5 de set. de 2023

o mundo do cancelamento eterno

 





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         Escrevi seis linhas. Queimei seis linhas. Parece que tudo de bom é irrelevante, mas tudo de provocador é observado e rechaçado. A morte parece que nunca é uma só. Eu não consigo entender se são vocês ou se sou eu que não compreendo o absurdo dessa desproporcionalidade. Se eu tivesse enlouquecido de vez, vocês deveriam ter se aproximado, não me abandonado. Que cena é essa, afinal? Uma cena insossa, uma cena esterilizada. Não, eu não acredito em justiça. Porém, já não acredito em mais nada, sendo assim, eu vivo tendo flashes onde minha literatura e minhas pernas grossas serão reconhecidas, que além de todos que me viraram as costas, aparecerão outros, dando ao meu texto o que ele merece: sorrisos. Ao invés de piada, dei um vinagre.

         - Juro que não entendo esse cancelamento eterno. Só quero que você saiba que eu estou sobrevivendo e que eu vou sobreviver. Que eu não desisti e não vou desistir. Eu posso não ter um parafuso na cabeça, mas texto eu tenho. É o bastante para me fazer continuar.

         Por enquanto, eu me contento com pouco. Eu me contento com a liberdade.

     

    “Fawn”

     


         Quando ele entra na arena, os olhos são sempre matadores. Os meus frágeis olhos não são só por perder, mas por como perder. Mas ele sabe, ele sabe, o quanto já perdi e de quantas diferentes formas já perdi. Já me tiraram sangue, dentes, costuraram meu rosto, fiquei todo roxo, me amoleceram ossos, várias vezes. E sabem que eu gosto, que é assim que imagino a coisa toda. Até que inventaram um castigo novo. Me esqueceram aqui. E esse castigo é o que dói mais dentre todos os outros. Só disseram para eu tratar bem os animais. Substituir o cigarro por chá inglês. Não sei quanto tempo mais aguento. Talvez uma morte lenta seja a dor mais intensa e eles nunca me disseram nada, nunca formalizam, eles querem que eu aceite que é o fim e parece que é mesmo. Assim como não aprendi a sorrir, não aprendi a sonhar.

     

    Sejam bem-vindos;

     

    Poema que estará no meu livro “Lixeira de Celofane” a ser lançado no próximo outubro;

     

    “Ponte”

     

    Estarei lá

    Na inauguração da sua primeira ponte

    Amargo cortando a faixa

    Com uma tesoura de fogo

    Queimando minha mão

    Em terceiro grau

     

    E eu me queimei ontem

    De propósito

    Com o cigarro.

     

    (Hugo Guimarães)

     

    “Fernando”

     

    Vi a foto hoje

    Lembrei da bela casa

    Da hospitalidade

     

    Também lembrei daquele esnobe

    Que se esconde atrás de uma cara triste

     

    Também lembrei que nós morríamos

    Todo dia um pouco mais

    Até que já estávamos mortos

    Só eu não vi

    É preciso coragem para dizer que acabou

    E a solução é sempre a mais fácil

    Usar uma falha boba como pretexto

    Acontece que sequer falhei

    Há pessoas que pensam que suas falhas

    São sempre menos graves que as suas

     

    Mas eu recuso a vitimização

    Mesmo porque não tem ninguém para ouvir

    Aqueles garotos nunca mais

    Falaram comigo

    E nunca mais

    Falarão comigo

     

    Talvez me faltou fôlego

    Como falta fôlego

    A um homem gordo.

     

    *Mais um feriado prolongado nessa cidade horrorosa. Muito gato vai entrar no micro-ondas, muita gente vai entrar no cativeiro, vai ter muito churrasco também e muitas crianças vão morrer eletrocutadas por conta dos fios da pipa e as fiações elétricas precárias.

     

    *A poesia deve seguir a sua linha editorial? Mas a poesia não serve para “perder a linha”?

     

    *E uma rede me lembra dos livros que entreguei há três anos para pessoas que não existem mais.

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