, era uma honra para mim.

subi naquele palco no dia 21 de novembro de 2009 como um peixe fora d´agua, uma novidade. logo percebi que os três poetas que me acompanhavam eram gritantemente diferentes de mim, e que eles não eram "artistas", mas "produtos" do mercado literário. fora esse deslocamento, opino que uma pessoa para subir em um palco deve ter algo para ensinar as pessoas, deve ter algo para compartilhar, além dos poemas, é claro. infelizmente, as poetas que estavam lá estavam mais interessados em serem simpáticos, carismáticos, do que sinceramente, honestamente, tentarem "dar" algo para todas aquelas pessoas que estavam na platéia assistindo.
- a sua mesa foi chata, disse santiago nazarian á mim.
- eu sei.
eu não tenho nada para ensinar para as pessoas. declaro isso com absoluta honestidade. a minha postura legitimou isso, acho. sou apenas um poeta puro que não tem nada para ensinar á ninguém - esse foi meu ensinamento.

analisando a situação friamente, um ano depois, deveria ter dito que eu não tinha livros em casa, meus pais não liam e não lêem absolutamente nada, meu pai fala português intermediário e minha mãe tem um diploma falso. e, diferente da letra de caetano, aqui há muitas livrarias, muitas bibliotecas, muitos livros. o simples fato de um dia na vida eu ter tido a idéia de tocar um lápis em um papel para escrever qualquer texto poético, é uma anomalia, um evento, e sou muito grato á esse momento.

quanto a leitura das outras pessoas, quanto ao mercado literário, acredito que só a legislação pode corrigir a acomodação e a falta de cultura das pessoas em ler blockbusters vazios, ruins e desinteressantes que infestam as vitrines das livrarias. deveria haver uma lei que limitasse ás livrarias á colocarem esse tipo de livro em suas vitrines, e que parte dela, obrigatoriamente deveria conter literatura contemporânea nacional, e não estou sendo ingênuo ao sugerir isso. vamos promover um boicote á stephenie meyer?

quanto á educação, acredito friamente que os professores não deveriam incluir somente literatura pré-histórica em seus planejamentos, mas livros novos de autores vivos também. claro que shakespeare é importantíssimo, claro que a forma com que machado de assis manipula as palavras é belíssima, mas o problema é que as crianças crescem sem saber que hoje em dia, grandes livros continuam sendo escritos e grandes autores existem. a maioria dessas crianças crescem sem saber disso, e quando adultas, não tem motivos para converter tal situação. ou seja, os professores ensinam as crianças que a literatura é algo velho e que não existe mais, assim como os dinossauros.

três amigos meus me perguntaram quando falei da balada literária:
- o que é balada literária? as pessoas ficam dançando com livros?
- não, não ficam.

amanhã é o último dia da balada 2010, não percam!
http://baladaliteraria.zip.net/

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