11 de jun. de 2022

ME ACORDEM


 

Tudo o que tem na música é sexy. e fizeram um vídeo bem sexy para dela. os cinco meninos de meninos de uniformes, uniformes são sexys, o vídeo se passa em uma mesa me sinuca; na primeira vez que o vocalista aparece no vídeo, ele passa com uma puta cara sexy segurando se taca em posição em ereção

- Acorda, Huguinho

que hoje tem campeonato

-Acho que eu nem dormira

a não ser para levar um tabefe de um de vocês

para acordar

- Aí sim, eu fingiria dormir.

***

Descrição do episódio

Uma São Paulo cheia de água, com acidentes nas esquinas e pessoas alardeando o iminente fim do mundo. Chove lá fora. Sem parar. Mas é o que está do lado de dentro que importa mais. Não só dentro de casa, uma república dividida com outros homens. Mas dentro de Igor, este narrador pessimista e irônico, que revira seus pensamentos ansiosos em busca de afeto. Num fluxo rápido e violento, ele conta ao leitor quem ele é e como ele é inadequado para o mundo. Escreve porque está tentando existir, ainda que não nos diga com todas as letras. É um homem gay, na casa dos trinta, bipolar, tem mãe excessivamente otimista e um pai violento, e tenta se curar de um coração partido. Ele repudia quem se aproxima, mas no fundo busca afeto. Flerta com a morte e sua narração acompanha sua bipolaridade, com picos de mania e de depressão. Igor na Chuva, de Hugo Guimarães, é o tema do sétimo episódio do Põe na Estante, em que a apresentadora Gabriela Mayer recebe as convidadas Beatriz Fiorotto e Camila Cabete. 

Este é um podcast apresentado por B9 e produzido por Rádio Guarda-chuva. 

IG: @poenaestante  Twitter: @poenaestante 
E-mail: poenaestante@gmail.com 
Arte: Arthur Mayer 
Trilha: Getz me to Brazil, Doug Maxwell

set. de 2020 54min 7s

EPISÓDIO DE PODCAST

Igor na Chuva, Hugo Guimarães

Põe na Estante




20 de mai. de 2022

IGOR NA CHUVA, por Ney Anderson

 


Por Ney Anderson

Toda prosa tem um objetivo a ser alcançado. Seja a realização de uma experimentação na estrutura do texto, na elaboração dos diálogos, nas cenas, nos cenários ou na criação de uma história original. E principalmente a concepção do (ou dos) personagem. Esse, quando bem feito, tende a transformar o que está sendo lido em algo, de fato, maior. É quase impossível criar uma boa história sem um personagem interessante. Ou o conjunto deles. Ao criar o personagem, o autor está carimbando a sua obra de forma gloriosa ou medíocre. É na primeira situação que se enquadra o romance Igor na chuva, de Hugo Guimarães, publicado pela Folhas de Relva. Mesmo sem saber, já que o livro foi escrito muito antes da pandemia, Hugo criou um personagem que representa exemplarmente as angústias dos nossos dias. Quando estamos prisioneiros da incerteza.

O enredo apresenta o personagem-título Igor, um homem de 30 anos, gay, atleta universitário, morador de São Paulo, que se sente um fracassado e toma fortes remédios para depressão, e que está no meio de um pandemônio, já que o mundo sofre com uma chuva ininterrupta há vários dias. A capital paulista, portanto, está um caos. Mas a confusão maior reside justamente na cabeça do protagonista da história, que vive só em uma quitinete (no momento sem energia elétrica), com uma gata, tendo que lutar fortemente com os dois mundos. O exterior e o interior. Ele tem a estranha mania de estar sempre na companhia de um martelo de arremesso.

Aqui o leitor acompanha os recônditos de uma mente em ebulição, sempre em estado de perturbação. É uma conversa bastante íntima consigo mesmo, tocando em feridas reais. Lembranças de amores e relações passadas. É impressionante a densidade dos pensamentos, na maior parte carregada de ódio, de uma vida profissional deteriorada, voyeur de paixões não correspondidas, de relação conflituosa com a família, onde só a mãe é o seu exílio.

Igor é um homem em conflito permanente, que vai expressando todos os sentimentos de forma crua, em carne viva. Passando a vida à limpo. Sonhos e pesadelos fazendo parte do mesmo pacote. O narrador fala para a plateia invisível, que na verdade é uma multidão. Sobre as agruras da vida, de não saber se será (ou se já foi) amado.

“Quando o silêncio derrotou minha cabeça, e o quarto e os objetos somaram-se ao silêncio com tanta eloquência, todos me olhando, me dizendo para sair de casa, eu disse “ok, eu vou”.

É uma prosa autocorrosiva, autodestrutiva, mas de um incrível lirismo. Onde o leitor vai se embrenhando no tormento do personagem. Em constante busca por fraternidade. Igor é alguém que sai da cama tarde e não tem vontade de seguir. Mas que acaba seguindo o seu destino mesmo assim. O martelo de arremesso, por exemplo, pode representar justamente o peso, o carma, o fardo da sua existência fragmentada. O seu cordão umbilical.

A construção narrativa é muito potente, de forma a dar conta da confusão mental de Igor. É um desafio criar um solilóquio, dentro da técnica do fluxo de consciência, para representar a mente confusa de alguém. Porque o personagem precisa ter profundidade e muitas questões mal resolvidas para realmente sugerir o deslocamento real da existência. Em nenhum momento o personagem de Hugo Guimarães causa desinteresse, mesmo com a sucessão de situações, que se dividem entre os monólogos e os solilóquios. Na medida em que a loucura de Igor vai aumentando, e explosão se torna literariamente mais atraente. As reflexões e críticas ácidas sobre o que é ser gay no mundo de hoje, que não é muito diferente do de ontem, dá um tom importante à narrativa.

O leitor passeia por uma mente corrosiva, que não polpa nada, nem ninguém. Nem a do próprio protagonista. Que, segundo ele mesmo, não aprendeu a sorrir. Principalmente por se sentir rejeitado pelo mundo. E acaba também tendo essa repulsa ao outro. No vai e vem do que narra, ele fica às voltas com as lembranças e na obsessão de uma paixão não correspondida por um certo garoto louro.

Em determinado momento, já no meio da obra, o protagonista sai de casa para tentar chegar a universidade e ir treinar. E encontra, claro, o clima de fim do mundo pelas ruas de São Paulo. E consequentemente pessoas que não dão importância, achando que o apocalipse é apenas uma chuvinha. O olhar de Igor para a cidade é intuitivo, sobre o que sobrará da nação se o mundo não acabar de verdade. Um país, segundo ele mesmo, que deixa os doentes à mingua não vale muita coisa. O olhar dele vagueia por vários lugares, através da viagem por uma dor que não se explica facilmente, mas que Hugo Guimarães faz tão bem. O autor mostra a literatura como um campo metafísico, onde todas as frustações ganham corpo, em cenas carregadas na estranheza da realidade eclipsada.

É um texto pesado em várias ocasiões, que mostra tudo de uma forma muito crua. As dores e os amores de Igor. E também pessoas mortas, meio mundo de desgraça e ele simplesmente andando no meio do caos, vestido apenas de cueca e arrastando o martelo.  Igor é alguém de um imenso vazio. O tom agressivo é reforçado emblematicamente nos encontros no vestiário da universidade (quando ele, enfim, consegue chegar), em cenas de sexo gay, onde o prazer é suplantado como uma espécie de penitência. Ele, inclusive, sempre encontra formas de se machucar. São cenas onde o ser humano está perdido na própria epopeia. Enquanto o mundo exterior acaba, o interior do personagem apenas reforça o caráter de deterioração em pleno estado de permanência. Em alguns momentos a narrativa vai sendo ricocheteada para diversos lugares, mostrando a desorganização mental do narrador.

“A crise vai acabar antes do divino dilúvio? Tanto faz. O mundo é – o planeta é, a humanidade não passa de uma arca furada”.

O livro não tem uma estrutura definida. Não existe necessariamente o desenvolvimento de uma trama, pois o enredo é autocentrado na mente de Igor. Na verdade, funciona mais pela fragmentação, do que por um enredo lógico. É o estado de torpor muito bem trabalhado, que causa incômodo ao leitor no primeiro momento. Porque a mente de Igor é um túnel submerso com vários caminhos. A ficção como arte de supressão dos sentidos. Da vivência catastrófica com o mundo.

Se é possível estabelecer um tempo cronológico para este romance, a história se desenrola em algumas horas. Mas isso é puramente subjetivo, porque os tempos de Igor são outros, em constante idas e vindas. De uma memória que não é fotográfica, é elipsada, de compreensão difusa, por vezes, para quem está de fora. Mas que faz todo o sentido na proposta da obra. Os conflitos aqui fazem jus ao termo, trabalhados com muitas doses de ironia.

A ficção suporta todas as loucuras e todo o caos. Hugo Guimarães experimenta como ninguém essa afirmação. Esse pequeno grande livro é como uma Bomba H, que não deixa nada sobrar depois que explode. A partir da mente labiríntica (e eclipsada) do narrador, vamos sendo engendrados por pesadelos reais, angústias palpáveis, e um sem fim de perturbações do personagem que, ao tentar se descobrir, acaba falando mais sobre o mundo ao seu redor.

“Os piores fantasmas são os fantasmas vivos, e eu sou um deles”

É uma escrita catártica, que tenta jogar a sua carta ao mar. Não por acaso, em uma cidade que está se desfazendo em água. E o enorme simbolismo que isso representa. A mesma água que é necessária para a vida, mas que também pode causar destruição.

O êxtase do término da leitura não é por algum contorno feliz (que não existe), mas porque esse personagem é um derrotado pelas circunstâncias da existência. O esplendor de Igor, no entanto, é ser quem ele é. Mesmo isso lhe custando muito caro. Em determinado momento, o personagem se pergunta: “será que a vida é mesmo sobre morrer na praia após nadar tanto?”

Parece que sim.  

XOXO

18 de mai. de 2022

VENENO



Só um dia

Um dia mega estressante

Um dia massacrante

 

Mas eu, não tenho escolha

Tenho de passar por isso

 

Sinto por

Não poder sentar na sua

Mesa-tumba

Ouvir essa merda

Dizer ok


***


Nunca pude tomar banho de chuva

Ela matou meu cachorro com veneno.


(Hugo Guimarães)


XOXO

9 de mai. de 2022

MOLETON SUJO


 


Eles fazem cara de nojo antes de você

flertar e pode enfiar no rabo essa cara

de nojo, eu não ia flertar porque eu sei

o meu lugar e não tenho a menor intenção

de tentar. Uma das bichas do escritório diz,

"Não existe homem hétero, existe homem

hétero mal cantado" se é loko, paguei

R$10mil no meu nariz, não quero ele

quebrado por um boçal. Todos eles são

educadinhos comigo no escritório, mas

quando me encontram no banheiro, olham

para mim como se eu fosse a Linda Blair

ele diz

- Até amanhã!

e eu engulo

- Gente falsa!


Elsewhere:


O estagiário cristão me mandou por 

whatsapp um vídeo desmerecendo a 

esquerda e a Simone de Beauvoir

só porque fui trabalhar outro dia

com um moleton da URSS

Ele é ingênuo demais para separar

autor de obra, nada do que foi feito

ou inventado sobre Simone e Satre

não tira a grandeza de "O Segundo Sexo"

a parlamentar de direita, uma idiota

é incapaz de entender isso

é incapaz que isso nada tem a ver

com mentira ou verdade

Eu acabei questionando o garoto

se existem provas da existência de Jesus

ele disse que tinha várias e começou 

a procurar na internet, mas não achou nada

assim como Bolsonaro afirmava ter provas

contra fraudes nas eleições e quando chegou

a hora de mostrá-las, ele simplesmente

não as tinham. 

Eu chego a ter pena de um garoto

tão jovem, tão inteligente e cristão

extrema direita.

e ter de olhar para a cara dele

todos os dias.


Elsewhere 2:


Sinto falta dos tempos

em que fumava-se

em ambientes fechados


***


Percebi que não preciso dele

Só um moleton sujo dele serve


***


Ou se tem o pau

Ou se tem a cabeça

Ou finalmente

Se tem o homem.


(Hugo Guimarães)


XOXO

28 de abr. de 2022

ANA ÓDIO

 




"ANA ÓDIO"

Agora eu entendo a homofobia quando um homem lindo estático é atacado por uma vagabunda e eles se beijam e eu já sei que eles vão se beijar, eu penso “que nojo...”, mas é pura inveja assumir é parte do entendimento.

Quando uma vagabunda vem correndo trepa no homem prende ele com os braços no pescoço prende ele com as pernas na altura na barriga como uma cobra roçando aquela boceta na barriga dele eu penso “que nojo...”

Acho que é o que resta para uma pessoa tão infeliz “Ódio” e não estou sozinho e não estou sozinho deve ser mesmo o fim da vida quando penso no casal de números que formam minha idade o que sinto é que é bem difícil avançar que dá pra avançar mais um ou dois números e você nunca terminou aquele “Cemetery blues” que você começou há tempos.

Eu sei, mãe; que você não me enxerga deitado não enxerga o sofá só enxerga a sujeira do sofá.


I

Nunca pude tomar banho de chuva

Ela matou meu cachorro com veneno


II

Fui mais um que me livrei das coelhinhas da Playboy

E quando estou de quatro sou bem do tamanho de uma raposa


III

A vida cerrou-se

Em arquipélagos de ilhas desertas

Nunca saí daquela em que nasci

Hoje as águas são muito quentes

E por isso, perigosas

Houve um tempo

Em que as águas não eram tão quentes

 

E eu sempre fui preso

No meu calabouço cibernético

A porta sempre aberta

Não necessariamente,

É uma chave que te prende

 

As malditas montanhas de rocha

Não derreteriam minhas asas

Não derretem minhas asas

Anjo

 

(Hugo Guimarães)


XOXO

 




18 de abr. de 2022

GELEIA DIET DE FRUTAS VERMELHAS

 
Grasss é l to r:


João Cavera: Bateria
Fernando Bocaletto: Guitarra
Hugo Guimarães: Vocal





"35"

Letra: Hugo Guimarães

Música: Grasss

Jam de 16.04.22


XOXO

 

9 de abr. de 2022

T.C.B.W-H.G.A.P.

 

Talvez fizeram de propósito

Depois do especial sobre a fome vem o Lollapalooza

Certa vez meu ex-amigo babaca que virou extrema direita

Que passou um mês nos E.U.A. e acha que é americano

Que se "incomodou" quando comentei que eu gostava de Primal Scream

Ele respondeu "só americano conhece Primal Scream"

Quando ele servia mesas ele dizia coisas sobre a travesti da faculdade

como "já imaginou se alguém abaixa a calça dela e aparece aquele pinto?"

Agora diz

Para quem você ainda fala sobre aquela coqueluche?



Ainda estou mortificado

Fui eu, fui eu o coadjuvante daquele bullying

que aquele fascista fez contra o seu irmão


h.g.


XOXO