12 de nov. de 2020

NINGUÉM VAI QUERER ME ESTUPRAR

Depois de muito analisar

Eu concluí que

Ninguém quer me estuprar

E se houvesse

O estupro seria para lá de longe

Do o que provido por este

Mesmo romântico idealismo

 

Meu corpo mudou

Pra pior

É recuperável

Mas ninguém,

Ninguém te perguntou, Hugo

 

O esporte desembocou

Em um precipício

Em uma cachoeira assassina

 

Anos e anos e anos

Pretendendo vender

Que minhas panturrilhas grandes

Foram esculpidas,

Mas foram dadas

 

Amor

Com você eu posso falar abertamente, não?

Foi o que respondi para a psiquiatra

O que eu buscava no esporte

Amor

Ela, seus dois olhinhos: pasmos

 

Luiz

Dialogava comigo

Até que a sigla FFLCH

Surgiu na conversa.

Ele não respondeu nunca mais

 

Henrique

É provavelmente

O garoto mais bonito

Que pisou naquela pista de atletismo da USP

Sequer aceitou meu pedido de amizade

 

Lucas

Elegi o homem da minha vida

Porque ele é um homem

Luiz e Henrique são duas bichinhas

Assim como eu

Mas eu escolhi o caminho

Do estranhamento

Do absurdo

Da honestidade

Nunca estive no armário

Steven Spielberg

 

Quem diria que

Os economistas são mais boçais e arrogantes

Que os engenheiros

 

Se eu pudesse dar um título

Para a minha miserável

Passagem pelo esporte

Seria “O Passado”

 

Tudo que eu mudar no meu corpo

Nos próximos meses

É para mim

 

Sei que ainda assim

Um anão da FFLCH

É insignificante

Um istmo

Nem mais, nem menos.

 

XOXO

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