"quanto mais velho você fica menos sua morte é levada a sério"
"não parece coerente acreditar em uma vida que certamente irá te matar"
"ÉREBO"
levei
trinta anos
para nascer, crescer e envelhecer
dezoito de trinta
com o nariz quebrado.
não posso considerar o passado
porque ele não esta no presente
desde que comecei
a sentir me hipnotizado.
eu ainda invejo a garota de dezoito anos
que ainda pode morrer jovem, mas
eu quero arrancar todos os fios brancos
do garoto quem tem mais
que eu.
a garota e o garoto
estão comigo agora
no érebo
mas
não posso sentir me confortável aqui
visto que o sexo ainda é a última coisa que envelhece em mim.
(hugo guimarães)
a primeira frase desse post pode servir para a análise completa do poema, creio. creio também que estou enjoado de ter que dividir o tempo todo análise e interpretação como duas coisas tão diferentes. a palavra análise me remete tanto á interpretação quanto a própria palavra interpretação.
Im itiri i di
timinhi di im pinhi
Podemos ver em várias outras
passagens do poema a utilização desse recurso de forma explícita ao substituir
as vogais do verso pela letra ‘I’.
Esse recurso simbolista também
segundo estudo de Antônio Cândido, a aliteração também como é utilizada no
poema de Angélica, com a sucessão da letra ‘I’ dominando inteiramente o verso,
dá um sentido de vacuidade, monotia e desespero, principalmente se analisarmos
mais um verso que se utiliza dessa aliteração com o verso seguinte, que reforça
a sensação de desespero explicitamente sem a utilização do recurso:
Lá em quiriquiqui
Não tinha
tiramissu
Então mitiradaqui
mimimi
tenho certeza que a primeira parte do meu trabalho de introdução aos estudos literários I fede.
o meu poema, em interpretação ou análise. aqui no meu blog, como mando eu, interpretação será análise ponto final!
1ª estrofe: com trinta anos, você já tem a sensação de ter completado o ciclo da vida
2ª estrofe: com trinta anos, você se cansa de ser atormentado pelo passado.
3ª estrofe: vide a primeira frase desse post
4ª estrofe: com trinta anos, a sensação do purgatório já começa
5ª estrofe: com trinta anos você ainda não se cansou de trepar.
na quinta estrofe, encontramos o "problema" do poema. eureka.
vamos falar um pouco agora sobre a inutilidade ou a falta de sentido dos esportes:
atletismo: esse é o pior de todos, pois é praticado em uma pista oval. nunca se chega a lugar algum por mais rápido que se corra ou por mais longa que seja a distância. os saltos não se justificam, pois não há obstáculos para transpassar, como um riacho ou uma fogueira, ou um formigueiro. nem os arremessos. por mais longe que se arremessa um disco, um peso, um martelo ou um dardo, eles voltam para você arremessar de novo. sempre voltam.
voleibol: por mais que seis pessoas se esforcem para que a bola caia do outro lado da rede, quando ela finalmente cai, ela volta para o seu lado, para que você comece tudo de novo.
não quero assumir coisas ruins nesse post porque sei que o bosta do meu ex namorado vai ler.
a coisa boa é que yeap! fiz minha plástica nas costas. passei duas horas na mesa. o enfermeiro assistente após a longa cirurgia disse: nossa! nem parece que tinha uma cicatriz aí.
corpo do texto. meu quarto trabalho como ator.
na foto você vê a produtora alicia peres, o diretor thiago carvalhães, a claudia leitte e a produtora betina de tella.
ok ok, já disse que trata-se de uma série que consiste em um curta metragem onde há literatura e nu. sempre um texto e um corpo por episódio.e no primeiro episódio, o marcelino freire é o texto e eu sou o corpo. a pré estreia aconteceu nesse sábado no espaço cultural b_arco. veja cartaz:
no cartaz, você vê as minhas costas e uma parte do episódio.não pude comparecer á pré estreia por causa da minha cirurgia que foi no mesmo dia e por eu ser mais ignorado no mundo da literatura do que a claudia leitte no billboard awards.
- o que quer que eu diga? quer
que eu te convença o quanto estou enlouquecendo?
-
- sim, desconfio que esteja
novamente enlouquecendo. não sei se é possível ‘desconfiar que esteja
enlouquecendo’. será que se percebe quando se esta enlouquecendo?
-
- talvez eu só esteja confuso,
cansado. apático! achei a palavra. acho que me encontro em um processo de
transcendência da depressão para a apatia. além disso sim, o desejo de
abreviação da vida só aumenta e... aff isso me revira o estômago. não, não
tenho planos para efetuar a abreviação, mas sempre que há vontade maior que o
normal, recomenda-se voltar a procurar ‘ajuda’. se é que há ajuda. a opção mais
plausível que me ocorre é usar a gravidade para essa abreviação. mesmo assim,
quer saber? acho que dói, mesmo que seja por segundos, mas deve doer e deve ser
horrível, não é um salto para o além como deveria ser.
-
- não venha me lançar esse olhar
de ‘por que então não estoura os miolos de uma vez?’. eu simplesmente não faço
logo porque faltam os ‘guts’. em português seria ‘coragem’, ‘sangue frio’, sei
lá, mas ‘guts’ é a palavra certa. além do mais, eu posso simplesmente
permanecer aqui, para enterrar o máximo de pessoas que eu puder e para acabar
com a sua vida, por exemplo.
-
- ou talvez eu precise de uma
ilusão nova. todas essas drogas como lítio, fluoxetina, clorpromazina, diazepan
ou aprazolan, risperidona até devem fazer algum efeito ou diferença dessa vez?
talvez seja melhor trocar, pois me sinto muito nervoso, irritado, talvez seja
melhor só ficar mais calmo, não sei.
-
eu pretendia terminar esse texto
com o fim da consulta. com um paciente invadindo o consultório dizendo que
estava há mais de uma hora esperando para ser atendido. o psiquiatra responderia
‘mas você foi o primeiro que chamei essa tarde... ’. e eu comentaria ‘que
loucura...’.
talvez seja melhor não levar um
fora de alguém que vejo com frequência. sei que o inverno começou. e só por
isso acho preciso de alguém novamente. e estranhamente comecei a cuidar melhor
do meu corpo. comecei a escovar mais os dentes. passou. com o inverno chega
também a gripe e acaba não só com o corpo, mas com a auto-estima. é ruim ter de
tomar milhares de comprimidos para ficar bom da gripe logo, para que eu possa
finalmente ver o garoto que estou cobiçando e tentar não levar um fora, pois
será muito ruim ter de vê-lo com frequência. o garoto, não, não é última
bolacha do pacote. ainda restam umas três bolachas no pacote. e as outras duas
bolachas que também estou cobiçando caem no mesmo impasse mostrado acima. é
ruim ter de vê-los sempre. sei que o inverno chegou, mas também sei que não
preciso de outra ilusão visto que é relativo o aquecimento do garoto, o da
bolacha. só o verei uma vez por semana, mesmo conseguindo pegar a bolacha. e
muitos garotos não gostam de dormir abraçado, pois sentem falta de ar,
incômodo. sendo assim, dormir com alguém assim é o mesmo que dormir sozinho, e
ter de contar apenas com meu tigre gigante de pelúcia e com a minha gata
siamesa, que esta tão grande que já consegue esquentar minha barriga e meu
peito. e ela ronrona. estudos dizem que o romrom é uma demonstração clara de
afeto. agora que estou melhor da gripe, vou para casa dormir.
é realmente necessário se
transformar em outra pessoa, em outra coisa o tempo todo? apenas se eu me
transformar em algo melhor, serei alguém? terei respeito? não posso ser respeitado
pelo que já sou hoje? há controvérsias. ontem, o professor de literatura disse
que estamos em uma transição na sociedade em que cada vez mais achamos que
devemos ser respeitados pelo que já somos e não pelo que devíamos nos esforçar
para ser. eu já aceito a transformação humana pessoal que consiste em aceitar
que não posso me transformar. também não quero mais definir o que eu era e nem
o que sou e nem o que serei, pois é loucura definir o tempo e o espaço, sendo
que nem há provas de que o tempo e o espaço são não definíveis. uma loucura. e
a cada dia que frequento a aula de literatura, saio me sentindo uma besta
quadrada, uma anta, um animal de tetas.
blog. não é pode ser um diário on
line. a não ser que se escreva diariamente. não é meu caso. logo isso não é um
diário on line. é só um blog. tempos atrás, umas vinte pessoas o liam. agora
acho que ninguém mais o lê. então posso escrever exatamente o que eu quiser,
sem filtros. ás vezes algum desconhecido lê, pergunta, comenta, mas a maioria
deles estão interessados no meu corpo, não na minha escrita.
é por isso que também sou ator.
por causa do corpo. por causa do rosto. neste feriado vou filmar. como gosto de
filmar... eu sei sim interpretar. sei sim. vi o corte final do ‘nova dubai’
[veja amostra logo abaixo (sei que o guto não me autorizou a divulgar essa
imagem, mas como ninguém lê este blog, não haverá problemas)]
nova dubai: cumming soon! It’s really cumming!
acho que estou bem J. ainda não vi o corte
final do ‘feeling blue’, outro filme em que estou, mas o dani, diretor do
filme, disse que estou bem J
e eu acredito J.
amanhã, vou filmar o primeiro episódio do ‘corpo do texto’, projeto do amigo
thiago carvalhães que cria uma espécie de curta metragem baseado em um texto. e
nesse curta, é sempre usado um corpo. nesse primeiro episódio, o marcelino
freire será o texto (de seu recente romance ‘nossos ossos’) e eu serei o corpo.
li o roteiro no fim de semana passado. gostei muito J
sim, quero fazer o que faço na
sauna com o menino da bolacha, mas vou passar o fim da noite de hoje comendo os
últimos biscoitos importados de morango que comprei. você já comeu esses
biscoitos da peperidge farm? não morra sem comer, são muito deliciosos:
também vou terminar de ver o VHS
do filme ‘the collector’ de 1965, do willian wyler. acaba de sair em uma edição
lindinha em DVD, mas EU tenho o VHS raro, raríssimo J eu adoro ver atuações. até
ver a edição nova em DVD, eu não sabia que a samantha e o terence ganharam
ambos o oscar de melhor atriz e ator respectivamente, por esse filme. recentemente
também vi, finalmente, a atuação da cate blanchet em ‘blue jasmine’, é um
colosso de atuação!
F
R
C
L
meus quatro namorados até hoje.
F – só era extremamente fútil,
mas ele tinha que ter algum defeito. não é ruim ser fútil.
R – esse era apenas mentiroso e
rampeiro. além de engordar copiosamente enquanto estava comigo.
C – esse não me dava atenção e só
namorava comigo porque não tinha nada melhor para fazer. o dia em que ele me
deu um bolo no cinema para fazer torta de limão para o ex-namorado foi
antológico...
L – esse sem dúvida foi o pior de
todos. pensei que nunca encontraria alguém pior que o R, mas consegui! L era mentiroso,
viciado, alcoólatra, ladrão, vulgar, favelado, burro, vagabundo e feio ainda
por cima! eu explico: eu estava sob o efeito de fortes medicamentos e creio que
fui vítima de magia negra quanto tive esse ‘relacionamento’ com essa ‘pessoa’.
L, se nesse momento não estiver
caído bêbado em alguma calçada, deve estar dormindo no quarto que divide com a avó insuportável de 100 anos. quarto esse que fica em um barraco caindo aos
pedaços em uma favela do jabaquara. e ainda assim L ainda acha que pode chamar
meu apartamento de lixo, e acha que pode chamar meus pais de porcos. roinc roinc.
L nesse momento deve estar fazendo sexo com um homem negro obeso que usa uma
peruca loura, afinal era só com pessoas desse tipo que ele conseguia se
relacionar antes de me conhecer. L nem imagina que mesmo se eu perder uma
perna, eu ainda terei uma vida sexual bem melhor que a dele. L nesse momento
está tão magro que a cabeça está tão grande quanto o resto do corpo. é macabro
ver que a massa da cabeça dele esta equivalente ao resto do corpo. conta-se que
ele conseguiu um emprego novo, por isso deve estar cheirando tudo o que pode. por
isso, ás vezes penso que é mais seguro ficar em casa com a minha gata siamesa
comendo biscoitos da peperidge farm ao invés de descolar outro garoto.
daqui a duas semanas vou
finalmente fazer minha plástica nas costas. para não ter vergonha do legista. e então vou poder dar tudo o que eu não dei no ano passado inteiro! (brincadeira)
faltou falar de esporte? infelizmente
devido a essa cirurgia, não vou poder fazer o salto triplo na copa USP de
atletismo no dia 25, como eu esperava. sim, em boas condições físicas eu podia
começar a trabalhar com a marca de doze metros (o que é bem razoável para o
padrão copa USP) também tive um edema no joelho direito no começo desse ano que
prejudicou bastante o treino e justifica meu péssimo desempenho no bichusp, mas
não tem problema não – cuide bem do seu marido e nunca mais ouça o refrão.
hoje estou indo á academia quase
todos os dias para fortalecer os quadríceps loucamente e muito em breve vou
poder sair por aí de micro shorts e arrumar confusão com um funkeiro na
plataforma da estação pinheiros de trem. (brincadeira). estou fortalecendo os
quadríceps para voltar a treinar bem atletismo e competir no biffe em novembro. sabe o que
é o biffe? é uma competição que envolve as atléticas menos fortes da USP. enquanto
não volto para as pistas, além da academia, treino ás quintas com o time de voleibol
da fflch e aos fins de semana, jogo voleibol com as travestis nordestinas do
sesc. tais travestis são muito receptivas e me deixam jogar também numa
boa.
“finalmente começaram a ler meus livros, finalmente
começaram a me encher o saco”.
ou
“por mais que o mundo diminua a cada dia, ele ainda
é maior que o seu homem”.
ou
“até não saber o que dizer. até eu mal poder ajoelhar
para recolher os dvd’s que minha gata derrubou da prateleira. até por o direito
deles estar inchado devido aos saltos estranhos que eu faço. até que sim, eu
sei que estar indo atrás de outra medalha e ganhá-la, não me fará uma pessoa
melhor. até que sim, passar alguns meses na academia fortalecendo os músculos
até que eu consiga levantar 100 quilos no agachamento para que eu possa ganhar
outra medalha em novembro não vai me fazer uma pessoa melhor. até que sim, sei
que esportes substituem os psicotrópicos, sei que manter o corpo saudável
diminui a sensação de estar apodrecendo. até que sim, passei a acreditar na
tese, ou teoria, ou que, de que o corpo já sim começa a apodrecer a partir do
nascimento e não somente após a morte. até que eu posso questionar o
envelhecimento das células contra a renovação. elas morrem. então o processo de
apodrecimento já está iniciado quando nascemos; a supor. até que sim, a célebre
frase da purificación santamarta (google it) ‘uma medalha vale o mesmo que uma
tampa de gatorade para mim’ estende-se até a linha do significado da vida;
mesmo – até que sim, a minha posição na sociedade – a minha posição na
sociedade e qual a minha posição na sociedade – eu tenho uma posição na
sociedade? até que sim, ao derrubar barreiras, ao acumular, até que finalmente,
até que nunca posso esquecer de que nunca vou parar de seguir para bater a
cabeça bem de frente com a morte e que nada posso fazer a. até que sim, ou não,
não quero falar sobre isso, sobre a abreviação da vida mais uma vez visto que.
sim, já falei muito sobre isso”
ou
“não sou terrivelmente feliz, mas não sou o coitado
que as pessoas pensam”
ou
“até que o que me impede a, nesse momento, é o medo
de altura”.
ou
“até que não, a utilização da crase não é
indispensável. até que ela é apenas uma fusão. Até que sim, fui aceito pela
faculdade de filosofia, letras e ciências humanas da universidade de são paulo.
até que mal consigo sair da cama aos finais de semana. até que não consigo
lavar as louças ao ponto de que só lavo uma peça quando todas as demais estão
sujas. há sempre sacolas plásticas vazias e amarradas dentro da pia que foram
utilizadas para compressas de gelo nos meus joelhos. elas me causam má
impressão. até que sim, tenho nojo de cozinhar na minha cozinha amarela. cozinhas
devem ser brancas. não vou pintar a cozinha de branco porque essa cozinha não é
minha e não quero ter de pintar de amarelo de novo quando eu for embora desse
maldito apartamento, afinal eu mal tenho ânimo para levantar da cama no pouco
tempo que consigo ficar aqui. até que sim, todos esses fatos estão diretamente
ligados”
ou
“não consigo entender que a USP é uma casa de
tantas cabeças produtivas, tanta produção intelectual e é um lugar onde haja
tantas árvores... você consegue ligar essas duas informações? afinal, a
impressão de um livro consome x páginas, logo não deveria haver árvore alguma
na USP”
ou
“ser escritor e nunca para de escrever é a aceitação
da inabilidade de conseguir dizer o que pensa ou o que acha. por isso os escritores
morrem escrevendo, tentando atingir tal habilidade, morrendo sem nunca explicar
coisa alguma”.
ou
“odeio os dois livros que publiquei”
ou
“a impressão do livro não garante a imortalidade.
ela é apenas carimbo, uma etiqueta. muitas edições se perdem ao passar dos
séculos. se perdem para sempre. a internet também vai acabar, não duvide disso.
a impressão apenas facilita que outras pessoas, outras gerações futuras
mantenham reimprimindo os livros se você for digno de algum tipo de idolatria,
ou respeito. o escritor por si só não pode fazer nada para que essa
continuidade ocorra”
ou
“não vou fazer quase nada este ano. quase nada”
ou
“fiz tudo exatamente ao contrário, por isso vivo a
margem da sociedade. ou eu deveria escrever ‘á margem da sociedade’? descobri
que a crase não é indispensável, descobri isso na própria faculdade de
filosofia, letras e ciências humanas. só não consegui descobrir por quê o prédio
da filosofia fica tão longe do prédio da letras e da geografia e da história. até
que sim, este ano não darei entrevistas. nem nesse nem nos próximos nem jamais.
a última que dei foi para o gabriel marchi do site ‘a virgula’, em novembro do
ano passado. entrevista essa que jamais será publicada, devido a sempre,
absolutamente sempre, a cada segundo, haver algo mais legal a se dizer e ao se
publicar sobre, do que o livro de contos do hugo guimarães. até que sim, vou
participar de uma coletânea de contos chamada ‘a puta ria’ que está sendo
organizada pelo luis rafael montero e que é uma antologia de contos sobre prostituição que
tenham humor, onde pela primeira vez estou fazendo um texto sob encomenda. até
que sim, outro amigo me chamou para algo que não sei bem o que é. até que o
‘doamsepalavras.com.br’ deve perdurar. até que sim, este ano os dois
curtas-metragens em que atuei serão lançados [veja amostra abaixo]
ate que sim, estou quase
terminando meu romance. até que sim, eu esperava criar uma história com um
herói para ser comercial, mas acabei criando um livro de literatura
experimental que também é um livro de filosofia. até que sim, vou inscrever em dúzias
de editais e concursos. até que não, não consigo conter a desconfiança de que
um dia serei ouvido, lido, ou respeitado”
ou
HE’S
STRAIGHT
IF
HE’S GAY
HE
HATES
ME
(THIS
IS NOT A POEM, THIS IS A TATOO)
ou
“o homem apenas pode lhe oferecer a ilusão de que
ele é maior do que o mundo, mas. (veja o verso dois)”
eu nasci assustada então já comecei a morrer ganhei dentes e unhas para bater bem de frente com a morte. o mundo nunca parou de diminuir e a morte nunca parou de crescer até que eu parei de crescer.
(Hugo Guimarães) I
Eu passo duas camisas. Uma vermelha e uma azul Uso terças e quintas a azul E segundas e quartas a vermelha Sempre a calça preta Sexta-feira, eu visto só preto E sábado queimo as roupas A camisa azul e a vermelha E a calça preta.
II
Por mais que tomo banho Todos os dias Ainda me sinto sujo Por isso passei a deixar de tomar banho Um dia ou dois.
(Hugo Guimarães)
"carta a mãe"
respondi que não não preciso de uma mulher pois eu já a incorporei já sou um casal uso só uma cadeira como só um prato de comida bem mais fácil bem mais funcional quanto aos filhos alguns filhos simplesmente não nascem assim como ovos apodrecem assim como ovos são comidos.
(hugo guimarães) "Man"
há uma estrela no seu zíper que cresce, man
dou amor para você e para sua cadela a de estimação
quer dizer então que alguém que tenha o azar de ter nascido negro, pobre
e homossexual também deve temer ter uma morte horrível?
quer dizer que a vida ser horrível não é o bastante?
quer dizer então que eu além de ser pobre, homossexual, mesmo não sendo
negro, também posso ter uma morte horrível?
quer dizer que a morte não já é horrível o bastante?
então quer dizer que não podemos ir ao parque no domingo em pleno verão, porque DEZESSETE grupos de skin heads marcaram um encontro por lá?
quer dizer que não podemos ir ao parque porque as beldades dos skin heads,
porque esses arrombados desses skin heads marcaram um encontro no parque?
por quê a polícia não vai até lá e desce o cacete em todo mundo?
é o mínimo que esperamos da polícia.
se serve de consolo, os skin heads também não gostam de skatistas.
isso me lembra as ilusões sobre sofrer estupro seguido de morte. talvez não
seja tão ruim assim morrer de uma forma horrível. talvez seja uma sensação
exótica e incrível morrer tão violentamente. isso se eu tivesse dezoito. quando
você tem vinte e oito, essas ilusões envelhecem.
janeiro. triste, pálido, como dizem.
livros de lixo. é como se eu tivesse feito livros de lixo. sabe porque? sinto como se eu devesse e quisesse voltar no tempo e ter dezoito. pois aos dezoito eu não
tinha conhecido nenhum dos meus quatro namorados que ajudaram juntar o lixo
necessário para os livros que escrevi nos últimos dez anos. talvez se eu não
tivesse lixo, não teria livros. esse é o consolo, mas talvez seja melhor ter
dezoito e não ter nenhum livro. e nenhum lixo. esse é o pensamento.
diário on line:
visão: piorando, vejo cada vez menos de longe
camila: chora de raiva no banheiro
joelho esquerdo: fisgada estranha ameaçando nova contusão
mamãe: ainda come arroz fresco puro, ás vezes
joelho direito: ainda dói, mas dói menos.
voleibol: acho que já tenho acertado mais que errado
atletismo: fisioterapia e exercícios de fortalecimento de joelhos e
salto em distância parado continuam irregulares como sempre, devido a extrema e corriqueira sensação de cansaço.
traseiro: nova consulta com cirurgião plástico está prevista para julho
dentes: esqueci novamente de remarcar a restauração 1
nariz: continuo postergando a atitude de finalmente planejar a
rinoplastia, há um osso quebrado até hoje.
ombro esquerdo: a mesma dor de três meses atrás, mesmo com constate
alongamento.
papai: voltou a beber barris de cerveja
guto: deus o ajude
arthur: seis meses
gabriel: ainda não
companhia das letras: não mande seus originais para nós! fique longe de
nós! esqueça-nos!
cosac naify: nem pense em mandar seus originais para nós! fique longe!
record: você pode até mandar, mas só vamos ler no dia 32 após a ceia e
precisamos de muito papel mesmo para juntar tudo e fazer nossa fogueira de são
joão em junho.
34: você já mandou uma vez, por quê acha que dessa vez vamos te aprovar?
martins fontes: por quê com a gente seria diferente?
bem, o que devo fazer então com o meu romance que acabo de finalizar e que
levou vinte meses para ser escrito? jogar no lixo? não seria má ideia
considerando o conceito da quarta estrofe deste post.
janeiro. triste, pálido, como dizem.
os planos nesse início de ano são os seguintes (iguais aos de courtney
love):
“quando se é rico, é sempre natal” frase de fim de
ano de hugo guimarães.
hoje vi um filme nacional chamado ‘cores’. filme em
preto e branco, mesmo com esse título. talvez houve algumas partes coloridas. houve
ou houveram, não sei. ainda não sei diferenciar 'houve' de 'houveram', ou quando
usar 'houve' e 'houveram'. talvez por isso eu seja recusado mais uma vez no vestibular
na universidade de são paulo, que acontecerá em muito breve. talvez o final do
filme foi colorido, com os três ovos fritando. acho que as gemas estavam
amarelas.
o filme, outra tentativa de pessoas ricas,
cineastas ricos, em retratar a realidade da classe média baixa paulistana. mais um
tiro pela culatra. a começar pelos atores que fazem os três ‘fodidos’
protagonistas: a garota é interpretada por uma atriz de ascendência romena, com
um belo corpo. será que as barangas fodidas e pobres de são paulo são assim? não,
não são. e os garotos? interpretados por atores muito belos, altos, com traços
que beiram a perfeição. um ator se chama pietro e o outro, acauã, nomes típicos
de burgueses. será que os meninos jovens pobres e fodidos de são paulo são
assim? não, não são. os meninos pobres e fodidos da classe média baixa
paulistana se parecem comigo: são anões, tem a testa imensa e o nariz torto.
outro tiro pela culatra: a protagonista trabalha
como balconista em um pet shop e mora em um apartamento bonitinho com sacada em
frente ao aeroporto de congonhas. será que uma balconista de um pet shop pode
pagar por um lugar assim? não, não pode, senhores ricos cineastas. eu mesmo,
que passei oito anos em uma faculdade que detestava, falo três línguas e
trabalho em uma multinacional japonesa, só consigo pagar por um muquifo de 30
metros quadrados no meio da cracolândia. não há quarto, sala ou cozinha aqui. é tudo um ambiente só, um ambiente terrível: a instalação elétrica é precária,
posso morrer queimado aqui se haver um curto-circuito, ou se houver um curto circuito;
o encanamento também é precário. Esse lugar onde moro, parece um caixão de
concreto.
dei de presente de natal ao filho de puta do proprietário do
lugar onde moro um longo email que perguntava entre outras coisas “não deve
mais haver pessoas para enganar e explorar na itália, não? por isso vocês vêm
para cá nos explorar e nos enganar”
no final do ano há sempre de se fazer
retrospectivas? sim, há, não? 2013 foi um ano estranho para mim. começou péssimo,
com muito álcool, muita cocaína, outra tentativa de suicídio, três cirurgias
decorrentes a essa tentativa, mas posso dizer que terminou bem: recuperei a boa
saúde, consegui um novo emprego, parei de beber e parei com as drogas. após
três anos, voltei a treinar voleibol e é tão difícil voltar a treinar qualquer
coisa... treino duas vezes por semana e tenho dores no corpo inteirinho...
fiz dois filmes em 2013. dois curtas: um como
protagonista e outro como coadjuvante. finalmente lancei meu livro de contos, que honestamente desconfiava que jamais seria publicado. precisa falar do
sucesso? do resultado? parei para pensar sobre a diferença de 20 pessoas ou de
20.000 pessoas comprar o seu livro e reconhecer o seu talento. não há
diferença, na verdade. 20 pessoas leram o meu livro e reconheceram o meu
talento. é o suficiente, é injusto querer mais. será que mereço mais? não sei... talvez eu já tenha o meu talento e não preciso de mais, talvez eu esteja mesmo
condenado á pobreza, a lutar contra a depressão e a insanidade, condenado a
minha baixa estatura, a minha testa imensa e ao meu nariz torto. talvez eu deva
aceitar isso, finalmente.
qual o melhor filme que viste esse ano? um francês
chamado “mouton”, na mostra internacional de são paulo deste ano
o melhor de terror? até agora, o “the haunting”
original de 1963. ainda tenho alguns dvd's que comprei para ver.
qual a melhor banda que conheceste esse ano? uma banda
de bofes do kentucky chamada “slint”
qual o melhor livro que leste esse ano? “memórias
póstumas de brás cubas” de machado de assis. o final me fez chorar por uns três
dias seguidos.
pensei em escrever um conto de natal, como fiz no
ano passado. aquele conto que publiquei no ano passado se chama “ovos”, é sobre
uma ceia de natal em família em que participo que dá bastante errado por eu
jogar ovos em toda a família devido a minha deteriorada condição psicológica.
nesse ano pensei em criar um conto sobre uma ave de
rapina treinada para roubar panetones, mas ando cansado, sabe? e acho que não sou
bom em escrever coisas com humor. como diria o santiago: “vamos deixar a ideia para
o ruffato aproveitar”.
no final das contas, do ano, o corretor ortográfico
do microsoft word acaba me ensinado quando usar 'houve' e 'houveram'. no final das
contas, creio que serei sim aceito pela universidade de são paulo dessa vez. no
final das contas, creio sim que escreverei mais livros que serão lidos por mais
que 20 pessoas.
“MEUS MELHORES ANOS AINDA ESTÃO POR VIR” (serena williams,
2007) serena estava certa em 2007. essa, é a minha frase de ano novo.