2 de dez. de 2022

CORDA DA VIDA


"Corpo do texto: Nossos ossos" Dir: Thiago Carvalhães

Tenho dor nas cordas vocais. Mas tenho mais dor no coração. Não, a cover de “Territorial Pissings” não estava ruim, pelo menos não TÃO ruim como aquelas “pessoas horríveis” disseram, eram mais de nove mil, o que eu podia esperar? Gente pobre por dentro e por fora, gente racista, gente sem curso superior, metaleiro (que só sabe ouvir um tipo de som, não sabe abrir a cabeça), em nove mil pessoas há muita gente desclassificada, que nem importa quem está cantando, se importa que é veado da Vila Mariana, branco, vestindo um moleton da USP.

                Há meios.

                Há meios.

                Parar de cantar? Alguém deixa de saltar por causa de uma lesão na coxa? Alguém deixa de ser campeão olímpico depois de gravidez e cumprimento de dois anos de pena por doping?

                Há meios.

                Tenho fins.

                Deixar de ouvir qualquer instrumento que tenha cordas é um. Não aumentar o tom da minha voz para quem não merece é outro.

                Copa?

                Só se for com sala e cozinha.

                Balanço?

                Ano do “aprenda a deixar de ser trouxa”.

                Homens.

                Homem, eu quis dizer. Um já está quase impossível quiçá mais de um. Quatro anos sem namorar, espero que a minha irmã retire o trabalho no ano que vem, mas não vou descer o sarrafo, depois de quatro anos de pena e de ter parido uma prole, eu também mereço aquela medalha, eu também mereço aquele pódio e tudo o que venha junto com ele.

 

***

 

                Fui fazer o exame médico para a empresa nova. Não foi dessa vez que realizei o fetiche de ser abusado pelo médico. Ele tinha o dobro da minha idade e disse “Seja bem-vindo”, a enfermeira me bloqueou no whatsapp.

                Antes disso o Bojikian (ou alguém se passando por ele) respondeu uma daquelas minhas famosas mensagens inserções no Messenger no domingo à tarde. Ele ou um fake dele. Ele disse que podia me ver no domingo à noite e eu aceitei mesmo sabendo que eu não deveria passar a noite fora porque eu tinha de fazer o exame no dia seguinte.

                Comprei mimo. Tolerei seus silêncios, suas nuances.

                - Já são 23:00, está tarde, passa seu endereço.

                23:50 e ele não respondeu

                - Ah! Eu inventei a roda, mas eu não sou idiota. Se você me der bolo hoje, não espere que você vá falar comigo de novo.

                - Malz. Hoje não dá

                - Babaca

                - Segura esse rabo. Tenho mina. Quando der, te chamo. Hoje vou ficar só comendo a boceta da minha mina.

                - Cuidado, minas explodem.

                A foto de perfil dele não abre. Em nenhuma das fotos dele o rosto aparece.

                - Ele não se expõe muito, né? (Como diria Daniel Guarda)

                Ainda dei meu whatsapp. Ele sequer visualizou e me excluiu do FB. Esse é o meu veneno. 

               

*Lilly Beth veio ao Brasil em 1968 sem nenhuma joia, com um vestido pobre.

*Me empurrou na linha do trem e saiu rindo.

 

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