7 de fev. de 2020

BRAVE AND CHICKEN SHIT


São 03:09 da manhã
E você não vai dormir
Até esse vinil dos Rolling Stones
Acabar, não é?
Ficou vendo os bíceps no espelho hoje
Porque conseguiu arrastar o martelo
Até a academia hoje
Quer saber?
Eu engoli o martelo
No metrô fiquei pensando
Se é charmoso ser um autor
De cem leitores e alguns fãs
Ou se não é charmoso
É vergonhoso
Eu, embaixo do meu falso
Cabelo ruivo
Você pode aumentar
Os bíceps, o trapézio,
As pernas já estão
Um tanto grandes
Mas já parou pra pensar
Quem quer ver isso?
Dá para parar e pensar
Um pouquinho que você é
Um borderline e enfiar
Sua sheela-na-gig no traseiro
Porque nada disso, repita: nada
Vai mudar as coisas
Ele vai te ignorar pra sempre
Porque além de narcisista
Você é feio e velho.
Bem agora chegamos
Na minha canção favorita do vinil
“Soul Survivor”
Só cantar é o que você tem feito
De bom
E amanhã é meu primeiro dia de aula
Sinead O’Connor usava as aulas de canto
Para ajudar na depressão
Vá lá, amanhã, vá
Mostrar sua voz estranha
Tem muitas vozes iguais
É preciso vozes estranhas.
O gift de hoje é uma performance razoável de “Anywhere I Lay My Head” do Tom Waits.




XOXO

6 de fev. de 2020

O CLUBE DO TABACO



Sangue por sangue?

(segundos de silêncio)
Sangue ao quadrado?
(risadas)
Não há ressaca moral
Não há perda da gymn
Há o cinzeiro cheio
O clube do tabaco
Eu puxo o fumo
Ora forte
Ora fraco
Ora na claridade
Ora no escuro
E mais um criação
Mais um livro
É entregue
E quem diria?
Quem?
Que eu sairia da cama hoje?
Peguei duas linhas de metrô
É preciso coragem pra isso
Muita coragem pra comer
Pedaços de pão e café
Para a gymn que acabou
Por não sendo, mas eu fui
Alguém saiu da coleira hoje
Alguém que estava preso na coleira
Há algumas semanas
Será que podemos
Chamá-la de demônio?
Passei o dia inteiro na cama
Dormindo, muito triste
Quer voltar para a clínica, Hugo?
Minha mãe me disse
Na porta do quarto
Mommy and daddy ple-e-ease
Send his love to me-e-eee
Ontem a depressão estava na coleira
Aguentei todo o treino pesado
O treino para lançadores
Não aguentei a última série
De circuito, perdi o ar
Fume. Dessa vez a Flora só pensou
Fiquei sentadinho olhando
Os outros completarem o treino
Daí o Lucas Jaeger passa por mim
Vamos dar uma pausa para o cigarro, sheela-na-gig
You exhibitionist!





“Igor na Chuva” vai bem.
Veja trecho que saiu na Mallarmargens.com (revista de poesia e  arte contemporânea) neste link: http://www.mallarmargens.com/2020/01/jeans-trecho-do-livro-igor-na-chuva-de.html?fbclid=IwAR2A5PIH-rEMm76XBX_GOcthP6lSXfL6d_W7QE-MQDJSAmSmsdbNPB8Xvto e na revista Ruído Manifesto:

 Jeans

Deuses mudam. Homens são os deuses. / .

Pesadelo três: saí bem rápido de casa para cuidar de duas crianças, não lembro quais crianças. Logo, lá estava eu na sala cometendo a inconveniência do homem moderno: mostrando filmes que ninguém pode ou quer ver, o fazendo para dois amigos que por alguma razão, não podiam olhar para a televisão ao mesmo tempo. Pouco antes, vi uma espécie de casal discutindo no metrô, uma caipira bem jovem e um velho japonês tímido. Ela dizia que ele a estava levando para as drogas. Maconha parece pepino quando você está fatiando. Ela dizia isso de forma tão rude e enfática, abrindo aquele livro sobre religião para ele. Dizendo que era uma erva preta podre o que ele andava dizendo a ela. Um cara do meu lado comentou “Como é difícil entender uma religião, não é?”. Quando deixamos o vagão, eu tentei seguir o cara para conversar mais com ele, mas não o encontrei. De volta às crianças, eu tomava conta delas enquanto elas brincavam; não sei se eram meus olhos ruins, mas dei o escudo para o garoto que era o Batman, não para o garoto que era o Capitão América, quando acabou a brincadeira. Fui para casa e a família esperava por nós. Ninguém falava comigo. Dei os dois bonés que comprei para os garotos. Dentro de casa disse “boa noite para você também, mãe”. Ela olhou para mim com uma face muda e raivosa. Meu pai disse que se recusava a participar do natal com aquela atmosfera. Eu disse “eu que devo ir embora, pai, não você”. Abandonei o jantar dizendo à minha mãe que dessa vez seria diferente, que eu não ia esquecer, eu ia tomar nota daquilo nas minhas letras miúdas. Ela começou a chorar. Minha mãe então abandonou também o jantar e veio atrás de mim, veio, sim. Fizemos um passeio mágico pela noite de natal, como se um passeio de tapete mágico, não havia ninguém na rua. Fizemos uma viagem histórica sobre a comida. Minha mãe relembrava todas as comidas estranhas que já tinha cozinhado na minha infância, ou comidas estranhas em festas. Minha mãe colocou como foto de perfil no Facebook uma foto dela do lado de um cavalo, mas a imagem era tão ruim de velha que mal dava para perceber que era ela e um cavalo na imagem, e eu não fiz chacota, fiquei imaginando o quanto aquele cavalo era especial para ela. Fomos à velha casa da minha avó onde ninguém mais mora, onde passei boa parte da minha infância. Então chegou o garoto louro, sim, o que tenho me relacionado; ele, começando a falar inglês com a minha mãe e eu disse que ela não fala inglês, apenas um pouco de francês. Ela começou a cantar curtas canções em francês, o garoto louro fazia chacota, dizendo que ela cantava errado, com a melodia errada. Eu acordei do pesadelo e soube que precisava visitar minha mãe desesperadamente. / .

Inferno na terra: deuses mudam. Homem são os deuses. Deus da segunda-feira. Deus da quinta-feira. Deus árabe. Deus japonês. Louro. Deus de jeans. Deus de caquis. Deus pelado então. Deus é um objeto? É... Porque deus é feito de massa. Então deus existe? Se você o aceitar do jeito que ele é... Que seja. Uma massa. Um objeto. Sim, eu vejo deus. Eu vejo deus em todo lugar. Até que eu não sou um ateu. Não tenho nada de pagão como você acreditava; você que me julgava, você nunca viu nada, e eu sei disso. Uma massa, uma massa visível, um objeto visível feito de água, carne, fios, rocha. Mas é sobre beleza, só beleza. Então você não enxerga deus se você não consegue identificá-lo. Eu consigo. Eu vejo deus em todo lugar, toda hora. É um pouco diferente. Quando você o vê, você não idealiza encontrá-lo de acordo com seu comportamento, fé, ou o seu conceito de fé. Não, eu ando entre deuses o tempo todo, não estou em uma posição de subjugar e não, eu não tenho fé. Mas todo dia eu tento. Juro. Sério. Indo até lá, naquele lugar gay, com minha tatuagem no peito escrito “trust no one” que eu não posso esconder, procurando relaxar, eu nunca relaxo, já que aceito qualquer homem desde que tenha cocaína. Não quero me alongar nesse pesadelo já que ele é sempre tão simples, tão trivial, tão vazio, tão triste. Quando eu começo a beber álcool e cheirar repetidamente, eu começo a chamar deus. E eu sei o nome dele. Sabia o nome dele naquela noite. Comecei a repetir o nome dele. O primeiro, o do meio e o último nome. O fiz em cada intervalo de cada bebida e de cada tiro. E então aceitando homens mais e mais feios. Daí indo ao inferno. E chamando deus. Mas deus nunca responde. Mas você nunca responde. E ri bem gostoso. E aí, venceu a prova? Ganhou a medalha? Are you so fucking cool fucking cool now did ya did ya did ya did ya did ya did ya did ya did ya did ya did ya did ya did ya did ya did ya did ya did ya did ya did ya did ya did ya did ya did ya go tell your fucking friends! 1 / .

Deuses…/.

Tentei uma saída falsa, mas não funcionou. Não preciso explicar o que é uma saída falsa, não? É quando você começa a corrida antes que o árbitro dê o tiro. A questão é que no atletismo isso é trapaça, você é desclassificado se fizer isso, é convidado a se retirar, mas na vida não, você tem que voltar. Houve fortes, estranhos ventos, ventos gelados, a temperatura talvez não passasse de dez graus; não que eu não soubesse disso, temendo Noah, jamais teria certeza, nunca checo o clima no meu telefone. O que eu faço com meu telefone? Faço e recebo chamadas. Aliás, com pouquíssima frequência, pois apesar de pai e mãe, eu não tenho amigos. Para estranhos, prefiro escrever e-mails. Onde estão as meias de cano alto? Não quero essas que vesti. Sujas, claro. Só tenho tempo para a máquina de lavar uma vez por semana, o dia que em que não treino. Às vezes eu perco a vez no dia da lavagem e então empilho, estoco roupa suja. Às vezes uso roupas sujas. Sim, pego de volta na pilha. Como tenho olhos ruins também tenho nariz ruim, cheiro ruim não me incomoda. Bem, afinal se eu não tivesse perdido o dia de lavar, eu teria problemas do mesmo jeito. Não há uma lava e seca nessa casa. O local coberto para secar as roupas é insuficiente para a quantidade de pessoas que moram aqui e chove há sete dias sem parar, a situação se torna inviável. Detesto meia bailarina para calçados que não são esportivos. Andar na rua de botas com meias desse tipo machuca o Aquiles, mas que se lasque. / .

1 Ápice da canção “Anti Pleasure Dissertation”, da banda de punk rock feminista americana “Bikini Kill”

***




Alexandre Melo fez um ótimo texto sobre “Igor na Chuva” que está disponível no Google reads e neste link: https://www.goodreads.com/review/show/3151426200?fbclid=IwAR1oCIY8oPKYXJbC2hqd3FlbCexE-NCB8ne8utqm3xEHSaTORC-yFbV-QDA




Alexandre Melo's review
Jan 20, 2020

really liked it

Chove lá fora e aqui. Faz tanto frio. Faz tanto faz, a chuva cai sem parar quando li e a chuva ia e vinha conforme as páginas desaguavam uma versão de mim que eu nem sabia existir.

Igor na chuva e eu na cisma de que aquela história podia ser minha. Parecia minha. Parece minha. Minha história se parece com a dele? Ou a dele se parece com a de tantos outros que vivem na chuva de sexo, amor, app, sexo, amor, drogas, sexo, amor, cidade fria, sexo, amor, chuva feroz, sexo, amor, busca que não busca nada, sexo, amor, vontade de acabar com o mundo apunhalando o centro do planeta gente.

Igor carrega pela cidade alagada seu peso-martelo feito um penitente. Ele ao menos tem esse peso real a lhe dar a medida exata de seus problemas reais ou não, o peso-martelo está ali, acompanhando feito cachorro obediente, estimação, doenças do corpo e alma de estimação, estima. Quantos de nós não sabem o peso-martelo que carregamos e ficamos andando pela cidade-casa-trabalho-casa-cidade apenas acumulando pesos-martelos?

Há um quê de loucura. Que loucura? Quem é louco? O louco que sabe que é louco ou o louco que acha que loucos são os outros? Que é ser louco? Conversar consigo para tentar obter algum diálogo que faça sentido quando as pessoas só querem falar com seus onliners? Querer sexo gostoso porque sexo é bom mas se vier com algum tipo de amor-de mentirinha-mas pode ser de verdade-até de margarina-mas passe devagar que sou pão delicado não seria melhor? Não necessariamente, sexo apenas é apenas sexo e nada mais e isso é bom, gozar é viver e eu ontem sonhei com vocês.

A cidade berra através da chuva e do concreto armado que atira na cara de todos nós. Concreto armado, calibre grosso, veia grossa, estupro cimento, violação de esgoto, vomitar o que não serve e comer tudo de novo. Igor na chuva e eu na sua. Igor na chuva e eu atrás dele para ver que a cidade é uma besta-fera-bela-escrota-damadanoite-donadodia-senhora-mãe-puta-madama que deseja apenas nos comer e comer e comer e comer, não nossas almas que já as demos quando aqui nascemos mas nossa carne que é dela que sai o suco que sacia a sede da cidade doida e depois o doido sou eu ou somos nós.

Igor na chuva. Talvez ela limpe tudo. Pelo menos lava. Se lava bem ou mal já não sei, não é comigo. Não fiz a chuva. Apenas a consumo. Somos consumidores. De Igor na chuva. Da chuva de Igors que andam pelas avenidas-veias-abertas-sujas-imensas da cidade que chove em nós todos os dias sem dó ou piedade.

Somos a chuca dessa cidade que põe Igor na chuva.

***




Jorge Ribeiro, conhecido revisor, professor e escritor também publicou um belo texto sobre meu livro no Facebook:

Texto que escrevi sobre o livro de um amigo.
O livro Igor na Chuva, de Hugo Guimarães, editora Folhas de Relva. Autobiografia? Ficção? Autoficção? Fiquemos com esta última, sem nos atermos à complexidade de sua conceituação, mas procurando encontrar no conteúdo algumas evidências que o situam no terreno complexo da autobiografia ficcional.
O narrador, um protagonista cheio de ódio e de dúvidas que narra suas aventuras e suas reflexões, em primeira pessoa, desde o amanhecer no quarto onde mora, até sair às ruas e chegar ao centro de esportes da USP.
A chuva. Sempre a chuva. Sexo. Humor.
A ambiguidade narrativa desafia o leitor a se situar entre a realidade e a ficção. Chove no que é real. Chove no que é irreal. E o literário fica sempre em primeiro plano com metáforas e ironias desde o início e durante toda a narrativa. “Sou o último homem de uma geração de homens, e eu não me importo. Só consegui pegar no sono às 7 da manhã devido ao ódio”. “...comecei a chorar desesperadamente dentro das minhas duas mãos”. O ódio explícito do protagonista e o choro diante das inusitadas situações no transcorrer do enredo são recorrentes e revelam pouco a pouco sua conturbada personalidade.
Igor caminha por conhecidos endereços de São Paulo, encontra poucos personagens, conversa com alguns, apenas olha uns outros e esses encontros funcionam como pretextos para suas reflexões de crítica, de raiva e também para provocar e instigar o leitor que se vê mergulhado entre o que é e o que não é. Mas nesse mergulho no poço da contradição da fantasia e do real realiza-se um envolvimento que conduz o leitor a uma leitura ininterrupta como que hipnotizado pelo fluxo narrativo do narrador. O protagonista não é Igor, ele é apenas uma estratégia textual para mostrar o mundo do autor, Hugo Guimarães. Portanto, Igor é o alter-ego do escritor.
Este é um livro sem doçura, sem afagos. Conteúdo indigesto. Uma narração sem piedade de quem lê, escrita para incomodar com palavras e imagens. Para surpreender com um ritmo em que jorram ideias que ora estão no presente, ora voltam ao passado e constroem a vida do protagonista, revelando sua infância, sua adolescência e seu momento atual.
O narrador, ao contar a história, avança e retrocede durante todo o percurso e utiliza o tempo para expandir a percepção do leitor em um mundo ficcional ambíguo, expresso com linguagem que encanta e preocupação estética que alicerça a história com eficácia poética.

O gift de hoje é uma performance razoável de “What Ever Happened” dos Strokes.

XOXO


4 de fev. de 2020

O GAROTO 83

Minhas pernas de saltador em processo de recuperação.

Hoje saiu sangue de mim
Enquanto isso você, sim você
Está feliz com o arranque
Estou melancólico
Por carregar vinte novos livros
Na mochila para vender
Sim, vinte novos Igor na chuva
Tomei chuva
Não, hoje eu não quero
Fazer sexo anal
Sabe o quanto a rua cerro corá
É longe? É bem longe
Staut estava de mau humor
Não me deixou usar o banheiro
Para secar meus cabelos
Me atendeu na portaria
Devo tê-lo desapontado
Como o garoto 83
Desapontou meu coração
Quebrou-o foi em onze pedaços
Onze é o número de demônios
Que eu preciso inventar
Para um projeto literário
Bispo terrorista
É isso o que você é
Um bispo terrorista
Você não disse que viriam
Mais sete demônios de volta para mim
Se eu não frequentasse os cultos?
Pois estou aqui
Bem aqui
Podem vir
Acho que posso explicar a tristeza
Nesse momento
Antes ela estava dentro de mim
Agora, parece que ela anda do meu lado
Como se fosse um poodle dentro de uma coleira
Deus salve a medicina
Mesmo tendo todos os motivos
Para estar melancólico
Teve um dia aí que tomei
Dois banhos no mesmo dia
E ouço muita música
E eu trabalho para vender
Meu excelente livro
O que é excelente
E as vendas estão excelentes
Além disso,
Acabo de me tornar corretor de imóveis
E no próximo sábado vou entrar na aula de canto
Vai fazer isso também, Hugo?
Assim como Bjork quase cega
Trabalhando em dois turnos
E ainda fazendo aulas de drama
E eu quero mais
Mais.

O gift dessa semana é uma performance de “Winter lady” do Leonard Cohen.




XOXO

2 de fev. de 2020

DESCER

não sei o que seria de mim
sem meus anti depressivos
eu aguento "just call me joe"da sinead
eu aguento "you may know him" da marshall
eu aguento tudo sozinho
e eu não sinto nem a febre
que vem antes do choro
o que terá acontecido?
o que queimou nosso filme?
hoje tenho agachamentos
com peso para fazer
tenho dois livros para entregar
eu não quero falar de sexo
porque ele parece que ficou
naquele filme que queimou.

um poema:


“Descer”

Mãe olha para baixo e vê a barriga murcha
O bebê se foi
O príncipe se foi

Fui dormir príncipe
Acordei uma pedra de gelo
E desci pelo ralo.


(Hugo Guimarães)

O gift de hoje é uma performance razoável de "Just Call Me Joe" da Sinead O'Connor"

XOXO

31 de jan. de 2020

COMO SE MELHORA O SALTO, MELHORA-SE A AFINAÇÃO






Vai-se a depressão
E vai-se o poeta?
Eu não sei cantar
E se eu aprender?
Posso rachar alguns espelhos
Mas o Nazarian ainda diz
Que sou um dos poetas bonitos
Que ele pegou
Tenho uma barriga para perder
E um maço de cigarro por dia
Para enfiar no meu traseiro
Hugo toma chuva
Mas entrega os livros
Um por um
Um por um
Sei que você lê esse blog
Sei agora
Só não sei como vou tirar
Do meu traseiro
A pessoa que você quer
Eu quero
Quero
Minhas pernas são enormes?
Minhas panturrilhas são enormes?
Por que o Lucas Jaeger já está saltando
E eu não?
Lucas Jagger lerá o livro
Lucas Jaeger lerá não
Lucas Jaeger lerá o livro
Lucas Jaeger lerá não
Até não sobrar uma pétala
Não vou ao Rio
Não dessa vez
E se o Rio
Vier a mim?
No prêmio Rio?
Meus dois anos
Imersos na cocaína
Foram resolvidos
Em dois meses
A internação funciona
E engorda
E lá você se corta
Mas não me corto mais, ok?
Não, não
Eu sou bonzinho
Bonzinho pra você
O atletismo
Ele de novo
Tenho ovos e esperança
São seis sessões de treino
Por semana
Que logo serão doze
Eu quero incomodar o Lucas Jaeger
E ter o corpo da Maria Abakumova (Google it)
Eu quero voltar ás aulas de letras
Falar grego como você fala seu português pobre
Ser um professor gay quarentão
Que saberá escolher roupas de muito bom gosto
Para dar as aulas
O gift dessa semana é uma performance de
“Batmobile” da Liz Phair.
Assim como se melhora o salto
Melhora-se a afinação.


XOXO

22 de jan. de 2020

SEIS HORAS DA MANHÃ


“Seis horas da manhã”

Eu quero ser uma senhorita
Do campo
Esfaqueada
Sangrando e repousando pela manhã

Eu sou uma mulher ruiva
Quando acordo
Arrancando bacon do porco
Amamentando uma espingarda de dois canos.


(Hugo Guimarães)

A gift:
Unravel, Bjork.

19 de jan. de 2020

PRIDE


#Trecho

Um louco motorista dobrou a Oscar Freire em alta velocidade e podia, podia parar, mas acelerou mais, para atropelar os comunistas de propósito. Tudo fora carregado como neve, mas como lixo ao invés de neve, entende? Mas eram cadeiras, salsichas, pernas humanas, braços, sapatos, sangue, pele queimada, pele arrastada pelo asfalto de uma forma que o asfalto gruda na pele, e você sabe como as enfermeiras tiram asfalto grudado na pele no hospital? Pois nem queira saber. Enquanto o trator de neve tentava empurrar toda aquela sujeira da frente, eu disse “é meu ônibus”. Gritei “espere!” e corri até a porta do ônibus. Bati na porta três vezes além de gritar. O motorista facínora abriria a porta muito mais facilmente para uma bela moça. Ele abriu a porta enquanto já esbravejava coisas como “esses putos vadios!”. Eu já desisti de argumentar com motoristas de ônibus, taxistas. Pensei “termine logo de empurrar o lixo e me leve para a faculdade”. Estômago; precisa estômago para viver uma situação onde o caos pode não justificar, mas explicar crimes e desentendimentos.

Aveia e proteína isolada.

Um rapaz bem vestido no ônibus, branco, com óculos de lentes redondas disse um tanto assustado “eu nunca tinha visto uma fratura exposta antes”. Sentei-me bem ao lado dele. Sentindo algo da raiva e apatia no coração bem sendo já costurado com agulha e fios, melado e gosmento; nojento, mas ficando curado, lá eu estava ao lado do rapaz, com a cara da Cyborg, a lutadora. Quando eu adentro o transporte público, sempre me sento ao lado da pessoa mais bonita. E você?
“Você sabe o que é pior do que uma fratura exposta?” o rapaz diz não e eu “fratura exposta na chuva”.

A gift:
St. Loius Blues, Billie Holiday




XOXO