7 de jul. de 2015

HEAVEN ADORES YOU

acabo de voltar do cinema e acho que estou cansado de ver esses andinos na cozinha o tempo todo ouvindo música sem fones de ouvido. pensei em comprar muitos iogurtes no supermercado e muito refrigerante também, custam a metade do que custam na padaria, mas meu espaço na geladeira é muito pequeno. eu tenho uma geladeira, tenho sim. tenho uma máquina de lavar também, minha tia me deu. estão no quintal da casa da minha mãe. acho que seria melhor alugar um lugar menor só para mim em um bairro com nome de fruta talvez, onde é difícil levar um homem, explicar o endereço, mas. ok, moro nessa puta casa grande e bonita há mais de um ano e ainda não consegui descolar uma droga de namorado para me visitar aos fins de semana. contudo, apenas há muitas horas em que não quero ver ninguém e tratando-se de hugo guimarães, isso acontece muitas vezes. 
minha gata, minha única amiga, vomitou nesse exato momento e eu disse a ela "parece que você faz de propósito só para tirar minha concentração ao escrever". sobre ela, a gata, em um lugar só meu, eu não teria de explicar o tempo inteiro por que ela tosse tanto. em tal lugar, eu poderia observá-la morrer em paz. é triste, mas eu sei que ela já começou a morrer, minha única amiga...




estive doente desde sábado, 27 de maio até última sexta feira. problemas com o meu estômago. estive sem treinar atletismo desde então. melhorei no sábado após passar cinco horas no hospital recebendo medicação para dor. minhas pequenas férias do treino terminam hoje quando decidi ir ao cinema. está acontecendo nessa cidade o "in-edit brasil", um festival de documentários sobre música. além do Dylan, o que realmente me chamou a atenção foi um documentário sobre o anjo do Elliot Smith chamado "heaven adores you" (e.u.a. 2014, dir: nikolas rossi). não é possível sentar-se ao lado de um senhor de idade no hall minutos antes da sessão sem que ele comece a conversar com você e criticar a sua geração e os ídolos da sua geração como o Elliot ( ele estava segurando um ingresso para ver o heaven adores you enquanto conversava comigo ). que geração? eu sou um adolescente dos anos 90, não sou da geração brittney spears, mas isso faz alguma diferença para um senhor de idade que pensa que todos os jovens são um bando de idiotas? mais que isso: idiotas tristes. ele dizia que histórias que chamam a atenção de jovens nos dias de hoje, são histórias de depressão e tristeza (sim, a sala estava lotada para ver o documentário sobre o Elliot). musicalmente, ele ainda disse que esses ídolos contemporâneos de hoje, como Elliot, são reconhecidos pela desconstrução, não pela construção, ao contrário dos ídolos da geração dele. provavelmente, ele ia começar a falar sobre o Dylan quando eu me levantei e disse que queria pegar um bom lugar na sala. não, no cinesesc não tem lugar marcado. sim, eu não gosto de conversar, por isso que não tenho nenhum amigo e sempre vou sozinho ao cinema.
e é isso, minha vida começou a passar pelos meus olhos ao invés da vida de Elliot. tenho observado que durante sessões de cinema, eu começo a pensar na minha própria vida obsessivamente e perco muito do filme. a experiência humana na tela é muito rapidamente comparada a minha própria experiência e a minha própria realidade. eu lembro de Elliot com sua antiga banda dizendo coisas como "não devemos tentar fazer ou ser de determinado jeito para chegar a algum lugar, porque não vamos chegar a lugar algum mesmo, então é melhor fazer só o que queremos fazer". acho que é exatamente o que eu faço como escritor, que é o que sou. não sou músico como sempre sonhei que seria, não sou ator e não sou atleta, eu sou um escritor; é o que eu tenho feito e melhorado desde que eu tinha 13 anos de idade. por que ninguém me conhece? por que não estou em uma editora grande? porque não era pra ser e isso é tudo. apenas como existem bons, muito bons engenheiros que projetam edifícios que caem e matam pessoas. a parte triste é que eu tenho tentado fazer tantas coisas diferentes para tentar esquecer, para não aceitar que sou apenas um escritor, porque isso é muito insignificante (aliás, insignificante é ser um escritor insignificante, não ser um escritor em si). eu via Elliot, a cena hard core da cidade de portland e todas aquelas pessoas jovens juntas, em pequenos bares, no underground; mas isso apenas não existe na literatura, não existe nem mesmo ground aqui, quiçá underground. ela é uma arte morbidamente solitária, estou prestes a publicar meu terceiro livro, eu o li mais de dez vezes, ele me faz chorar, me faz tão orgulhoso, mas esse livro é tão pequeno, mas tão pequeno que me faz sentir inútil, faz com que meu talento pareça tão inútil.

se você gosta de um anjo como o Elliot como eu gosto, esse documentário traz detalhes do começo de sua vida, coberturas de seus excelentes discos, mas nada, quase nada sobre sua macabra morte (ele se golpeou no peito duas vezes com uma faca). sim, eu pensei em convidar o meu ex namorado christian para assistir a esse documentário hoje comigo, porque dei a ele de presente de dia dos namorados na época, uma cópia do álbum "figure 8" do Elliot. christian não me deu nada naquele mesmo dia. provavelmente porque só eu acreditava que eu era seu namorado, mas eu era apenas um passatempo para as noites de quarta feira. ele nunca me via aos finais de semana. eu era o passatempo enquanto ele esperava que seu ex namorado murilo voltasse para ele. dias atrás, encontrei o tal murilo no tinder, passei o dedo para a direita, mas não houve combinação. claro, por isso que eu sou o passatempo e ele é 'o' garoto. murilo, é mais rico, de melhor família, é mais bonito e possivelmente deve ter o pau maior que o meu, mas isso não fez com que eu me golpeasse duas vezes no peito com uma faca, baby. a merda da cópia do "figure 8" agora, deve estar jogada no chão da casa do christian junto com algum resto de maquiagem.

enquanto isso, observo meu rosto morrer. sim, meu rosto está morrendo e quer saber por quê? nunca há ninguém comigo em situações felizes para fotografá-lo. sim, não tenho amigos ou namorado para tirar fotos de mim e eu não sei tirar boas selfies. veja essa:



então a juventude morre, morre o rosto; mas eu mesmo já estou morto. já disse isso aqui antes, quando você faz 30, você já se sente morto e quer saber por quê? todas as coisas que você sonha para a sua vida, são coisas que uma pessoa jovem faz, é o que você sonha quando é criança.

*homens

*uma semana doente e uma semana sem sexo e eu me sinto muito melhor, muito melhor do que ter de chupar um cara o qual percebo que tem nojo de me beijar e eu o chupo porque gosto e isso é o pior.

*sinto-me melhor, mas não consigo ser um homem romântico. não posso contemplar um homem muito belo do meu convívio social e apenas ser agradável e gentil com ele, tentar me aproximar, tentar conversar para investigar se existe alguma possibilidade de convidá-lo para sair e sabe por quê? quando chego perto dele, não sinto inveja de sua beleza, sinto ódio, um puta ódio de sua beleza, tanto que apenas viro as costas.

*acho que coisas assim acontecem ou sinto coisas assim porque meu rosto está morrendo ou porque estou já todo morto. acho que é por isso.

bem, não pude ver nada do festival do panorama do cinema suíço contemporâneo de são paulo na última semana porque eu estava doente, mas consegui ver um muito bom do festival "cinema contemporâneo do quebec", que aconteceu nessa cidade de 24 de junho a 1º de julho. lendo as sinopses, fui levado ao "3 histoires d'indiens" e o diretor robert morin estava na sala para apresentar seu filme, e eu gosto muito de ver diretores apresentando seus filmes. eu ainda quero morrer por ter perdido geraldine chaplin falando sobre o 'dólares de areia' nessa mesma cidade, naquela mesma sala no ano passado.
no canadá, assim como em outros países da américa e no brasil, os povos indígenas tem direitos por uma parte do território. no canadá, o terrítório dos índios fica em uma área concentrada e não em áreas separadas distribuídas pelo país. robert disse que isso acontece para que os índios possam viver entre os seus similares para que não percam a cultura e também disse que esses índios não estão presos ou restritos a esses territórios. porém, a triste realidade é que eles migram desses territórios para sobreviver, e acabam vivendo marginalizados em grandes centros urbanos trabalhando com reciclagem ou como empregados domésticos. há também no filme, o chocante ritual religioso das meninas índias, onde elas queimam a sola dos pés na brasa e depois fazem buracos em um rio congelado e mergulham o pé lá dentro. nunca pensei que índios viviam no gelo. esquimós, mas não índios. será que esquimó é um tipo de índio? bem, não sei, mas eu sei que é difícil viver na marginalidade, em um lugar onde você é diferente dos outros. ás vezes, sim, eu quero explodir uma filial do wall-mart.




elsewhere:

no último vinte de junho sim, eu competi minha primeira competição master de atletismo, o I festival de atletismo do cepeusp 2015. ganhei quatro medalhas bem bonitas. a competição foi fraca e não consegui fazer marcas boas. das quatro, foram 2 ouros (salto em distância e revezamento 4x400m), 1 prata (arremesso de peso) e 1 bronze (100m rasos), todos na categoria 30 a 39 anos. sim, tive de parir um selfie bonitinho para mostrar as medalhas:



a melhor parte, a melhor vitória, é ver pessoas de mais de 60 anos fazendo esse esporte incrível com tanta paixão e alegria. a melhor vitória foi ter decidido que eu quero treinar e competir esse esporte pelo o resto da minha vida.


veja mais:
http://www.cepe.usp.br/?news=i-festival-de-atletismo-movimenta-pista-do-cepeusp

ah! no mesmo vinte de junho, a fflch perdeu a semi final da copa usp de voleibol para a escola fascista politécnica. aliás, sim, a fflch perdeu, eu não perdi nada, pois fiquei no banco o tempo inteirinho, pois o treinador não me julga capaz de entrar em quadra em um jogo difícil por apenas um minuto. afinal eu só sirvo para cobrir faltas dos titulares. não é injusto, mas não é bom para o meu ego. abandonei a equipe de voleibol da fflch por tempo indeterminado. preciso me dedicar ás minhas prioridades, tenho um recorde para bater em outubro.


XOXO

26 de jun. de 2015

A BAIXA SOCIEDADE

imagem: família tradicional brasileira

não sei por que eu como em uma mesa não sei porque durmo em uma cama despeito á alta sociedade vejo logo todos nós na baixa sociedade indiozinhos e africaninhos é o que somos a mesma coisa até que não consigo entender o racismo eu não sou branco apenas pareço um pouco pálido papai me bateu tanto ao que apenas tentava copiar a alta sociedade eles sim espancam as crianças nós não mas papai não sabia e agora cá estou tentando possuir aquele animal mesmo sabendo que o tal morrerá esse é um fio permanente enxergar a clara possibilidade de ter o animal e ter a certeza de sua morte temo que uma hérnia poderá afetar ou matar o seu imenso pau quando eu vou a competir em esportes com os outros animais e fico olhando as pernas grossas tão grossas antes disso uma grande fila de animais para fazer a inscrição uma confusão noite passada passei um tempão na cama tentando sonhar eu tentava e tentava mesmo dizendo para mim mesmo tão alto que se tratava apenas de fantasia e ainda não conseguia colocar a fantasia dentro do sonho é um problema até já tratado na minha literatura a vergonha de sonhar depois do treino eles apagam as luzes da pista e então um grosso animal cai sobre mim minhas costas na grama e ele não se importa com os formigueiros e ele não se importa com os pernilongos e eu mesmo não me importo com os formigueiros eu mesmo não me importo com os pernilongos mas leio o começo do texto sobre o problema dos tipos de sociedade e veja por que tenho vergonha se sonhar.


imagem: animais competindo

XOXO

15 de jun. de 2015

O PULO DO GATO

lembro que planejava escrever aqui antes. não o fiz porque estava chateado por não ter sido convocado para a seleção de atletismo da usp para os jogos regionais em julho. eu não teria como, pois terminei apenas em 9º lugar no salto em distância na segunda etapa da copa usp em 17 de maio passado com a marca de 5,49m. além disso, eu tinha apenas a décima marca do ano entre os atletas da usp no momento da convocação. que vontade de chorar. que ódio. como diria seu jorge. fiquei triste porque veria os garotos da fea, da med e da poli treinando para a competição enquanto eu ficaria apenas olhando.

mas passou o ódio. no presente momento, eu posso treinar saltos horizontais, posso cursar a minha segunda faculdade. se eu olhar para dois anos atrás, eu era um viciado em cocaína, sedentário e tinha um relacionamento com um viciado em crack, pobre e grosseiro, parasita e feio. bem, agora estou aqui produzindo um salto de 5,49m. não é tão difícil, mas não é tão fácil. tente em seu quintal. é como o salto da tenente ripley sobre um precipício em um dos filmes da série 'alien', se você se lembrar.

estou treinando a paciência e a perseverança também. meu joelho direito está melhorando (tive uma pequena lesão na copa usp, o que me impediu de fazer o melhor nos meus treinos por duas semanas) e na última sexta feira eu consegui fazer bons educativos de salto com boa verticalização. possivelmente, eu vou fazer minha primeira competição master ever (sim, eu já tenho 30) neste sábado, no cepeusp. depois disso, vou começar o treino de base para me preparar para as competições do fim do ano, que são as mais importantes. estou excitado para empurrar carros. minha meta é terminar o ano saltando além de 6 metros e terminar o ano com uma das cinco melhores marcas da usp no salto em distância, pulando que nem uma bariba, correndo como um ladrão.



de acordo com o imbd, hugo guimarães é um ator, conhecido por atuar em três filmes (logo, serão quatro). seriam cinco se gustavo vinagre não tivesse ficado doente quando filmaríamos um curta para o 'pop porn festival'. gustavo acabou por mandar seu "nova dubai" (onde também atuo).
tenho menos estrofes para escrever aqui sobre o cinema, mas eu ainda continuo frequentemente comprando ingressos de cinema quase todo final de semana. até em shoppings estou indo. até pipoca com manteiga estou comendo (ao ver filmes blockbusters, claro). vi o 'jurassic world' no último sábado. depois, vi 'os pássaros' do hitchcock no cinema pela segunda vez na vida, em uma sessão semi vazia, tranquila. sem nenhum sono. prestando muita atenção. nem lembrava o quanto esse filme é brilhante. "perfeito e eterno", como diria um crítico na primeira revista de cinema que comprei na vida, quando eu tinha 13 anos. a extrema atenção deve ter sido por causa dos três tiros de cocaína que fiz no meio da tarde. tinha esquecido como é bom. e como é bom um homem com cocaína.


de acordo com a livraria da folha, meu primeiro livro está esgotado. bom. graças á deus. serei a xuxa e vou esconder de todos as últimas cópias existentes. 
de acordo com todas as livrarias do mundo, meu segundo livro sequer existe. existe para mim. existe na minha casa e nas mãos de algumas dezenas de pessoas. e estou orgulhoso. muito orgulhoso. mais do que qualquer garoto que metralha o professor de literatura todas as noites com questões que pensam ser excelentes. mas eles não são excelentes. nem os garotos nem as perguntas. eles procuram a mesma coisa que carlos drummond de andrade sempre procurou: ser excelente. a diferença é que carlos conseguiu. meu primeiro livro de poemas... deus. bem, não estou com vergonha dele. eu só acho que eu poderia ter feito melhor e com a mesma proposta. hoje eu não posaria de cuecas na capa. lembro da minha primeira mesa de literatura. eu tinha vinte e quatro anos, mas eu ainda era tão tolo... deus. eu ainda não gosto do carlos drummond de andrade, mas agora, eu sei exatamente por que eu não gosto dele. eu fui aceito na universidade de são paulo para o curso de letras  no ano passado. dois de três professores de literatura que tive, são fãs do carlos. a parte boa é que eu acredito que eles devem gostar de qualquer análise de poema que eu fizer. o professor do iel 1 me deu nota 8 por uma louca análise que fiz do "o útero é do tamanho de um punho" da angélica freitas. uma das idéias daquela análise, era criticar o feminismo, por exemplo. agora eu tenho planos piores. vou analisar o "morte no avião" do carlos e vou mostrar na análise o quanto ele é excelente, é claro, mas também deixarei claro que não gosto dele. e não acho que o professor irá me reprovar. 

meu terceiro livro sim, irá. estará nas melhores livrarias no segundo semestre deste ano (vide post abaixo). e isso me faz mais orgulhoso do que saltar 7 metros, ou do que ser uma animal como sophia longoni. isso me lembra que o glorioso time de voleibol masculino da fflch jogará a semifinal da séria principal da copa usp contra a fascista escola politécnica neste sábado. veja uma imagem do nosso time após bater o ime, a medicina e a farmácia, para terminar em primeiro lugar do grupo.



de pé (left to right): lucas gonzaga, bruno fleischer, sinei sales, roberto antiga, cauê ranzeiro.
abaixados (left to right): eu, joão melo, pedro castellan, luca kauffman, caio de giovani, filipe. 

#eusoufflch! ha!

XOXO



8 de mai. de 2015

SOB A LUZ QUE NÃO NOS ALCANÇA

leia texto da querida Micheliny Verunschk, escritora fodaaaa, para a orelha do meu romance "O tiro de um milhão de anos" a ser lançado este ano pelo selo pasavento da editora reformatório:

Sob a luz que não nos alcança

Há uma luz continuamente presente e tão ofuscante que traz consigo sua própria escuridão, uma luz circundante, mas que não nos alcança no comum dos dias, no rastro do cotidiano. Perceber essa luz é precisamente ser contemporâneo, algo raro, como nos diz Agamben, porque enxergá-la “é, antes de tudo, uma questão de coragem: porque significa ser capaz de não apenas manter fixo o olhar no escuro da época, mas também perceber nesse escuro uma luz que, dirigida para nós, distancia-se infinitamente de nós”. É essa luz e esse escuro que a leitura de O tiro de um milhão de anos, romance de Hugo Guimarães, evoca .

À primeira vista, o mundo criado pela narrativa sugere uma paisagem para além do real, um daqueles mundos alternativos que surgem, com maestria, vez por outra, no cinema e na literatura, como a futurista Los Angeles, de Blade Runner, para citar apenas um exemplo. Entretanto, nos entreatos da leitura, o leitor vai percebendo, não sem algum horror: é deste mundo, é deste tempo no qual vivemos que parte a narrativa. Um mundo em decomposição, atravessado por severas perdas de sentido, por uma apartação desagregadora entre o ser humano e instâncias poderosas como a beleza, a natureza, o sonho.

Na travessia por São Paulo, essa megalópole que é uma mãe com colo de arame, mas ainda assim, uma mãe, a personagem Corvo, uma mulher de olhos azuis e alma despedaçada, oscila entre o voo e a queda, o amor e a repulsa pela figura materna, pela própria vida. Essa personagem principal, cuja agonia se desnuda ao leitor, é interessantíssima. E cabe aqui, ainda que brevemente, recuperar a mitologia do corvo, figura polêmica e ambígua que, como trickster, herói/vilão/trapaceiro, se situa no limiar entre dois mundos, o terreno, e o espiritual. Sobre o Corvo, Claude Lévi-Strauss comenta: “o pensamento indígena situa o Corvo no limiar entre duas eras (…). Já não se pode fazer qualquer coisa. O trickster descobre isso — muitas vezes ao custo da própria integridade”. E é essa a trajetória da personagem, atravessar limiares, estando ela mesma no limite: “Desisti de cometer suicídio ao pular na linha do trem desde que percebi que trens são lentos demais”, diz ela, nesse romance que tem, na sua experimentalidade, a possibilidade também de ser uma memorabilia ou, quem sabe, transformar-se numa carta de despedida, esse estranho gênero epistolar de que faz parte os últimos escritos dos suicidas.

Essas referências me sugerem uma atualização/apropriação poderosas das narrativas míticas. Os mitos, como se sabe, sempre serviram para explicar poeticamente um mundo que, aos humanos, parecia excessivo: barulhento demais com seus trovões, assustador demais em suas decomposições. Num estar contemporâneo fraturado por perdas absurdas, vícios severos de estar na moda, novas formas de morte (como os caixões de 50 metros quadrados vendidos pelas imobiliárias), Corvo, e a escritura de Hugo Guimarães, surgem como elementos capazes de transitar entre polaridades, atravessando os mundos, como um psicopompo num tempo em ruínas mas, ao mesmo tempo ensinando que “atirar-se de um prédio não é a única forma de um ser humano voar”. Ensinando como estar de olhos abertos para a luz absurda do que chamam “contemporaneidade”.



Micheliny Verunschk

XOXO

27 de abr. de 2015

FRANGO ATIRADOR

prolonging the dream:

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did you even pop yourself ode to rejection, piece of crap? that guy had a big dick and even smiled while public indecency. a lovely smile. does anyone smile doing it? I don’t. I just make a thirsty face. and he was ugly. I mean the other guy who half accepted me. he wasn’t fully ugly at all, he was just a half ugly. that half acceptance made him fully ugly. last dick I sucked I guess it was a little dirty. last one, you full of crap? did you even pop yourself after that lovely smile guy, smile against you. he may be gone to a motel to that chubby blonde who sucked him off, while I went to buy bacon. I can avoid it. the one and the most serious form of humiliation of my life for sure, men, was getting out of my life forever. don’t need them. and how many times did you took this extreme decision? how many times have you been extreme, you extreme piece of crap? this time, I won’t tell to myself I’m good, well I shall be really not. not while being so vicious. tnstead of tell me good things I’ll tell to myself are you popping yourself again, piece of crap? are you sucking a dick again, piece of crap? making men muses at street again, piece of crap?

I don’t have hate in my eyes here during lunch, don’t misunderstand it. it’s just hurry. hurry about end of the life, ok? what does it rest besides all these dirty cocks around? my inability of performing a good long jump and my knee pain, which stops me to try it. untouchable after thirty. Did life has just began?
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more than ashamed to dream, now I’m sure that dreaming is not a good Idea.
when I think of the man I want and then I see myself, I’m sure that something doesn’t match.
do you like to keep your fit and hot body and your face in the mirror? that’s just good parts, but still is not enough. ‘not enough’ I say to the mirror.
when I was younger, I felt that something good was about to happen to me. I feel that the world believed me. but now it doesn’t anymore. I don’t believe that anyone around me still talks about me when I believed, when I was younger. now I feel that it’s just question of time to people stop to respond when I talk to them.
I used to dream of being spanked by a pretty guy as a last lust trial but [or being killed by a pretty guy].  well, why should a pretty guy spank me? an ugly guy should spank me. or kill me. then should I spank a pretty guy? or kill?
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é lamentável que muito da minha vida tenha praticamente se resumido a isso. não sei se é amor ou vício o que sinto por esse esporte. só sei que penso muito em salto. melhorar o salto. quase o tempo inteiro. tanto que fui a são carlos. eu não estou entre as vítimas no nepal. são carlos é o lugar mais longe em que estive nos últimos tempos. só o que tremeu em são carlos foi a fflch. c.u.p.a. (copa universitária paulista) evento este que reúne o grêmio fascista da usp são carlos, a caaso, alguns cursos de engenharia, todos com pessoas bem nutridas e conservadoras, a eefe da usp e a fflch... perdemos tudo. só um tenista ganhou medalha. e um fundista. só. eu não ganhei nada. bonitinho meu salto, né? uma pena que o tim maia que aparece no vídeo de fiscal de tábua o invalidou criminosamente. difícil ir até a fascista são carlos, dormir mal, comer mal, ter treinado com dor, competido com dor. além disso, minha linha do gráfico de performance no atletismo esteve diminuindo mesmo antes do cupa. saltei apenas 5,17m na primeira etapa do tuna. saltei apenas 5,12m na copa usp. longe dos 5,78m que fiz no início da temporada. eu havia abandonado a musculação por um mês. é por isso, eu sei. eu acredito. fiz um triplo de apenas 10,27m também na copa usp, para somar pontos para a equipe da fflch. somei. torci o pé no quarto salto. ainda fiz os dois últimos saltos. a árbitra me deu parabéns por ter continuado na prova. o rafael da poli, vice campeão, também me deu parabéns. terminei a prova em sexto lugar. o rafael, dge da minha equipe, depois que eu pedi gelo para o meu pé torcido, apareceu com o gelo e um salgado na boca um tempão depois, quase no final da prova...
voltei para a musculação. voltei a me dedicar a musculação e ver vídeos da tatyana lebedeva no youtube. a segunda etapa da copa usp será em algum dia do mês de maio. espero ter notícias melhores.
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elsewhere.
é meio triste que tudo o que não tenha a ver com atletismo apareça em "elsewhere". nem a capa do romance que publicarei esse ano escapou do atletismo. a ideia para a capa é a imagem de um corpo saltando, em pleno voo. alicia peres fará a capa. a mesma fotógrafa que trabalhei junto no curta metragem "corpo do texto - nossos ossos" em que protagonizo. 
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elsewhere 2:
o meu primeiro livro, "poesia gay underground: história e glória" está esgotado. não é mais possível encomendar nas livrarias. ainda existem algumas cópias espalhadas em algumas livrarias por aí. bom que esteja esgotado. agora, quem quiser um, terá de pedir para mim. envio autografado para todo o brasil, para todo o mundo.
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elsewhere 3:
agora, dois anos depois o senhor quer colocar algo do meu segundo livro "o estranho mundo" na sua revista? legal que quando o livro foi lançado e eu precisava de uma força você não quis colocar. agora que você não deve ter nada para colocar na sua revista, você me pergunta se pode colocar algo do meu livro? 
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XOXO

3 de abr. de 2015

DERROTA EM CRISTO

hum, lembro agora que quando eu era criança, distribuíram um mini exemplar da bíblia para todas as crianças. era azul, bem pequenininha e parecia que tinha uma capinha de couro. e durante um ano eu me sentia uma criança culpada e um pouco má por nunca ter vontade de ler. ou por abrir as primeiras páginas e não entender e/ou não me seduzir. é isso o que chamam de "educação religiosa"? o brasil por acaso tinha deixado de ser um país laico durante aquele momento da minha infância? como assim distribuíram bíblias para as crianças na escola? distribuíram. a catequese. lembro também. todas aquelas crianças tolas que achavam que estavam na "casa de deus" durante aquelas aulas fascistas. uma deixava escapar um palavrão e a outra criança reprimia "por favor, estamos da casa de deus!!". a casa de deus não é a sua casa também? não, a sua casa é o mundo, onde você pode ser absolutamente escroto. e você foi, tenho certeza eu. era já, inclusive. desculpa, é que eu nunca entendi a parte do perdão. aqueles católicos afeminados da catequese, acho que eles não confortavam ninguém, não podiam perdoar ninguém. a culpa e o inferno sempre estiveram muito mais presentes na minha cabeça durante toda a minha formação do que o perdão. comecei a me sentir parte do inferno quando comecei a me masturbar na adolescência. será que se eu fizer embaixo do cobertor deus não vai ficar sabendo? eu sentia culpa. quando eu era adolescente, acho que os pais não falavam sobre sexo com os filhos como falam hoje, talvez. meu pai nunca me disse que masturbação é ok e que eu não deveria sentir culpa ou vergonha. demorou muito até eu me sentir confortável com o inferno. 

a consagração das chamas do inferno aconteceu também na minha adolescência quando eu percebi que sentia algo a mais pelos garotos além da mera admiração que eu sentia na infância. eu não queria só a companhia, na adolescência comecei a querer a carne também. 

sabe de uma coisa?, eu sequer pensei em negar quando a minha mãe disse que eu deveria fazer a catequese. não era sequer medo de a minha mãe se zangar. por incrível que pareça, era medo de deus se zangar...

oh crap... eu comprei um ingresso para ver o filme alemão "14 estações de maria" no espaço itaú de cinema no último sábado, mas me senti mal e fui para casa. o filme falava justamente sobre esse assunto.



minha mãe? ela levou a vida toda até finalmente decidir pelo budismo nos dias de hoje. é uma pena ela não ter decidido por isso antes. teria me poupado uma infância inteira de desentendidos bem desagradáveis. ou teria pelo menos tornado a coisa menos explícita. acho que minha mãe apenas se tornou menos desagradável após se tornar budista. bem menos de quando ela recebia um testemunha de geová na nossa casa para ter aulas. e a menininha, filha dela, acho que esquecia moedas no meu quarto de propósito para "testar" a minha honestidade. graças a deus, aquela testemunha de geová não conseguiu convencer a minha mãe a converter-se.

passei ainda boa parte da adolescência segurando a barra do inferno quando eu finalmente concluí lá pelos meus vinte anos, que eu era sim uma pessoa decente, boa e que merecia respeito e amor como qualquer outra de qualquer credo ou orientação sexual.

e agora? será que cristo está mesmo voltando? pelo menos o ódio aos gays parece estar aumentando... o ódio em geral, inclusive. você fez mesmo a idiotice de comprar peixe para fazer hoje no almoço? fez a idiotice de comprar um ovo de páscoa caro pra cacete só por causa da dificuldade em produzi-lo e a dificuldade na logística em trazê-lo até o consumidor? esses ovos não deveriam vir com um jesus de chocolate dentro? não é isso que simboliza? não quis nem comprar ovos nem ir comer peixe com o meu pai hoje. e estou seriamente desencorajado em comemorar o natal em família no final do ano. não sou católico. eu poderia ter feito qualquer coisa no natal do ano passado. e no ano novo do ano passado, fui gentilmente desconvidado a passar a reveillon com meus pais "vá para a paulista, hugo. vamos sair". tive que inventar que o pessoal da faculdade me convidou para uma festa de virada de ano, mas não tive pra onde ir, ninguém me convida para nada. passei a virada em uma sauna. e o pior é que eu gostei.

eu acho que acredito em deus assim como eu acredito em shopping centers. quando você anda em um shopping center, há de se pensar que o shopping center não funciona sozinho. alguém é responsável por manter aquele shopping center funcionando. assim acontece com esse planeta: não é possível que o processo de rotação aconteça tão perfeitamente, a noite e o dia. o ar, a água... alguém está gerenciando tudo isso e talvez esse alguém possa ser chamado de deus. mas nunca a igreja, nunca. esses homens aqui embaixo que construíram essa instituição maléfica, não podem continuar governando pessoas, sendo responsáveis por crianças crescerem sob opressão e culpa, assim como eu cresci. "fuck church" é o que eu escrevi na minha malha para competir atletismo. tenho muito orgulho em competir com ela. a copa usp de atletismo acontecerá no dia do meu aniversário em 11 de abril. deus me ajude.

XOXO

6 de mar. de 2015

QUANDO EU TINHA 15 ANOS, EU NÃO SABIA ONDE FICAVA O MASP



‘você não é importante. o seu trabalho não é importante. você não o faz pelo amor a arte. você só o faz porque deseja sentir-se relevante de novo. você nem mesmo tem uma conta no facebook. você nem mesmo existe. e está produzindo uma peça baseado em um livro de 60 anos atrás para um bando de velhos brancos que estão apenas preocupados em comer bolinhos após assistir a sua peça.’ Birdman.

boa parte da intenção do suicídio é ter uma segunda chance. Birdman.

quando birdman não morre após a peça, após a intenção de morrer em cima do palco, a imprensa inteira o está felicitando, até a mulher-que-tem-cara-que-lambeu-o-rabo-de-um-mendigo escreveu uma crítica positiva sobre sua peça. tentar morrer é uma necessidade de ser abraçado. eu lembro.

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elsewhere 1:

quando se chega aos trinta anos, há uma sensação de que a vida acabou. principalmente quando se é homossexual e não há nem a intenção e nem a necessidade da procriação. ‘tenho a sensação de que já tive todas as sensações da minha vida, de que daqui pra frente não vou sentir mais nada de novo, apenas tímidas repetições do que já senti’. spike jonze’s “her”.

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a capa do DVD do filme ‘gravidade’ não parece convidativa aos que gostam de filmes de arte. os que gostam, duvido que muitos tenham percebido que sandra bullock está em posição fetal dentro da cápsula. ela está. note. só um ano depois vi ‘gravidade’. perguntei ao gabriel marchi ‘sandra bullock trabalhou direitinho dessa vez?’ e ele respondeu ‘sim, sim, ela foi muito bem dirigida’. um ano depois despencam os preços dos DVD’s dos filmes do oscar passado. já é pouco comum, pouco blockbuster ver sandra bullock e george clooney tendo um diálogo tão informal no espaço, flutuando fora na nave, procedendo reparos. repara que eles parecem espermatozoides gigantes? repara que george clooney sai de cena após o acidente como um espermatozoide sucumbe ao encontrar o óvulo? reparo também que a personagem da sandra bullock é alguém um tanto solitário. será que vale a pena tentar sobreviver? ou viver? aliás: ‘não é problema morrer. não é problema a morte. morrer é ok. mas o que incomoda é que eu vou morrer hoje.’ “gravidade”.

após chegar á terra, livrar-se da capsula, livrar-se do afogamento, a personagem de sandra bullock chega até a praia. até a areia. levanta-se e anda lentamente como uma criança andando pela primeira vez. 'gravidade' é uma linda fábula sobre o início da vida humana. e eu pensava que se tratava de um blockbuster...

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elsewhere 2:

bem, lembra-se quando postei frequentemente sobre o biffe (competição universitária da usp) no final de 2014? e que tive um péssimo dia saltando apenas 4,84m e terminando a competição em décimo lugar? pois bem, no dia 1º de março de 2015 participei da primeira etapa do tai (torneio de atletismo do interior), competição universitária não só da usp. tive um ótimo começo de temporada saltando 5,78m (essa marca teria me dado a medalha de ouro no biffe e teria me deixado a 5cm do recorde). terminei a competição em honroso quinto lugar:



no salto triplo, fiz 10,93m e terminei também em quinto lugar. essa marca foi apenas 12cm a menos que eu fiz nos jogos da liga em novembro passado. não foi um bom resultado, mas também não foi ruim considerando o que demonstrei nos treinos para essa prova neste início de ano...

veja abaixo um registro da equipe da fflch (de 2 pessoas) na competição. a lilian eloy foi um pouco melhor do que eu: ganhou duas medalhas de ouro:



abaixo, uma foto nossa com o treinador de arremesso marcelo cervato:



no dia 15 de março, vou competir na primeira etapa do tuna (que é a competição universitária mais forte que a fflch participa) e espero poder novamente saltar perto ou além de seis metros. aguardem notícias!

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elsewhere 3:

hoje eu assinaria o contrato com a editora para a publicação do meu terceiro livro, o romance “o tiro de um milhão de anos”, contemplado pelo proac. não vou assinar devido a pequenos detalhes no contrato que devem ser acertados. haverá um contrato. pela primeira vez uma editora me trata com respeito. estou feliz.

após ter a verba em mãos, primeiro pensei em um agente literário. um deles me passou todas as custas e serviços oferecidos de forma detalhada. pedi apenas um ou dois escritores como referência, mas estranhamente não quiseram informar. estranho. disseram que falariam com quase cem editoras e que mandariam meu livro para quinze que mais se mostrassem interessadas. será que mandariam mesmo? achei melhor não me indispor.

procurei uma editora de médio porte que queria que eu desse o valor integral da verba do edital e que eu não poderia opinar em nada, nem no projeto gráfico nem em coisa alguma. disseram que não aceitariam trabalhar com uma tiragem de menos de 1000 cópias. ou seja, eu teria de bancar boa parte da edição, teria um livro feio, com um papel vagabundo, e essas 1000 cópias ficariam criando teia de aranha no depósito para sempre, pois sei que eles não fazem nada para divulgar os livros. não vou dizer o nome da editora, mas começa com g e termina com iostri.

bem, a editora que estou prestes a assinar, foi recomendada pelo claudio brites (sem a ajuda dele eu sequer teria sido contemplado no edital). essa ainda é segredo, mas eu informo em breve! ;)

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acho que eu não quero falar sobre o título deste post. o tom do post acabou ficando mais positivo do que negativo. e amanhã é aniversário do meu pai.


 XOXO