11 de mar. de 2023

o boletim leve



 






                  “Descer”*                    

 

Mãe olha para baixo e vê a barriga murcha
O bebê se foi
O príncipe se foi

fui dormir príncipe

Acordei uma pedra de gelo

E desci pelo ralo.



(Hugo Guimarães)

* A ser lançado no livro "Lixeira de Celofane" pela editora Arpillera em outubro desde ano.





Muito feliz de ser um dos contemplados da chamada de originais da editora TAUP. Eu havia enviado meu original antes de enviar meu original e fechar com a Arpillera. Mas estou feliz com mais esse "selo de qualidade" do meu "Lixeira de Celofane"
😉

Duas editoras querendo publicar um livro meu quase ao mesmo tempo? E as duas assumindo os custos? Inédito na minha vida. Nunca pensei que fosse acontecer. Nunca fui hipócrita, sei que minha "Lixeira de Celofane" é excelente e dessa vez outras pessoas estão achando isso também...

***





XXXX 

16 de fev. de 2023

bonsai



"Bonsai"


É só um espectro na minha vagina

Meu pênis sobe e já declina

Arregalado na Ritalina

Pleito e glória é medicina


Sempre dorme em mim

Sempre morde em mim

Sempre grita pra mim

Sempre morre pra mim


Bonsai, Tina

Bonsai, Tina

Bonsai, Tina

Bonsai, Tina


Na cova, não é mais menina

Levanta e vai limpar urina

Sai leite e entra cafeína

Nutra o seu sonho de anorexia

Sou deprimida e sou uma vadia

Psicotrópicos e atraso de vida

Eu quero hormônio pra ser menina

Eu tolero o vício da pederastia


Sempre dorme em mim

Sempre morde em mim

Sempre grita pra mim

Sempre morre pra mim


Bonsai, Tina

Bonsai, Tina

Bonsai, Tina

Bonsai, Tina


(Hugo Guimarães)




XXXX

4 de fev. de 2023

him




Texto que escrevi sobre o livro de um amigo.


    O livro "Igor na Chuva", de Hugo Guimarães, editora Folhas de Relva (2019).

    Autobiografia? Ficção? Autoficção? Fiquemos com esta última, sem nos atermos à complexidade de sua conceituação, mas procurando encontrar no conteúdo algumas evidências que o situam no terreno complexo da autobiografia ficcional.
O narrador, um protagonista cheio de ódio e de dúvidas que narra suas aventuras e suas reflexões, em primeira pessoa, desde o amanhecer no quarto onde mora, até sair às ruas e chegar ao centro de esportes da USP.
A chuva. Sempre a chuva. Sexo. Humor.
A ambiguidade narrativa desafia o leitor a se situar entre a realidade e a ficção. Chove no que é real. Chove no que é irreal. E o literário fica sempre em primeiro plano com metáforas e ironias desde o início e durante toda a narrativa. “Sou o último homem de uma geração de homens, e eu não me importo. Só consegui pegar no sono às 7 da manhã devido ao ódio”. “...comecei a chorar desesperadamente dentro das minhas duas mãos”. O ódio explícito do protagonista e o choro diante das inusitadas situações no transcorrer do enredo são recorrentes e revelam pouco a pouco sua conturbada personalidade.
Igor caminha por conhecidos endereços de São Paulo, encontra poucos personagens, conversa com alguns, apenas olha uns outros e esses encontros funcionam como pretextos para suas reflexões de crítica, de raiva e também para provocar e instigar o leitor que se vê mergulhado entre o que é e o que não é. Mas nesse mergulho no poço da contradição da fantasia e do real realiza-se um envolvimento que conduz o leitor a uma leitura ininterrupta como que hipnotizado pelo fluxo narrativo do narrador. O protagonista não é Igor, ele é apenas uma estratégia textual para mostrar o mundo do autor, Hugo Guimarães. Portanto, Igor é o alter-ego do escritor.
Este é um livro sem doçura, sem afagos. Conteúdo indigesto. Uma narração sem piedade de quem lê, escrita para incomodar com palavras e imagens. Para surpreender com um ritmo em que jorram ideias que ora estão no presente, ora voltam ao passado e constroem a vida do protagonista, revelando sua infância, sua adolescência e seu momento atual.
O narrador, ao contar a história, avança e retrocede durante todo o percurso e utiliza o tempo para expandir a percepção do leitor em um mundo ficcional ambíguo, expresso com linguagem que encanta e preocupação estética que alicerça a história com eficácia poética.

Jorge Ribeiro, 2019

XXXX

15 de dez. de 2022

DESPEDIDA DA AVAREZA, ÓDIO E CANIBALISMO






Conheci Manaus. For good.

                Gente bagunceira. Gente avarenta. Gente porca. Gente falsa. Gente egoísta.

                Aka

                Bicha bagunceira. Bicha avarenta. Bicha porca. Bicha falsa, tem vários nomes. Bicha egoísta, mora em uma casa cheia de viado, mas não queria que nenhum deles me chupasse e não foi falta de eu pedir, mas adorou a ideia de eu levar meus amigos ativos para ficarmos em pé em volta dele. Levei 3g para dividir, mas ele relutava em dividir um cigarro. No meio da noite perguntei se ele viu minha cueca, ele perguntou por quê, eu disse que dormia mais confortável com ela e ele disse que era para eu procurar no chão, mas não achei. No dia seguinte, depois do banho, antes de ir trabalhar quando eu ainda estava despertando, vi de rabo de olho a bicha vestindo minha cueca. Meu, ele roubou a minha cueca! Sim, fui pra casa sem cueca. Depois de vinte e quatro horas sem comer por causa dela, eu pedi algo para comer, qualquer coisa, para não incomodar (ele fez a pior cara do mundo e foi fazer dois pratos de miojo). Miojo? Alguém ainda come miojo? Que ele demorou dez minutos pra fazer, não entendo como, sendo que aquilo se faz em três minutos. Mesmo exausto, ele não teve a bondade de oferecer que eu ficasse descansando na casa dele e depois fosse embora (não é que ele furta coisas que eu também furto). Me arrancou da cama ás sete para sair com ele rumo ao trabalho. Pedi uma toalha para tomar banho. O mínimo que eu esperava era uma toalha seca. Pois ele me deu a mesma toalha molhada que ele tinha tomado banho. Não menos que isso. Tomei o banho e quando saí, tive a curiosidade de cheirar a toalha, uma toalha fedida. A única coisa que me agradou foi a cachorra dele, uma chow chow misturada extremamente carinhosa. Tive na hora vontades de ter uma cachorra igual, não que minha gata também não seja carinhosa, mas eu podia ter as duas. Um dia terei um lar e espaço para uma gata e uma chow chow. 

 

                Porém, dessa vez, algo de muito novo aconteceu: eu joguei cocaína fora.

 

                Não, a tal empresa de Guarulhos não me aceitou. Me convidaram para me prostituir para pilotos gringos de avião. Pagam cem dólares. Logo, quinhentos e quarenta reais. Gostei da ideia, mas pouco depois eu lembrei que nesse ponto não faz mais sentido vender meu corpo, nem que, quando eu quero eu consigo parecer sexy. É que eu decidi que preciso ficar quieto, preciso ficar vestido. Dá-se um jeito para pagar as dívidas. Aquelas mulheres gestoras de RH nunca param de ligar usando fotos de dez anos atrás no whatsapp me oferecendo empregos formais, que depois de todo o esforço de chegar na final com outros dois finalistas, sempre sou preterido. Porém, cedo ou tarde algo deve dar cerdo, cedo ou tarde os olhos gordos do meu pai devem murchar, cedo ou tarde minha irmã deve tirar meu nome da fogueira da umbanda. 

 

                ***

               

                Tão exausto na cama, dei um tempo a mim mesmo para ver o que ia fazer da minha vida e isso incluiria se eu ia permanecer vivo ou não.

                A literatura não funciona. A música não funciona. Os homens não funcionam.

                Percebi que eu preciso de carinho. Percebi que eu não sei mais o que faço. Percebi que eu estou perdido.

                Resolvi que depois de três anos, estou repensando minha sexualidade, o que não exclui a falta dela. Cansei de fazer papéis só para forjar uma vida sexual que eu sei que não tenho. 

                Contudo, eu ainda não tomei minha decisão. Florbela Espanca já estava morta na minha idade. Sylvia Plath e Ana Cristina César também. Virgínia Woolf esperou até os quarenta e cinco. Será que eu devo esperar? A questão é que não há um bom motivo.

                Ter quatorze anos de carreira na literatura, quatro livros publicados, dois premiados e mesmo assim, tudo o que eu ganhei na literatura foram quatorze mil reais. Dez mil reais do proAC e quatro mil reais para ir dar as palestras no SESC Campinas. Ah, tá, e os trezentos reais de cachê da mesa na balada literária 2009.

             Não entendo, sofro cancelamentos por coisas que eu não fiz e por coisas que eu não sou. Continuo escrevendo livros incríveis. Quer publicar, Hugo? Cinco mil reais. Não parece justo, não parece valer a pena. Ter que pagar para publicar até eu tiver cinquenta anos até que a grande crítica vá com a cara de um dos meus livros e eu ganhe um Jabuti ou um Prêmio São Paulo; e eu finalmente saia da merda e seja contratado por uma editora grande. Vou passar minha vida esperando por isso? E até lá? Vou ficar enfurnado trabalhando nove horas por dia infeliz em um escritório fazendo um trabalho que eu odeio? Porque meu pai me tirou o sonho de ser o melhor saltador em distância do mundo quando eu tinha vinte e dois anos? Eu estava olhando para um moleque louro puro lindo no ônibus terça-feira e pensei que se ele me quisesse, tudo bem, eu jogava tudo pro alto. Mas o ponto dele chegou. E ele desceu.


* Mercedes fúnebre.

* Drop.


XXX


9 de dez. de 2022

BUT THESE TIMES BLOOD

 


    Eu não sabia que existia um botão que bloqueava mensagens de determinada pessoa. Descobri por acaso esse botão. Quer dizer que a pessoa não precisa nem ter o trabalho em te ignorar, o tal botãozinho faz o serviço e eu pensando que de alguma forma aquela bolinha azul preenchida me dizia que eles liam, jamais responderiam, mas eu queria que eles ouvissem, quando na verdade eu estava falando com um botão o tempo inteiro.

 

    Eu não sei o que pensam. Não sei o que fiz. Me tratam diferente desde a última segunda-feira quando fui fazer o exame médico. Eu não sei o que vão me dizer até o final da semana. Alguns deles prometem, mas não dizem nada. Uma certeza que tenho é que será uma semana horrível, ansiosa. Outra certeza é que se não me aceitarem, terei sérios problemas comerciais. Outra certeza é que se me aceitarem, uma pomba branca levantará voo. E não vai ter sangue.

 

    Decidi que não quero mais. Não vou pedir mais. Pagar e não pedir mais. Você sabe o que acontece quando ela vem, não sabe? Ainda tem o sonambulismo que precisa ser melhor elucidado. Seremos maridos muitos calmos. Ou até mesmo maridos que não fazem sexo. Tudo aquilo que vocês receberam via inbox, não fui eu, foi ela, foi ela o tempo todo e eu não vou sentir falta dela. Alguns gostaram, outros não, mas eu preciso coloca-la na coleira, e vou. Aos que merecem desculpas, eu diria que é mais fácil esquecer imagens do que palavras.

 

Amanhã. E sempre. Amanhã. E sempre, sempre, sempre, sempre.



pobre de direita.... palhaço ignorante! neo nazista com sangue preto... sudaca do caralho!

Caio. Pobre menino pobre.

 

    Azar meu? Azar dele? Azar meu, ele é lindo e pode escolher o boy que ele quiser. Antes cedo, não vou ficar aos pezares por causa dele. Faz cinco anos que estou correndo atrás de um moleque que não me quer e me ignora, não são quatro dias atrás dele que me farão algum mal. 

 

    Há de se deixar de pensar com o sexo para pensar com o coração e daí sim começar a pensar com a cabeça e ser o que se deve ser: amargo, desagradável e solitário.

                Para que meus inimigos tenham pés

                E não me alcancem

                Para que meus inimigos tenham mãos

                E não me toquem

                Para que meus inimigos tenham olhos

                E não me vejam

                E nem mesmo um pensamento

                Eles possam ter para me fazerem mal.

                

*Never sorrow tears, but these times blood.

*Vamos desenrolar as notas de dinheiro agora?

 

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