I
E lá estava eu. Jogando voleibol. Dez futuros médicos bem gatinhos com os shorts abaixados mostrando os pênis. E eu não achei nojento. Muito pelo contrário. Nojenta é você.
II
“Prezado(a)”
Verificamos que seu “vínculo” está na iminência de ser encerrado, nos termos do artigo XX do “Regimento” pelo motivo: Cancelamento 0 crédito em dois semestres.
Verifique e acompanhe seu “Rendimento” Acadêmico, “Evolução” no Curso e Histórico Escolar estão disponíveis no menu Acompanhamentos, no Sistema “Júpiter”.
Fica facultado o prazo de 10 dias corridos, contados a partir do recebimento da presente mensagem, para apresentação junto ao “Serviço” de Graduação da Unidade a qual se encontra vinculado de eventual manifestação escrita a respeito do caso. Ressaltamos que o cancelamento da matrícula poderá ser revertido somente se o aluno apresentar uma “justificativa” que altere sua situação acadêmica.
Atenciosamente,
“Apoio” à Graduação
“Atenção!” Este e-mail, “não é necessário respondê-lo”.
Que bela bosta de sonho hein?
Que bela porcaria de sonho hein?
Que bela merda de sonho.
Até pelo cheiro daquela porra de Universidade eu me viciei?
Sim, ela tem um cheiro. Um que só ela tem.
Nove anos e meio para eu perceber que eu nunca deveria ter pisado na USP.
Um pouco tarde.
E fui envelhecendo.
E fui apodrecendo.
Um pouco tarde...
Uósp.
O que eu queria? Ser um professor de escola particular muito bem remunerado ou ter um triplista de 1,90m moreno, com os cabelos encaracolados, com a mala mais incrível que eu já vi e com um olhar de interrogação mais doce que eu já vi? Follow where mary goes; Cherish the thing she knows; How could you dare? Who do you think you are? You’re insignificant; A small piece, an ism; No more no less; You try to learn the universe; Can’t even converse in human verse; You know it’s ironic smoking hydroponic; Change my stride; Then I’ll fly.
III
– Deixa de ser mala, moleque. Calma, porra.
Parece um editor falando? Não, não parece, mas é. Tudo o que eu estava pedindo a ele eram os meus direitos autorais pelos livros vendidos agora que a edição se esgotou. Estamos falando de uma merreca de 10% do valor da venda de cada livro. Eu nem me lembrava disso, vi o contrato esses dias por acaso, se não fosse por isso eu jamais seria pago.
Aliás, eu que paguei a edição inteira com a bolsa do ProAC que eu ganhei. Ele fez uma continha sem vergonha no contrato informando o valor que a editora estava investindo (um valor inventado) e o valor que eu estava investido (que era o valor que custeava o valor integral da edição). Ou seja, eu estava recebendo 10% dos lucros de uma edição que eu paguei 100%. Eles é que deveriam receber 10%, não eu. Agora, além de me dar uma canseira para pagar esses direito autorais, ele me solta essa pérola como se eu fosse um vagabundo de rua que ele nunca viu. Serviu de lição, eu tinha o ProAC debaixo do braço (que não é pra qualquer um), eu tinha a grana da bolsa e publiquei com a primeira editora que topei com o nariz. Eram dois editores. Um deles simpatizava comigo na época, o outro me detestava. Ele achava que por ser gatinho e por ser hétero as pessoas tinham que implorar pela amizade dele. Imbecil.
Ainda bem que esse vento já passou. E passou para sempre.
III
Sejam bem-vindos!
O meu corpo, a mão conduz.
Meus ouvidos têm grandes
E pequenos lábios
Todos incrustados
Eles podem diluir
E alguém
Disse algo
Que não posso ouvir
Toco para coçar e o piano.
(Hugo Guimarães)
É inútil
Querer disputar o mundo comigo
Ao que é possível dividir tudo
Em parcelas.
(Hugo Guimarães)
* Por exclusão, o maior filósofo do Brasil é o Zé do Caixão.
* Uma grande estupidez minha é achar que saber falar “obrigado” em mandarim vai fazer com que aqueles porcos me aceitem de novo.
* O que se descarta é a vida. Como uma carta de baralho
Nenhum comentário:
Postar um comentário