Escrevi seis linhas. Queimei seis linhas. Parece que tudo de bom é irrelevante, mas tudo de provocador é observado e rechaçado. A morte parece que nunca é uma só. Eu não consigo entender se são vocês ou se sou eu que não compreendo o absurdo dessa desproporcionalidade. Se eu tivesse enlouquecido de vez, vocês deveriam ter se aproximado, não me abandonado. Que cena é essa, afinal? Uma cena insossa, uma cena esterilizada. Não, eu não acredito em justiça. Porém, já não acredito em mais nada, sendo assim, eu vivo tendo flashes onde minha literatura e minhas pernas grossas serão reconhecidas, que além de todos que me viraram as costas, aparecerão outros, dando ao meu texto o que ele merece: sorrisos. Ao invés de piada, dei um vinagre.
- Juro que não entendo esse cancelamento eterno. Só quero que você saiba que eu estou sobrevivendo e que eu vou sobreviver. Que eu não desisti e não vou desistir. Eu posso não ter um parafuso na cabeça, mas texto eu tenho. É o bastante para me fazer continuar.
Por enquanto, eu me contento com pouco. Eu me contento com a liberdade.
“Fawn”
Quando ele entra na arena, os olhos são sempre matadores. Os meus frágeis olhos não são só por perder, mas por como perder. Mas ele sabe, ele sabe, o quanto já perdi e de quantas diferentes formas já perdi. Já me tiraram sangue, dentes, costuraram meu rosto, fiquei todo roxo, me amoleceram ossos, várias vezes. E sabem que eu gosto, que é assim que imagino a coisa toda. Até que inventaram um castigo novo. Me esqueceram aqui. E esse castigo é o que dói mais dentre todos os outros. Só disseram para eu tratar bem os animais. Substituir o cigarro por chá inglês. Não sei quanto tempo mais aguento. Talvez uma morte lenta seja a dor mais intensa e eles nunca me disseram nada, nunca formalizam, eles querem que eu aceite que é o fim e parece que é mesmo. Assim como não aprendi a sorrir, não aprendi a sonhar.
Sejam bem-vindos;
Poema que estará no meu livro “Lixeira de Celofane” a ser lançado no próximo outubro;
“Ponte”
Estarei lá
Na inauguração da sua primeira ponte
Amargo cortando a faixa
Com uma tesoura de fogo
Queimando minha mão
Em terceiro grau
E eu me queimei ontem
De propósito
Com o cigarro.
(Hugo Guimarães)
“Fernando”
Vi a foto hoje
Lembrei da bela casa
Da hospitalidade
Também lembrei daquele esnobe
Que se esconde atrás de uma cara triste
Também lembrei que nós morríamos
Todo dia um pouco mais
Até que já estávamos mortos
Só eu não vi
É preciso coragem para dizer que acabou
E a solução é sempre a mais fácil
Usar uma falha boba como pretexto
Acontece que sequer falhei
Há pessoas que pensam que suas falhas
São sempre menos graves que as suas
Mas eu recuso a vitimização
Mesmo porque não tem ninguém para ouvir
Aqueles garotos nunca mais
Falaram comigo
E nunca mais
Falarão comigo
Talvez me faltou fôlego
Como falta fôlego
A um homem gordo.
*Mais um feriado prolongado nessa cidade horrorosa. Muito gato vai entrar no micro-ondas, muita gente vai entrar no cativeiro, vai ter muito churrasco também e muitas crianças vão morrer eletrocutadas por conta dos fios da pipa e as fiações elétricas precárias.
*A poesia deve seguir a sua linha editorial? Mas a poesia não serve para “perder a linha”?
*E uma rede me lembra dos livros que entreguei há três anos para pessoas que não existem mais.
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